Autores: Érika Alexandra Sandra Gomes Oliveira Araújo 1; Silvia Dias Costa Fernandes 2; Francisco Roque 3; Marina Neves Delgado 4
1Graduação Tecnólogo em Agroecologia,
Instituto Federal de Brasília, Campus Planaltina E- mail: erikaediana@gmail.com
2Professora
pesquisadora, Instituto Federal de Brasília, Campus Planaltina. E- mail: silvia.fernandes@ifb.edu.br
3Professor
pesquisador, Instituto Federal de Brasília, Campus Recanto das Emas. E-mail: francisco.roque@ifb.edu.br
4Professora pesquisadora,
Instituto Federal de Brasília, Campus Planaltina. E- mail:
marina.delgado@etfbsb.edu.br
Fonte: Revista Brasileira de Agroecologia, v.13, n.4, p.163-174, 2018.
RESUMO
O manejo de pragas com o uso de importante prática para se evitar
perdas na produção agrícola. Nesse sentido, objetivou-se conhecer as plantas fitossanitárias usadas pelos agricultores familiares de Planaltina (DF), assim como determinar a mais utilizada, o tipo de cultura mais suscetível e o tipo de parasita mais combatido. Foram realizadas trinta entrevistas
semiestruturadas no Núcleo Rural Santos Dumont. Shapiro-Wilk e Kruskal-Wallis foram estimados
para a normalidade e
distribuição das médias, respectivamente. O aprendizado dos agricultores sobre plantas fitossanitárias foi, principalmente, geracional. Porém, foi constado que esse
conhecimento depende do interesse
específico do produtor. Os agricultores citaram 22 espécies, sendo o fumo a mais relatada
(H = 61,76;
p <0,01).
Plantas hortícolas foram as mais suscetíveis a pragas
(H = 46,22;
p < 0,01)
e os principais problemas foram com insetos folívoros, sobretudo mastigadores (H = 49,04;
p < 0,01). Constatou-se conhecimento dos agricultores para manejo de pragas sem o uso de agrotóxicos. No entanto,
o uso de fumo necessita
de melhor controle, pois sua toxicidade é alta para as pessoas.
Palavras-chave: Agricultura sustentável,
Fumo, Insetos Folívoros, Plantas Hortícolas.
ABSTRACT
Pest management using phytosanitary plants is an important
practice to avoid losses in agricultural production. In this regard, we aimed to know the phytosanitary plants used by the family farmers of Planaltina (DF) as well as to determine the most used phytosanitary plant, the most susceptible crop and the most combatted type of parasite. Thirty semi-structured interviews were conducted at Núcleo Rural Santos Dumont. Shapiro-Wilk and Kruskal-Wallis were estimated for the normality and distribution of the means, respectively. The farmers'
learning about phytosanitary plants was mainly generational. Although, it was stated that this knowledge depends on the specific interest of the producer. The farmers cited 22 species, the most reported being tobacco (H = 61.76,
p <0.01). Horticultural plants
were the most susceptible to pests (H = 46.22,
p <0.01) and the main problems were with folivores insects, mainly chewers (H = 49.04,
p <0.01). It was determined the farmers'
knowledge of pest management without the use of agrochemicals. However, the use of tabacco needs better
control because its toxicity is high for people.
Keywords: Sustainable Agriculture, Tabacco, Folivores Insects, Horticultural
Plants.
Organismos que invadem plantações são considerados pragas
quando reduzem a produção de determinadas culturas, podendo ocasionar prejuízos econômicos ao agricultor (PICANÇO
e GUEDES, 1999). Por isso, há necessidade de diminuir a população dessas
pragas para se aumentar a eficiência
produtiva (AMORIM et al., 2011).
Uma das formas de manejo de pragas e doenças na lavoura é o uso de
plantas com propriedades inseticidas, repelentes, fungicidas e atrativas, consorciadas com as culturas ou uso de seus
extratos vegetais. Tais plantas podem ser denominadas de
fitossanitárias, pois estabilizam as populações de insetos nocivos
à plantação, assim
como favorecem as populações dos inimigos naturais (ANDOW, 1991).
Ademais, também atuam
individualmente no controle
fitossanitário, uma vez que
podem exalar substâncias que impedem a aproximação dos insetos (CORRÊA
e SALGADO, 2011),
lançar óleos essenciais (ISMAN,
2000) ou serem hospedeiros alternativos para as pragas,
que acabam abandonando a cultura agrícola
de interesse comercial do agricultor e passam a atacar essa planta
(ZAMBOLIM et al., 2004).
Por fim, ao utilizar plantas fitossanitárias no controle de herbívoros e
patógenos, as consequências maléficas do modelo agrícola convencional, que visa
o uso indiscriminado de agrotóxicos, são
reduzidas, tais como: evolução de resistência a inseticidas (TABASHNIK e ROUSH, 1990); poluição hídrica e do solo por
produtos químicos (MERTEN
e MINELLA, 2002);
problemas de saúde dos agricultores devido
ao contato direto
e indireto com
agrotóxicos (SCHMIDT e GODINHO,
2006; PIGNATI et al., 2017) e a produção de alimentos contaminados por venenos (SANTANA
e MACHINSKI JUNIOR, 2004).
