quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


     É muito comum, tanto na cidade como no campo, as pessoas acreditarem que a existência de plantas espontâneas, “mato” ou “inços” na horta, pomar ou lavoura é sinal de desleixo por parte do produtor.  Esta ideia, desenvolvida na agricultura “moderna”, especialmente com o surgimento dos herbicidas, é baseada no fato de que o “mato” compete com os cultivos por água, nutrientes e luz. As plantas espontâneas, é bem verdade,  competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias  após a implantação dos cultivos, dai a importância de retirar-se estas plantas ainda pequenas, mas somente na linha de cultivo (faixa de 20 cm aproximadamente), com a enxada ou implementos adaptados ou,  ainda manualmente. A competição por água e nutrientes de que são acusadas as plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições do Brasil, onde predomina o clima tropical e subtropical, a competição do “mato” com os cultivos é menos problemática do que a falta de cobertura do solo. As plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e, por isso, devem ser consideradas como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo. O uso do termo “plantas daninhas” não é apropriado para a agricultura orgânica, pois leva em conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção, ignorando os efeitos positivos.  Após o período crítico (aproximadamente 30 dias), as plantas espontâneas nas entrelinhas dos cultivos com espaçamentos maiores (Figura 1), são consideradas "plantas amigas" devido à uma série de benefícios que serão enumerados a seguir.

Cobertura do solo

     As plantas espontâneas ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial, nossos principais problemas, contribuindo para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes. No Brasil a cada hectare cultivado perde-se, em média, 25 toneladas/ha/ano (1 cm de camada superficial).  A cobertura do solo é capaz de reduzir as perdas de solo provocadas pela erosão em mais de 90% em relação ao preparo convencional. Esse benefício vai além das propriedades agrícolas e evita uma série de problemas; a água da chuva, especialmente no verão quando são frequentes e intensas, escorre para fora das lavouras em menor quantidade e é mais limpa, o que reduz a poluição e o assoreamento dos rios.  Ao impedir o carregamento de terra e nutrientes para fora da lavoura (erosão), as plantas espontâneas formam uma barreira que protege o solo do impacto das gotas de chuva, facilita a infiltração da água, reduz o escoamento superficial e diminui a evaporação da umidade, melhorando a capacidade do solo de armazenar água. Em relação ao sistema convencional (solo no limpo sem cobertura), a perda de água é pelo menos 70% menor, reduzindo os impactos que os períodos de estiagem causam às plantas, além de permitir melhor germinação e emergência mais uniforme das sementes dos cultivos.  Com mais água no solo, o período para o plantio das culturas aumenta; é possível fazer a semeadura de 6 a 12 dias após uma chuva, enquanto no sistema convencional (solo sem cobertura) o prazo é de 3 a 6 dias. Portanto,  o agricultor tem mais flexibilidade para implantar a lavoura na época mais propícia ou ampliar o período de plantio e, com isso, cultivar uma área maior.  Além da conservação da umidade do solo, pesquisas também revelam que a temperatura do solo descoberto alcança até 9ºC a mais quando comparado ao solo coberto e, que ao atingir 32ºC, as plantas param de absorver nutrientes. Por ocasião das estiagens, as plantas espontâneas fecham os estômatos para reduzir a sua própria perda de umidade e com isto também economizam a do solo, mantendo-o coberto e protegido da insolação.


Figura 1. Transplante de mudas (repolho, couve-flor e brócolis) no inverno, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, em área com plantas espontâneas (“mato”) nas entrelinhas



Melhoria das características física, química e biológica do solo
     Embora os adubos verdes, consorciados ou não com os cultivos, seja a melhor alternativa para melhorar o solo, as plantas espontâneas (“mato”) também contribuem para aumentar a densidade e a diversidade radicular,  favorecendo a reciclagem de nutrientes e melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo e, ainda servindo como fonte de biomassa. As culturas encontram um ambiente muito mais favorável para se desenvolver, quando são implantadas (plantio direto ou cultivo mínimo) em áreas com cobertura vegetal. Os resíduos vegetais são capazes de aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo em cerca de 500 kg por hectare a cada ano. Esse material se decompõe lentamente, melhorando o processo de reciclagem dos nutrientes e mantendo alto o nível de atividade biológica do solo. No longo prazo, a fertilidade aumenta.  As plantas espontâneas ajudam também na descompactação do solo, contribuindo para  adubação verde e reciclam os nutrientes, em função da grande diversidade radicular (tamanho e forma). Além disso,  a cobertura do solo é fundamental para a vida deste solo, especialmente as minhocas (consideradas o “arado” do solo), uma vez que elas não gostam de luz e ainda precisam de uma maior oferta de matéria orgânica através desta cobertura para alimentá-las.

Diversificação e equilíbrio ecológico
     A monocultura, ou seja, o cultivo de apenas uma espécie numa área, é um dos maiores problemas da agricultura “moderna”, pois não existindo diversificação de espécies, as pragas e doenças ocorrem de forma mais intensa, por ser a única espécie presente no local, tornando o sistema de produção mais instável e mais sujeito às adversidades. O equilíbrio ecológico não pode ser mantido com as monoculturas.  Daí a importância dos consórcios de culturas e até a manutenção de faixas ou refúgios com “mato” e até consórcios dos cultivos com plantas espontâneas que podem servir para atrair insetos predadores  e até como alimento preferencial das pragas das culturas e também como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas. Portanto,  no sistema de produção orgânico é fundamental buscar-se em primeiro lugar uma maior diversificação da paisagem geral com espécies de interesse comercial ou não, de forma a restabelecer a cadeia alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e pássaros, pois somente assim se obterá sistemas de produção mais estáveis, garantindo o lucro dos produtores, mesmo em condições climáticas adversas.


Indicadoras de problemas no solo
     As plantas espontâneas são espécies adaptadas ao seu ambiente, por isso são consideradas indicadoras das condições químicas ou físicas do solo, podendo indicar também o manejo que está sendo praticado. Ou seja, ao mesmo tempo que indica um problema, também ajuda a solucioná-lo. A seguir, alguns exemplos de plantas espontâneas indicadoras de problemas no solo:  
•    Picão e urtiga – excesso de matéria orgânica  e carência de cobre (Cu)
•    Carqueja, guanxuma, língua-de-vaca, maria mole e tanchagem – solo compactado
•    Samambaia – solo ácido com alto teor de alumínio
•    Barba-de-bode e capim-amargoso – solo com baixa fertilidade
•    Capim marmelada ou papuã – solo muito arado e gradeado, com deficiência de zinco
•    Nabo – solo com deficiência de boro e manganês
•    Capim-arroz  - solo rico em alumínio
•    Tiririca ou junça – solo ácido, com carência de magnésio
•    Caraguatá e barba-de-bode – é frequente em solos onde se praticam queimadas
•    Azedinha - solo argiloso, ácido, carência de cálcio e molibdênio
• Capim-caninha ou capim-colorado – solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de fósforo
•   Capim-amoroso ou carrapicho – solos de baixa fertilidade, compactado e pobre em cálcio.       
   
     O uso de vegetação espontânea, a grande maioria, pode ser utilizada como planta de cobertura. Normalmente há predominância de gramíneas, especialmente no verão e folhas largas no inverno. Entretanto, é importante observar que algumas plantas espontâneas são muito problemáticas e podem dominar a área (ex.: grama-seda, trapoeraba, tiririca, losna, entre outras), competindo por água e nutrientes durante o ciclo da cultura principal  e, dessa forma prejudicando seriamente a lavoura. Para estas espécies mais agressivas, deve-se ter um cuidado especial, no sentido de não multiplicá-las cada vez mais. Especialmente para a tiririca, o manejo é muito importante no sentido de não favorecer a multiplicação, procurando abafá-las e  controlar com outras espécies (ex.: adubos verdes) com efeito alelopático. Para maiores informações sobre o manejo da tiririca, recomenda-se ver a matéria postada neste blog “Manejo da tiririca no sistema  orgânico de produção de hortaliças“,  em 15/03/2013.
     Também é importante ressaltar que algumas plantas espontâneas são indicadoras de solo fértil, tais como a beldroega (Portulaca oleracea).

