Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF.
Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500
Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br; Para ver o livro completo,
acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas perguntas e respostas que
consideramos mais relevantes.
Capítulo 10
– Manejo de Doenças
Autores: Wagner Bettiol e
Marcelo A.B. Morandi
Qual a diferença entre
uma planta sadia e uma planta doente?
Uma planta sadia é capaz de conduzir todas
as funções fisiológicas normalmente, sem apresentar nenhuma anormalidade ou
disfunção, seja em seu crescimento, na fotossíntese, na respiração, na absorção
de nutrientes, na produção e distribuição de fotoassimilados, no florescimento,
na frutificação, etc. Uma planta doente apresenta alguma desordem fisiológica
que altera seu desenvolvimento. Para caracterizar uma doença, essa desordem
fisiológica deve apresentar mais duas características: ser uma irritação
contínua e ser provocada por um agente causal primário. Quando o agente causal
é um organismo vivo (fungo, bactéria, vírus, nematóide, viróide, protozoário,
micoplasma e outros), a doença é denominada biótica e é considerada infecciosa,
ou seja, o patógeno pode crescer e multiplicar-se na planta doente e se
disseminar para outras plantas sadias.
O que são patógenos de
plantas?
Qualquer organismo capaz de causar uma
doença é denominado patógeno. Os organismos que causam doenças em plantas são
chamados de fitopatógenos. Os principais fitopatógenos são: fungos, bactérias,
vírus, viróides, protozoários, nematóides, micoplasmas e espiroplasmas. Os
patógenos mais importantes para hortaliças são os fungos, as bactérias, os
vírus e os nematóides.
Como ocorrem as doenças
em hortaliças?
Para que ocorra uma doença em hortaliças e
nas demais plantas é necessária a interação de três fatores: um hospedeiro
(planta), um patógeno e o ambiente. Esses três fatores formam o “triângulo de
doenças”. Para haver doença é indispensável que o ambiente seja favorável ao
patógeno, que o hospedeiro (planta) seja suscetível ao patógeno e que o
patógeno esteja presente e seja capaz de causar doença. Uma vez que essas três
condições ocorram simultaneamente, o processo da doença pode ter início.
O que são sintomas e
sinais de doenças?
Os
sintomas são a expressão da doença, ou seja, o conjunto das várias alterações
fisiológicas e morfológicas que ocorrem durante e após a infecção. Os sintomas
variam de doença para doença, sendo os mais comuns:
•
Manchas foliares.
•
Necrose de tecidos.
•
Amarelecimento.
•
Clorose.
•
Deformação dos órgãos vegetais.
•
Redução do crescimento.
•
Podridões.
•
Murchas.
•
Tombamentos de mudas.
•
Morte de ponteiros.
Normalmente, os sintomas de uma doença não
são visíveis a olho nu logo de imediato. O período de tempo entre a infecção e
o aparecimento dos sintomas é denominado período de incubação. A extensão desse
período depende do patógeno, das condições de ambiente e do estádio de
desenvolvimento e da resistência do hospedeiro. Os sinais são as estruturas do
patógeno que se formam nas diferentes partes da planta e tornam-se visíveis.
Exemplos de sinais mais comuns são os esporos, os micélios, os escleródios e
outras estruturas reprodutivas no caso de fungos; pus, no caso de bactérias; e
ovos, no caso de nematóides, etc.
As doenças em plantas resultam da
interação entre o patógeno, o hospedeiro e o ambiente.
As doenças só ocorrem
quando há um desequilíbrio?
As doenças de plantas ocorrem na natureza
com o objetivo de manter, em parte, o equilíbrio biológico e a ciclagem de
nutrientes, sendo benéficas sob esse ponto de vista. Na natureza, em
ecossistemas em equilíbrio, observa-se a incidência de doenças, porém estas
ocorrem de forma endêmica ou isolada. Não ocorrem epidemias que poderiam
destruir as plantas ou provocar prejuízos graves, uma vez que isso colocaria em
risco a sobrevivência dos próprios patógenos.
