domingo, 10 de dezembro de 2017

Fonte: Rev. Ceres, Viçosa, v. 61, Suplemento, p. 829-837, nov/dez, 2014 ; http://dx.doi.org/10.1590/0034-737X201461000008

Autores:

.Maria Aparecida Nogueira Sediyama - Engenheira-Agrônoma, Doutora. EPAMIG Zona da Mata, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Email: mariasediyama@gmail.com
.Izabel Cristina dos Santos -  Engenheira-Agrônoma, Doutora. EPAMIG Sul de Minas, 36301-360, São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil. Email: csantos@epamig.br
.Paulo César de Lima - Engenheiro-Agrônomo, Doutor. EPAMIG Zona da Mata, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Email: plima@gmail.com


RESUMO

Cultivo de hortaliças no sistema orgânico

As hortaliças são os alimentos que mais se destacam, em artigos científicos e em jornais, quando se trata de contaminação com agrotóxicos. Isso tem levado ao aumento na demanda por produtos orgânicos por parte dos consumidores. Há, então, a necessidade de se desenvolverem tecnologias que viabilizem esses sistemas, atendendo ao consumidor e melhorando a renda dos agricultores, geralmente de base familiar. A produção de hortaliças em sistema orgânico requer tecnologias que respeitem os processos ecológicos, que promovam o aumento da matéria orgânica do solo e que sejam poupadoras de energia. Neste artigo, são discutidas algumas dessas tecnologias e resultados de pesquisas, com foco em produção de mudas, manejo e adubação do solo, adubação verde, rotação de culturas, consórcio de hortaliças, manejo de plantas espontâneas e manejo de pragas e doenças, que são práticas aprovadas pelas normas para produção orgânica e seguem os princípios agroecológicos, que contribuem para a maior eficiência energética dos sistemas produtivos e, em conjunto, para o necessário desenvolvimento do setor de produção de hortaliças orgânicas com base científica.

Palavras-chave: Agroecologia, olericultura, agricultura orgânica, segurança alimentar.

ABSTRACT

Growing vegetables in the organic system

Growing vegetables in the organic system Vegetables and agrochemical contamination is the most outstanding food topic addressed by scientific journals and popular scientific articles. This increasingly available information has led to an increase in consumers demand for organic products and, consequently, for the development of technologies that make organic production viable to meet this demand and raise the income of producers, mostly family farmers The production of organic vegetables requires technologies that foster ecological processes, promote the increase of organic matter in the soil and energy-saving practices. The objective of this work was to present and discuss some of these technologies and research results, focusing on seedling production, soil fertilization and management, green fertilization, crop rotation, vegetable consortium, weed, pest and disease management. Such practices are approved by organic production norms and follow agroecological principles, contributing to a greater energetic efficiency of the productive systems, which collectively provide the necessary development of a scientifically-based vegetable production sector.

Key words: agroecology, vegetable farming, organic agriculture, food safety.


INTRODUÇÃO

 A produção de hortaliças em sistema orgânico é uma atividade em crescimento no mundo, em decorrência da necessidade de se proteger a saúde dos produtores e consumidores e de preservar o ambiente, dentre outras. Esse sistema de produção é usado, especialmente, por agricultores familiares, por sua adequação às características das pequenas propriedades com gestão familiar, pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, pela menor dependência de recursos externos, com maior absorção de mão de obra familiar e menor necessidade de capital. Embora seja um setor em expansão, a produção de hortaliças orgânicas está sujeita a riscos. Além daqueles inerentes à agricultura convencional, tem-se: baixa escala de produção; maior uso de mão de obra; uso de embalagens adequadas para a certificação; custos com a certificação, que oneram o produto final, o que também representa um risco de mercado, segundo Lima (2005). Para hortaliças, produtos altamente perecíveis, o produtor deve adotar estratégias minimizadoras dos riscos, como programação da produção e previsão de mercado. Neste sentido, produzir diversas hortaliças é uma boa estratégia para reduzir os riscos. Na produção de hortaliças, algumas práticas são essenciais para condução das hortas e a produção de insumos destinados ao sistema orgânico. Dentre elas, a produção de mudas, de fertilizantes orgânicos, de biofertilizantes, de vermicompostos e de adubos verdes. Além de tecnologias para manejo de pragas, doenças e de plantas espontâneas, rotação e consorciação de olerícolas contribuem para a melhoria da produção orgânica. Neste artigo, são discutidas algumas dessas tecnologias e apresentados alguns resultados de pesquisas, que, em conjunto, contribuem para o necessário desenvolvimento do setor de produção de hortaliças orgânicas com base científica.