 Manejo das plantas espontâneas
     Quando uma planta se torna agressiva, chamada de “invasora” ou “inço” e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. As medidas de controle devem considerar o grau de interferência sobre as plantas espontâneas e destas sobre os cultivos, antes e depois do manejo.
     Havendo necessidade de manejo, as plantas espontâneas não devem ser totalmente eliminadas. A intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. Dependendo do cultivo, é possível permitir o crescimento das plantas espontâneas. Em certos casos, amassar o “mato” pode ser mais vantajoso do que roçar e roçar mais vantajoso do que capinar. Este manejo pode ser feito da seguinte maneira:

   Práticas de prevenção: evitar a multiplicação; uso de sementes e mudas isentas de plantas espontâneas; em áreas muito inçadas preparar o solo com antecedência para permitir a emergência e eliminação de plantas espontâneas; utilizar composto orgânico ao invés de esterco de gado (fonte de sementes de plantas espontâneas); controle manual; rotação e consorciação de culturas;

     Plantas de cobertura (adubos verdes) em rotação, sucessão ou consorciadas com os cultivos e com efeitos alelopáticos: mucuna (abafamento), feijão de porco (tiririca), aveia e nabo forrageiro (papuã), ervilhaca e outras;

     Roçada das plantas espontâneas: elas podem conviver com os cultivos, especialmente de maior espaçamento entre as linhas, após o período crítico de competição, principalmente por luz, nos 30 dias após o plantio. Quando necessário, recomenda-se a roçada nas entrelinhas. No caso de espécies de espaçamento curto como a cenoura, cultivada em canteiros, recomenda-se  entre os canteiros, ou até nas proximidades, a manutenção de faixas de plantas espontâneas, roçando-as quando necessário;

    O uso de papel é uma ótima opção para os cultivos de espaçamento menor entre plantas (canteiros) tais como cenoura e mudas de cebola, com o objetivo de atrasar a emergência das plantas espontâneas:   Ver como proceder através da matéria “Uso do papel em canteiros de mudas de cebola” postada em 13/01/2013;

    Cobertura vegetal viva (Figuras 2 e 3) ou morta (Figuras 4 e 5), utilizando o cultivo mínimo ou plantio direto – reduz a incidência de plantas espontâneas impedindo a germinação ou abafando-as.


Figura 2. Cultivo de repolho em cobertura de adubos verdes (aveia)



Figura 3. Cultivo mínimo de tomate em cobertura de aveia + ervilhaca + nabo forrageiro



Figura 4. Cultivo de couve-flor em cobertura morta de palha de arroz


Figura 5. Cultivo de repolho em cobertura morta de palha de milho


Capina química (uso de herbicidas), solução encontrada pela agricultura “moderna” para o controle do “mato”
     Na agricultura convencional, o "mato" ou "inços" são chamados de "plantas daninhas" pois leva-se em conta somente os efeitos negativos sobre a produção. Em uma conceituação ampla, planta daninha "é toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada". Em termos agrícolas, planta “daninha” pode ser conceituada como "toda e qualquer planta que germine espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma, interfere prejudicialmente em suas atividades agropecuárias". A solução encontrada pela agricultura "moderna" são os inúmeros herbicidas que acabam contaminando as fontes de água e, o que é pior, contaminando as pessoas, especialmente quando o uso for nas cidades. Felizmente, em Santa Catarina, esta prática é proibida por lei. Precisamos estar atentos e denunciar para a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária em seu município, esta prática irregular, especialmente realizado por algumas prefeituras.

Lei  que proíbe a capina química nas cidades em Santa Catarina

     A lei nº 14.734 que proíbe a capina química em áreas de faixa de domínio de ferrovias, rodovias, vias públicas, ruas, praças, passeios, calçadas, avenidas, terrenos baldios, margem de arroios e valas em todo o território de Santa Catarina, foi sancionada pelo governador Luiz Henrique da Silveira em 17/06/2009. A lei nº 15.117 de 19/01/2010 alterou a redação, incluindo o parágrafo único: "a proibição contida na lei 14.734 não se aplica em áreas rurais e nas capinas amadoras em imóveis particulares devidamente protegidos do acesso público".

Capina química nas cidades: Por que proibir?
    Devido a ausência de segurança toxicológica, desde 2003, a Anvisa não permite a aplicação de herbicidas em ambientes urbanos, pois não tem como proibir o trânsito de pessoas, por pelo menos 24 horas após a aplicação; todos os produtos registrados para uso agrícola, possuem, como regra, um período de reentrada mínimo de 24 horas, ou seja, após a aplicação do produto, a área deve ser isolada e sinalizada e, no caso de necessidade de entrada no local durante este intervalo, o uso de equipamentos de proteção individual é obrigatório. Em ambientes urbanos, o isolamento de uma área por 24 horas é impraticável, isto é, não tem como assegurar que a população, especialmente as crianças, analfabetos e deficientes visuais, sejam avisados e impedidos de entrar na área, principalmente logo após aplicação, quando ainda está molhado, o que aumenta muito o risco de intoxicação.
      A capina química com herbicidas nas cidades (Figura 6) expõe a população ao risco de intoxicação, além de contaminar os animais, os vegetais, o solo e as fontes de água. Além disso, estudos recentes, mostram que o herbicida glifosato (roundup), um dos mais utilizados, é suspeito de provocar malformações em bebês, desregulação endócrina e mutagenicidade; na Argentina (Chaco), na última década, quando o uso deste herbicida aumentou drasticamente, relatório informa que quadruplicou os nascimentos de bebês com malformações. Outra pesquisa com embriões de anfíbios, mostrou que concentrações. 5.000 vezes menor do que o produto comercial, provocou deformações nestes.  Mas o que é ainda pior, é que o uso deste herbicida aumentou mais de 600%, passando de 39.515 toneladas em 2000, para 299.965 toneladas em 2009.

 Figura 6.  Por força de lei esta cena não pode ser mais vista nas cidades de Santa Catarina e, o que é pior, sem nenhum equipamento de proteção ao aplicador.


     São vários os fatores para proibir a capina química nas cidades, uma questão muito importante para resguardar a saúde pública. Dentre estes, destacam-se:

.  É praticamente inviável interditar praças e ruas da circulação de um grande número de pessoas durante e após a aplicação do agrotóxico;

.  Os solos agrícolas são permeáveis o que diminui o acúmulo e o escoamento superficial do produto aplicado, diferente das cidades que favorecem o acúmulo e a formação poças com elevadas concentrações de herbicida (ruas pavimentadas) e, por isso aumentando o risco de exposição de adultos, crianças e animais domésticos.. As crianças,  são mais sujeitas as intoxicações pois quanto menor o peso menor a dose de veneno necessária para intoxicar.

    Para orientar municípios de todo país sobre os perigos do uso de herbicidas nas cidades, a Anvisa publicou a seguinte nota técnica em 15/01/2010: "os herbicidas são produtos essencialmente perigosos e sua utilização, mesmo no meio rural, deve ser feita sob condições de intenso controle, não apenas por ocasião da aplicação, mas também com o isolamento da área na qual foi aplicado" . Na mesma nota, acrescenta: "fica evidenciado que não seria possível aplicar medidas que garantam condições ideais de segurança para o uso de agrotóxicos em ambiente urbano".


Ferreira On 12/26/2013 09:47:00 AM 1 comment LEIA MAIS

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013





Circular Técnica, 65 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008

Autores: Ronessa B. de Souza,  Enga. Agra.,   DSc. Embrapa Hortaliças Brasília, DF             E-mail: ronessa@cnph.embrapa.br

 Flávia A. de Alcântara,   Enga. Agra.,  DSc. Embrapa Hortaliças Brasília, DF                                E-mail: flavia@cnph.embrapa.br



Fertilizantes (ou adubos) orgânicos são obtidos de matérias-primas de origem animal ou vegetal, sejam elas provenientes do meio rural, de áreas urbanas ou ainda da agroindústria. Os fertilizantes orgânicos podem ou não ser enriquecidos com nutrientes de origem mineral (não orgânica). Os fertilizantes orgânicos podem ser divididos em quatro tipos principais: fertilizantes orgânicos simples, fertilizantes orgânicos mistos, fertilizantes orgânicos compostos e fertilizantes organominerais.

Tipos de fertilizantes orgânicos
• Fertilizantes orgânicos simples: fertilizante de origem animal ou vegetal. Exemplos: estercos animais, torta de mamona, borra de café.
• Fertilizantes orgânicos mistos: produto da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples. Exemplo: cinzas (fonte principalmente de K) + torta de mamona (fonte principalmente de N).
• Fertilizantes orgânicos compostos: fertilizante não natural, ou seja, obtido por um processo químico, físico, físico-químico ou bioquímico, sempre a partir de matéria-prima orgânica, tanto vegetal como animal. Pode ser enriquecido com nutrientes de origem mineral. Exemplos: composto orgânico, vermicomposto (húmus de minhoca) (Figura 1).

 Fig. 1. O húmus de minhoca (vermicomposto) e um importante fertilizante orgânico composto.


Fertilizantes organominerais: não passam por nenhum processo específico, são simplesmente o produto da mistura de fertilizantes orgânicos (simples ou compostos) com fertilizantes minerais. No caso específico da agricultura orgânica, estes fertilizantes minerais a serem misturados devem ser naturais (não processados quimicamente) e de baixa solubilidade, permitidos pela legislação para produção orgânica de alimentos.


Fertilizantes minerais de uso permitido na agricultura orgânica
Somente os fertilizantes minerais de origem natural e de baixa solubilidade são permitidos na agricultura orgânica, como por exemplo, os fosfatos naturais, os calcários e os pós de rocha. Em situações específicas, para uso restrito, uma vez constatada a necessidade de utilização do adubo e com autorização da certificadora, poderão ser utilizados os termofosfatos, sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio de origem natural, sulfato de magnésio, micronutrientes e guano (fosfatos de origem orgânica –provenientes de excrementos de aves marinhas).

