Autores: Júlio César Mello, Pedro Paulo Fantini e Altamiro
Morais Matos Filho
Publicação: O trabalho compõe a parte I – Recomendações gerais para produção
sustentável de hortaliças - do Boletim Didático nº
107 “Produção de hortaliças em Santa
Catarina”, publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação
completa e ilustrada com 156 páginas, devem entrar em contato através do site: www.epagri.sc.gov.br
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Importância
A obtenção de mudas de alta qualidade é
fator determinante no sucesso da produção. Problemas que ocorrem na fase de
produção de mudas serão evidenciados na planta adulta, quando dificilmente
poderão ser corrigidos.
O processo de produção de mudas que
confere maior qualidade é o sistema de cultivo protegido, uma tecnologia que
pode tornar o ambiente mais favorável para a parte aérea e as raízes das
plantas.
Sementes e suas
qualidades
Genética
É o que define para cada espécie de planta
detalhes como a forma, cor, sabor, adaptação ao clima, resistência a doenças,
capacidade de produção, etc. As características de cada espécie, variedade ou
híbrido são influenciadas pelo ambiente onde a planta se desenvolve.
Na escolha da semente, deve-se considerar
a capacidade de adaptação da planta às condições de cultivo, como tipo de solo,
adubação, clima e época de plantio, além das exigências do mercado consumidor.
Fisiológica
Nas sementes vivas
existe uma atividade metabólica responsável pela respiração e circulação de
nutrientes. A capacidade da semente germinar e ter vigor depende das condições
de armazenamento quanto à temperatura, umidade, luminosidade e concentração de
oxigênio e gás carbônico.
Germinação
É o valor expresso
em porcentagem que indica a quantidade de sementes que podem germinar sob boas
condições de semeadura. As temperaturas exigidas por diversas hortaliças são
apresentadas na tabela 1.
TABELA 1 - Exigência de temperatura do substrato para germinação de diversas
hortaliças.
Cultura
|
Temperatura
(ºC)
|
|||
Mínima
|
Máxima
|
Ótima
|
Variação
Ótima
|
|
Abóbora/Abobrinha
|
16
|
38
|
35
|
21 a 35
|
Acelga
|
4
|
35
|
29
|
10 a 29
|
Aipo ou Salsão
|
4
|
29
|
21
|
16 a 27
|
Alface
|
2
|
29
|
24
|
4 a 27
|
Aspargo
|
10
|
35
|
24
|
16 a 29
|
Berinjela
|
16
|
35
|
29
|
24 a 32
|
Beterraba
|
4
|
35
|
29
|
10 a 29
|
Cebola
|
2
|
35
|
24
|
10 a 35
|
Cebolinha
|
2
|
35
|
24
|
10 a 35
|
Cenoura
|
4
|
35
|
27
|
7 a 29
|
Coentro
|
4
|
32
|
24 a 29
|
10 a 29
|
Couve-flor
|
4
|
38
|
27
|
7 a 29
|
Ervilha
|
4
|
29
|
24
|
4 a 24
|
Espinafre verdadeiro
|
2
|
29
|
21
|
7 a 24
|
Feijão-de-vagem
|
16
|
35
|
27
|
16 a 29
|
Melancia
|
16
|
41
|
35
|
21 a 35
|
Melão
|
16
|
38
|
32
|
21 a 35
|
Milho
|
10
|
41
|
35
|
16 a 35
|
Moranga
|
16
|
38
|
32
|
21 a 32
|
Nabo
|
4
|
41
|
29
|
16 a 41
|
Pepino
|
16
|
41
|
35
|
16 a 35
|
Pimenta
|
16
|
35
|
29
|
18 a 35
|
Pimentão
|
16
|
35
|
29
|
18 a 35
|
Quiabo
|
16
|
41
|
35
|
21 a 35
|
Rabanete
|
4
|
35
|
29
|
7 a 32
|
Rábano
|
4
|
38
|
27
|
7 a 29
|
Repolho
|
4
|
38
|
29
|
7 a 35
|
Salsa
|
4
|
32
|
24
|
10 a 29
|
Tomate
|
10
|
35
|
29
|
16 a
29
|
Fonte: Isla
Sementes, 2012
Vigor
É a capacidade que a semente tem de, após
germinar, formar mudas fortes a partir das reservas nutritivas armazenadas na
semente.
Pureza
É a porcentagem que indica a quantidade de
outras espécies misturadas às sementes de outras espécies ou variedades.