Nas áreas cultivadas, porém, é freqüente a
ocorrência de epidemias, pois a interferência humana altera o equilíbrio da
natureza. Uma das condições que favorecem o aumento da população de patógenos e
a ocorrência de epidemias é o cultivo de plantas geneticamente homogêneas, no
espaço (áreas contínuas) e no tempo (cultivos sucessivos), o que é contrário à
diversidade de variedades e espécies que ocorrem na natureza e que são
indispensáveis na agricultura orgânica.
Como fazer para
restabelecer o equilíbrio e reduzir a incidência de doenças?
O resgate dos princípios e mecanismos que
operam nos sistemas da natureza pode auxiliar na obtenção de sistemas agrícolas
mais sustentáveis. Em sistemas de cultivo caracterizados pela mistura de
culturas (policulturas, consórcios), por exemplo, as espécies suscetíveis podem
ser cultivadas em densidades menores e o espaço entre elas ocupado por plantas
resistentes que interessam ao produtor. A densidade menor de plantas
suscetíveis e a barreira oferecida pelas plantas resistentes dificultam a
disseminação do patógeno, reduzindo a quantidade de inóculo no campo.
Além do aumento da diversidade no espaço,
o aumento da diversidade no tempo, por meio da rotação de culturas, também
permite que os processos biológicos auxiliem na proteção de plantas, como
ocorre no controle de diversos fitopatógenos veiculados pelo solo.
Quais as vantagens da
diversificação de culturas no manejo de doenças no sistema orgânico?
A diversificação de culturas nas
propriedades rurais, além dos benefícios agronômicos e econômicos, traz
benefícios sociais, pois estende o período de tratos culturais e aumenta a
necessidade de mão-de-obra, sendo esse aspecto parte integrante da
sustentabilidade. Entretanto, a indiscriminada diversificação da vegetação
dentro de um agroecossistema pode não resultar na redução do risco de
ocorrência de pragas e doenças. Os efeitos de combinações planejadas de plantas
devem ser estudados criteriosamente ante de sua aplicação em programas de
manejo. Em diversas propriedades que adotam o cultivo orgânico de hortaliças,
os benefícios da diversidade são suficientes para que as doenças não provoquem
limitações na produtividade.
Quais as principais
doenças causadas por fungos em hortaliças?
As principais doenças causadas por fungos em
hortaliças estão listadas na Tabela 2.
Tabela
2. Principais doenças causadas por fungos em hortaliças.
Doença
|
Principais patógenos
envolvidos
|
Principais culturas
afetadas
|
Tombamento
|
Pythium spp., Phytophthora
spp., Rhizoctonia spp., Alternaria spp.
|
Mudas de hortaliças em geral
|
Podridão ou murcha
de Esclerotinia e Esclerotium
|
Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, S. cepivorum
|
Tomate, repolho,
alface, cenoura, ervilha, pimentão, feijão-de-vagem, cebola
|
Murcha
|
Fusarium
oxysporum (várias formas specialis), Verticillium spp.
|
Tomate, repolho, cebola,
berinjela, jiló, feijão-de-vagem, batata
|
Requeima
|
Phytophthora spp.,
Phytophthora spp.
|
Tomate, batata, pimentão
|
Míldio
|
Peronospora
spp., Bremia sp., Pseudoperonospora spp.
|
Repolho, alface, cebola,
pepino, ervilha
|
Antracnose
|
Colletotrichum
spp.
|
Pimentão, cebola,
berinjela, jiló, pepino, feijão-de-vagem
|
Manchas foliares
|
Diversos gêneros de fungos
(Alternaria, Cercospora, Stemphylium,
Septoria, Mycosphaerella, Botrytis Leandria, Ascochyta e outros)
|
Todas as hortaliças em
geral são afetadas por manchas foliares
|
Oídio
|
Sphaerotheca
sp., Oidium sp., Erysiphe spp.
|
Pepino e outras
cucurbitáceas, ervilha, feijão-de-vagem
|
Ferrugem
|
Puccinia
spp., Uromyces
spp.
|
Cebola, alho,
feijão-de-vagem
|
Que bactérias provocam
doenças em plantas e quais seus sintomas?