MANEJO E ADUBAÇÃO DO SOLO

As práticas de manejo do solo são as principais alterações nos agroecossistemas. Nessa concepção, o ambiente físico-químico tem sido apontado como o principal regulador da produção das lavouras, tanto pelas modificações físicas causadas pelo preparo e manejo do solo e, ou, pela irrigação, quanto pelas modificações químicas, com a adição de nutrientes por meio dos fertilizantes. Principalmente a partir da década de 90, é que o conceito de manejo biológico do solo se fortaleceu com o reconhecimento do papel regulatório das populações de organismos e de suas atividades sobre a fertilidade do solo. Nesse aspecto, deve ser dada ênfase às práticas de manejo que incrementam ou potencializam as atividades biológicas do solo (Lima et al., 2011). A adubação sob o paradigma orgânico pressupõe que a fertilidade do solo deve ser mantida ou melhorada, utilizando-se recursos naturais e das atividades biológicas. Na medida do possível, devem-se utilizar recursos locais, bem como subprodutos orgânicos que proporcionem o fornecimento de nutrientes, de forma ampla e diversificada, devendo priorizar a ciclagem de nutrientes por meio de restos culturais, compostos e resíduos orgânicos e adubações verdes com leguminosas ou plantas espontâneas (Lima et al., 2011). Para tanto, há necessidade da realização de análises dos componentes da ciclagem de nutrientes e dos materiais a serem empregados, para se determinar a composição química de cada um deles e o potencial fertilizante. Também são fundamentais as análises periódicas do solo, para avaliação da sua fertilidade, visando à adoção de boas práticas de manejo, incluindo-se a correção da acidez e a adubação adequada, sem excessos, para evitar a toxidez de nutrientes e o acúmulo de metais pesados no solo. Considerando-se que grande parte das hortaliças é consumida in natura, é importante conhecer a qualidade sanitária dos estercos de animais. Neste sentido, a fermentação da matéria orgânica presente nos estercos e a compostagem com outros resíduos orgânicos são de extrema importância, antes que sejam aplicados ao solo, o que reduz as chances de contaminação por microorganismos patogênicos, além de melhorar a qualidade do esterco e a disponibilidade de nutrientes para as culturas (Sediyama et al., 2000). Muitas vezes, o uso ou descarte de resíduos agrícolas e agroindustriais orgânicos são feitos sem tratamento, o que pode causar danos ao ambiente e às plantas, como no caso de estercos de animais. A compostagem é a melhor estratégia para o uso desses resíduos, pois facilita o manejo do esterco, reduz o volume dos resíduos e a perda de nitrogênio. Um composto bem feito apresenta matéria orgânica transformada em húmus e atua, no solo, melhorando sua estrutura e dando a ele condições de armazenar maior quantidade de água, de ar e de nutrientes, que alimentarão as plantas (Lucon & Chaves, 2004). A compostagem é o processo aeróbico controlado da decomposição microbiana da matéria orgânica. O nome do produto obtido, “composto orgânico” (Corg) vem justamente da mistura dos materiais para sua fabricação, que é um processo simples e de baixo custo, especialmente nas regiões onde haja abundância desses resíduos. Para incrementar a produção em sistema orgânico, há necessidade de aumentar a produção de compostos de qualidade, pois o composto orgânico é o principal fertilizante usado nesse sistema de cultivo de hortaliças. Os materiais empregados na compostagem determinam a composição final do Corg. Assim, recomenda-se a avaliação de diferentes materiais quanto à sua composição química, para avaliar o valor fertilizante e a resposta na produção e na qualidade do alimento produzido. Sediyama et al. (2011) avaliaram os Corgs das misturas descritas a seguir: 1) Bagaço de cana-de-açúcar (BCA) + casca de café (CC) + esterco bovino (EB); 2) BCA + CC + dejeto suíno na forma sólida (DSS); 3) BCA + CC + EB + DSS; 4) BCA + EB + DSS; 5) BCA + pseudocaule de bananeira (PB) + DSS e 6) PB + CC + EB. O tempo de compostagem de 98 dias foi adequado para a maturação dos Corgs, a ausência de aquecimento no interior das pilhas, a relação C:N abaixo de 10:1, o aumento de pH e de nutrientes. O composto ‘5’ apresentou maiores teores de fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, zinco, cobre e sódio, enquanto o composto ‘2’ apresentou maior teor de nitrogênio. O composto ‘5’ teve bom aquecimento e maior concentração de nutrientes, sendo o mais promissor para a produção de fertilizante orgânico, considerando-se a grande disponibilidade desses resíduos na Zona da Mata de Minas Gerais. A compostagem foi eficiente para reduzir a população de coliformes fecais para contagens inferiores a 102 UFC/ g, em todos os compostos orgânicos produzidos. No cultivo de cebola (CNPH 6400) em sistema orgânico, Vidigal et al. (2010) avaliaram o uso de cinco doses de Corg à base de dejeto sólido de suíno (0; 10; 20; 30 e 60 t ha-1), aplicadas uma semana antes do transplantio das mudas para os canteiros. A colheita ocorreu 168 dias após a semeadura e a produtividade máxima de bulbos comercializáveis foi de 60,3 t ha-1, estimada, com a aplicação de 43,4 t ha-1 do Corg. Houve redução do teor de sólidos solúveis (Brix) dos bulbos com o aumento das doses, alcançando-se o mínimo de 9,77, estimado, com a aplicação de 50 t ha-1 do Corg. Os resultados permitiram concluir que a aplicação de 43 t ha-1 do Corg é suficiente para a obtenção de bulbos com ótima qualidade e produtividade. A adição dos adubos orgânicos ao solo proporcionou melhorias nas condições físicas e químicas, aumentando os teores de macro e micronutrientes e propiciando maiores produtividades.