Se o solo for ácido, pode-se fazer calagem no sistema orgânico e a quantidade de calcário a ser utilizada deve ser calculada com base na análise química do solo. Entretanto, a quantidade é geralmente limitada a 2 toneladas por hectare, por ano.

Estercos frescos
Os estercos frescos podem conter microorganismos causadores de doenças no homem. Não devem ser utilizados no cultivo de hortaliças, pois podem contaminar as partes comestíveis das plantas. Este problema pode ser resolvido com o curtimento, que é o envelhecimento do esterco sob condições naturais, não controladas. Deve-se deixar o monte de esterco “envelhecer” em local coberto ou protegido com um plástico ou uma lona contra chuvas, cujas águas lavam o esterco removendo os nutrientes. Para ficar pronto leva em torno de 90 dias, dependendo das condições ambientais. O esterco curtido é uma massa escura com aspecto gorduroso, odor agradável de terra e sem nenhum mau cheiro.

Composto orgânico
O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia (na presença de ar) de resíduos vegetais e animais. A compostagem permite a reciclagem desses resíduos e sua desinfecção contra pragas, doenças, plantas espontâneas e compostos indesejáveis. O composto orgânico atua como condicionador e melhorador das propriedades físicas, fisico-químicas e biológicas do solo, fornece nutrientes, favorece um rápido enraizamento e aumenta a resistência das plantas.
Para produção do composto utiliza-se como matéria prima resíduos vegetais, ricos em carbono (galhos, folhas, capim e outros) e resíduos animais, ricos em nitrogênio (esterco bovino, de aves e de outros animais, cama de aviário de matrizes dentre outros). Quando só se dispõe de materiais pobres em N, como cascas de pinus, árvores velhas e capins, estas devem ser alternadas com camadas de resíduos de leguminosas. A escolha da matéria prima é importante para maior eficiência da compostagem. A relação Carbono/Nitrogênio (C/N) inicial ótima (de 25-35:1) pode ser atingida por meio do uso de 75% de restos vegetais variados e 25% de esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são dispostos em camadas alternadas formando uma  leira ou monte de dimensões e formatos variados. O formato mais usual é o de seção triangular, sendo a largura comandada pela altura da leira, a qual deve situar-se entre 1,5 a 1,8 m. À medida que a pilha vai sendo formada, cada camada de material vai sendo umedecida com água tomando-se o cuidado para que não haja escorrimento. A pilha deve ser revirada (parte de cima para baixo e parte de dentro para fora) aos 15, 30 e 45 dias. No momento das reviradas, o material deve ser umedecido para ficar com umidade em torno de 50 a 60% (na prática, esse teor de umidade ocorre quando ao pegar o material com as mãos, sente-se que o mesmo está úmido e, ao ser comprimido, não escorre água entre os dedos e forma um torrão que se desmancha com facilidade).
Para manter a umidade ideal a pilha deve ser coberta com palhas, folhas de bananeira ou lona plástica. O local deve ser protegido do sol e da chuva (área coberta ou à sombra de uma árvore) (Figura 2). Como exemplo, podemos citar o composto que é produzido na Unidade de Produção de Hortaliças Orgânicas da Embrapa Hortaliças:

• 15 carrinhos de mão de capim braquiária roçado;
• 30 carrinhos de capim napier;
• 20 carrinhos de cama de matriz de aviário;
• 13 kg de termofosfato.

Formar camadas alternadas na seguinte ordem: braquiária, napier, cama de matriz e termofosfato, montando uma meda de 1m x 10m x 1,5m (largura x comprimento x altura) para obtenção de 2.500 kg de composto orgânico após cerca de 90 dias. O composto orgânico é um produto estabilizado e mais equilibrado, em que durante sua formação foram dadas todas as condições necessárias à eficiente fermentação aeróbica, portanto sua qualidade como condicionador ou melhorador do solo é superior à do esterco curtido. Além disso, é mais rico em nutrientes por constituir-se de resíduos vegetais e animais e por ser, muitas vezes, enriquecido com resíduos agroindustriais e adubos minerais. O composto estará pronto para o uso quando apresentar as seguintes características: temperaturas normalmente inferiores a 35o C; redução do volume para 1/3 do volume inicial; constituintes degradados fisicamente, não sendo possível identificá-los; permite que seja moldado facilmente com as mãos; cheiro de terra mofada, tolerável e até mesmo agradável para alguns. O enriquecimento do composto pode ser obtido com a adição, no momento de montagem da pilha, de fosfatos de reação ácida como fosfatos naturais  (6 kg m-3), calcário (25 a A50 kg t-1), torta de cacau (40 kg m-3) ou de mamona (20 a 30 kg m-3), borra de café (50 kg m-3), cinzas, entre outros. O enriquecimento do composto deve ser realizado de acordo com as exigências da cultura e a necessidade do solo. Geralmente, o enriquecimento com fósforo só é recomendado nos 2 ou 3 anos iniciais de produção, entretanto sua continuidade por maior tempo vai depender da  disponibilidade de P do solo.

 Fig. 2. O composto orgânico deve ser preparado em local protegido do sol e da chuva.


Biofertilizantes
É o material líquido resultante da fermentação de estercos, adicionado ou não de  outros resíduos orgânicos e nutrientes, em água. O processo de fermentação pode ser aeróbio (na presença de ar) ou anaeróbio (na ausência de ar). Podem ser aplicados via foliar, diluídos em água na proporção de 2 a 5%, ou no solo via gotejamento. Somente podem ser aplicados via foliar os biofertilizantes que não apresentem resíduos de origem animal em sua composição. A forma como o biofertilizante atua nas plantas ainda não é completamente esclarecida e merece ser melhor estudada. Apresenta efeitos nutricionais (fornecimento de micronutrientes) e fitossanitários, atuando diretamente no controle de alguns fitoparasitas por meio de substancias com ação fungicida, bactericida ou inseticida presentes em sua composição. Parece atuar equilibrando e tonificando o metabolismo da planta, tornando-a mais resistente ao ataque de pragas e doenças.

Preparo de biofertilizante na propriedade
Não há uma fórmula padrão para produção de biofertilizante. Por esta razão, apresentamos uma receita básica de biofertilizante líquido, na qual podem ser feitas variações: Em uma bombona plástica coloca-se volumes iguais de esterco fresco e água, deixando um espaço vazio de 15 a 20 centímetros no seu interior (Figura 3). Essa bombona deve ser fechada hermeticamente e na sua tampa deve ser adaptada uma mangueira plástica fina. Uma extremidade da mangueira fica no espaço vazio da bombona e a outra deve ser imersa em um recipiente com água para permitir a saída do gás metano e impedir a entrada de ar (oxigênio). O final do processo, que dura de 30 a 40 dias, coincide com a cessação do borbulhamento observado no recipiente d’água, quando a solução deverá ter atingido pH próximo a 7,0. Para separação da parte ainda sólida o material deve ser coado em peneira e filtrado em um pano ou tela bem fina. Geralmente é utilizado diluído em água em concentrações variáveis de acordo com os diferentes usos e aplicações. Ressalta-se que esse biofertlizante não pode ser aplicado via foliar, apenas no solo.



Fig. 3. Biofertilizantes podem ser preparados em bombonas plásticas na propriedade.


Compostos de farelos ou ‘bokashis’
São compostos orgânicos produzidos a partir da mistura de materiais como farelos de cereais (arroz, trigo), torta de oleaginosas (soja, mamona), farinha de osso, farinha de peixe e outros resíduos com terra de barranco (argilas) ou não (Figura 4). Essa mistura é inoculada com microorganismos e submetida à fermentação aeróbica ou anaeróbica. O inoculante microbiano pode ser terra de mata (bosque natural), soja fermentada, microorganismos capturados da natureza por meio de arroz cozido ou inoculantes comerciais como o EM® (microorganismos eficazes). Sua composição deve ser ajustada de acordo com os ingredientes disponíveis e as necessidades nutricionais das culturas. Por utilizar matérias-primas nobres, de uso freqüente na alimentação animal, o bokashi é um fertilizante relativamente caro e rico em nutrientes, especialmente N, P e K. Existem diferentes formulações com duração variável de 3 a 1 dias para obtenção do composto. Durante o processo fermentativo aeróbio, a umidade deve permanecer em torno de 50% a 60% e a temperatura em torno de 50oC. Na maioria das formulações, a movimentação da mistura é feita diariamente, uma vez que devido às boas características físicas (partículas pequenas) e químicas (riqueza em nutrientes) da matéria prima, a temperatura eleva-se com facilidade. O final do processo caracteriza-se pela queda de temperatura. O composto de farelos mais conhecido é o “Nutri Bokashi”, produzido pela Kórin, empresa criada em 1995 pela Fundação Mokiti Okada, que utiliza os microorganismos eficazes (EM®) como inoculante.



Fig. 4. O “bokashi” é um fertilizante resultante da fermentação de matérias-primas nobres, sendo rico em
nutrientes, especialmente N, P e K.


