Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF.
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Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura
orgânica, estamos transcrevendo do livro, algumas perguntas e
respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo 11
– Plantas espontâneas e Solarização
Autores: Welington Pereira
e Mírian Josefina Baptista
O que são plantas invasoras ou ervas daninhas?
Esses termos são
muito empregados na literatura, agrícola e botânica, brasileira, gerando
confusões e controvérsias a respeito de seu significado. Em conceituação ampla,
planta daninha é “toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada”. Essa
definição ampla inclui as soqueiras ou plantas voluntárias de certas culturas,
como batata e batata-doce, que crescem em outras culturas implantadas em
sucessão. Em termos agrícolas, planta daninha pode ser conceituada como “toda e
qualquer planta que germine espontaneamente em áreas de interesse humano e que,
de alguma forma, interfere prejudicialmente em suas atividades agropecuárias”.
O que são plantas espontâneas?
Plantas ou ervas
espontâneas e plantas invasoras são espécies de plantas que germinam na área de
cultivo, podendo ser espécies nativas ou exóticas já estabelecidas. Espécies
nativas são as que surgem naturalmente na região, originárias da própria área,
ao passo que espécies exóticas são introduzidas na região, isto é, não são
nativas ou originárias da área. Embora a Instrução Normativa no 7, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 17/5/99, adote ,
entre outras normas disciplinares para a produção vegetal orgânica, o termo
“plantas invasoras”, é muito comum o uso do termo “plantas espontâneas” nos
sistemas de produção orgânica.
Qual o papel das plantas espontâneas nos sistemas
orgânicos?
Uma das diferenças
fundamentais do sistema orgânico em relação ao convencional é a promoção da
agrobiodiversidade e da manutenção dos ciclos biológicos na unidade produtiva,
procurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental da unidade, no
tempo e no espaço. Nesse contexto, a flora presente assume grande importância
quando as espécies da comunidade atuam como protetoras do solo, como
hospedeiras alternativas de inimigos naturais, pragas, patógenos ou como
mobilizadoras ou cicladoras de nutrientes, competindo por água, etc.
Por que o termo plantas daninhas não é utilizado na
agricultura orgânica?
O uso do termo
“plantas daninhas” não é apropriado para a agricultura orgânica, pois leva em
conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção agrícola, ignorando os
efeitos positivos. É muito importante considerar a maneira pela qual as plantas
interagem com seus vizinhos no agroecossistema, uma vez que há vários tipos,
maneiras e graus de interação entre elas. A protocooperação, por exemplo, é o
tipo positivo de interação ou associação, em que os dois parceiros são estimulados
quando estão próximos o bastante para participar da interação. A associação de
insetos benéficos com as plantas invasoras e as culturas representa
provavelmente o exemplo mais conhecido de protocooperação na agricultura. Por
sua vez, tanto as plantas cultivadas como as silvestres são hospedeiras de
grande número de pragas e patógenos, servindo inclusive de abrigo e fonte de
alimento para insetos benéficos. É importante observar que o conceito de planta
daninha é relativo, pois muitas delas podem trazer vantagens ao homem pelo
enriquecimento da fauna benéfica, apesar de danificarem a produtividade
biológica em determinadas fases dos cultivos.
Quais as principais vantagens de deixar plantas
espontâneas crescerem ao redor de hortaliças cultivadas?
O crescimento das
plantas espontâneas ao redor de hortaliças ou o estabelecimento de áreas ou
faixas de vegetação espontânea fora da área cultivada comercialmente tem a
vantagem de preservar ao máximo os aspectos naturais estabelecidos pelo
ecossistema local. Na divisão dos talhões de cultivo, devem ser deixadas faixas
de vegetação espontânea de 2 m a 4 m de largura, chamadas de corredores de
refúgio, para abrigar a fauna local benéfica. Além disso, deve-se fazer o
manejo da vegetação espontânea com capinas em faixas nas culturas com
espaçamento nas entrelinhas e manter a vegetação entre os canteiros. Essas
técnicas têm a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo,
reduzindo normalmente os problemas com pragas e doenças. Sistemas diversificados
podem diminuir a incidência de pragas e aumentar a atividade de inimigos
naturais. Entre outras vantagens, a vegetação espontânea pode colaborar para a
ciclagem de nutrientes de fácil mobilidade e, por cobrirem o solo, podem
protegê-lo contra a erosão.