PRODUÇÂO DE MUDAS

A produção de mudas é uma das etapas mais importantes da produção de hortaliças, pois a qualidade da muda determina o desempenho produtivo das plantas. Esta etapa é altamente dependente de insumos, especialmente de semente e de substrato para a germinação, o enraizamento e o crescimento das mudas. Algumas empresas já produzem substratos apropriados; entretanto, a maioria dos substratos comerciais não é recomendada para sistemas orgânicos, pois, além do alto custo, eles não são registrados e, portanto, não permitidos pelas entidades certificadoras, em função da presença de componentes antiecológicos e de adubos sintéticos de alta solubilidade (Santos et al., 2010). Diversos trabalhos têm apontado substratos alternativos eficientes, que utilizam materiais de diversas origens: animal (estercos e húmus de minhoca) (Santos et al., 2010), vegetal (casca de arroz carbonizada ou natural, tortas, bagaços, serragem, fibra ou pó da casca de coco) (Silva et al. 2010; Lüdke et al., 2008) e mineral (vermiculita, perlita, areia). Esses materiais podem ser usados de forma simples, ou combinados para promover condições favoráveis ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas, com custo acessível. Uma medida adequada para diminuir o custo e facilitar a produção dos substratos é utilizar material existente na propriedade ou na região, de reconhecida qualidade e adequação à produção orgânica (isento de minerais ou outras substâncias em concentração fitotóxica, bem como de fitopatógenos, de pragas e de sementes ou estruturas de plantas indesejáveis). Santos et al. (2010) avaliaram substratos constituídos de vermicomposto (originado de esterco bovino) ou de sua mistura com vermiculita, para a produção de mudas de pimentão em bandejas de poliestireno expandido. No geral, o substrato comercial produziu mudas mais vigorosas; mas os substratos com 100% de vermicomposto e 75% de vermicomposto + 25% de vermiculita produziram mudas com o mesmo índice SPAD e diâmetro de colo, para os dois híbridos de pimentão (‘Etna’ e ‘Tiberius’). Concluiu-se que o vermicomposto bovino pode ser utilizado como substrato na produção de mudas de pimentão, com mistura de até 25% de vermiculita, principalmente, pelo menor custo, em relação ao do substrato comercial. Antes de usar os substratos produzidos com resíduos orgânicos, obtidos nas propriedades agrícolas, é importante submetê-los ao processo de solarização, tratamento que se baseia no aquecimento do substrato por meio da energia solar, para a sua desinfecção e inativação de estruturas e sementes de plantas espontâneas, a menos que tenha sido produzido por processo adequado de compostagem dos materiais orgânicos.

ADUBAÇÃO VERDE

 A adubação verde tem sido utilizada como alternativa prática e eficaz para o fornecimento de nutrientes e a adição de matéria orgânica ao solo, diretamente, na área de cultivo. Dentre as plantas empregadas como adubos verdes destacam-se as leguminosas, que produzem grande quantidade de biomassa e são capazes de se associar às bactérias que transformam o nitrogênio do ar em compostos nitrogenados, tornando esse nutriente disponível para as espécies de interesse comercial. Outras espécies vegetais também podem trazer vantagens ao sistema, sendo muito importante a escolha das espécies de adubos verdes mais adequadas para cada tipo de clima, solo e sistema de manejo das plantas cultivadas (Santos et al., 2013). Quando utilizados no esquema de rotação de culturas, os adubos verdes são plantados na área, antes da cultura principal, e cortados por ocasião da floração; a biomassa pode ser deixada sobre o solo e, neste caso, a decomposição é mais lenta, mas pode-se contar com os efeitos da cobertura do solo, como a conservação da umidade, a menor variação da temperatura, a proteção contra erosão, o efeito supressor e, ou, alelopático sobre várias plantas espontâneas. Se a biomassa for incorporada ao solo, ocorrerá a sua decomposição pela ação dos organismos e os nutrientes serão mineralizados mais rapidamente. Para o cultivo do adubo verde em consórcio com hortaliças, deve-se observar o porte das plantas e a época de plantio do adubo verde, em relação ao da cultura, para que não haja competição (Santos et al., 2013). Geralmente é dito que os adubos verdes são úteis no controle de nematoides, por serem desfavoráveis, ou pouco adequados, à reprodução desses organismos, mas pesquisas evidenciam que pode haver variação na susceptibilidade dos adubos verdes, dependendo da espécie de nematoide e de sua população no local. Inomoto et al. (2006) avaliaram a reação dos adubos verdes guandu cv. ‘Fava Larga’ e guandu anão cv. ‘Iapar 43’ – ambos Cajanus cajan; mucuna preta e mucuna cinza - ambas Mucuna pruriens; Crotalaria breviflora e C. spectabilis a Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus. Com guandu anão, mucuna preta, Crotalaria breviflora e Crotalaria spectabilis, a população de M. javanica diminuiu, enquanto, com guandu (‘Fava Larga’) e mucuna cinza, o nematoide multiplicou-se. Os adubos verdes guandu anão, Crotalaria breviflora e Crotalaria spectabilis foram os mais resistentes a P. brachyurus, enquanto, com os outros adubos verdes, a população desse nematoide aumentou. Assim, as três últimas espécies seriam as mais indicadas quando há infestação pelas duas espécies de nematoides citadas. Quando se trata de culturas de ciclo curto, como as olerícolas, nem todo o nitrogênio do adubo verde é aproveitado num único ciclo de cultivo; parte do nitrogênio não aproveitado no mesmo ciclo vai para a matéria orgânica do solo e parte fica no material vegetal ainda em decomposição, até que o adubo verde decomponha-se completamente. Esse nitrogênio residual deve ser considerado e pode ser aproveitado por culturas subsequentes, em um sistema de sucessão (Diniz, 2011). Para as culturas de alface americana e de repolho, três leguminosas foram avaliadas como adubos verdes, na complementação da adubação com composto orgânico (Fontanétti et al., 2006). A crotalária (C. juncea) apresentou maior produção de matéria seca e maiores acúmulos dos nutrientes N, P, K, Mg, B, Mn e Zn, em relação aos do feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e da mucuna preta (Mucuna aterrima) e, portanto, maior potencial para aporte de nutrientes. A adubação verde em complementação ao composto proporcionou produção de alface e repolho com características adequadas para comercialização. Alves et al. (2004) avaliaram os efeitos da incorporação de biomassa de guandu (Cajanus cajan), proveniente de sua poda, na fertilidade do solo e na produtividade de beterraba, cenoura e feijão-de-vagem sob cultivo orgânico. As produtividades das plantas não foram afetadas pelos tratamentos. Mas, quando se incorporou a biomassa de guandu, verificou-se que o balanço de nitrogênio do sistema foi positivo e houve aumento significativo da absorção de fósforo pelas hortaliças. O sistema de cultivo em aleias de guandu pode representar uma prática vantajosa para os produtores orgânicos, por contribuir na manutenção da fertilidade do solo. Diniz (2011) avaliou doses de 0, 3, 6, 9 t ha-1 de adubo verde, em base de massa seca, na produção de brócolis, com adição de 12 t ha-1 de composto orgânico e dois tratamentos testemunhas: 100% da recomendação de nitrogênio na forma mineral e testemunha absoluta, sem adubação. O adubo verde foi aplicado no dia do transplantio do brócolis, sendo que, no primeiro experimento, foi utilizada a mucuna cinza e, no segundo, a crotalária (C. juncea). A aplicação do adubo verde favoreceu o crescimento do brócolis, à medida que se aumentou a dose. O tempo geral necessário para a decomposição de 50% da massa, nas doses 3, 6 e 9 t ha-1, foi de 50, 102 e 119 dias e, para a liberação da quantidade total do nitrogênio, foi de 9, 24 e 32 dias, respectivamente.