Análise química do solo no sistema orgânico
A análise química periódica é a única maneira de conhecer a fertilidade do solo, ou  seja, de saber se o solo está ácido ou não, e se os teores de macro e micronutrientes e de matéria orgânica estão adequados. É a partir dos resultados da análise química que saberemos se há ou não necessidade de calagem, quais os nutrientes estão em falta e quanto devemos aplicar de fertilizantes para aquela determinada cultura. Portanto, é necessário fazer análise química do solo tanto no sistema convencional quanto no orgânico, isto é, independente do tipo de fertilizante e que se utiliza e das práticas adotadas. No laboratório, pode-se solicitar a análise de rotina, que geralmente consiste das determinações de pH, cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), fósforo (P), alumínio (Al), acidez potencial (H+Al) e matéria orgânica. Havendo interesse específico em função da exigência nutricional da cultura e sendo economicamente viável para o produtor, recomenda-se que se solicite também a análise do S e dos micronutrientes. A textura não é uma característica química do solo, mas deve ser determinada em laboratório na primeira vez que se amostra a área. Seu conhecimento ajuda a entender o comportamento de certos nutrientes no solo e a determinar com maior precisão a necessidade de fornecimento. Das outras vezes em que se amostra solo na mesma área não é necessário repetir a análise de textura, já que está é uma característica física do solo que praticamente não sofre modificações. Em geral, os laboratórios de fertilidade do solo também fazem a determinação de textura.



Cálculo da quantidade de adubos a utilizar no sistema orgânico
Este é um assunto que precisa ser melhor estudado, uma vez que em olericultura orgânica o enfoque das adubações deve ser baseado não apenas no aspecto químico da fertilidade do solo, mas também nos componentes físico, físico-químicos e biológicos do solo, considerando inclusive os efeitos de médio e longo prazos do manejo da matéria orgânica. De toda forma, o cálculo da adubação para o plantio deve ser feito levando em consideração a análise química do solo, além da composição química do adubo e da exigência da cultura. Em geral, as recomendações de material orgânico situam-se entre 10 a 50 t ha-1 de composto orgânico ou esterco curtido. Estas doses devem ser ajustadas de acordo com a cultura, com a qualidade do material, com as características químicas do solo que se vai cultivar, com a cultura antecessora e com o histórico de manejo orgânico. O sistema de manejo intensivo utilizado na produção de hortaliças tende a favorecer a elevação dos teores de nutrientes no solo com o decorrer do tempo. Portanto, para evitar desequilíbrios nutricionais, é importante considerar o efeito residual da adubação orgânica.

Exemplo de cálculo
Como exemplo, considere o plantio de 1 hectare de cebola em que, utilizando-se os critérios de interpretação e recomendação da agricultura convencional, a análise de solo indicasse a necessidade de se aplicar 120 kg de N, 180 de K2O, 300 kg de P2O5. Na propriedade em questão tem-se disponível o esterco bovino, cinzas e fosfato natural, cujas características estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Teores de nitrogênio, fósforo e potássio (% na matéria seca) e fatores de conversão (fc) de alguns fertilizantes.
  
Fertilizante
Nitrogênio
Fósforo
Potássio
% MS
fc
% MS
fc
% MS
fc
Esterco bovino
5
20
2,5
40
5
20
Fosfato natural
-
-
30
3,3
-
-
Cinzas
-
-
2,5
40
10
10
1/ fc = 100/%MS
Fonte: SOUZA, J. L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. Viçosa, MG: Editora Aprenda Fácil, 2003. 564 p.



 Neste caso, como fonte de N tem-se apenas o esterco bovino. Assim, para suprir todo o N recomendado (120 kg de N), a quantidade de esterco necessária será:

N = quantidade de N recomendada pela análise de solo x fc para N = 120x20 =2.400 kg.ha-1 de esterco bovino que fornece também: P = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para P = 2.400/40 = 60 kg.ha-1; K = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para K = 2.400/20 = 120 kg.ha-1.

Para completar o K, vamos usar cinzas como adubo: K = (quantidade recomendada de K – K fornecido pelo esterco bovino) x fc para K = (180-120)x10 = 600 kg.ha -1de cinzas que fornece também: P = kg.ha-1 de cinzas : fc para P = 600/40 = 15 kg.ha-1.

Para completar o P, vamos usar o fosfato natural: P = (quantidade recomendada de P – P fornecido pelo esterco bovino - P fornecido pelas cinzas) x fc para P = (300-60-15) x 3,3 = 742 kg.ha-1 de fosfato natural.

Portanto, para atender as recomendações indicadas pela análise de solo neste exemplo, para o plantio de 1 hectare de cebola devemos aplicar 2.400 kg de esterco bovino, 600 kg de cinzas e 742 kg de fosfato natural. Esses cálculos levam em consideração apenas a constituição química dos adubos, sendo que os aspectos físico e biológico do solo e o efeito residual das adubações, muito importantes nos sistemas de produção orgânicos, não são considerados. Portanto, as quantidades recomendadas no exemplo acima devem ser ajustadas de acordo com a situação específica (características climáticas, de solo e histórico de manejo de cada local) do sistema de produção.


Principais fontes de nutrientes permitidas na produção orgânica

Nitrogênio: estercos puros de animais diversos, cama e urina de animais, espécies leguminosas de adubos verdes (mucunas, crotalárias, guandu, feijão de porco, feijão bravo do Ceará, etc.), resíduos agroindustriais como torta de oleaginosas (mamona, algodão, soja) e de cacau, palhadas (Figura 5) e resíduos de culturas leguminosas como soja e feijão (Figura 6), farinha de sangue, farinha de peixe, composto orgânico, biofertilizantes, bokashis, entre outros.

• Potássio: cinzas, cascas de café, pós de rochas silicatadas com altos teores de potássio, talos de banana, entre outros.

• Fósforo: fosfatos naturais e farinha de ossos.

• Micronutrientes: alguns pós de rocha, estercos, fontes minerais permitidas (ex.: óxido de cobre e outros utilizados nos biofertilizantes). De acordo com a Instrução Normativa no.007 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, podem ser utilizados sulfato de potássio e sulfato duplo de potássio e magnésio (o último de origem mineral natural), termofosfatos, sulfato de magnésio, ácido bórico (quando não utilizado diretamente sobre as plantas e o solo) e carbonatos (como fonte de micronutrientes). Entretanto, estes produtos podem ser empregados somente se constatada a necessidade de utilização mediante análise e se esses fertilizantes estiverem livres de substâncias tóxicas. Além disso, a permissão para utilização depende também das normas da certificadora.

 Fig. 5. Palhadas são ótimas fontes de nitrogênio.


Fig. 6. Leguminosas são muito ricas em nitrogênio e. podem ser usadas como adubos verdes.


Correção de deficiência e toxidez no sistema orgânico
Sistemas orgânicos efetivamente equilibrados e sustentáveis não devem apresentar deficiências minerais. Contudo, falhas na escolha das culturas, no manejo ou na  própria concepção do sistema, especialmente na fase de transição para o sistema orgânico, podem propiciar o aparecimento de deficiências. Neste caso, a correção pode ser feita por meio da aplicações de biofertilizantes, cuja formulação pode ser ajustada de acordo com a necessidade das culturas. Pode-se preparar diferentes formulações de biofertilizantes enriquecidos nos diversos macro e micronutrientes.
Situações de toxidez são raras em sistemas orgânicos, mas podem ocorrer eventualmente. Em solos de baixa fertilidade, como os latossolos da região do Cerrado, no(s) primeiro(s) ano(s) de cultivo, é possível ocorrer toxidez de Mn e/ou de Fe. Neste caso, a correção se faz com a calagem calculada de acordo com a análise de solo e na quantidade permitida para sistemas orgânicos. Devido ao seu alto poder tampão, a adição de matéria orgânica ao solo ajudam a corrigir problemas de excessos e deficiências de nutrientes, especialmente de micronutrientes, com muitos dos quais forma quelatos, regulando a disponibilidade para as plantas.