As
bactérias que provocam doenças em plantas são denominadas bactérias
fitopatogênicas, algumas muito importantes para hortaliças. Elas se disseminam
rapidamente e são de difícil controle. Em condições favoráveis, a ocorrência de
bacterioses pode inviabilizar a exploração econômica de algumas culturas por
longos períodos, como ocorre em solos infestados com Ralstonia solanacearum,
causadora da murchadeira-do-tomateiro e da batateira. Os principais gêneros de
bactérias causadoras de doenças em hortaliças e os tipos gerais de sintomas que
elas provocam estão listados na Tabela 3.
Tabela
3. Principais gêneros de bactérias e seus sintomas.
Gênero
|
Sintomas
|
Principais plantas
afetadas
|
Clavibacter
|
Murcha
e cancro
|
Tomate,
pimentão
|
Curtobacterium
|
Murcha
|
Feijão-de-vagem,
ervilha
|
Erwinia
|
Podridão-mole
|
Cenoura,
repolho, hortaliças
|
Pseudomonas
|
Murcha
|
Solanáceas
|
Ralstonia
|
Murcha
|
Solanáceas
|
Xanthomonas
|
Mancha
foliar
|
Solanáceas,
brássicas, outras
|
Como ocorre a
transmissão de vírus e como é feito o controle das viroses?
A transmissão por insetos é o meio de
disseminação mais comum e mais importante dos vírus de plantas, na natureza.
Outros meios de propagação incluem:
•
Contato entre plantas, como ocorre com a transmissão do vírus-do-mosaico-do-fumo
(TMV) em tomateiro pelo atrito entre folhas de plantas doentes e sadias.
•
Solo, diretamente ou por nematóides e fungos.
•
Sementes e pólen.
•
Propagação vegetativa de plantas, como estaquia, enxertia, tubérculos, bulbos,
bulbilhos, estolhos, rizomas, raízes, etc.
As
medidas de controle das viroses vegetais fundamentam-se em três estratégias,
todas de caráter preventivo:
•
Obtenção e utilização de material propagativo livre de vírus.
•
Controle antecipado de vírus e de seus vetores pela eliminação de plantas
espontâneas que servem de hospedeiros alternativos para certos vírus.
•
Redução ou impedimento de introdução do patógeno na cultura e de sua
disseminação entre as plantas.
Quais os sintomas das
doenças causadas por nematóides?
Todas as espécies de plantas cultivadas
estão sujeitas ao ataque de alguma espécie de nematóide. Entretanto, sua
presença é às vezes pouco notada pelos agricultores por causa de seu tamanho
reduzido e da dificuldade em identificar alguns dos sintomas causados por
nematóides nas plantas atacadas, que podem ser confundidos com os de
deficiência mineral ou de outras doenças. Quando penetram e se movimentam nos
tecidos das plantas e deles se alimentam, os nematóides causam danos mecânicos
e retiram nutrientes da planta para seu próprio sustento, depauperando-a. O
ataque de nematóides também pode tornar as plantas mais suscetíveis ao ataque
de outros patógenos, como fungos e bactérias.
A “pipoca” das raízes de
hortaliças é causada por nematóides?
Sim, a “pipoca” é causada por Meloidogyne, o principal gênero de
fitonematóide de importância para hortaliças, também conhecido como o
nematóide-das-galhas. As galhas são en- 255 256 167 grossamentos, de diâmetros
variáveis, quase sempre observados nas raízes infestadas pelo nematóide. Galhas
formadas em tubérculos, como em batata, são popularmente chamadas de “pipocas”.
Outros sintomas associados ao ataque de Meloidogyne nas raízes são:
• Redução do volume de raízes.
•
Rachaduras.
•
Raízes digitadas (comum em cenouras, por exemplo).
Na parte aérea, podem ser observados
sintomas como:
•
Amarelecimento (geralmente em reboleiras).
•
Sintomas de deficiência mineral.
•
Murchas. • Desfolhamento.
•
Diminuição da produção.
Que medidas devem ser
tomadas antes do plantio para evitar a ocorrência de doenças?
O controle de uma doença deve ser
entendido como uma série de medidas que começa com a decisão de implantar a
cultura. Assim, o controle deve ser visto como um conjunto de ações integradas
para evitar a ocorrência da doença e de perdas. De modo geral, recomenda-se:
•
Plantar variedades ou cultivares resistentes às principais doenças que ocorrem
na região e no período de cultivo.
•
Adquirir sementes e mudas de boa qualidade, uma vez que diversos patógenos são
transmitidos pelas sementes e mudas.