 ROTAÇÃO DE CULTURAS

A rotação de culturas é essencial para a condução das hortas, uma vez que as hortaliças estão entre as espécies mais atacadas por um grande número de pragas e doenças, sendo, portanto, o grupo de plantas com mais problemas fitossanitários. Esta prática consiste em evitar o plantio sucessivo de uma mesma cultura, na mesma área, ao longo do tempo, assim como plantas da mesma família. Desta forma evita-se a reprodução e o acúmulo de organismos (insetos, fungos, bactérias) que causam danos às culturas, facilitando o seu controle. Se uma hortaliça recobre pouco o solo, deve ser substituída por uma que produza bom sombreamento, visando a interromper o ciclo reprodutivo das espécies espontâneas mais frequentes. É importante alternar culturas de sistema radicular superficial com aquelas de sistema radicular profundo, para melhor aproveitamento da adubação residual, assim como cultura que produza pouca biomassa com outra que produza muita, para favorecer a reposição da matéria orgânica do solo (Souza & Resende, 2003; Amaro et al., 2007; Santos & Carvalho, 2013). De acordo com Souza & Resende (2003) e Amaro et al. (2007), para se implantar um bom esquema de rotação é importante a divisão da horta em talhões e faixas de plantio, para facilitar o planejamento do sistema, alternando diferentes espécies vegetais no mesmo local, de acordo com os princípios básicos. Na EPAGRI, o efeito da rotação de culturas nos cultivos orgânico e convencional de cebola (cv. Empasc 352 ‘Bola Precoce’) foi avaliado por três anos. A batata-doce foi plantada em novembro e a aveia foi semeada em abril, em sucessão à cebola. O sistema com rotação produziu 17,4 e 33,3% a mais, em relação ao monocultivo nos sistemas convencional e orgânico, respectivamente. Ao se compararem os sistemas de produção, verificou-se ligeira vantagem do cultivo convencional (19,2 t ha-1) em relação ao orgânico (17,2 t ha-1) quanto ao rendimento comercial de bulbos (Silva & Peruch, 2014). Juntamente com a adubação verde, a rotação de culturas é uma das práticas mais importantes e efetivas na redução da população de nematoides em áreas de cultivo. Em cenoura, a rotação com culturas que não hospedam o nematoide-das-galhas (Meloidogyne sp.) contribui para a morte desses organismos por inanição (Pinheiro et al., 2010).