Circular
Técnica, 65
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na Embrapa Hortaliças Rodovia BR-060, trecho Brasília-Anápolis, km 9 C. Postal 218, CEP 70.351-970 - Brasília-DF Fone: (61) 3385.9000 Fax: (61) 3556.5744 E-mail: sac@cnph.embrapa.br

1ª edição
1ª impressão (2008): 1.000 exemplares
2ª impressão (2012): 2.000 exemplares




Comitê de
Publicações
Presidente: Warley Marcos Nascimento
Editor Técnico: Fábio Akyioshi Suinaga
Supervisor Editorial: George James
Secretária: Gislaine Costa Neves
Membros: Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho, Carlos Alberto Lopes, Ítalo Moraes  Rocha Guedes, Jadir Borges Pinheiro, José Lindorico de Mendonça, Mariane Carvalho Vidal, Neide Botrel, Rita de Fátima Alves Luengo

Expediente

Normalização bibliográfica: Rosane M. Parmagnani
Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos e  André L. Garcia
Ferreira On 12/09/2013 09:55:00 AM Comentarios LEIA MAIS

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O “mato”, entre as plantas cultivadas, especialmente no verão, não significa que o produtor não é caprichoso


     É muito comum, tanto na cidade como no campo, as pessoas acreditarem que a existência de plantas espontâneas, “mato” ou “inços” na horta, pomar ou lavoura é sinal de desleixo por parte do produtor.  Esta ideia, desenvolvida na agricultura “moderna”, especialmente com o surgimento dos herbicidas, é baseada no fato de que o “mato” compete com os cultivos por água, nutrientes e luz. As plantas espontâneas, é bem verdade,  competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias  após a implantação dos cultivos, dai a importância de retirar-se estas plantas ainda pequenas, mas somente na linha de cultivo (faixa de 20 cm aproximadamente), com a enxada ou implementos adaptados ou,  ainda manualmente. A competição por água e nutrientes de que são acusadas as plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições do Brasil, onde predomina o clima tropical e subtropical, a competição do “mato” com os cultivos é menos problemática do que a falta de cobertura do solo. As plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e, por isso, devem ser consideradas como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo. O uso do termo “plantas daninhas” não é apropriado para a agricultura orgânica, pois leva em conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção, ignorando os efeitos positivos.  Após o período crítico (aproximadamente 30 dias), as plantas espontâneas nas entrelinhas dos cultivos com espaçamentos maiores (Figura 1), são consideradas "plantas amigas" devido à uma série de benefícios que serão enumerados a seguir.

Cobertura do solo

     As plantas espontâneas ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial, nossos principais problemas, contribuindo para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes. No Brasil a cada hectare cultivado perde-se, em média, 25 toneladas/ha/ano (1 cm de camada superficial).  A cobertura do solo é capaz de reduzir as perdas de solo provocadas pela erosão em mais de 90% em relação ao preparo convencional. Esse benefício vai além das propriedades agrícolas e evita uma série de problemas; a água da chuva, especialmente no verão quando são frequentes e intensas, escorre para fora das lavouras em menor quantidade e é mais limpa, o que reduz a poluição e o assoreamento dos rios.  Ao impedir o carregamento de terra e nutrientes para fora da lavoura (erosão), as plantas espontâneas formam uma barreira que protege o solo do impacto das gotas de chuva, facilita a infiltração da água, reduz o escoamento superficial e diminui a evaporação da umidade, melhorando a capacidade do solo de armazenar água. Em relação ao sistema convencional (solo no limpo sem cobertura), a perda de água é pelo menos 70% menor, reduzindo os impactos que os períodos de estiagem causam às plantas, além de permitir melhor germinação e emergência mais uniforme das sementes dos cultivos.  Com mais água no solo, o período para o plantio das culturas aumenta; é possível fazer a semeadura de 6 a 12 dias após uma chuva, enquanto no sistema convencional (solo sem cobertura) o prazo é de 3 a 6 dias. Portanto,  o agricultor tem mais flexibilidade para implantar a lavoura na época mais propícia ou ampliar o período de plantio e, com isso, cultivar uma área maior.  Além da conservação da umidade do solo, pesquisas também revelam que a temperatura do solo descoberto alcança até 9ºC a mais quando comparado ao solo coberto e, que ao atingir 32ºC, as plantas param de absorver nutrientes. Por ocasião das estiagens, as plantas espontâneas fecham os estômatos para reduzir a sua própria perda de umidade e com isto também economizam a do solo, mantendo-o coberto e protegido da insolação.


Figura 1. Transplante de mudas (repolho, couve-flor e brócolis) no inverno, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, em área com plantas espontâneas (“mato”) nas entrelinhas



Melhoria das características física, química e biológica do solo
     Embora os adubos verdes, consorciados ou não com os cultivos, seja a melhor alternativa para melhorar o solo, as plantas espontâneas (“mato”) também contribuem para aumentar a densidade e a diversidade radicular,  favorecendo a reciclagem de nutrientes e melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo e, ainda servindo como fonte de biomassa. As culturas encontram um ambiente muito mais favorável para se desenvolver, quando são implantadas (plantio direto ou cultivo mínimo) em áreas com cobertura vegetal. Os resíduos vegetais são capazes de aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo em cerca de 500 kg por hectare a cada ano. Esse material se decompõe lentamente, melhorando o processo de reciclagem dos nutrientes e mantendo alto o nível de atividade biológica do solo. No longo prazo, a fertilidade aumenta.  As plantas espontâneas ajudam também na descompactação do solo, contribuindo para  adubação verde e reciclam os nutrientes, em função da grande diversidade radicular (tamanho e forma). Além disso,  a cobertura do solo é fundamental para a vida deste solo, especialmente as minhocas (consideradas o “arado” do solo), uma vez que elas não gostam de luz e ainda precisam de uma maior oferta de matéria orgânica através desta cobertura para alimentá-las.

Diversificação e equilíbrio ecológico
     A monocultura, ou seja, o cultivo de apenas uma espécie numa área, é um dos maiores problemas da agricultura “moderna”, pois não existindo diversificação de espécies, as pragas e doenças ocorrem de forma mais intensa, por ser a única espécie presente no local, tornando o sistema de produção mais instável e mais sujeito às adversidades. O equilíbrio ecológico não pode ser mantido com as monoculturas.  Daí a importância dos consórcios de culturas e até a manutenção de faixas ou refúgios com “mato” e até consórcios dos cultivos com plantas espontâneas que podem servir para atrair insetos predadores  e até como alimento preferencial das pragas das culturas e também como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas. Portanto,  no sistema de produção orgânico é fundamental buscar-se em primeiro lugar uma maior diversificação da paisagem geral com espécies de interesse comercial ou não, de forma a restabelecer a cadeia alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e pássaros, pois somente assim se obterá sistemas de produção mais estáveis, garantindo o lucro dos produtores, mesmo em condições climáticas adversas.


Indicadoras de problemas no solo
     As plantas espontâneas são espécies adaptadas ao seu ambiente, por isso são consideradas indicadoras das condições químicas ou físicas do solo, podendo indicar também o manejo que está sendo praticado. Ou seja, ao mesmo tempo que indica um problema, também ajuda a solucioná-lo. A seguir, alguns exemplos de plantas espontâneas indicadoras de problemas no solo:  
•    Picão e urtiga – excesso de matéria orgânica  e carência de cobre (Cu)
•    Carqueja, guanxuma, língua-de-vaca, maria mole e tanchagem – solo compactado
•    Samambaia – solo ácido com alto teor de alumínio
•    Barba-de-bode e capim-amargoso – solo com baixa fertilidade
•    Capim marmelada ou papuã – solo muito arado e gradeado, com deficiência de zinco
•    Nabo – solo com deficiência de boro e manganês
•    Capim-arroz  - solo rico em alumínio
•    Tiririca ou junça – solo ácido, com carência de magnésio
•    Caraguatá e barba-de-bode – é frequente em solos onde se praticam queimadas
•    Azedinha - solo argiloso, ácido, carência de cálcio e molibdênio
• Capim-caninha ou capim-colorado – solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de fósforo
•   Capim-amoroso ou carrapicho – solos de baixa fertilidade, compactado e pobre em cálcio.       
   
     O uso de vegetação espontânea, a grande maioria, pode ser utilizada como planta de cobertura. Normalmente há predominância de gramíneas, especialmente no verão e folhas largas no inverno. Entretanto, é importante observar que algumas plantas espontâneas são muito problemáticas e podem dominar a área (ex.: grama-seda, trapoeraba, tiririca, losna, entre outras), competindo por água e nutrientes durante o ciclo da cultura principal  e, dessa forma prejudicando seriamente a lavoura. Para estas espécies mais agressivas, deve-se ter um cuidado especial, no sentido de não multiplicá-las cada vez mais. Especialmente para a tiririca, o manejo é muito importante no sentido de não favorecer a multiplicação, procurando abafá-las e  controlar com outras espécies (ex.: adubos verdes) com efeito alelopático. Para maiores informações sobre o manejo da tiririca, recomenda-se ver a matéria postada neste blog “Manejo da tiririca no sistema  orgânico de produção de hortaliças“,  em 15/03/2013.
     Também é importante ressaltar que algumas plantas espontâneas são indicadoras de solo fértil, tais como a beldroega (Portulaca oleracea).