Por apresentarem vantagens ambientais, o uso das plantas fitossanitárias
precisa ser amplamente divulgado. A região Centro-Oeste do Brasil ganha
importante destaque, uma vez que a
agricultura
convencional vem se desenvolvendo nela
de forma crescente (KLINK e MOREIRA, 2002). No Distrito Federal,
a região administrativa de Planaltina pode
ser considerada uma
área produtora de alimentos de elevada importância, tais como hortaliças variadas, entre elas
pimentão e tomate.
Os produtores de Planaltina, muitos assentados da reforma agrária
(CORREIO BRAZILIENSE, 2017),
são responsáveis pelo abastecimento de redes de supermercados do Distrito Federal,
Tocantins, Goiás e Amazonas (JORNAL
DE BRASÍLIA, 2014). Por serem
agricultores com menor poder aquisitivo, o que deve dificultar a compra de
agrotóxicos, visto que os agricultores familiares, geralmente, enfrentam
dificuldades econômicas (ROGATTO,
2013), a hipótese
testada no presente
estudo é a de que os
agricultores
familiares de Planaltina (DF) possam ser conhecedores de formas alternativas de controle de pragas
e doenças, como o uso de plantas
fitossanitárias.
Dado o exposto, o presente estudo justifica-se pela necessidade de se
estimular o uso sistematizado de plantas
fitossanitárias no manejo
de pragas e doenças, a fim de se alcançar
uma agricultura mais racional e sustentável, aliada
à produção de alimentos mais saudáveis. Para
tanto, faz- se necessário criar agroecossistemas sustentáveis por meio da Agroecologia, utilizando a sua dimensão ecológica e técnico-agronômica, bem como, a diversidade cultural
das comunidades rurais
(CASADO et al., 2000).
Por exemplo, o controle de pragas das
culturas pode ser
feito por meio
do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que visa manter a abundância da população de pragas abaixo do nível do dano econômico pela utilização de diferentes técnicas de controle de forma econômica, ecológica e social (PICANÇO e GUEDES, 1999),
associado ao desenvolvimento rural socialmente justo
e ambientalmente correto (CASADO
et al., 2000).
Dessa
forma, conhecer e divulgar as plantas fitossanitárias usadas pelos agricultores familiares no intuito de se identificar, por meio do conhecimento popular,
quais são as mais eficientes ao combate de pragas
e doenças, pode ser uma das formas
de se tentar alcançar um desenvolvimento rural
mais sustentável. Portanto, nesse trabalho foi caracterizado o uso de plantas fitossanitárias pela população rural de Planaltina, Distrito
Federal. Além disso,
a partir desse resultado, nós elucidamos qual foi a planta fitossanitária mais citada, o
tipo de cultura mais suscetível e os tipos de parasitas mais combatidos.
O presente trabalho foi desenvolvido em
2015, na região administrativa de Planaltina,
situada no Distrito Federal,
que é uma importante área produtora de olerícolas. Especificamente, a pesquisa foirealizada com agricultores familiares do Núcleo Rural Santos
Dumont, que é formado por 87 propriedades rurais (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2017).
Primeiramente, antes de qualquer coleta
de dados, o projeto de pesquisa do presente estudo foi avaliado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (CEP/SES-DF), após submissão na Plataforma Brasil.
Sua realização foi aprovada pelo CEP/SES-DF (No do
processo: 30849214.4.0000.5553).
A técnica de reconhecimento de potenciais entrevistados foi a do método bola-de-neve. Nessa técnica, um conhecedor de plantas fitossanitárias participante da entrevista indica sucessivamente
outro conhecedor do assunto que é entrevistado a posteriori (ALBUQUERQUE et al., 2010).
O método é bastante promissor, pois otimiza
o sucesso do levantamento etnobotânico.
No final, foram
entrevistados 30 agricultores, todos maiores de idade. Infelizmente, um maior esforço amostral não foi alcançado, pois muitos agricultores selecionados pelo método
não tiveram interesse em
participar ou não se disponibilizaram a assinar o termo de consentimento livre
e esclarecido
(TCLE). Quando os agricultores concordavam em participar da entrevista, uma cópia do TCLE
era entregue ao entrevistado e outra cópia
ficava com a pesquisadora/entrevistadora.
As entrevistas foram semiestruturadas com perguntas prévias
(abertas e fechadas)
e natureza interativa.
Nesse tipo de abordagem, os questionamentos são previamente elaborados pelo
pesquisador, porém, ela permite que novos dados e elementos
sejam acrescentados ao longo da entrevista, de acordo com
seu encaminhamento (ALBUQUERQUE et al., 2010).
As perguntas da entrevista abordaram
questões sobre o perfil social do entrevistado e sobre as plantas fitossanitárias usadas pelos
agricultores. Por meio da listagem livre, os colaboradores foram solicitados a citar nomes
populares das plantas
usadas e, a partir dessa listagem, foram direcionados à entrevista semiestruturada, a fim de se obterem informações específicas sobre cada planta mencionada (ALEXIADES e SHELDON, 1996). Os pontos abordados nas entrevistas encontram-se na Tabela 1. No
total, foram feitas
12 perguntas que
discutiam tanto questões
sociais, quanto conhecimentos gerais acerca das plantas fitossanitárias, além de oito perguntas específicas de cada planta
fitossanitária citada nas respostas
dadas às perguntas
gerais.