Quais as plantas espontâneas indicadoras de solo pobre ou
quimicamente desequilibrado?
Algumas das
principais plantas indicadoras de solo pobre ou desequilibrado estão listadas
na Tabela 4.
Tabela 4. Plantas
indicadoras de solo pobre ou desequilibrado.
Planta
espontânea
|
Características indicadoras
|
Amendoim-bravo ou
leiteiro (Euphorbia heterophylla)
|
Desequilíbrio entre
nitrogênio (N) e micronutirentes, sobretudo molibdênio (Mo) e cobre (Cu)
|
Azedinha (Oxalis oxyptera)
|
Solo argiloso, pH
baixo, falta de cálcio (Ca), falta de molibdênio
|
Barba-de-bode (Aristilla pallens)
|
Terra de queimadas,
pobreza em fósforo (P), cálcio, potássio (K), solos com pouca água
|
Cabelo-de-porco (Carex spp.)
|
Pouco cálcio (Ca)
|
Capim-amargoso ou
capim-açu (Digitaria insularis)
|
Solos de baixa
fertilidade
|
Capim-caninha ou
capim-colorado (Andropogon incanis)
|
Solos
temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de
fósforo (P)
|
Capim-arroz (Echinochloa crusgalli var. crusgalli)
|
Solo rico em
elementos tóxicos, como o alumínio na forma reduzida
|
Capim-marmelada ou
papuã (Brachiaria plantaginea)
|
Típico de solos
constantemente arados, gradeados, com deficiência de zinco (Zn)
|
Capim-rabo-de-burro (Andropogon sp.)
|
Indica solos ácidos
com baixo teor de cálcio, camada impermeável entre 60 cm e 120 cm de
profundidade
|
Capim-amoroso ou
carrapicho (Cenchrus ciliatus)
|
Terra de lavoura
empobrecida e muito compacta, pobre em cálcio (Ca)
|
Caraguatá (Eryggium ciliatum)
|
É freqüente em
solos onde se praticam queimadas, com húmus ácido
|
Carrapicho-de-carneiro
(Acanthosperum hispidum)
|
Deficiência em
cálcio (Ca)
|
Cavalinha (Equisetum SP.)
|
Solo com acidez de
média a elevada
|
Guanxuma (Sida spp.)
|
Quando tem um baixo
crescimento, indica que o solo é pouco fértil
|
Mio-mio (Bacharis coridifolia)
|
Deficiência de
molibdênio (Mo)
|
Nabo (Raphanus raphanistrum)
|
Deficiência de boro
(B) e manganês (Mn)
|
Picão-branco (Galinsoga parviflora)
|
Solo com excesso de
nitrogênio (N) e deficiente em micronutrientes. É beneficiado pela
deficiência de cobre (Cu)
|
Samambaia (Pteridium auilinum)
|
Solo com altos
teores de alumínio (Al) tóxico
|
Sapé (Imperata exaltata)
|
Solos ácidos.
Ocorre também em solos deficientes em magnésio (Mg)
|
Tiririca (Cyperus rotondus)
|
Solo ácido, com
carência de magnésio (Mg)
|
Urtiga (Urtica urens)
|
Carência em cobre
(Cu)
|
Quais as plantas
espontâneas indicadoras de solo fértil?
Entre as plantas
indicadoras de solo fértil, pode-se citar a beldroega (Portulaca oleracea), a chirca (Ruppatorium
sp.), o dentede-leão (Taraxum oficialis)
e a guanxuma (Sida spp.).
A incidência de plantas espontâneas pode variar de acordo
com o tipo de hortaliça cultivada?