Validade
É a data até a qual as sementes bem
armazenadas mantêm o poder de germinação.
Sanidade
As sementes podem carregar algumas
bactérias, fungos e vírus patogênicos. A maioria das sementes comercializadas
vem tratada com produtos químicos para controle desses microorganismos, o que
não garante a sua sanidade. A maneira mais garantida de ter sementes isentas de
patógenos e ainda melhorar a uniformidade de germinação é fazer o tratamento
hidrotérmico, que consiste no uso
de água quente para eliminar microrganismos maléficos (patogênicos) das
sementes. O procedimento deve ser realizado em sementes novas, secas, vigorosas, intactas, não peletizadas, não
peliculizadas e com bom poder germinativo.
Tipos de sementes
comercializadas
Semente
nua
É a semente que passou apenas por um
processo de limpeza e secagem, podendo receber tratamento hidrotérmico ou com
fungicidas e inseticidas.
Semente
peletizada
É a que, além dos
tratamentos anteriores, é envolvida por uma camada de material inerte que
aumenta e uniformiza o seu volume. Isso facilita o manuseio e permite o uso de
máquinas de semeadura, além de manter uma camada úmida em contato entre a
semente e o substrato em que ela for semeada, melhorando as condições de
germinação.
Semente
peliculizada
É a que recebe, junto com
fungicidas e inseticidas, uma espécie de goma que permite a aderência destes
produtos à semente, evitando que se solte e ofereça riscos de contaminação ou
que perca a eficiência.
Cuidados na
compra de sementes
- Observe se está
armazenada em ambiente adequado;
- Evite comprar
semente a granel;
- Observe as indicações
de qualidade e data de validade no rótulo;
- Escolha o
cultivar que mais se adapte às condições de sua
região e que tenha boa aceitação no mercado alvo.
Tratamento
hidrotérmico de sementes de hortaliças
É
o uso de água quente para eliminar microorganismos maléficos(patogênicos) das
sementes. Para fazer o tratamento hidrotérmico as sementes devem ser novas,
secas, vigorosas, intactas, não peletizadas, não peliculizadas e com bom poder
germinativo.
Material necessário:
-
Garrafa
térmica;
-
Peso
(pedrinha ou parafuso);
- Termômetro
graduado até 100 ºC;
-
Pano
poroso (tipo tule);
-
Água
quente;
-
Álcool.
Passos do tratamento:
- Colocar
as sementes, com o peso, em um pano poroso, que possa passar na boca
da garrafa
térmica;
- Aquecer
água até 60 ºC;
- Colocar
água na garrafa térmica até ¾ do seu volume;
- Com o
termômetro, acompanhar a diminuição da temperatura da água até 1,0 ºC acima da
temperatura recomendada para a semente a ser tratada (tabela 2);
- Mergulhar
rapidamente a semente em álcool;
- Colocar
a semente dentro da garrafa térmica e fechá-la;
- Aguardar
o tempo recomendado para o tipo de semente a ser tratada;
- Durante
este tempo, movimentar a garrafa gentilmente de vez em quando;
- Passado
o tempo, tirar a semente e esfriar em água na temperatura ambiente;
- Espalhar
as sementes sobre jornal, à sombra, para enxugá-las;
- Semear após o enxugamento;
- As sementes tratadas a
quente não podem ser armazenadas.
TABELA 2 – Temperatura e tempo de tratamento
hidrotérmico para as espécies.
Temperatura da água (ºC)
|
Tempo
(minutos)
|
|
45
|
30
|
|
Brócolis
|
50
|
20
|
Cenoura
|
50
|
20
|
Couve-de-bruxelas
|
50
|
25
|
50
|
20
|
|
Espinafre
|
50
|
25
|
50
|
15
|
|
50
|
20
|
|
50
|
20
|
|
Pimentão
|
50
|
25
|
50
|
15
|
|
50
|
20
|
|
Repolho
|
50
|
25
|
45
|
30
|
|
Tomate
|
50
|
25
|
Fonte: Soave & Wetzel, 1987
Como produzir mudas com
qualidade
Semeadura
As sementes devem ser de boa qualidade. É
colocada apenas uma semente por recipiente para evitar o desbaste. São cobertas
com substrato sem torrões a uma profundidade igual a três vezes o seu maior
diâmetro. Semeia-se 10% a mais da necessidade de mudas para repor suas
eventuais perdas. Na tabela 3 são apresentados as quantidades de sementes por
grama e por área cultivada.