Tabela 1. Itens abordados nas
questões semiestruturadas das entrevistas.
Questões
gerais
|
Questões
específicas de cada planta
|
1- Idade
|
1- Nome da planta
fitossanitária
|
2- Sexo
|
2- Indicações agronômicas para o uso da planta
fitossanitária
(repelente, inseticida,
fungicida, atrativa, etc.)
|
3- Local de nascimento
|
3-
Organismo alvo que a fitossanitária combate
|
4- Local onde cresceu
|
4- Hábito (erva, capim, subarbusto, arbusto, árvore, etc.)
da
fitossanitária
|
5- Grau de escolaridade
|
5- Local
de coleta da fitossanitária (natureza, quintal, área de
cultivo ou comércio);
|
6- Fonte de obtenção do conhecimento
|
6-
Tipo de uso da fitossanitária (indivíduo inteiro plantado
perto das
culturas, pulverização do extrato líquido, uso do óleo essencial botânico ou outro
tipo de uso)
|
7- Transferência do conhecimento
|
7-
Parte da fitossanitária usada (raiz, casca, folha, fruto,
semente, flor ou toda a
planta) para fabricação de extrato pelos entrevistados
|
8- Principais plantas fitossanitárias usadas
|
8- Possíveis efeitos negativos do
uso dessa fitossanitária no
desempenho das culturas
agrícolas
|
9- Principais problemas agronômicos
relatados para o uso das
fitossanitárias
|
|
10- Principais organismos alvo que as
fitossanitárias combatem
|
|
11- Lavoura mais suscetível aos organismos
alvo
|
|
12- Algum problema colateral devido ao
uso das fitossanitárias
|
Antes das análises dos resultados, foram identificados o nome da espécie e a família da planta citada por cada entrevistado, usando-se o nome popular, hábito, fotografias e a literatura (LORENZI e MATOS, 2008; MATOS et al., 2011), sendo tais informações confirmadas nos sites Flora do Brasil 2020 em construção e Tropicos. A partir disso, foi feita uma lista de espécies das plantas fitossanitárias utilizadas e de suas indicações agronômicas.
Para os dados socioeconômicos, foi verificado se havia diferença
estatística entre os entrevistados em relação à faixa etária, ao local de
origem e de crescimento, tipos de fontes de obtenção do conhecimento e nível de escolaridade. Posteriormente, foi realizada verificação estatística do efeito do local de nascimento, local
de crescimento, tipo
de fontes de obtenção do conhecimento e nível
de escolaridade sobre
o conhecimento acerca
das plantas fitossanitárias.
Para os dados sobre cada
planta e seus usos, foram
determinados, estatisticamente, a mais
citada, o tipo de cultura
mais suscetível e os tipos
de parasitas mais
combatidos pelas fitossanitárias (mastigador, raspador,
brocador de frutos,
sugador e patógenos).
Para tanto, todos os dados
foram testados quanto
a sua normalidade. Considerando que a
análise preliminar (Shapiro-Wilk) revelou ausência de normalidade em todos os dados, as análises
foram determinadas pelo teste Kruskal-Wallis. Para identificar possíveis fontes de variação
nos dados analisados anteriormente, a comparação par-a-par
foi feita por meio do teste de Mann-Whitney. Todas as
análises foram conduzidas usando o software
Past 3.18 (HAMMER
et al., 2001),
utilizando alfa igual
a 5%.
Dos
trinta entrevistados, a maioria estava
na faixa etária
dos 30 a 59 anos
de idade, abrangendo o grupo dos adultos
(53,33%). Os idosos, a partir dos 60 anos, corresponderam a 30% dos
entrevistados. Os jovens, na faixa dos 20 anos, eram 16,67% dos entrevistados e
foram estatisticamente menos representativos do que os adultos (H = 6,132;
p < 0,05). Foi observado que a maioria dos
jovens que permaneceu no campo não tinha conhecimento sobre o uso das plantas fitossanitárias, uma vez que não
foram selecionados para as entrevistas, devido à técnica de reconhecimento dos potenciais entrevistados ter sido bola-de-neve.
Dos
agricultores entrevistados, 44% eram do sexo feminino e 56% do sexo masculino. A maioria nasceu no Nordeste (36,67%), seguida pelas regiões
Centro-Oeste (30%), Sudeste
(20%) e Sul (6,67%).
Em torno de 6,7% dos entrevistados nasceram
no Japão. Ao comparar estatisticamente a origem dos entrevistados, foi demonstrado que os agricultores oriundos da região
Sul e do Japão foram
menos representativos nas entrevistas do que os originados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (H = 6,556;
p
<
0,05).
A partir das
entrevistas, foi constato que os agricultores migraram para Planaltina no decorrer de suas vidas, pois aqueles que cresceram na região Nordeste
foram 30%, Centro-Oeste 36,67%, Sudeste 16,67%,
Sul 6,67% e Japão 10%.
Novamente, apenas os entrevistados que cresceram no Sul do Brasil e no Japão se diferenciaram estatisticamente dos demais,
uma vez que representaram a minoria
(H = 5,96; p < 0,05).