 Manejo das plantas espontâneas
     Quando uma planta se torna agressiva, chamada de “invasora” ou “inço” e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. As medidas de controle devem considerar o grau de interferência sobre as plantas espontâneas e destas sobre os cultivos, antes e depois do manejo.
     Havendo necessidade de manejo, as plantas espontâneas não devem ser totalmente eliminadas. A intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. Dependendo do cultivo, é possível permitir o crescimento das plantas espontâneas. Em certos casos, amassar o “mato” pode ser mais vantajoso do que roçar e roçar mais vantajoso do que capinar. Este manejo pode ser feito da seguinte maneira:

   Práticas de prevenção: evitar a multiplicação; uso de sementes e mudas isentas de plantas espontâneas; em áreas muito inçadas preparar o solo com antecedência para permitir a emergência e eliminação de plantas espontâneas; utilizar composto orgânico ao invés de esterco de gado (fonte de sementes de plantas espontâneas); controle manual; rotação e consorciação de culturas;

     Plantas de cobertura (adubos verdes) em rotação, sucessão ou consorciadas com os cultivos e com efeitos alelopáticos: mucuna (abafamento), feijão de porco (tiririca), aveia e nabo forrageiro (papuã), ervilhaca e outras;

     Roçada das plantas espontâneas: elas podem conviver com os cultivos, especialmente de maior espaçamento entre as linhas, após o período crítico de competição, principalmente por luz, nos 30 dias após o plantio. Quando necessário, recomenda-se a roçada nas entrelinhas. No caso de espécies de espaçamento curto como a cenoura, cultivada em canteiros, recomenda-se  entre os canteiros, ou até nas proximidades, a manutenção de faixas de plantas espontâneas, roçando-as quando necessário;

    O uso de papel é uma ótima opção para os cultivos de espaçamento menor entre plantas (canteiros) tais como cenoura e mudas de cebola, com o objetivo de atrasar a emergência das plantas espontâneas:   Ver como proceder através da matéria “Uso do papel em canteiros de mudas de cebola” postada em 13/01/2013;

    Cobertura vegetal viva (Figuras 2 e 3) ou morta (Figuras 4 e 5), utilizando o cultivo mínimo ou plantio direto – reduz a incidência de plantas espontâneas impedindo a germinação ou abafando-as.


Figura 2. Cultivo de repolho em cobertura de adubos verdes (aveia)



Figura 3. Cultivo mínimo de tomate em cobertura de aveia + ervilhaca + nabo forrageiro



Figura 4. Cultivo de couve-flor em cobertura morta de palha de arroz


Figura 5. Cultivo de repolho em cobertura morta de palha de milho


Capina química (uso de herbicidas), solução encontrada pela agricultura “moderna” para o controle do “mato”
     Na agricultura convencional, o "mato" ou "inços" são chamados de "plantas daninhas" pois leva-se em conta somente os efeitos negativos sobre a produção. Em uma conceituação ampla, planta daninha "é toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada". Em termos agrícolas, planta “daninha” pode ser conceituada como "toda e qualquer planta que germine espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma, interfere prejudicialmente em suas atividades agropecuárias". A solução encontrada pela agricultura "moderna" são os inúmeros herbicidas que acabam contaminando as fontes de água e, o que é pior, contaminando as pessoas, especialmente quando o uso for nas cidades. Felizmente, em Santa Catarina, esta prática é proibida por lei. Precisamos estar atentos e denunciar para a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária em seu município, esta prática irregular, especialmente realizado por algumas prefeituras.

Lei  que proíbe a capina química nas cidades em Santa Catarina

     A lei nº 14.734 que proíbe a capina química em áreas de faixa de domínio de ferrovias, rodovias, vias públicas, ruas, praças, passeios, calçadas, avenidas, terrenos baldios, margem de arroios e valas em todo o território de Santa Catarina, foi sancionada pelo governador Luiz Henrique da Silveira em 17/06/2009. A lei nº 15.117 de 19/01/2010 alterou a redação, incluindo o parágrafo único: "a proibição contida na lei 14.734 não se aplica em áreas rurais e nas capinas amadoras em imóveis particulares devidamente protegidos do acesso público".

Capina química nas cidades: Por que proibir?
    Devido a ausência de segurança toxicológica, desde 2003, a Anvisa não permite a aplicação de herbicidas em ambientes urbanos, pois não tem como proibir o trânsito de pessoas, por pelo menos 24 horas após a aplicação; todos os produtos registrados para uso agrícola, possuem, como regra, um período de reentrada mínimo de 24 horas, ou seja, após a aplicação do produto, a área deve ser isolada e sinalizada e, no caso de necessidade de entrada no local durante este intervalo, o uso de equipamentos de proteção individual é obrigatório. Em ambientes urbanos, o isolamento de uma área por 24 horas é impraticável, isto é, não tem como assegurar que a população, especialmente as crianças, analfabetos e deficientes visuais, sejam avisados e impedidos de entrar na área, principalmente logo após aplicação, quando ainda está molhado, o que aumenta muito o risco de intoxicação.
      A capina química com herbicidas nas cidades (Figura 6) expõe a população ao risco de intoxicação, além de contaminar os animais, os vegetais, o solo e as fontes de água. Além disso, estudos recentes, mostram que o herbicida glifosato (roundup), um dos mais utilizados, é suspeito de provocar malformações em bebês, desregulação endócrina e mutagenicidade; na Argentina (Chaco), na última década, quando o uso deste herbicida aumentou drasticamente, relatório informa que quadruplicou os nascimentos de bebês com malformações. Outra pesquisa com embriões de anfíbios, mostrou que concentrações. 5.000 vezes menor do que o produto comercial, provocou deformações nestes.  Mas o que é ainda pior, é que o uso deste herbicida aumentou mais de 600%, passando de 39.515 toneladas em 2000, para 299.965 toneladas em 2009.

 Figura 6.  Por força de lei esta cena não pode ser mais vista nas cidades de Santa Catarina e, o que é pior, sem nenhum equipamento de proteção ao aplicador.


     São vários os fatores para proibir a capina química nas cidades, uma questão muito importante para resguardar a saúde pública. Dentre estes, destacam-se:

.  É praticamente inviável interditar praças e ruas da circulação de um grande número de pessoas durante e após a aplicação do agrotóxico;

.  Os solos agrícolas são permeáveis o que diminui o acúmulo e o escoamento superficial do produto aplicado, diferente das cidades que favorecem o acúmulo e a formação poças com elevadas concentrações de herbicida (ruas pavimentadas) e, por isso aumentando o risco de exposição de adultos, crianças e animais domésticos.. As crianças,  são mais sujeitas as intoxicações pois quanto menor o peso menor a dose de veneno necessária para intoxicar.

    Para orientar municípios de todo país sobre os perigos do uso de herbicidas nas cidades, a Anvisa publicou a seguinte nota técnica em 15/01/2010: "os herbicidas são produtos essencialmente perigosos e sua utilização, mesmo no meio rural, deve ser feita sob condições de intenso controle, não apenas por ocasião da aplicação, mas também com o isolamento da área na qual foi aplicado" . Na mesma nota, acrescenta: "fica evidenciado que não seria possível aplicar medidas que garantam condições ideais de segurança para o uso de agrotóxicos em ambiente urbano".


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Adubação no sistema orgânico de produção de hortaliças





Circular Técnica, 65 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008

Autores: Ronessa B. de Souza,  Enga. Agra.,   DSc. Embrapa Hortaliças Brasília, DF             E-mail: ronessa@cnph.embrapa.br

 Flávia A. de Alcântara,   Enga. Agra.,  DSc. Embrapa Hortaliças Brasília, DF                                E-mail: flavia@cnph.embrapa.br



Fertilizantes (ou adubos) orgânicos são obtidos de matérias-primas de origem animal ou vegetal, sejam elas provenientes do meio rural, de áreas urbanas ou ainda da agroindústria. Os fertilizantes orgânicos podem ou não ser enriquecidos com nutrientes de origem mineral (não orgânica). Os fertilizantes orgânicos podem ser divididos em quatro tipos principais: fertilizantes orgânicos simples, fertilizantes orgânicos mistos, fertilizantes orgânicos compostos e fertilizantes organominerais.

Tipos de fertilizantes orgânicos
• Fertilizantes orgânicos simples: fertilizante de origem animal ou vegetal. Exemplos: estercos animais, torta de mamona, borra de café.
• Fertilizantes orgânicos mistos: produto da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples. Exemplo: cinzas (fonte principalmente de K) + torta de mamona (fonte principalmente de N).
• Fertilizantes orgânicos compostos: fertilizante não natural, ou seja, obtido por um processo químico, físico, físico-químico ou bioquímico, sempre a partir de matéria-prima orgânica, tanto vegetal como animal. Pode ser enriquecido com nutrientes de origem mineral. Exemplos: composto orgânico, vermicomposto (húmus de minhoca) (Figura 1).

 Fig. 1. O húmus de minhoca (vermicomposto) e um importante fertilizante orgânico composto.


Fertilizantes organominerais: não passam por nenhum processo específico, são simplesmente o produto da mistura de fertilizantes orgânicos (simples ou compostos) com fertilizantes minerais. No caso específico da agricultura orgânica, estes fertilizantes minerais a serem misturados devem ser naturais (não processados quimicamente) e de baixa solubilidade, permitidos pela legislação para produção orgânica de alimentos.


Fertilizantes minerais de uso permitido na agricultura orgânica
Somente os fertilizantes minerais de origem natural e de baixa solubilidade são permitidos na agricultura orgânica, como por exemplo, os fosfatos naturais, os calcários e os pós de rocha. Em situações específicas, para uso restrito, uma vez constatada a necessidade de utilização do adubo e com autorização da certificadora, poderão ser utilizados os termofosfatos, sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio de origem natural, sulfato de magnésio, micronutrientes e guano (fosfatos de origem orgânica –provenientes de excrementos de aves marinhas).