Sim. A incidência de plantas espontâneas em
áreas de cultivo de hortaliças depende de vários fatores, que variam de acordo
com o tipo de hortaliça, uma vez que são cultivadas em diferentes espaçamentos,
arranjos e densidades populacionais. Além disso, as hortaliças têm diferentes
taxas de crescimento e arquitetura, que resultam em diferenças nos índices de
área foliar, cobertura do solo e graus de interceptação da luz solar, fator
essencial para o estímulo, germinação de sementes e ocorrência de plantas
espontâneas. As hortaliças que conseguem cobrir mais rapidamente o solo
geralmente reduzem a incidência de plantas espontâneas na área cultivada.
O que é
alelopatia?
O termo alelopatia,
segundo o interesse específico da área de manejo de plantas invasoras,
refere-se aos efeitos biológicos negativos das plantas de uma espécie vegetal
sobre o desenvolvimento e o crescimento de plantas de outra espécie,
resultantes da liberação de substâncias químicas orgânicas no ambiente comum.
Assim, algumas plantas (cultivadas ou não) complementam sua agressividade pela
liberação de substâncias tóxicas ou substâncias inibidoras de crescimento
chamadas de aleloquímicos, por meio de exsudações pelas raízes e lixiviação da
matéria orgânica produzida. Em geral, essas substâncias modificam o crescimento
das espécies que as absorvem, reduzindo ou eliminando sua habilidade de
competição. A comprovação dos efeitos diretos dos aleloquímicos nas condições
de campo é difícil, sendo preciso separar a alelopatia de outras formas de
interferência negativa, especialmente a competição. Vários trabalhos na
literatura demonstram que as hortaliças são bastante suscetíveis aos
aleloquímicos. As leguminosas mucuna-preta e feijão-de-porco mostraram-se
eficientes no processo de competição, alelopatia e na redução do banco de
sementes do solo.
Qual a alternativa para reduzir a presença de plantas
espontâneas no início do cultivo de hortaliças?
A presença de plantas
espontâneas no início do cultivo de hortaliças pode ser reduzida com técnicas
de manejo em pré- semeadura ou no transplante das mudas. Pode-se, também,
planejar o uso de glebas associado a um programa de solarização dos talhões no
período de altas temperaturas antes do plantio. O preparo do solo e a
pré-irrigação estimulam a germinação e o desenvolvimento das plantas invasoras.
Recomenda-se fazer o preparo do solo de 3 a 4 semanas antes do plantio para
permitir a germinação, o crescimento inicial e o controle pós-emergente das
plantas emersas e em processo de germinação, com capina manual, gradagem ou
encanteiramento, de forma superficial para evitar revolver muito o solo novamente
e provocar novos estímulos de germinação de outras sementes. O controle de
plântulas espontâneas também pode ser feito com fogo produzido por bicos
aplicadores a gás, no início ou por ocasião do primeiro cultivo da hortaliça.
Como pode ser feito o controle da vegetação espontânea no
cultivo orgânico?
Em conformidade com a
Instrução Normativa nº 007, o manejo das plantas invasoras deve ser feito pelo
emprego de uma ou mais das seguintes técnicas:
• Cobertura vegetal
do solo, viva ou morta.
• Meios mecânicos de
controle.
• Rotação de
culturas.
• Alelopatia.
• Controle biológico.
• Cobertura inerte,
que não cause contaminação e poluição, a critério da certificadora. •
Solarização.
• Sementes e mudas
isentas de plantas invasoras.
O que é capina seletiva?
Capina seletiva
consiste em arrancar as plantas espontâneas que estão amadurecendo, que já
cumpriram com seu papel ecofisiológico, mantendo apenas as plantas jovens. A
capina seletiva deve eliminar somente as espécies mais agressivas e/ou que
estejam interferindo biologicamente na cultura. A matéria orgânica capinada é
deixada sobre o solo. A análise do período em que as espécies de plantas
invasoras competem com as hortaliças por fatores de crescimento é importante, e
a época e a duração do período em que a cultura e as plantas espontâneas
coexistem exercem influência na intensidade da interferência biológica.
É verdade que o esterco de gado é uma das maiores fontes
de sementes de plantas espontâneas?