•
Fazer o cultivo diversificado de hortaliças, para aumentar a diversidade de
espécies na área.
•
Adubar com material orgânico de origem conhecida e preferencialmente compostado
adequadamente.
Que cuidados são
importantes, durante o cultivo, para evitar a ocorrência de doenças ou reduzir
seu efeito?
Durante o cultivo, deve-se adotar um conjunto
de medidas preventivas:
•
Se a cultura exigir desbrota, evitar fazê-la em dias chuvosos ou logo após a
irrigação. • Utilizar ferramentas devidamente desinfestadas.
•
Evitar ferimentos nas plantas e frutos durante os tratos culturais.
•
Manter quantidade adequada de plantas espontâneas.
•
Manejar adequadamente a irrigação de modo a evitar encharcamento ou falta de
água e utilizar água de boa qualidade.
•
Avaliar com freqüência a plantação para verificar eventuais problemas com
doenças e, encontrando focos, retirar o material doente e enterrá-lo.
•
Fazer o controle de pragas e doenças com os produtos recomendados, como os
extratos de plantas, agentes de controle biológico e outros.
Como é feito o
diagnóstico de doenças?
O diagnóstico da doença ou a identificação
de sua causa é a etapa fundamental para a implementação de medidas de controle.
Dependendo da doença, o diagnóstico pode ser feito no campo por extensionista
experiente ou agrônomo especializado na cultura. Um dos modos mais simples de
se fazer um diagnóstico preliminar é comparar os sintomas com fotografias ou
descrições de publicações. Outros fatores, como deficiência ou toxidez
nutricional, características genéticas da planta, ação de insetos, excesso ou
falta de água ou mudanças climáticas, podem causar sintomas parecidos com os
das doenças.
Em caso de dúvidas, o melhor é enviar o
material a um laboratório de fitopatologia de universidades ou de instituições
de pesquisa. É necessário entrar em contato diretamente com cada instituição
para saber se o laboratório executa diagnóstico de determinada cultura ou de
agente causal e também para conhecer os critérios de encaminhamento de
material.
É verdade que as
hortaliças cultivadas no sistema orgânico são mais resistentes às doenças do
que as cultivadas no sistema convencional?
Há ainda muitas questões a serem
respondidas sobre o desenvolvimento de doenças na agricultura orgânica. Os
trabalhos de pesquisa que comparam a severidade de doenças de plantas em
sistemas orgânicos e convencionais informam que as doenças radiculares são
menos severas nos cultivos orgânicos, ao passo que as doenças foliares podem
ser mais ou menos severas ou similares, dependendo da reação do patógeno, do
estado nutricional das plantas (principalmente o teor de nitrogênio) e das
condições climáticas.
Geralmente, há mais dificuldade de controle de
doenças foliares do que das radiculares por meio de métodos biológicos e
culturais, especialmente em regiões de clima favorável às doenças. Outro
aspecto importante é a diversidade biológica utilizada no cultivo orgânico de
hortaliças, que reduz a chance de ocorrer uma epidemia, pois as plantas das diferentes
espécies formam uma barreira biológica. Isso não significa que as plantas sejam
mais resistentes, mas que existem condições adversas à ocorrência de doenças.
Qual a relação da
trofobiose com a prevenção de doenças?
De acordo com a teoria da trofobiose
(trofo: alimento; biose: existência de vida), uma planta torna-se vulnerável ao
ataque de uma praga ou patógeno quando há desequilíbrio metabólico que resulta
em excesso de “alimento solúvel” disponível para esses organismos nocivos.
Esses alimentos podem ser encontrados na forma de aminoácidos, açúcares e
minerais não incorporados em macromoléculas insolúveis (proteínas, amido,
etc.).