Se o solo for ácido, pode-se fazer calagem no sistema orgânico e a quantidade de calcário a ser utilizada deve ser calculada com base na análise química do solo. Entretanto, a quantidade é geralmente limitada a 2 toneladas por hectare, por ano.

Estercos frescos
Os estercos frescos podem conter microorganismos causadores de doenças no homem. Não devem ser utilizados no cultivo de hortaliças, pois podem contaminar as partes comestíveis das plantas. Este problema pode ser resolvido com o curtimento, que é o envelhecimento do esterco sob condições naturais, não controladas. Deve-se deixar o monte de esterco “envelhecer” em local coberto ou protegido com um plástico ou uma lona contra chuvas, cujas águas lavam o esterco removendo os nutrientes. Para ficar pronto leva em torno de 90 dias, dependendo das condições ambientais. O esterco curtido é uma massa escura com aspecto gorduroso, odor agradável de terra e sem nenhum mau cheiro.

Composto orgânico
O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia (na presença de ar) de resíduos vegetais e animais. A compostagem permite a reciclagem desses resíduos e sua desinfecção contra pragas, doenças, plantas espontâneas e compostos indesejáveis. O composto orgânico atua como condicionador e melhorador das propriedades físicas, fisico-químicas e biológicas do solo, fornece nutrientes, favorece um rápido enraizamento e aumenta a resistência das plantas.
Para produção do composto utiliza-se como matéria prima resíduos vegetais, ricos em carbono (galhos, folhas, capim e outros) e resíduos animais, ricos em nitrogênio (esterco bovino, de aves e de outros animais, cama de aviário de matrizes dentre outros). Quando só se dispõe de materiais pobres em N, como cascas de pinus, árvores velhas e capins, estas devem ser alternadas com camadas de resíduos de leguminosas. A escolha da matéria prima é importante para maior eficiência da compostagem. A relação Carbono/Nitrogênio (C/N) inicial ótima (de 25-35:1) pode ser atingida por meio do uso de 75% de restos vegetais variados e 25% de esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são dispostos em camadas alternadas formando uma  leira ou monte de dimensões e formatos variados. O formato mais usual é o de seção triangular, sendo a largura comandada pela altura da leira, a qual deve situar-se entre 1,5 a 1,8 m. À medida que a pilha vai sendo formada, cada camada de material vai sendo umedecida com água tomando-se o cuidado para que não haja escorrimento. A pilha deve ser revirada (parte de cima para baixo e parte de dentro para fora) aos 15, 30 e 45 dias. No momento das reviradas, o material deve ser umedecido para ficar com umidade em torno de 50 a 60% (na prática, esse teor de umidade ocorre quando ao pegar o material com as mãos, sente-se que o mesmo está úmido e, ao ser comprimido, não escorre água entre os dedos e forma um torrão que se desmancha com facilidade).
Para manter a umidade ideal a pilha deve ser coberta com palhas, folhas de bananeira ou lona plástica. O local deve ser protegido do sol e da chuva (área coberta ou à sombra de uma árvore) (Figura 2). Como exemplo, podemos citar o composto que é produzido na Unidade de Produção de Hortaliças Orgânicas da Embrapa Hortaliças:

• 15 carrinhos de mão de capim braquiária roçado;
• 30 carrinhos de capim napier;
• 20 carrinhos de cama de matriz de aviário;
• 13 kg de termofosfato.

Formar camadas alternadas na seguinte ordem: braquiária, napier, cama de matriz e termofosfato, montando uma meda de 1m x 10m x 1,5m (largura x comprimento x altura) para obtenção de 2.500 kg de composto orgânico após cerca de 90 dias. O composto orgânico é um produto estabilizado e mais equilibrado, em que durante sua formação foram dadas todas as condições necessárias à eficiente fermentação aeróbica, portanto sua qualidade como condicionador ou melhorador do solo é superior à do esterco curtido. Além disso, é mais rico em nutrientes por constituir-se de resíduos vegetais e animais e por ser, muitas vezes, enriquecido com resíduos agroindustriais e adubos minerais. O composto estará pronto para o uso quando apresentar as seguintes características: temperaturas normalmente inferiores a 35o C; redução do volume para 1/3 do volume inicial; constituintes degradados fisicamente, não sendo possível identificá-los; permite que seja moldado facilmente com as mãos; cheiro de terra mofada, tolerável e até mesmo agradável para alguns. O enriquecimento do composto pode ser obtido com a adição, no momento de montagem da pilha, de fosfatos de reação ácida como fosfatos naturais  (6 kg m-3), calcário (25 a A50 kg t-1), torta de cacau (40 kg m-3) ou de mamona (20 a 30 kg m-3), borra de café (50 kg m-3), cinzas, entre outros. O enriquecimento do composto deve ser realizado de acordo com as exigências da cultura e a necessidade do solo. Geralmente, o enriquecimento com fósforo só é recomendado nos 2 ou 3 anos iniciais de produção, entretanto sua continuidade por maior tempo vai depender da  disponibilidade de P do solo.

 Fig. 2. O composto orgânico deve ser preparado em local protegido do sol e da chuva.


Biofertilizantes
É o material líquido resultante da fermentação de estercos, adicionado ou não de  outros resíduos orgânicos e nutrientes, em água. O processo de fermentação pode ser aeróbio (na presença de ar) ou anaeróbio (na ausência de ar). Podem ser aplicados via foliar, diluídos em água na proporção de 2 a 5%, ou no solo via gotejamento. Somente podem ser aplicados via foliar os biofertilizantes que não apresentem resíduos de origem animal em sua composição. A forma como o biofertilizante atua nas plantas ainda não é completamente esclarecida e merece ser melhor estudada. Apresenta efeitos nutricionais (fornecimento de micronutrientes) e fitossanitários, atuando diretamente no controle de alguns fitoparasitas por meio de substancias com ação fungicida, bactericida ou inseticida presentes em sua composição. Parece atuar equilibrando e tonificando o metabolismo da planta, tornando-a mais resistente ao ataque de pragas e doenças.

Preparo de biofertilizante na propriedade
Não há uma fórmula padrão para produção de biofertilizante. Por esta razão, apresentamos uma receita básica de biofertilizante líquido, na qual podem ser feitas variações: Em uma bombona plástica coloca-se volumes iguais de esterco fresco e água, deixando um espaço vazio de 15 a 20 centímetros no seu interior (Figura 3). Essa bombona deve ser fechada hermeticamente e na sua tampa deve ser adaptada uma mangueira plástica fina. Uma extremidade da mangueira fica no espaço vazio da bombona e a outra deve ser imersa em um recipiente com água para permitir a saída do gás metano e impedir a entrada de ar (oxigênio). O final do processo, que dura de 30 a 40 dias, coincide com a cessação do borbulhamento observado no recipiente d’água, quando a solução deverá ter atingido pH próximo a 7,0. Para separação da parte ainda sólida o material deve ser coado em peneira e filtrado em um pano ou tela bem fina. Geralmente é utilizado diluído em água em concentrações variáveis de acordo com os diferentes usos e aplicações. Ressalta-se que esse biofertlizante não pode ser aplicado via foliar, apenas no solo.



Fig. 3. Biofertilizantes podem ser preparados em bombonas plásticas na propriedade.


Compostos de farelos ou ‘bokashis’
São compostos orgânicos produzidos a partir da mistura de materiais como farelos de cereais (arroz, trigo), torta de oleaginosas (soja, mamona), farinha de osso, farinha de peixe e outros resíduos com terra de barranco (argilas) ou não (Figura 4). Essa mistura é inoculada com microorganismos e submetida à fermentação aeróbica ou anaeróbica. O inoculante microbiano pode ser terra de mata (bosque natural), soja fermentada, microorganismos capturados da natureza por meio de arroz cozido ou inoculantes comerciais como o EM® (microorganismos eficazes). Sua composição deve ser ajustada de acordo com os ingredientes disponíveis e as necessidades nutricionais das culturas. Por utilizar matérias-primas nobres, de uso freqüente na alimentação animal, o bokashi é um fertilizante relativamente caro e rico em nutrientes, especialmente N, P e K. Existem diferentes formulações com duração variável de 3 a 1 dias para obtenção do composto. Durante o processo fermentativo aeróbio, a umidade deve permanecer em torno de 50% a 60% e a temperatura em torno de 50oC. Na maioria das formulações, a movimentação da mistura é feita diariamente, uma vez que devido às boas características físicas (partículas pequenas) e químicas (riqueza em nutrientes) da matéria prima, a temperatura eleva-se com facilidade. O final do processo caracteriza-se pela queda de temperatura. O composto de farelos mais conhecido é o “Nutri Bokashi”, produzido pela Kórin, empresa criada em 1995 pela Fundação Mokiti Okada, que utiliza os microorganismos eficazes (EM®) como inoculante.



Fig. 4. O “bokashi” é um fertilizante resultante da fermentação de matérias-primas nobres, sendo rico em
nutrientes, especialmente N, P e K.