A migração para
Planaltina ocorreu durante
diferentes períodos. Apesar
de ser uma
cidade histórica, criada
em 1859 (CORREIO BRAZILIENSE, 2017),
o grande afluxo de imigrantes para a cidade
foi mais intenso no período
da construção de Brasília, quando
ocorreu o incentivo da vinda de mão de obra
para o gigantesco empreendimento republicano (PDAD, 2011) e após criação
de programas de colonização e reforma agrária
na região, como o Programa
de Assentamento Dirigido
do DF (PAD/DF), em que há áreas de cultivo entre Planaltina e
Paranoá para plantio de cereais e cultivo de hortifrutigranjeiros (CORREIO
BRAZILIENSE, 2017).
O uso e conhecimento das
plantas fitossanitárias pelos
agricultores não foi influenciado pelo local de nascimento e crescimento de cada um. Tal resultado demonstra que o conhecimento sobre esse tipo de manejo
era homogêneo entre os entrevistados oriundos do NE, CO e SE (Hc = 0,3585;
p > 0,05) e entre os entrevistados que também cresceram nessas regiões (Hc = 0,3124;
p > 0,05). Portanto, pode-se
concluir, para essa pesquisa, a inexistência de um determinante geográfico para
o conhecimento etnobotânico das fitossanitárias, uma vez que eles apresentavam nível de conhecimento equivalente entre
si. Infelizmente essas
análises não foram
feitas para os entrevistados nascidos e crescidos no Japão e na região Sul, devido ao baixo número amostral.
Foi comprovado baixo nível escolar,
pois 40% dos agricultores investigados não concluíram a educação básica e 6,67%
eram analfabetos funcionais. 23,33% dos entrevistados concluíram apenas o ensino fundamental e a mesma porcentagem foi daqueles que finalizaram o ensino médio.
Apenas 6,67% concluíram o ensino
superior. Não foi observada uma relação clara entre o nível de escolaridade
com o conhecimento sobre as plantas fitossanitárias (H = 2,261;
p > 0,05). Provavelmente, a educação
formal escolar não prioriza esse
tipo de informação, ensinando outros conteúdos nas escolas (PCN, 2000), o que é extremamente frustrante ao se pensar
que este é um tipo de conhecimento prático que pode
efetivamente melhorar as condições de vida das pessoas, principalmente daquelas
que apresentam uma ligação rural.
O aprendizado etnobotânico dos agricultores foi considerado geracional e familiar, pois 53,33%
aprenderam com familiares; enquanto 16,67% obtiveram o conhecimento de forma empírica; 10% aprenderam com terceiros; 10% aprenderam lendo
livros e revistas; e 10% instruíram-se de outras formas não citadas
nas entrevistas. Portanto,
a partir desses dados, foi constatada diferença estatística entre as diferentes formas de se adquirir o conhecimento acerca das fitossanitárias (H = 5,256;
p < 0,05). Porém,
não foi observada relação entre o nível do conhecimento das
plantas com os tipos de fontes de obtenção do conhecimento, dentre
elas a forma de obtenção
geracional, empírica e por
estudos (Hc = 0,8782; p > 0,05).
Observando números absolutos de plantas fitossanitárias citadas pelos entrevistados, os mais conhecedores foram:
em primeiro lugar,
um entrevistado que adquiriu seu conhecimento por meio de estudos, cursos
e leituras (10 plantas citadas); e, em segundo
lugar, outro entrevistado que adquiriu seu conhecimento por meio geracional (sete plantas citadas). Os outros 28 agricultores investigados citaram de uma a três plantas
que podem ser usadas no manejo de pragas. A partir dessa análise, percebe-se, então, que esse tipo
de conhecimento, muitas
vezes, deriva do interesse específico da pessoa envolvida no processo
de obtenção de informações e referências.
Quando perguntado se os entrevistados ensinariam seus conhecimentos sobre
plantas fitossanitárias a outras pessoas,
83,33% afirmaram gostar
de ensinar seus
saberes e 16,67%
relataram não ensinar. Provavelmente, essa troca de conhecimentos ocorre
mais entre membros
de uma mesma família, já que o saber se destacou
por ser geracional.
Os agricultores citaram
22 espécies de plantas fitossanitárias (Tabela 2), das quais, a mais
relatada foi o fumo, que se diferenciou estatisticamente das outras
(H = 61,76; p < 0,01). Tal fato
demonstra que o uso das plantas fitossanitárias foi inespecífico, uma vez que
nenhum grupo de parasitas foi combatido de forma específica, já que o uso de fumo nas culturas foi generalizado. As outras espécies
de plantas fitossanitárias foram citadas apenas
quatro vezes (gergelim e pimenta), três (citronela), cabacinha, coentro e hortelã
(duas vezes) ou uma vez (as demais).
De acordo com
o relatado nas
entrevistas, foram contabilizadas 15 citações para o fumo,
que deve ser usado tanto em consórcio quanto em extrato.