Sim. O uso de suplementos orgânicos pode
constituir-se em fonte de plantas invasoras ou espontâneas, sobretudo se o
esterco de gado não tiver sido suficientemente tratado antes da sua aplicação
no solo. Por exemplo, cerca de 20 % das sementes de ançarinha-branca (Chenopodium album) permaneceram viáveis
no estrume curtido de gado (1 kg de esterco continha 42 sementes viáveis). O
uso de compostagem pode aliviar esse problema, pois as temperaturas normalmente
alcançadas durante esse processo são suficientemente altas para matar a maioria
das sementes. Observou-se a perda total da viabilidade das sementes de várias
espécies após a compostagem do esterco de gado por 4 semanas, alcançando
temperaturas de 55oC a 65oC. Para uma redução
significativa da viabilidade das sementes, a temperatura requerida deve ficar
acima de 46 o C, sendo o tempo de
compostagem menos importante do que a temperatura requerida.
O que é banco de sementes?
O banco de sementes
do solo (BSS) é uma reserva de sementes e de propágulos vegetativos presentes
na superfície e no interior do solo, composta de sementes novas produzidas
anualmente e de sementes “velhas” que persistem vivas no solo por vários anos
ou mesmo décadas. O banco de sementes do solo representa um “arquivo de
informações” sobre as condições ambientais e as práticas culturais usadas,
sendo inclusive um fator importante de avaliação do potencial de infestação das
plantas invasoras, no presente e no futuro. Seu estudo permite estabelecer as
relações quantitativas entre as populações de plantas presentes, sendo muito
importante para os programas de manejo integrado. Práticas inadequadas de
manejo tendem a aumentar o banco de sementes das plantas invasoras no solo,
agravando ainda mais o problema em cultivos sucessivos.
Como ocorre a disseminação de sementes de plantas
espontâneas?
Estima-se que apenas
1 % a 9 % das sementes viáveis produzidas em determinado ano germinam naquele
mesmo período, ficando o resto com germinação escalonada para os anos
subseqüentes, dependendo do nível de dormência, da distribuição no perfil do
solo e dos estímulos recebidos para germinar. O tamanho e a composição botânica
do BSS variam de acordo com os sistemas de cultivo. As sementes de espécies
cultivadas geralmente não são muito competitivas porque têm baixa longevidade e
rápida germinação.
Qual a importância do banco de sementes nos sistemas
agroecológicos?
A grande diversidade
de espécies de plantas espontâneas que infestam as áreas de cultivo de
hortaliças está normalmente associada a ambientes com distúrbios constantes.
Isso ocorre principalmente em virtude de suas características biológicas e
reprodutivas que promovem elevada produção de sementes, eficiente dispersão de
algumas espécies, dormência e longevidade das sementes e sobrevivência das
plantas. Essas características, aliadas às peculiaridades do manejo,
normalmente, contribuem para a geração de grandes bancos de sementes no solo, o
que garante o potencial regenerativo de várias espécies. Assim, o BSS
constitui– se na principal fonte das plantas espontâneas que ocorrem nos
sistemas agroecológicos. Que práticas culturais utilizadas em sistemas
orgânicos de produção contribuem para o manejo e/ou controle das plantas
espontâneas? Vários autores relataram que a rotação de culturas e o uso de
adubos verdes reduzem o tamanho do banco de sementes no solo. As seqüências de
cultivos propiciam diferentes modelos de competição, alelopatia e distúrbios do
solo, com variação da pressão de seleção para plantas invasoras específicas.
Isso se deve ao fato de que cada cultura apresenta uma gama de plantas “associadas”
variando normalmente com a localização geográfica. O uso de adubos orgânicos e
a água de irrigação podem constituir-se em fonte de introdução de sementes ou
de propágulos vegetativos de plantas na área cultivada.
Por que a tiririca é tão agressiva?
O crescimento da tiririca é intenso, e
normalmente superior ao das culturas anuais, por ser uma planta perene
fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle
comumente usadas na olericultura. De cada clone (conjunto de bulbos basais,
rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge grande
número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e
bulbos basais são o principal local de crescimento vegetativo prolífico porque
contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por
sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de
reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5 %, no
caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância para o
estabelecimento e dispersão, pois o vigor e a sobrevivência de suas plântulas
são muito baixos. Como ocorre a disseminação
Como ocorre a disseminação da tiririca nos sistemas de
produção agrícola ?