TABELA 3 – Quantidades de sementes por grama e
por área cultivada.
Cultura
|
Nº
de Sementes (grama)
|
Espaçamento
entre
plantas
(metros)
|
Quantidade de sementes
(kg/ha)
|
Quantidade
de plantas/ha
|
Abóbora menina
|
6 a 7
|
3,0 x 3,0
|
0,6
|
1.120
|
Abóbora seca moranga
|
7 a 6
|
5,0 x 5,0
|
0,2
|
400
|
Abóbora tetsukabuto
|
12 a 13
|
3,0 x 2,0
|
0,4
|
1.670
|
Abobrinha caserta
|
6 a 7
|
1,2 a 0,6
|
6,0
|
13.890
|
Agrião
|
3.500 a 4.000
|
0,2 x 0,2
|
0,15
|
171.000
|
Alface americana
|
800 a 900
|
0,35 x 0,35
|
0,2
|
55.850
|
Alface crespa
|
900 a 1000
|
0,30 x 0,25
|
0,3
|
91.200
|
Almeirão
|
900 a 950
|
0,2 a 0,1
|
1,5
|
342.000
|
Aspargo
|
23 a 25
|
1,5 x 0,5
|
1,5
|
13.340
|
Berinjela
|
200 a 230
|
1,5 a 0,8
|
0,15
|
8.350
|
Beterraba
|
55 a 56
|
0,2 a 0,1
|
11
|
342.000
|
Brócolis
|
26 a 270
|
1,0 a 0,5
|
0,17
|
20.000
|
Cebola
|
330 a 350
|
0,3 a 0,1
|
1,5
|
228.000
|
Cebolinha
|
470 a 480
|
0,4 x 0,08
|
1,5
|
213.750
|
Cenoura
|
330 a 350
|
0,2 x 0,07
|
2,5
|
488.580
|
Chicória
|
800 a 900
|
0,3 x 0,35
|
0,3
|
65.140
|
Coentro
|
80 a 950
|
0,35 x 0,05
|
3
|
648.000
|
Couve
|
280 a 300
|
1,0 x 0,5
|
0,2
|
20.000
|
Couve-de-bruxelas
|
280 a 300
|
0,8 x 0,5
|
0,25
|
25.000
|
Couve-chinesa
|
290 a 310
|
0,7 x 0,3
|
0,4
|
47.620
|
Couve-flor
|
300 a 320
|
0,9 x 0,5
|
0,16
|
22.230
|
Ervilha torta
|
3 a 5
|
1,0 x 0,6
|
12
|
16.670
|
Espinafre
|
95 a 110
|
0,2 x 0,07
|
13
|
488.580
|
Feijão-de-vagem
|
2 a 3
|
1,0 x 0,6
|
25
|
16.670
|
Melancia
|
13
|
2,5 x 2,0
|
0,55
|
2.000
|
Melão
|
20 a 30
|
2,0 x 1,0
|
0,9
|
5.000
|
Mostarda
|
600 a 630
|
0,45 x 0,3
|
1,0
|
50.670
|
Nabo
|
52 a 53
|
0,3 x 0,15
|
17
|
152.000
|
Pepino
|
30 a 40
|
1,0 x 0,6
|
1,75
|
16.670
|
Recipientes
Os recipientes podem ser sacos de papel,
sacos plásticos, copos descartáveis, tubetes de plástico e bandejas de isopor.
| |||
|
|
FIGURA 1 – Bandejas de isopor para produção de mudas
Substrato
É um componente
de grande importância na produção de mudas. Em substratos inadequados, as
sementes não germinam, as plantas se desenvolvem irregularmente, podendo
aparecer sintomas de deficiência ou excesso de algum nutriente e doenças.
Os substratos para uso em bandejas precisam ter
características próprias
Físicas
Ser leve e poroso, com capacidade de reter
grande quantidade de água e ar. Formar torrão sem aderir nas bandejas.
Químicas
Conter todos os nutrientes necessários
para o período de formação da muda, de forma equilibrada, com pH 6,0 e baixa salinidade (condutividade elétrica –
EC).
Sanidade
Estar isento de sementes viáveis de
plantas invasoras e organismos que possam causar doenças nas plantas.
Homogeneidade
Ser homogêneo para
não ocasionar diferenças de desenvolvimento entre plantas ou bandejas.