O uso abundante de fumo por agricultores familiares também já foi
relatado por Morais (2011). A toxicidade do fumo está relacionada à composição química de suas folhas
com nicotina, alcalóide majoritário e, também,
anabasina (LORENZI e MATOS,
2008). Apesar de ter sido muito citado
como um inseticida natural pelos entrevistados, o fumo deve ser aplicado apenas nas folhas, caules e frutos não
comestíveis, uma vez que seus compostos químicos
são muito tóxicos
para mamíferos (LOVATTO
et al., 2004). Ademais, as culturas
submetidas ao extrato
de fumo precisam passar por um período de carência de pelo menos
oito dias após a aplicação para serem colhidas
(MARTÍ et al., 2010). Portanto,
sua utilização em demasia para controle biológico deve ser evitada (LOVATTO
et al., 2004), tendo uso restrito na agricultura orgânica (MARTÍ et al., 2010).
Além disso, a recomendação de seu uso é para
pequenas culturas, pois o seu manuseio é perigoso para a saúde
do agricultor e de seus animais (MATOS
et al., 2011).
Tabela 2. Descrição das plantas fitossanitárias utilizadas pelos agricultores familiares de Planaltina – DF
Nome Popular
|
Nome Científico
|
Família
|
Hábito
|
Indicação
|
Consórcio
|
Extrato
|
Associada
com outra planta
|
Alho
|
Allium sativum
|
Amaryllidaceae
|
Erva
|
Repelente
|
X
|
||
Arruda
|
Ruta graveolens
|
Rutaceae
|
Erva
|
Repelente
|
X
|
||
Bananeira
|
Musa paradisiaca
|
Musaceae
|
Erva
|
Barreira
|
X
|
||
Baru
|
Dipteryx alata
|
Fabaceae
|
Árvore
|
Inseticida
|
X
|
X
|
|
Cabacinha
|
Luffa operculata
|
Cucurbitaceae
|
Liana
|
Atrativa
|
X
|
||
Café
|
Coffea arabica
|
Rubiaceae
|
Arbusto
|
Repelente
|
X
|
X
|
|
Capim elefante
|
Pennisetum purpureum
|
Poaceae
|
Capim
|
Barreira
|
X
|
||
Cebola
|
Allium cepa
|
Amaryllidaceae
|
Erva
|
Repelente
|
X
|
||
Citronela
|
Cymbopogon winterianus
|
Poaceae
|
Capim
|
Repelente
|
X
|
||
Coentro
|
Coriandrum sativum
|
Apiaceae
|
Erva
|
Atrativa
|
X
|
||
Erva doce
|
Foeniculum vulgare
|
Apiaceae
|
Erva
|
Atrativa
|
X
|
||
Espada de São Jorge
|
Sansevieria
trifasciata
|
Asparagaceae
|
Erva
|
Barreira
|
X
|
||
Fumo
|
Nicotiana tabacum
|
Solanaceae
|
Erva, Subarbusto
|
Inseticida
|
X
|
X
|
X
|
Gergelim
|
Sesamum indicum
|
Pedaliaceae
|
Erva,
Subarbusto
|
Inseticida
|
X
|
||
Hortelã
|
Mentha spicata
|
Lamiaceae
|
Erva
|
Repelente
|
X
|
||
Laranjeira
|
Citrus sinensis
|
Rutaceae
|
Árvore
|
Atrativa
|
X
|
X
|
|
Lobeira
|
Solanum
lycocarpum
|
Solanaceae
|
Arbusto,
Árvore
|
Inseticida
|
X
|
||
Milho
|
Zea mays
|
Poaceae
|
Erva
|
Controle de nematoides no solo
|
X
|
||
Picão
|
Bidens pilosa
|
Asteraceae
|
Erva
|
Atrativa
|
X
|
||
Pimenta
|
Capsicum frutescens
|
Solanaceae
|
Arbusto
|
Repelente
|
X
|
||
Repolho
|
Brassica oleracea
|
Brassicaceae
|
Erva
|
Herbicida
|
X
|
X
|
|
Soja
|
Glycine max
|
Fabaceae
|
Erva
|
Controle de nematoides no solo
|
X
|
Após o fumo, os mais mencionados foram o gergelim
e a pimenta, com quatro
citações cada. O gergelim, segundo os agricultores, deve
ser usado em consórcio com outras culturas, principalmente com as hortaliças, o que já foi enfatizado por Boaretto e Forti (1997).
De acordo com Martí et al. (2010), deve-se espalhar sementes de
gergelim nos canteiros e sobre o formigueiro, pois as sementes intoxicam as formigas
cortadeiras que levam o gergelim
para o formigueiro, causando, assim, a morte do ninho de formigas.
Cabe ressaltar que o cultivo
do gergelim é de fácil
manejo, pois a planta é tolerante à seca, tem bom potencial produtivo, além de ser pouco exigente em fertilidade do solo e água (ÁVILA e GRATEROL, 2005). Por fim, além de auxiliar no combate a folívoros, de acordo com os
agricultores entrevistados, os grãos do gergelim podem
ser vendidos (PERIN et al., 2010), o que
incrementa a renda do agricultor familiar.
A pimenta pode ser usada
na forma de extrato ou em consórcio, segundo os agricultores. A pimenta malagueta é utilizada na fabricação dos extratos, devido
à presença em grande quantidade do alcalóide capsicina (FILGUEIRA, 2005). A concentração de capsaicinóides está
relacionada à atividade antibacteriana (CARVALHO et al., 2005).