Análise química do solo no sistema orgânico
A análise química periódica é a única maneira de conhecer a fertilidade do solo, ou  seja, de saber se o solo está ácido ou não, e se os teores de macro e micronutrientes e de matéria orgânica estão adequados. É a partir dos resultados da análise química que saberemos se há ou não necessidade de calagem, quais os nutrientes estão em falta e quanto devemos aplicar de fertilizantes para aquela determinada cultura. Portanto, é necessário fazer análise química do solo tanto no sistema convencional quanto no orgânico, isto é, independente do tipo de fertilizante e que se utiliza e das práticas adotadas. No laboratório, pode-se solicitar a análise de rotina, que geralmente consiste das determinações de pH, cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), fósforo (P), alumínio (Al), acidez potencial (H+Al) e matéria orgânica. Havendo interesse específico em função da exigência nutricional da cultura e sendo economicamente viável para o produtor, recomenda-se que se solicite também a análise do S e dos micronutrientes. A textura não é uma característica química do solo, mas deve ser determinada em laboratório na primeira vez que se amostra a área. Seu conhecimento ajuda a entender o comportamento de certos nutrientes no solo e a determinar com maior precisão a necessidade de fornecimento. Das outras vezes em que se amostra solo na mesma área não é necessário repetir a análise de textura, já que está é uma característica física do solo que praticamente não sofre modificações. Em geral, os laboratórios de fertilidade do solo também fazem a determinação de textura.



Cálculo da quantidade de adubos a utilizar no sistema orgânico
Este é um assunto que precisa ser melhor estudado, uma vez que em olericultura orgânica o enfoque das adubações deve ser baseado não apenas no aspecto químico da fertilidade do solo, mas também nos componentes físico, físico-químicos e biológicos do solo, considerando inclusive os efeitos de médio e longo prazos do manejo da matéria orgânica. De toda forma, o cálculo da adubação para o plantio deve ser feito levando em consideração a análise química do solo, além da composição química do adubo e da exigência da cultura. Em geral, as recomendações de material orgânico situam-se entre 10 a 50 t ha-1 de composto orgânico ou esterco curtido. Estas doses devem ser ajustadas de acordo com a cultura, com a qualidade do material, com as características químicas do solo que se vai cultivar, com a cultura antecessora e com o histórico de manejo orgânico. O sistema de manejo intensivo utilizado na produção de hortaliças tende a favorecer a elevação dos teores de nutrientes no solo com o decorrer do tempo. Portanto, para evitar desequilíbrios nutricionais, é importante considerar o efeito residual da adubação orgânica.

Exemplo de cálculo
Como exemplo, considere o plantio de 1 hectare de cebola em que, utilizando-se os critérios de interpretação e recomendação da agricultura convencional, a análise de solo indicasse a necessidade de se aplicar 120 kg de N, 180 de K2O, 300 kg de P2O5. Na propriedade em questão tem-se disponível o esterco bovino, cinzas e fosfato natural, cujas características estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Teores de nitrogênio, fósforo e potássio (% na matéria seca) e fatores de conversão (fc) de alguns fertilizantes.
  
Fertilizante
Nitrogênio
Fósforo
Potássio
% MS
fc
% MS
fc
% MS
fc
Esterco bovino
5
20
2,5
40
5
20
Fosfato natural
-
-
30
3,3
-
-
Cinzas
-
-
2,5
40
10
10
1/ fc = 100/%MS
Fonte: SOUZA, J. L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. Viçosa, MG: Editora Aprenda Fácil, 2003. 564 p.



 Neste caso, como fonte de N tem-se apenas o esterco bovino. Assim, para suprir todo o N recomendado (120 kg de N), a quantidade de esterco necessária será:

N = quantidade de N recomendada pela análise de solo x fc para N = 120x20 =2.400 kg.ha-1 de esterco bovino que fornece também: P = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para P = 2.400/40 = 60 kg.ha-1; K = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para K = 2.400/20 = 120 kg.ha-1.

Para completar o K, vamos usar cinzas como adubo: K = (quantidade recomendada de K – K fornecido pelo esterco bovino) x fc para K = (180-120)x10 = 600 kg.ha -1de cinzas que fornece também: P = kg.ha-1 de cinzas : fc para P = 600/40 = 15 kg.ha-1.

Para completar o P, vamos usar o fosfato natural: P = (quantidade recomendada de P – P fornecido pelo esterco bovino - P fornecido pelas cinzas) x fc para P = (300-60-15) x 3,3 = 742 kg.ha-1 de fosfato natural.

Portanto, para atender as recomendações indicadas pela análise de solo neste exemplo, para o plantio de 1 hectare de cebola devemos aplicar 2.400 kg de esterco bovino, 600 kg de cinzas e 742 kg de fosfato natural. Esses cálculos levam em consideração apenas a constituição química dos adubos, sendo que os aspectos físico e biológico do solo e o efeito residual das adubações, muito importantes nos sistemas de produção orgânicos, não são considerados. Portanto, as quantidades recomendadas no exemplo acima devem ser ajustadas de acordo com a situação específica (características climáticas, de solo e histórico de manejo de cada local) do sistema de produção.


Principais fontes de nutrientes permitidas na produção orgânica

Nitrogênio: estercos puros de animais diversos, cama e urina de animais, espécies leguminosas de adubos verdes (mucunas, crotalárias, guandu, feijão de porco, feijão bravo do Ceará, etc.), resíduos agroindustriais como torta de oleaginosas (mamona, algodão, soja) e de cacau, palhadas (Figura 5) e resíduos de culturas leguminosas como soja e feijão (Figura 6), farinha de sangue, farinha de peixe, composto orgânico, biofertilizantes, bokashis, entre outros.

• Potássio: cinzas, cascas de café, pós de rochas silicatadas com altos teores de potássio, talos de banana, entre outros.

• Fósforo: fosfatos naturais e farinha de ossos.

• Micronutrientes: alguns pós de rocha, estercos, fontes minerais permitidas (ex.: óxido de cobre e outros utilizados nos biofertilizantes). De acordo com a Instrução Normativa no.007 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, podem ser utilizados sulfato de potássio e sulfato duplo de potássio e magnésio (o último de origem mineral natural), termofosfatos, sulfato de magnésio, ácido bórico (quando não utilizado diretamente sobre as plantas e o solo) e carbonatos (como fonte de micronutrientes). Entretanto, estes produtos podem ser empregados somente se constatada a necessidade de utilização mediante análise e se esses fertilizantes estiverem livres de substâncias tóxicas. Além disso, a permissão para utilização depende também das normas da certificadora.

 Fig. 5. Palhadas são ótimas fontes de nitrogênio.


Fig. 6. Leguminosas são muito ricas em nitrogênio e. podem ser usadas como adubos verdes.


Correção de deficiência e toxidez no sistema orgânico
Sistemas orgânicos efetivamente equilibrados e sustentáveis não devem apresentar deficiências minerais. Contudo, falhas na escolha das culturas, no manejo ou na  própria concepção do sistema, especialmente na fase de transição para o sistema orgânico, podem propiciar o aparecimento de deficiências. Neste caso, a correção pode ser feita por meio da aplicações de biofertilizantes, cuja formulação pode ser ajustada de acordo com a necessidade das culturas. Pode-se preparar diferentes formulações de biofertilizantes enriquecidos nos diversos macro e micronutrientes.
Situações de toxidez são raras em sistemas orgânicos, mas podem ocorrer eventualmente. Em solos de baixa fertilidade, como os latossolos da região do Cerrado, no(s) primeiro(s) ano(s) de cultivo, é possível ocorrer toxidez de Mn e/ou de Fe. Neste caso, a correção se faz com a calagem calculada de acordo com a análise de solo e na quantidade permitida para sistemas orgânicos. Devido ao seu alto poder tampão, a adição de matéria orgânica ao solo ajudam a corrigir problemas de excessos e deficiências de nutrientes, especialmente de micronutrientes, com muitos dos quais forma quelatos, regulando a disponibilidade para as plantas.

Circular
Técnica, 65
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na Embrapa Hortaliças Rodovia BR-060, trecho Brasília-Anápolis, km 9 C. Postal 218, CEP 70.351-970 - Brasília-DF Fone: (61) 3385.9000 Fax: (61) 3556.5744 E-mail: sac@cnph.embrapa.br

1ª edição
1ª impressão (2008): 1.000 exemplares
2ª impressão (2012): 2.000 exemplares




Comitê de
Publicações
Presidente: Warley Marcos Nascimento
Editor Técnico: Fábio Akyioshi Suinaga
Supervisor Editorial: George James
Secretária: Gislaine Costa Neves
Membros: Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho, Carlos Alberto Lopes, Ítalo Moraes  Rocha Guedes, Jadir Borges Pinheiro, José Lindorico de Mendonça, Mariane Carvalho Vidal, Neide Botrel, Rita de Fátima Alves Luengo

Expediente

Normalização bibliográfica: Rosane M. Parmagnani
Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos e  André L. Garcia
  • RSS
  • Delicious
  • Digg
  • Facebook
  • Twitter
  • Linkedin
  • Youtube

Blog Archive

Blogger templates