As causas do desequilíbrio podem ser
problemas nutricionais (especialmente excesso de macronutrientes) ou intoxicação
em conseqüência do uso intensivo e exagerado de agrotóxicos e de outros
agroquímicos. No caso da horticultura orgânica, em que não se usam agrotóxicos,
o aspecto nutricional deve ser destacado. Uma nutrição adequada e balanceada,
adequada às particularidades da cultura, da cultivar e da fase de
desenvolvimento da planta, ajuda a aumentar a resistência das plantas às
doenças. É importante salientar que a nutrição deve ser considerada como umas
das variáveis que favorecem a sanidade das culturas, dentro do contexto do
manejo orgânico pleno, que inclui a escolha da cultura e de cultivares
adequadas ao local de plantio, a época correta de semeadura/plantio,
espaçamento correto, condução adequada (irrigação, adubação, limpeza, desbrota,
etc.), preparo adequado do solo, adubação verde, rotação de culturas, uso de
quebra-ventos e cercas vivas, etc.
O que são defensivos
alternativos?
Um dos principais problemas da agricultura
orgânica refere-se ao manejo de doenças, pragas e plantas espontâneas. Antes
das facilidades para aquisição de agrotóxicos para o controle dos problemas
fitossanitários, os agricultores preparavam e utilizavam produtos obtidos a
partir de materiais disponíveis nas proximidades de suas propriedades. Com a
popularização do uso de agrotóxicos, aqueles produtos foram quase que
totalmente abandonados e, hoje, muitos deles são chamados de alternativos. O
termo mais adequado é “defensivo biocompatível”, mas é pouco usado no Brasil,
sendo preferível o termo “produtos ou defensivos alternativos”, por serem
alternativos aos agrotóxicos (fungicidas, inseticidas, acaricidas e
herbicidas). Assim, a expressão “defensivos alternativos” relaciona-se a um
grupo de produtos utilizados na proteção de plantas em substituição aos
agrotóxicos. Nesse grupo de produtos estão incluídos:
• Agentes de controle biológico.
•
Extratos de plantas.
•
Biofertilizantes.
•
Conservadores de alimentos.
•
Alimentos.
•
Sais.
•
Extratos de algas.
•
Óleos. • Extratos de matéria orgânica.
•
Extratos de fungos.
•
Caldas.
Como agem os defensivos
alternativos?
Como nos defensivos alternativos estão
incluídos diferentes produtos, praticamente todos os modos de ação conhecidos
de interferência em microrganismos patogênicos para as plantas fazem parte do
modo de ação desses produtos. Os modos de ação dos agentes de controle
biológico de doenças são:
•
Parasitismo.
•
Competição.
•
Antibiose.
•
Predação.
•
Hipovirulência.
•
Indução de resistência do hospedeiro.
Alguns extratos de plantas, fungos e de
matéria orgânica agem por indução de resistência do hospedeiro, outros por
inibição do crescimento e da reprodução dos fitopatógenos. A ação de alguns
desses produtos alternativos é semelhante à dos agrotóxicos. Entretanto, uma
característica comum dos defensivos alternativos é sua baixa toxicidade para o
homem, os animais e o ambiente.
O que é calda borladesa?
A calda bordalesa é o resultado de uma
mistura de sulfato de cobre, cal hidratada ou cal virgem e água. O primeiro a
observar sua eficiência no controle de doenças foi P. M. Millardet, em 1882, em
Bordeaux, na França (por isso calda bordalesa). A calda bordalesa é utilizada
para tratamento preventivo contra doenças causadas por fungos e também para
proteção contra infecção por bactérias. Além de controlar diversas doenças, a
calda fornece cobre, cálcio e enxofre para as plantas. A calda bordalesa pode
ser preparada na propriedade ou adquirida no mercado, e seu custo de produção é
baixo em relação aos demais fungicidas.
A calda bordalesa original apresentava as
seguintes proporções: 3 partes de sulfato de cobre, 1 parte de óxido de cálcio
e 100 partes de água. Atualmente, entretanto, essas proporções dependem de cada
grupo de cultura. Por exemplo, para hortaliças em geral, utilizam-se de 300 g a
1 kg de sulfato de cobre, de 300 g a 1 kg de cal virgem em 100 L de água. Para
as cucurbitáceas, mais sensíveis, utilizam-se o máximo de 300 g a 500 g de
sulfato de cobre, de 300 g a 500 g de cal virgem em 100 L de água. A pureza dos
materiais e o estádio de desenvolvimento das plantas são aspectos importantes a
serem considerados: para plantas jovens ou em florescimento, utilizam-se
dosagens menores.
Qual o modo de preparo
da calda bordalesa?