Plantas com alcalóide também são evitadas
por animais, pois ele confere gosto amargo
e toxidez (SANTOS
e MELLO 2010).
A citronela foi citada por três agricultores que observaram o poder da planta consorciada a outras culturas para
afugentar vários tipos
de mosquitos. Apesar
de não ter sido citado
o uso de seu extrato, o óleo essencial da citronela é a forma
mais comum de combate aos
insetos, já que ele contém geraniol e citronela (LIN, 1998). Testes
in vitro também já comprovaram o efeito benéfico
do extrato de citronela no controle de mosca branca (TAVARES et al., 2010).
A maioria das plantas citadas
forma o grupo das plantas
repelentes (alho, arruda,
cebola, hortelã) ou atrativas
(cabacinha, coentro, erva-doce e laranja). As plantas repelentes geralmente são
aromáticas e desviam os ataques às plantações devido ao cheiro forte,
podendo ser usadas em consórcio ou em extratos, segundo
o relato dos agricultores. Seu odor, geralmente, é originado de óleos essenciais (LORENZI e MATOS,
2008; MATOS et al., 2011),
tais como limoneno, alfa-pineno e beta- pineno (exemplos dos terpenoides do
óleo essencial de limão) (ASCHERI et al., 2003). Já as plantas atrativas podem
atrair os herbívoros devido ao cheiro
que exalam por
conta de seus
óleos essenciais ou porque oferecem vasta quantidade de recursos alimentares (PANIZZA, 1999).
De acordo com um entrevistado, a hortelã em consórcio repele insetos que
prejudicam a cultura da couve.
Martí et al. (2010) e Previero et al. (2010)
afirmam que o aroma da hortelã afasta lepidópteros, formigas
e até ratos, por isso, ela deve ser plantada
na bordadura das lavouras. O óleo de hortelã, também, apresenta elevado
potencial fungicida sob
o crescimento do fungo da antracnose
(SOUSA et al.,
2012). Ademais, sua utilização é facilitada, uma vez que apresenta crescimento vigoroso em lavouras, pois cresce em condições adversas,
sem muita exigência
de manejo e fertilidade do solo
(LORENZI e MATOS, 2008). Da mesma maneira,
seu extrato aquoso
ou chá pode ser aplicado
sobre a cultura, pois a hortelã
é um repelente natural de insetos em geral (PREVIERO et al., 2010).
A arruda afugenta os insetos, como
formigas cortadeiras, de acordo com
a observação de um
entrevistado que também afirmou que seu extrato aquoso combate lagartas. Martí
et al. (2010) declaram que o extrato aquoso
de arruda repele
formigas e ratos,
além de combater pulgões e inibir 100% o crescimento de vários fungos
fitopatogênicos (SCHWAN-ESTRADA et al., 2000).
Segundo relato de um entrevistado, alho e cebola
são utilizados para
fazer extratos aquosos, sendo muito eficazes para
repelir insetos folívoros de hortaliças. O extrato de alho, em especial, pode ser usado
no controle de larvas de lepidópteros, pulgões
e fungos patogênicos (BRECHELT, 2004). Já o
extrato de cebola controla população de lagartas, vaquinhas e pulgões (MARTÍ
et al., 2010).
Entretanto, a cebola é considera tóxica para grandes
animais pastadores, como bovinos (KOGER,
1956), equinos (THORP e HARSHFIELD, 1939) e ovinos (VAN KAMPEN
et al., 1970) quando ingerida
em grande quantidade de uma
única vez, pois o princípio bioativo da cebola, n-propil dissulfito, causa a
transformação da hemoglobina em metemoglobina. Por conta disso, os animais
ficam apáticos, hipotérmicos e com coloração arroxeada (WEISER 1992).
A cabacinha, segundo
os dois agricultores que a relataram, funciona como plant a atrativa, pois atrai
insetos herbívoros para o seu fruto. Provavelmente, a cabacinha foi citada na pesquisa, pois
é muito usada em práticas nordestinas, uma vez que muitos dos entrevistados nasceram
na região Nordeste do país.
O coentro atrai, especificamente, vaquinha, mosca branca e pulgão como
relatado pelos entrevistados. Entretanto, segundo Martí et al. (2010),
o coentro repele
ácaros e pulgões.
Além disso, de acordo
com Togni et al. (2010),
a presença do coentro beneficia a abundância e a diversidade de inimigos naturais, sendo uma excelente alternativa de consórcio
com o cultivo de tomate.
Essa atração pode ser explicada pela composição química
do coentro, destacando-se seu óleo essencial, pectinas, mucilagem e flavonoides (PANIZZA, 1999).
A erva-doce foi citada por um entrevistado como atrativa para
o pulgão que ataca brócolis e feijão. Provavelmente, isso ocorre devido
à presença de muitos recursos
alimentares para os insetos.
Segundo Couto (2006), a erva-doce apresenta folhas compostas de
morfologias variadas, inflorescências em umbelas com flores pequenas
e brancas, bem como frutos
com cheiro forte e sabor adocicado. Além disso, a erva-doce apresenta
crescimento vigoroso, formando
touceiras (LORENZI e MATOS,
2008), o que
aumenta a disponibilidade de biomassa para
o consumo de herbívoros. Apesar
de não ter sido
citado o uso de seu
extrato, ensaios de laboratório mostraram sua atividade inseticida e antifúngica (SIMÕES et al.,
1998). Ademais, pesquisas demonstram que a erva-doce, assim como o coentro,
também atrai inimigos naturais devido à liberação de seu óleo essencial,
composto basicamente por (E)-anetol que possui característica adocicada (RESENDE et al., 2015).