 CONSÓRCIO DE HORTALIÇAS

 O consórcio de hortaliças é um importante componente dos sistemas agrícolas sustentáveis e consiste no desenho de combinações espaciais e temporais, de duas ou mais culturas, na mesma área. O arranjo das culturas no espaço pode ser feito em fileiras alternadas, em faixas, em mosaico, de forma mista (sem arranjo definido), uma servindo de bordadura para a outra, ou uma servindo de cultura de cobertura do solo para a outra. O resultado dessa interação é o aumento da produtividade por unidade de área cultivada, da estabilidade econômica e biológica do agroecossistema, da eficiência de uso dos recursos disponíveis (solo, água, luz, nutrientes), da eficiência de uso da mão de obra, bem como a redução da infestação com plantas espontâneas, pragas e doenças. Além disso, a consorciação contribui para a estabilidade da atividade rural, assegurando colheitas escalonadas e possibilitando renda adicional para o produtor (Altieri et al., 2003; Santos & Carvalho, 2013). O sistema consorciado é empregado, sobretudo, nas pequenas propriedades, procurando-se dessa forma, aproveitar ao máximo as áreas disponíveis, os insumos e a mão de obra utilizada em capinas, adubações, aplicações de insumos e outros tratos culturais, além de possibilitar maior diversificação da dieta e aumento da rentabilidade por unidade de área cultivada (Montezano & Peil, 2006). A medida mais utilizada para avaliar a eficiência biológica de sistemas consorciados, em relação aos monocultivos, é o uso eficiente da terra (UET), expresso pelo índice de equivalência de área (IEA). Esse índice quantifica a área necessária para que as produções dos monocultivos se igualem às atingidas pelas mesmas culturas em associação, sendo considerado um método prático e bastante útil. O consórcio será vantajoso quando o IEA for superior a 1,0 e, quando inferior, o consórcio será prejudicial à produção, resultado avaliado pela produtividade (Gliessman, 2009; Lira, 2013). Várias pesquisas comprovaram a vantagem do consórcio entre hortaliças. No consórcio de coentro (cv. Verdão, Supéria, Português, Asteca e Santo) e alface (cv. Tainá e Babá de Verão) em sistema agroecológico, Oliveira et al. (2005) verificaram interação entre os cultivares de alface e os de coentro, na altura de plantas, no número de molhos/m2 e no rendimento estimado de massa verde do coentro, com o cv. ‘Português’ registrando o melhor desempenho produtivo, quando combinado com ambos os cultivares de alface. O desempenho produtivo da alface ‘Babá de Verão’ foi superior ao da ‘Tainá’. Em todos os sistemas consorciados verificou-se eficiência agroeconômica, porém os maiores valores foram registrados nos consórcios entre ‘Tainá’ e ‘Asteca’, e ‘Babá de Verão’ e ‘Português’. Costa et al. (2007) avaliaram o consórcio de alface (crespa, lisa e americana) e rúcula, em diferentes épocas de semeadura da última (0, 7 e 14 dias após transplante da alface), em relação ao de seus cultivos solteiros. Os valores de matéria fresca e seca de alface não foram afetados pelo consórcio e a matéria seca da rúcula foi reduzida nas semeaduras mais tardias. De acordo com o índice UET, os cultivos consorciados foram superiores aos cultivos solteiros entre 5 e 93%. A viabilidade econômica do cultivo consorciado de pimentão, repolho, alface, rabanete e rúcula foi avaliada por Rezende et al. (2005). Os autores concluíram que os custos operacionais totais dos cultivos consorciados foram inferiores à soma dos custos das respectivas culturas em monocultivo; considerando-se o índice UET, a qualidade das hortaliças colhidas e a receita líquida, os cultivos consorciados de duas ou três hortaliças foram economicamente vantajosos, em comparação com os monocultivos. Nos sistemas orgânicos, a consorciação das hortaliças com adubos verdes também é vantajosa, pois cumpre duas funções, a de proteção física do solo, como cobertura viva, e a de fertilização, após o corte e decomposição da biomassa. Resultados positivos foram relatados para o consórcio de pimenta com Pueraria phaseoloides (Santos et al., 2004a), milho com feijãode-porco (Santos et al., 2004b), quiabo com crotalária (Ribas et al., 2003), dentre outros.