O modo de preparo da calda bordalesa é o
seguinte: coloca-se o sulfato de cobre em um saquinho de pano, que é mergulhado
em 18 L de água, em vasilhame de plástico, de cimento amianto 264 265 173 ou de
madeira, por 3 ou 4 horas, até que o sulfato dissolva. A cal virgem deve ser
misturada em 2 L ou 5 L de água, de preferência na véspera, e despejada na
solução de sulfato de cobre, misturando muito bem. Antes de usar a calda
bordalesa, é preciso verificar sua acidez. Para isso, mergulha-se uma lâmina de
ferro (pode ser uma faca) no preparado durante 3 minutos e verifica-se seu
escurecimento. Se a lâmina escurecer, a calda não pode ser aplicada, devendo-se
acrescentar um pouco mais de cal virgem, repetindo-se o teste até que a lâmina
não fique escura.
Se alguém desejar maior precisão, basta
utilizar papel ou o pHmetro, para medir o pH, que deve ficar em torno de 7
(neutro) ou ligeiramente alcalino. Recomenda-se tomar cuidado e utilizar os
equipamentos de proteção individual recomendados para o manuseio de
agrotóxicos.
A calda bordalesa não pode ser armazenada
por mais de 3 dias e não deve ser misturada a outros produtos utilizados em
agricultura orgânica. Devem ser observados o período de carência e os
intervalos de aplicação tanto da calda bordalesa quanto de outras, como
sulfocálcica.
Como o preparo da calda bordalesa requer
cuidados especiais, quem dispuser de facilidades pode adquiri-la em
estabelecimentos comerciais especializados. Diversas certificadoras orgânicas
estabelecem limites de quantidade de cobre que pode ser aplicado na cultura.
O que é calda sulfocálcica
e como é preparada?
O poder do enxofre sobre as doenças já era
conhecido na época dos gregos e romanos. Entretanto, o enxofre foi redescoberto
para uso na agricultura por volta de 1800, quando se fez a primeira mistura com
cal e água. A calda sulfocálcica é obtida da mistura de enxofre e cal virgem ou
hidratada e apresenta ação fungicida, acaricida e inseticida.
Ingredientes e modo de preparo: 2 kg de
enxofre em pó, pecuário ou ventilado, 1 kg de cal virgem e 10 L de água. Em uma
266 174 lata de 20 L colocam-se aos poucos 10 L de água na cal virgem. Essa
suspensão de cal deve ser levada ao fogo e, no início da fervura, coloca-se o
enxofre e mistura-se durante 1 hora, mantendo a fervura. Deve-se acrescentar
água quente para manter o volume da suspensão que, ao final de 1 hora de
fervura, estará grossa. Depois que esfriar, a calda deve ser coada em pano
dobrado, antes de ser utilizada. A calda pode ser armazenada por 60 dias em
recipientes de plástico ou de vidro, tampados e completamente cheios.
A calda sulfocálcica é altamente alcalina
e corrosiva, danificando recipientes de metal, roupas e a pele. Por essa razão,
é preciso usar os equipamentos de proteção individual e lavar muito bem os
recipientes e as mãos com solução de uma parte de vinagre ou limão para 10 L de
água, depois da utilização. Deve-se tomar muito cuidado com os olhos.
A calda sulfocálcica não deve ser usada em
cucurbitáceas (abóbora, abobrinha, melão, melancia e pepino). Dependendo das
facilidades, a calda pode ser adquirida em estabelecimentos comerciais
especializados.
É preciso tomar algum
cuidado especial com os equipamentos de pulverização após a aplicação das
caldas?
Sim. Depois da aplicação das caldas, é
preciso pulverizar o trator com óleo de mamona ou com uma mistura de graxa e
óleo lubrificante e lavar com sabão ou detergente. Pode-se também pulverizar o
trator com uma mistura de óleo diesel e óleo lubrificante e lavar com jato de
água. As peças do equipamento devem ser lavadas com solução de vinagre ou suco
de limão ou ácido cítrico a 20 %.
O leite pode ser
utilizado no controle de doenças de plantas?