O suco de laranja, também,
pode ser usado
como atrativo por conta de seu odor aromatizante.
Segundo um dos agricultores, esse suco deve ser colocado
em garrafas pet destampadas, que serão penduradas próximo
às lavouras de frutas no início da produção. O suco atrai
as moscas da fruta, que acabam
morrendo afogadas. Essa técnica é chamada “garrafa caça-mosca”, sendo
eficientemente utilizada com suco
de laranja, de pêssego ou de uva (AGUIAR-MENEZES et al., 2006;
MARTÍ et al.,
2010). A armadilha pet para captura
de moscas-das-frutas já foi testada
cientificamente, demonstrando ser extremamente hábil. Ela pode ser usada tanto em pomares comerciais quanto domésticos, como comprovado por Aguiar-Menezes et al. (2006).
O picão foi citado por um agricultor que o utiliza
em consórcios com hortaliças. De acordo com ele, a planta é um atrativo para o pulgão,
a vaquinha e a mosca
branca. O estabelecimento de faixas com plantas
espontâneas fora da área de cultivo também
é estimulado na agricultura orgânica, pois elas serão refúgios
para a fauna benéfica (PEREIRA
e MELO, 2008).
Entretanto, a própria
literatura agronômica considera o picão como uma planta espontânea que compete com as culturas
por espaço, nutrientes e água (FAVERO
et al., 2001). Ademais, o picão, também,
é reservatório de nematoides do gênero Meloidogyne, sendo seu
hospedeiro nas entressafras (LORDELLO et al., 1975). Portanto, é aconselhada sua
retirada manual da área de cultivo. Em função disso,
estudos mais aprofundados sobre o uso do picão como planta fitossanitária necessitam ser realizados.
O capim elefante, a bananeira e a espada-de-são-jorge foram
citados por agricultores como possíveis barreiras
físicas à disseminação de pragas. Para eles, essas plantas fitossanitárias formam corredores que isolam
a cultura de interesse do ataque de pragas, quando
estão dispostas em linhas
próximas às plantações, evitando que insetos ou doenças migrem
de uma propriedade para outra. Zambolim et al. (2004)
afirmam que as barreiras físicas
são uma forma
de controle de pragas, sendo formadas por corredores de plantas
e/ou barreiras geográficas. No caso específico citado pelos agricultores, a bananeira, o capim-elefante e a espada-de-são-jorge formam
touceiras, o que favorece a formação da barreira sanitária (MOURA et al., 2002; EMBRAPA,
2016).
O extrato de repolho foi relatado por
um entrevistado como
herbicida que pode
ser usado para diminuir incidência de plantas espontâneas ao ser borrifado sobre elas. Rezende
et al. (2016) também demonstrou, em seus estudos,
que o extrato aquoso de repolho inibe
a germinação de sementes e diminui o desenvolvimento das plântulas de alface, por meio da necrose do ápice radicular e torção do caule.
Quatro citações intrigantes de uso de
fitossanitárias foram observadas. Duas plantas, milho e soja, fazem parte
do grupo para
controle de nematoides no solo. As outras duas,
baru e café, fazem parte do grupo das plantas com ação secundária.
Provavelmente um agricultor citou o milho
e a soja no controle
de nematoides, pois
elas são culturas hospedeiras desses tipos de vermes (CASELA
et al., 2006; DIAS et al., 2010).
Assim, os nematoides abandonariam as hortaliças cultivadas e infestariam as raízes dessas
plantas. Entretanto, o uso do milho e da soja como atrativas de nematoides só deve ser feito quando
não houver plantações comerciais dessas
espécies nas áreas
circunvizinhas. Caso contrário, esse tipo de manejo poderá favorecer o surgimento de doenças causadas por nematoides, podendo
ocorrer redução significativa da produção de grãos de milho
e soja.
Das plantas com ação secundária, um entrevistado mencionou a borra do café misturada com fumo. De acordo
com ele, ela combate os insetos comedores de folhas. Por fim, outro
relatou sobre a casca
do tronco do baru que deve ser deixada de molho com o fumo
e, após curtidos
por vários dias, devem ser borrifados nas plantas para
combater folívoros. Os agricultores que
citaram o café
e o baru como plantas
fitossanitárias afirmaram que nos dois casos é necessário acrescentar o fumo à mistura.
Por isso, acredita-se que o efeito inseticida se deva à presença do
fumo, uma vez que não foi encontrado nenhum relato
na literatura da ação do café e do baru
para combater pragas.
Entretanto, uma pesquisa mais
aprofundada necessita ser feita a fim de elucidar tais
citações.
Os agricultores citaram as folhas (64,44%) como o principal recurso das
fitossanitárias consorciadas com as culturas para
atrair, combater ou afugentar as pragas. De acordo com
eles, as plantas fitossanitárias devem ser plantadas ao acaso, junto com a cultura (43,24%
dos casos) ou perto
da cultura em linhas (32,43%).