Existem no mercado diversas empresas que
comercializam substratos prontos em sacos de 25 quilos. A elaboração de um
substrato na propriedade precisa contemplar todas as características desejadas
e ser justificada pela disponibilidade de materiais a baixo custo, visto que
demanda mão de obra e tempo para executar a solarização. Um método de
desinfecção de organismos patogênicos e eliminação de sementes de invasoras
pode encarecer o substrato.
Abrigos de produção de mudas
São ambientes parcialmente protetores
(Figura 2) contra condições adversas ao desenvolvimento das mudas como ventos,
chuvas fortes, insolação em excesso, frio, insetos e doenças.
|
FIGURA 2 – abrigo de produção de mudas
Os abrigos são estruturas cobertas com
filme plástico aditivado contra raios ultravioleta e com telas anti-insetos nas
laterais. Nas épocas mais quentes é necessário o uso de telas de sombreamento
sobre o teto para diminuir a insolação (setembro – março). No entanto, em dias
nublados ou chuvosos, deve-se fazer o manejo do sombrite, recolhendo-o.
É
imprescindível o uso de um termo-higrômetro para o monitoramento da temperatura
e umidade relativa do ar. O tamanho do abrigo deve ser planejado em função da
quantidade de mudas a ser produzida ao mesmo tempo na propriedade, e do número
de células das bandejas (128 e 200), conforme a espécie cultivada. Considera-se,
na média, o período de permanência das mudas no abrigo de cerca de 21 - 35 dias
no verão e 35 - 45 dias no inverno.
A área útil ocupada por cada bandeja é de
0,25 m². É recomendável que a relação entre o volume interno do abrigo e a sua
área seja de 3m³ para cada 1m², o que proporciona maior possibilidade de manejo
de temperatura e umidade relativa, com maior conforto para o trabalho.
Irrigação
A distribuição de água deve ser uniforme
para que cada célula receba a mesma quantidade. Isto pode ser feito manualmente
com regador de crivo fino ou com microaspersores.
A quantidade de água ideal é a que permite
umedecer o substrato sem gotejar abaixo das células para não lixiviar os
nutrientes.
A frequência das irrigações depende da
temperatura e umidade relativa do ar, variando de uma vez no inverno e até
cinco vezes no verão. Entre uma irrigação e outra a superfície do substrato
precisa estar enxuta. Durante a noite o substrato e a parte aérea das mudas tem
que permanecer enxutos.
A água para irrigação deve ser potável
podendo ser obtida da rede pública de abastecimento do subsolo (poços) e
nascentes. No momento da aplicação, a
temperatura da água de irrigação deve ser semelhante à do ambiente onde
estão as mudas.
Os equipamentos usados nas irrigações
podem ser desde um regador com crivo fino, mangueira de jardim com difusor,
microaspersores tipo “fogger”, sprinkler, bailarina, etc.
Adubação
Quando o substrato e o manejo da irrigação
forem adequados, no período normal de produção das mudas, não haverá
necessidade de adubações de cobertura. Caso ocorram deficiências, podem ser
corrigidas com adubações de cobertura. Evite o excesso de adubos solúveis que pode
provocar o desequilíbrio nutricional, salinização do substrato e queima de
plantas.
Adubação de cobertura pode ser feita com a
mistura dos seguintes ingredientes:
- 6 partes de
torta de mamona;
- 3 partes de
farinha de osso;
- 1 parte de
cinza de madeira (não de churrasqueira, pois tem sal).
Misturar e peneirar. Conservar em local
seco.
Aplicar, quando necessário, cerca de 20g
da mistura por bandeja de 128 células, sobre as plantas enxutas. Em seguida
irrigar para deposição da mistura no substrato. Poderá ser feita semanalmente.
Antes da sua utilização, essa mistura deve
ser bem agitada.
Transplante
Um dia
antes do transplante diminua a irrigação até que as mudas apresentem uma leve
murcha. No momento anterior ao transplante faça uma boa irrigação nas
bandejas para facilitar a retirada da muda com o torrão inteiro e permita que
a muda recupere a turgidez após o transplante. Enterre apenas o torrão
(Figura 3), não permitindo o contato de terra com a gema de crescimento da
muda ou com caule. Somente as mudas
que emitam raízes adventícias, como a de tomateiro, podem ter o caule
enterrado. Faça uma irrigação no local do plantio definitivo logo que
terminar a operação de plantio.
|
|