 MANEJO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS

O manejo das plantas espontâneas (PE) é um dos principais gargalos da produção de hortaliças em sistema orgânico, especialmente por serem culturas de ciclo curto e, na maioria das vezes, de espaçamento reduzido. Dentre as estratégias de manejo está a prevenção, que consiste na adoção de práticas que evitem a entrada dos propágulos das espécies indesejadas no local do plantio. O impedimento mecânico da emergência das plantas espontâneas, por meio da cobertura morta (CM), é uma alternativa para o seu manejo; além disso, a CM protege o solo, reduzindo a erosão. Com a repetição dessa prática, tem-se, também, maior aporte de matéria orgânica e de nutrientes. O uso da CM no solo é prática de baixo custo e de fácil execução, pois diferentes resíduos orgânicos podem ser utilizados, como o capim gordura seco, o capim cortado, a casca de arroz, o bagaço de cana-de-açúcar triturado, a palha, a serragem e a casca de café dentre outros (Sediyama et al., 2010). Os benefícios da CM na manutenção da produtividade foram documentados em diversas hortaliças. Carvalho et al. (2005) avaliaram o efeito de cinco tipos de materiais de cobertura do solo (palha de arroz, palha de café, Brachiaria brizantha, serragem, testemunha sem cobertura morta) sobre a produtividade da alface cv. ‘Regina 2000’ e verificaram que todos os materiais empregados controlaram a infestação de PE, enquanto na testemunha, a grande infestação promoveu redução da produtividade. Na cultura do alho, é muito comum aplicar o capim seco sobre os canteiros, após o plantio, como verificado nos municípios de Inconfidentes e Ouro Fino, região sul de Minas Gerais, com o intuito de manter o solo úmido, favorecendo o desenvolvimento da cultura e maior produtividade dos bulbos, em relação aos do tratamento sem cobertura (Corrêa et al., 2003). Em cenoura, as vantagens da CM podem-se estender desde a maximização da germinação das sementes até a manutenção das condições adequadas de temperatura e umidade do solo, necessárias ao desenvolvimento ótimo das raízes. Resende et al. (2005) avaliaram os benefícios da CM de solo com serragem de madeira, casca de arroz, raspa de madeira e capim seco, no desenvolvimento e produtividade da cenoura, e constataram que a prática é vantajosa para o cultivo de verão, melhorando as características hidrotérmicas do solo, reduzindo a incidência de PE, estimulando o desenvolvimento das plantas e aumentando a produtividade em relação ao solo descoberto. Entre os tipos de CM utilizados, as coberturas com casca de arroz e maravalha destacaram-se, em relação ao solo descoberto com maior produtividade para a cultura. Santos et al. (2012) avaliaram a produção total e o diâmetro dos bulbos de cebola que receberam três tipos de CM (bambu - Bambuza sp.; gliricídia - Gliricidia sepium e um tratamento controle - ausência de cobertura do solo), associados a quatro doses de torta de mamona aplicadas em cobertura, 22 dias após o transplantio das mudas. De cada cobertura, foi aplicado o equivalente a 2,0 kg m2 de matéria seca de folhas e pecíolos resultantes da poda da parte aérea da gliricídia e do processo natural da renescência do bambu. Também não houve diferença significativa entre os tratamentos palha bambu e palha de gliricídia apresentar maior conteúdo de nitrogênio (35,1g kg-1 de N) que a palha de bambu (11,8g kg-1 de N) e maior velocidade de decomposição. O efeito benéfico da CM na produtividade e na qualidade da cebola foi, provavelmente, decorrente da manuten- ção de maior umidade e da redução da amplitude térmica do solo. Entre as práticas de manejo, a redução do espaçamento entre fileiras pode influenciar positivamente o controle de PE. Algumas pesquisas evidenciam que espaçamentos menores propiciam menor interferência das PE nas culturas, como consequência do fechamento mais rápido do dossel vegetativo (Carvalho & Guzzo, 2008; Dias et al., 2009). Em beterraba, o adensamento de plantas aumentou a capacidade da cultura de suprimir as PE, sendo considerado por Carvalho & Guzzo (2008) como ferramenta eficaz no manejo das PE.

 MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS

 Em sistemas orgânicos de cultivo, o controle de pragas e doenças deve ser feito somente quando houver possibilidade de danos consideráveis à produção. Antes, deve-se procurar o equilíbrio natural do agroecossistema, por meio de práticas promotoras da biodiversidade, como policultivos, rotação de culturas, adubação verde, quebra-ventos, uso de plantas companheiras, bem como buscar a elevação dos teores de matéria orgânica do solo e a nutrição equilibrada das culturas, além de outros fatores que permitam um manejo adequado dos sistemas. A diversificação da vegetação, nas áreas de cultivo, por introdução de plantas fornecedoras de abrigo e de alimento alternativo para inimigos naturais – prática denominada controle conservativo - é uma alternativa para diminuir o ataque de pragas, discutida amplamente por Rosado (2007). Souza (2014) avaliou o controle conservativo de pragas do pimentão, por meio de sua associação com o manjericão (Ocimum basilicum L.), e concluiu que o uso do manjericão diminuiu a população de pulgões, sem afetar significativamente a produção. O monitoramento sistemático de doenças e pragas é que determinará a necessidade ou não de intervenção, que somente poderá ser feita com produtos permitidos pela legislação em vigor e aceitos pelas certificadoras. Alguns métodos alternativos, como a biofumigação e a solarização, estão em desenvolvimento (Ghini & Bettiol, 2000; Souza & Resende, 2003; Patrício, 2007). Em Bettiol et al. (2014) encontra-se uma ampla revisão sobre o controle biológico de doenças de plantas e uma lista dos agentes de biocontrole, registrados para uso agrícola, no Brasil. De acordo com esses autores, em abril de 2013 havia 16 biopesticidas registrados para uso na agricultura orgânica no País. Dentre os produtos naturais, utilizados para o controle de pragas e doenças em sistema orgânico, destacam-se a urina de vaca, o leite cru de vaca, os extratos de plantas (Nim - Azadirachta indica, alho e pimenta), os óleos essenciais e as caldas (Bordalesa, Viçosa e Sulfocálcica). Há, contudo, a possibilidade de essas caldas e também de os biofertilizantes usados nas culturas aumentarem a resistência das plantas às pragas, por via do fornecimento de nutrientes. Além desses produtos, tem-se recomendado o uso de armadilhas luminosas, armadilhas de cor, armadilhas com feromônios, iscas e controle mecânico (Souza e Rezende, 2003; Venzon et al., 2010). Notadamente, as hortaliças estão entre as culturas mais propícias à utilização dessas novas tecnologias, não apenas porque podem ser afetadas por grande quantidade de doenças, mas, especialmente, porque são destinadas à alimentação humana, muitas vezes consumidas in natura, e por apresentarem maior valor agregado, permitindo a incorporação de eventuais aumentos no custo de produção, que podem acompanhar a adoção de tecnologias alternativas para o controle de doenças de plantas (Patrício, 2007). De acordo com Penteado (2001), são considerados defensivos alternativos e naturais todos os produtos químicos, biológicos, orgânicos ou naturais, que apresentem as seguintes características: praticamente não tóxicos (grupo toxicológico IV), de baixa ou nenhuma agressividade ao homem e à natureza, eficientes no combate aos insetos e micro-organismos nocivos, desfavoráveis à ocorrência de formas de resistência de pragas e microorganismos, de custo reduzido, de simplicidade de manejo e aplicação, disponibilidade do produto ou do material para aquisição. Apesar de haver grande interesse pelos métodos alternativos de controle, existem poucos produtos registrados, frente à grande quantidade de produtos naturais e de agentes biológicos de controle existentes. Diante disso, ocorrem dificuldades para atender à demanda dos produtores que praticam o sistema de produção orgânico, especialmente, em condições tropicais como no Brasil.