Outros tipos de distribuição das plantas fitossanitárias foram citados em menor proporção. A eficiência do consórcio de plantas fitossanitárias com culturas agrícolas para o manejo de pragas
já foi demonstrada em diversos estudos. Por exemplo, Peres et al. (2009)
demonstraram que o consórcio de cravo-de-defunto com
melão diminuiu o ataque de tripes à cultura,
já que o cravo-de-defunto funciona como planta atrativa. Martí et al. (2010) também
indicou, em seu guia de campo, plantar
gergelim nos aceiros
dos cultivos ou em consórcios para atrair moscas.
Os agricultores também
citaram as folhas
(62,96%) como o órgão mais
usado na fabricação dos extratos. Tal resultado corrobora o encontrado por Morais (2011),
cuja pesquisa cita que 80% dos
entrevistados
detentores de conhecimento de fitossanitárias usam
as folhas das mesmas para
decocção e posterior aplicação no cultivo atacado.
A maioria dos entrevistados do nosso estudo não relatou problemas com o uso dos extratos
(93,33%). Entretanto, 6,66% dos entrevistados relataram a queima das folhas da cultura
na qual foram
aplicados os extratos
de pimenta e/ou fumo. De acordo com Isman
(2000), os óleos
essenciais botânicos mais
eficientes podem ser,
também, os mais
fitotóxicos, podendo levar a planta à morte. Por isso, guias de manejo
alternativo de pragas
sugerem que tais extratos
precisam ser aplicados em dias nublados, mais frios e com pouco vento, caso contrário, causam
danos nos tecidos das plantas cultivadas. Além disso, os extratos de defensivos mais fortes, como pimenta e fumo,
devem ser preparados e aplicados por pessoas com equipamentos de proteção individual e em áreas sem crianças e animais domésticos (MARTÍ et al. 2010).
De acordo com os entrevistados, as lavouras mais suscetíveis apontadas no levantamento foram as hortaliças (70,59%), que se diferenciaram estatisticamente (H = 46,22;
p < 0,01) das demais culturas de grãos (17,65%),
frutos (8,82%) e flores (2,94%).
Esse resultado já era o esperado, pois as
hortaliças são reconhecidas por exigirem frequentes tratos culturais por
serem constantemente atacadas por pragas (NAKANO,
1999). Além disso,
como elas são cultivadas, predominantemente, em áreas menores quando comparadas às grandes culturas
(FILGUEIRA, 2005) e ao redor dos grandes centros (NAKANO, 1999), o cultivo de hortaliças é comumente realizado pelos agricultores do Núcleo
Rural Santos Dumont em Planaltina, cujas propriedades têm tamanhos reduzidos. Por isso, elas foram
amplamente citadas como
as lavouras mais
suscetíveis a pragas
pelos entrevistados.
Os principais grupos
de pragas mencionados pelos agricultores estão
diretamente relacionados às lavouras
mais suscetíveis, como as hortaliças. Por exemplo, foram citados insetos
folívoros, como mastigadores e
raspadores, insetos frugívoros, artrópodes sugadores e patógenos, ocorrendo
maior predominância de mastigadores entre os grupos
de pragas citados
(H = 49,04; p < 0,01). Tal resultado
demonstra que as plantas fitossanitárias são mais utilizadas para combater artrópodes herbívoros, como formiga cortadeira, lagarta, mosca branca,
pulgão e vaquinha, do que patógenos.
O presente trabalho
confirmou o conhecimento etnobotânico dos agricultores para um manejo de pragas e doenças
sem o uso de agroquímicos. Entretanto, o uso de fumo necessita de melhor
controle, uma vez
que sua toxicidade é alta para
seres humanos. Por isso, o trabalho demonstrou que novas pesquisas precisam
ser feitas a fim de se elucidar
os efeitos residuais do extrato do fumo na saúde das pessoas, pois
foi demonstrado seu amplo uso em plantas
que são alimentos crus. O trabalho demonstrou, do mesmo
modo, que o conhecimento de plantas fitossanitárias estava restrito,
principalmente no grupo dos adultos,
e que tais agricultores apresentavam baixo nível escolar.
As culturas mais suscetíveis à praga e manejadas com
fitossanitárias foram as hortaliças, que são atacadas por variados
grupos de parasitas, principalmente mastigadores. Por fim, os resultados do presente
trabalho demonstram a urgência em se fazer divulgações de manejos alternativos de pragas com plantas fitossanitárias a agricultores familiares, por meio de cursos de capacitação, uma vez que o uso do
fumo foi dominante em comparação com o uso de outras
plantas menos danosas
à saúde humana. Mesmo assim, o estudo
demonstrou o grande
potencial em se estudar modelos
alternativos de manejo de pragas com os agricultores familiares do Brasil.
Agradecimentos
Agradecemos aos agricultores do Núcleo Rural
Santos Dumont pela disponibilidade para participar das entrevistas e ao IFB/CNPq
pela bolsa de iniciação à pesquisa da primeira autora.
Agradecemos aos revisores anônimos da Revista Brasileira de Agroecologia pelas
valiosas sugestões que aprimoraram
nosso trabalho.
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