Sim. Embora seja recomendado
exclusivamente para o controle do oídio, que se caracteriza por um crescimento
branco do fungo na superfície das plantas, o leite deve ser utilizado
preventivamente para pulverizar todas as plantas. Recomenda-se fazer a
aplicação preferencialmente nos horários de temperaturas mais amenas, isto é,
no início ou no final do dia. Embora o leite não exija o uso de espalhante
adesivo, os resultados são melhores quando se mistura um espalhante na calda de
aplicação. A pulverização semanal de leite cru de vaca, nas concentrações de 5
% e 10 %, auxilia no controle do oídio de diversas culturas.
A urina de vaca pode ser
usada no controle de doenças de plantas?
A urina tem sido recomendada tanto para a
nutrição de plantas como para o controle de doenças causadas por fungos nos
cultivos de frutas, hortaliças e de plantas ornamentais. Após a coleta, a urina
deve descansar por 3 dias em frasco fechado, antes de ser diluída em água
imediatamente antes do uso. As dosagens variam de 1 % a 2,5 %.
Em culturas como o quiabo, jiló e
berinjela, recomenda-se uma aplicação a 1 % a cada 15 dias. Como a urina de
vaca tem índice salino elevado, sua aplicação em altas concentrações pode
causar fitotoxicidade à planta. Os efeitos da urina de vaca são atribuídos a
sua composição que contém nutrientes, compostos antimicrobianos e substâncias
indutoras de resistência. A urina de vaca é rica em potássio, cloro, enxofre,
nitrogênio, sódio, fenóis, ácido indolacético e priocatecol.
Apesar dos efeitos benéficos obtidos,
certos cuidados devem ser tomados com o aspecto sanitário dos animais antes de
usar a urina a fim de não contaminar as pessoas com microrganismos patogênicos.
Como ainda não há nenhum estudo nessa área, recomenda-se que seu uso seja
restrito, evitando usar a urina de vaca em hortaliças de consumo in natura,
como morangos, alface e outras folhosas.
O que é controle
biológico de doenças de hortaliças?
A maneira tradicional de conceituar
controle biológico de doenças de plantas é considerá-lo como o controle de um
microrganismo por meio de outro microrganismo. Entretanto, existem conceitos
mais abrangentes, como sendo a redução da soma de inóculo ou das atividades
determinantes da doença, provocada por um patógeno, realizada por um ou mais
organismos que não o homem. Nessa visão, o controle biológico pode ser
acompanhado de práticas culturais para criar ambiente favorável aos
antagonistas e à resistência da planta hospedeira ou, do melhoramento da planta
para aumentar sua resistência ao patógeno ou adequar o hospedeiro às atividades
dos antagonistas. O controle biológico inclui, ainda, a introdução em massa de
antagonistas, de linhagens não patogênicas ou outros organismos e agentes
benéficos. O controle biológico é mais popular no manejo de insetos-praga.
Já existe controle
biológico de doenças de hortaliças em uso no Brasil?
No âmbito do conceito mais amplo, pode-se
dizer que o controle biológico de doenças é amplamente utilizado na produção de
hortaliças, no Brasil. Considerando-se, porém, controle biológico como
envolvendo, obrigatoriamente, um antagonista, sua utilização é mais limitada,
pois existe no mercado brasileiro apenas um agente de controle biológico de
doenças devidamente registrado nos Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente
e da Saúde. Apesar disso, no mercado são encontrados antagonistas
comercializados para o controle de doenças à base dos fungos Trichoderma e Clonostachys.
Como preparar extratos
de plantas para o controle de doenças de plantas?
São diversos os extratos de plantas
recomendados para uso em agricultura orgânica, como os extratos de alho,
cavalinha, cebola, pimenta vermelha, pimenta-do-reino, eucalipto, fumo, ‘Santa
Bárbara‘ ou cinamomo do sul, Tagetes
ou cravo-de-defunto, mamoeiro, menta, nim, primavera e Reynoutria sachalinensis. Esses produtos, de modo geral, são
preparados na propriedade, mas alguns são comercializados. Como são muitas as
formas de preparação dos extratos, sugere-se que se consulte o livro Práticas Alternativas de Controle de Pragas
e Doenças na Agricultura5 , em que estão relatadas 90 receitas.
5ABREU
JUNIOR, H. de (Org.). Práticas
Alternativas de Controle de Pragas e Doenças na Agricultura. Campinas, SP:
Emopi, 1998. 115 p.