ENERGIA E SUSTENTABILIDADE DOS AGROECOSSISTEMAS

O uso apropriado de energia é parte conceitual para produção em agroecossistemas orgânicos (López de León & Mendonza Diaz, 1999) e um dos objetivos da Lei Federal 10.831, de 23 de dezembro de 2003 (Brasil, 2009). O exame da agricultura pela lente da energia revela uma fonte crítica de insustentabilidade. A agricultura convencional está usando, hoje, mais energia, para a produção do alimento, do que a energia que o alimento contém em si, e a maior parte é de fontes não renováveis, principalmente os combustíveis fósseis (Gliessman, 2009). Os insumos e serviços utilizados na produção vegetal representam custo energético. Dependendo desses fatores e das produtividades obtidas, a conversão da produção em energia determinará a eficiência energética do sistema; entendendo-se como eficiência energética as unidades em kcal ha-1, de energia produzida ou contida nos alimentos, por kcal ha-1 de energia consumida para produzi-los. A agricultura orgânica somente atingirá a missão de preservação ambiental se tiver comprovada sustentabilidade energética (Souza et al., 2008). Com base nesse preceito, Souza et al. (2008) realizaram pesquisa, avaliando o balanço e a análise da sustentabilidade energética da produção orgânica de hortaliças, em comparação com o sistema convencional de produção. Foi comprovada maior eficiência energética, em favor do cultivo orgânico, para abóbora, alho, repolho e tomate. Apenas o cultivo convencional de cenoura apresentou-se mais eficiente que o cultivo orgânico. O balanço energético médio do sistema orgânico foi 2,78, contra 1,93 do sistema convencional. Algumas estratégias foram propostas por Gliessman (2009), visando ao uso sustentável da energia na produção de alimentos. Com relação às hortaliças podem ser listadas as seguintes: desenhar agroecossistemas nos quais as relações biológicas e ecológicas supram a maioria dos aportes de nutrientes e de biomassa; usar sistemas de cultivo mínimo; empregar práticas que reduzam o uso e a perda de água; usar rotações e associações de culturas apropriadas; aumentar o uso de estercos; expandir o uso de controle biológico e o manejo integrado de pragas; potencializar a presença de relações micorrízicas; fazer maior uso de culturas fixadoras de nitrogênio, de adubos verdes e de pousios; fazer maior uso do manejo biológico de pragas, por meio de cultivos de cobertura, consórcios, estímulos aos micro-organismos benéficos etc.; introduzir culturas que sejam apropriadas ou adaptadas ao ambiente local e incorporar quebra-ventos, cercas vivas e áreas não produtivas aos sistemas de cultivo.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A preocupação do consumidor brasileiro com a qualidade nutricional e a inocuidade dos alimentos que consome tem aumentado. Em muitos artigos científicos e em manchetes de jornais, observam-se relatos de contaminação de alimentos, em especial de hortaliças, com agrotóxicos, fato que tem despertado o interesse do consumidor por produtos orgânicos, que têm sido considerados mais confiáveis com relação a essa problemática. Assim, cabe aos pesquisadores e técnicos, em parceria com os produtores, a viabilização de sistemas produtivos que garantam a qualidade desejada pelos consumidores e o retorno econômico desejado pelos agricultores. As práticas hoje aplicadas favorecem os sistemas de produção utilizados pelos agricultores de base familiar, produtores de hortaliças em sistema orgânico. Este artigo descreve as principais, como o manejo e a adubação do solo, a produção de mudas, a adubação verde, a rotação e a consorciação de hortaliças, o manejo de plantas espontâneas, o manejo de pragas e doenças. São práticas aprovadas pelas normas para produção orgânica, que, além de seguirem os princípios da agroecologia, contribuem para a maior eficiência energética dos sistemas produtivos.

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Ferreira On 12/10/2017 10:43:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sexta-feira, 10 de novembro de 2017



Fonte:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/agricultura-alimentacao/



Um modelo esgotado

Há vinte anos, o Greenpeace expõe e questiona o modelo agrícola praticado no Brasil. As sementes transgênicas, os agrotóxicos, a expansão da agropecuária sobre a Amazônia e os impactos climáticos da nossa produção comprometem o futuro da nossa alimentação e do planeta. Não temos escolha: é urgente e necessária a mudança para uma outra agricultura, que produza alimentos de maneira ecológica e socialmente justa, para cidadãos cada vez mais preocupados com sua saúde e a saúde do planeta.