A disseminação da tiririca, tanto a curta
quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem mediante os seguintes
mecanismos:
• Utilização de
equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com
tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou
restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do
solo, plantio e trânsito em geral.
• Aplicação de
matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca.
• Uso de substrato em
bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos,
sementes e plantas de tiririca.
• Colheita,
transporte, comercialização e descartes de produtos agrícolas contaminados com
propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver
dentro de tubérculos de batata e de raízes tuberosas, podendo inclusive
misturar-se a hortaliças folhosas, a tubérculos e raízes durante a colheita e
transporte. • Transporte de tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de
tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.
Como manejar a tiririca nos sistemas orgânicos de
produção?
Como normalmente os métodos de controle não
impedem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas
de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle,
independente do método, deve ser amplo, de forma que possa ser utilizado
durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as
práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e
plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle
da tiririca só pode ser alcançado com a combinação de métodos de controle
(cultural, mecânico e biológico) concentrando-se nas fases de inibição da
brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralisação da formação e
desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de
tubérculos existente no solo. Como a tiririca é muito sensível ao sombreamento,
deve-se cultivar hortaliças com espaçamento o mais estreito possível e usar
cultivares de desenvolvimento rápido e que produzam grande massa foliar, como a
batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.
Como é feito o controle mecânico da tiririca?
O método de controle
mecânico, por meio do preparo do solo, de capinas ou cultivos, controla
temporariamente a tiririca. O principal objetivo do cultivo é trazer os
tubérculos para a superfície do solo,
induzir a brotação e reduzir seu número pela dessecação provocada pelos raios
solares, principalmente em regiões áridas ou em épocas de seca, ou pelo
bloqueio da formação de novos tubérculos por cultivos sucessivos. O tempo
necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e
sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz suas reservas
energéticas em até 60 %. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um
crescimento menos vigoroso por causa do consumo de aproximadamente 10 % das
reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos 2 anos de controle
mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca a níveis
satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilita o
trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da
solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da
tiririca nos sistemas agroecológicos.
Já existe controle biológico da tiririca?
Muitos trabalhos foram realizados com o
objetivo de regular a população de tiririca a níveis aceitáveis com o controle
biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto,
nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios em virtude da
baixa especificidade na relação inseto-tiririca, baixo estabelecimento do
agente e incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O
melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvido na década de 1990, nos Estados
Unidos, com o fungo da ferrugem (Puccinia
canaliculata (Schw) Lagerh.). O bio-herbicida é composto por um parasita obrigatório
(o fungo da ferrugem) e assim só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo
a indústria grande interesse comercial em sua produção. O fungo da ferrugem é
mantido em plantas de tiririca durante o inverno, em condições de casa de
vegetação, levando-se as plantas infectadas ao campo quando a população de
tiririca estiver aparecendo na cultura.
Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de
cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento e a formação
de tubérculos, provocando a morte de plantas e reduzindo a competitividade da
tiririca com as hortaliças.
O que é solarização?
A solarização é um processo físico de
desinfestação do solo que consiste na cobertura do solo úmido com plástico de
polietileno transparente, na estação quente do ano, antes do plantio. O solo é
mantido coberto com o plástico por cerca de 30 a 60 dias. Durante esse período,
ocorre o efeito estufa, que aquece o solo, principalmente nas horas mais
quentes do dia, provocando a morte de sementes e propágulos de plantas
invasoras e de fitopatógenos que sobrevivem no solo. A aplicação da solarização
só deve ser feita nos períodos do ano com maiores temperaturas e radiação
solar, para garantir a eficiência do aquecimento do solo coberto pelo plástico.
Como aplicar a solarização na propriedade?
Para aplicar a
solarização, a área a ser plantada deve ser bem preparada com aração e
gradagem. A superfície deve ficar livre de torrões grandes e galhos que possam
romper o plástico. As adubações e calagens necessárias devem ser feitas antes
da colocação do plástico, para evitar o revolvimento do solo após a
solarização. Toda a área deve ser bem irrigada (até a capacidade de campo),
pois o efeito da solarização depende do calor e da umidade. Logo após a
irrigação, o solo deve ser coberto com plástico de polietileno transparente com
75 micras a 100 micras de espessura. As bordas do plástico devem ser enterradas
à profundidade de 20 cm para reter o calor e a umidade. O plástico deve ser
colocado bem esticado e rente ao solo para evitar a formação de bolsões de ar,
o que reduz a eficiência do processo e 295 296 193 facilita o rompimento do
plástico pelo vento. Recomenda-se a cobertura do solo com o plástico por 30 a
60 dias dependendo da infestação da área a ser tratada, sempre nos períodos do
ano com maior temperatura e radiação solar. Após esse período, o plástico é
removido, podendo ser guardado para reutilização. Em casas de vegetação
teladas, além da cobertura do solo com o plástico, recomenda-se cobrir também
as telas laterais, para permitir maior aumento da temperatura durante a
solarização.
Como funciona a solarização no controle de plantas
espontâneas?
A solarização provoca
o aumento diário da temperatura do solo, que atinge cerca de 40 °C a 45 °C, à
profundidade de 20 cm, e de 50 °C a 60 °C, a 5 cm, nas horas mais quentes do
dia. A flutuação de temperaturas durante o dia, associada à umidade do solo,
provoca a morte de sementes e propágulos de plantas invasoras, o que reduz
consideravelmente sua emergência na área solarizada e a necessidade de capinas.
Durante o processo de solarização, o crescimento de plantas sob o plástico é
impedido pelas altas temperaturas e as que conseguem germinar são queimadas
rapidamente. A ausência de crescimento de plantas invasoras sob o plástico
durante a solarização é um indicativo de que esse processo está sendo realizado
corretamente e na época do ano adequada. Após a retirada do plástico, o
crescimento de plantas invasoras é bastante reduzido, por causa da morte de
parte significativa das sementes e propágulos presentes no solo, pela ação
direta do calor, pela queima de plântulas germinadas ou pela alteração no
balanço de gases no solo durante a solarização que afeta a sobrevivência das
plantas. Mas é bem provável que o principal fator da morte seja o calor. A
sensibilidade das plantas depende de suas características biológicas, da
umidade e da profundidade das sementes durante o tratamento. Estudos estão
sendo realizados para determinar que espécies são mais sensíveis ou resistentes
ao processo. Para garantir maior eficiência da solarização, recomenda-se não
revolver o solo após o tratamento, para não trazer à superfície as sementes que
sobreviveram em maiores profundidades.
A solarização também funciona para o controle de doenças?
A solarização é uma
técnica de desinfestação do solo inicialmente desenvolvida para o controle de
doenças causadas por patógenos que sobrevivem e se acumulam no solo. A
solarização tem sido usada no controle de fungos, nematóides e bactérias
causadores de podridões e murchas nas plantas. A eficiência do método depende
da intensidade da infestação da área, da aplicação correta da solarização na
época adequada e até do uso em conjunto com outros métodos de controle. O
efeito da solarização no controle de patógenos do solo ocorre por causa do
aumento da temperatura que provoca a morte dos microrganismos patogênicos e do
aumento do controle biológico em virtude do favorecimento de microrganismos
antagonistas. Esses microrganismos são prejudiciais aos patógenos do solo e
sobrevivem bem ao processo de solarização. Diversos estudos estão sendo feitos
para determinar as condições mais adequadas de solarização a fim de melhorar o
controle de patógenos importantes em diversas culturas. As pesquisas realizadas
no Brasil e no exterior já evidenciaram o controle de patógenos causadores de
murchas e podridões de raízes incluindo fungos (Phytophthora, Pythium, Sclerotium, Sclerotinia, dentre outros),
bactérias (Ralstonia solanacearum,
Agrobacterium) e nematóides (Meloidogyne
incognita, etc.).
O efeito da solarização persiste por quanto tempo?
O efeito da
solarização no controle de plantas invasoras pode ser visualizado durante o
período de cultivo, mas a duração desse efeito é afetada por fatores como
espécies de plantas espontâneas presentes na área, intensidade de infestação,
métodos de preparo do solo utilizados na propriedade, manejo da cultura, etc. O
efeito sobre o controle de fitopatógenos do solo pode se prolongar por mais de
uma estação de cultivo em virtude do estímulo que a solarização traz ao
controle biológico por microrganismos do solo. Dependendo do manejo da cultura,
da rotação e das cultivares utilizadas, pode-se prolongar os efeitos da
solarização no controle de doenças causadas por fitopatógenos do solo por mais
de um ano de cultivo.
Já existem exemplos práticos de aplicação da solarização
na produção de hortaliças orgânicas?
No Brasil, os exemplos são na maioria
experimentais em virtude de a solarização ainda ser uma técnica pouco conhecida
pelos produtores. Em estudos sobre o efeito da solarização em população
infestante de tiririca (Cyperus rotundus)
realizados na Embrapa Agrobiologia, verificou-se que a solarização do solo
tornou desnecessária a capina durante o período de cultivo da cenoura e
feijão-de-vagem em sistema orgânico, reduzindo a necessidade de mão-de-obra.
Nas áreas não solarizadas, foi preciso fazer capina nos primeiros 30 dias de
cultivo. O controle, entretanto, não foi total, pois a tiririca é uma das espécies
mais tolerantes às temperaturas elevadas. O conhecimento dos benefícios da
solarização, porém, ainda é restrito e sua principal limitação é a escolha da
época adequada do ano, pois essa é uma técnica dependente das condições
climáticas. A definição da melhor estratégia para inserir o processo de
solarização na seqüência de cultivos nas propriedades, em um sistema de manejo
integrado, e a maior divulgação da técnica são importantes para que a
solarização seja utilizada de forma eficiente pelos produtores.
A solarização é aceita pelas certificadoras?
A solarização é
permitida na agricultura orgânica, de acordo com a Instrução Normativa no 7,
sendo citada especificamente no 300 301 196 Anexo III, que trata da produção
vegetal, indicada para o manejo de plantas invasoras. Dentre as certificadoras,
o Instituto Biodinâmico (IBD), na 12a edição de suas Diretrizes para
o Padrão de Qualidade, determina que serão permitidos o controle térmico de
invasoras e os métodos físicos para o controle de pragas, doenças e manejo de
plantas invasoras. O uso de cobertura de polietileno também é permitido desde
que seja removido do solo após o uso. Nas Normas de Produção Orgânica, da
Associação de Agricultura Orgânica (AAO), é permitido o uso de métodos físicos
e mecânicos, incluindo o uso do calor.
A solarização pode afetar negativamente os organismos
benéficos do solo?
O aquecimento do solo produzido pela
solarização provoca alterações na comunidade microbiana do solo como um todo.
No entanto, os microrganismos patogênicos tendem a ser mais afetados pela
solarização, pois são menos competitivos no solo que os microrganismos não
patogênicos ou saprófitas. Os microrganismos saprófitas, dentre os quais estão
muitos microrganismos responsáveis pelo controle biológico de doenças e pela
promoção do crescimento das plantas, são adaptados para sobreviver decompondo a
matéria orgânica do solo. A solarização provoca redução na população de alguns
microrganismos benéficos, mas eles se recuperam rapidamente após o tratamento,
recolonizando o solo. Esse aumento na população de microrganismos benéficos
provoca um efeito positivo no crescimento das plantas, após a solarização, e um
efeito de controle biológico sobre os patógenos do solo. Alguns grupos de
bactérias chegam a aumentar sua população cerca de 20 vezes no solo solarizado.
Embora a atividade microbiana total do solo sofra pequena redução, observa-se,
ao mesmo tempo, um aumento na atividade supressiva do solo em relação aos
patógenos, indicando o aumento na população de microrganismos relacionados ao
controle biológico. A extensão e a duração dos efeitos da solarização sobre 302
197 diversos grupos de microorganismos estão sendo avaliadas em trabalhos de
pesquisa, mas verifica-se que, em geral, os organismos benéficos são pouco
afetados pelo processo de solarização. Deve-se considerar que a microbiota do
solo responde rapidamente a qualquer interferência nesse ambiente, como o
preparo do solo, a irrigação, as alterações climáticas, e a solarização do solo
não escapa à regra.
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