O modelo global de produção, distribuição e consumo de alimentos precisa ser revisto, e com urgência. No mundo, quase 800 milhões de pessoas ainda passam fome, enquanto a obesidade e o sobrepeso atingem 1,9 bilhão de pessoas. De fato, nunca produzimos tanta comida, ao passo que o futuro desta produção nunca foi tão incerto – o uso intensivo de agrotóxicos e de recursos naturais (solo e água, por exemplo), a expansão da fronteira sobre matas nativas e a enorme contribuição da agropecuária para as mudanças do clima colocam em xeque esse modelo insustentável e desigual.

O Brasil é um país simbólico, tanto do ponto de vista do problema quanto de sua solução. Por aqui, a produção convencional cresceu exponencialmente ao longo das últimas décadas, via de regra esgotando recursos naturais que garantem a própria sustentação das lavouras. A agropecuária brasileira é a campeã mundial em uso de agrotóxicos, representa mais de um terço das emissões nacionais de gases de efeito estufa e é a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado.

Por outro lado, houve grandes avanços na solução agroecológica no Brasil. A despeito deste modelo historicamente receber uma parcela ínfima dos investimentos públicos e privados, estabeleceu-se uma rede ampla de produtores ecológicos que se integram às paisagens, conservam o solo e os mananciais, se adaptam à seca e produzem comida – muita comida. Além disso, a sociedade civil organizada ampliou a pauta agroecológica no Brasil, seja nas políticas para a produção, na oferta de alimentos saudáveis para consumo ou nas compras públicas de alimentos orgânicos. São passos sólidos em direção ao necessário futuro de um novo modelo de produção de alimentos.


Comida envenenada


Produtor aplica agrotóxicos em sua plantação. Atualmente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. © Ángel Garcia / Greenpeace

Todos nós consumimos agrotóxicos. Eles estão nos alimentos que comemos, na água que bebemos, na roupa que vestimos. A agricultura brasileira é hoje dependente de herbicidas, fungicidas e inseticidas, aplicados com baixo controle e com alto impacto a quem produz e a quem consome. É alarmante que o Brasil seja o país onde mais se aplica agrotóxicos no planeta.


Segundo o último Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico(PARA), organizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram detectados resíduos em 67% de todos os alimentos testados – alimentos do nosso dia-a-dia, do nosso almoço e jantar, da sopa das crianças. Das amostras com resíduos, quase 40% contêm agrotóxicos não autorizados ou acima de limites máximos, fato destacado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que, em nota, se posicionou oficialmente pela produção de alimentos sem agrotóxicos.

No meio ambiente, a aplicação de veneno impacta os solos, as fontes de água, a flora e a fauna ao redor das plantações. A esterilização provocada pelos agrotóxicos causa desequilíbrios ambientais gravíssimos, que aumentam a proliferação de “pragas” e reduzem a produtividade agrícola. Tal cenário provoca o uso de ainda mais produtos químicos, numa espiral insustentável – mas lucrativa para as empresas do ramo. Um exemplo dramático do impacto ambiental dos agrotóxicos é a redução da população de abelhas, responsável pela polinização de 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo (incluindo espécies comerciais como o café e a laranja).



Emissões da agropecuária: um tiro no pé


O gado é responsável por boa parte das emissões globais de gases de efeito estufa (© Cheryl-Samantha Owen / Greenpeace)

Segundo o último cálculo disponibilizado no Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, a agropecuária é responsável por 32% das emissões brasileiras. Considerando que ela é a principal atividade que desmata no Brasil, e que a mudança no uso do solo representa cerca de 42% das emissões, é possível afirmar que a agropecuária brasileira é responsável, direta e indiretamente, por 74% de todas as emissões do País.


Ao longo das últimas décadas, expandimos nossas fronteiras para a produção de carne bovina (sobretudo na Amazônia) e soja e milho para a alimentação animal. O desmatamento, o gás metano produzido pela digestão do gado e a aplicação de adubos e fertilizantes sintéticos nessas culturas lideram o impacto climático da nossa produção.

Por outro lado, a agropecuária é a principal vítima do aquecimento global. Mudanças nos regimes de temperatura e chuva, bem como eventos extremos (como geadas ou secas prolongadas) atingem duramente a produção de alimentos. No Brasil, estima-se que um mundo 2°C mais quente reduzirá, até 2030, a área produtiva de culturas importantes como soja, arroz e feijão, reduzindo a oferta e, portanto, aumentando o preço destes alimentos. A urgência climática nos desafia a mudarmos nossa alimentação.


Do consumo à cidadania: pelo direito de escolha


Diversos restaurantes já servem pratos exclusivamente orgânicos. © Peter Caton / Greenpeace

Antes de escolhermos nossos alimentos em supermercados, feiras livres ou mesmo restaurantes, diversas escolhas foram feitas em nosso nome. Varejistas e grandes marcas de alimento, por sua política de compras; produtores rurais, por meio de suas escolhas de práticas agrícolas; governos, por suas políticas de subsídio, assistência técnica e compras institucionais – todos estes atores definem o que está em nosso prato.


A necessária mudança no modelo de produção de alimentos nos oferece a oportunidade de agir. Como consumidores, mudamos o futuro da nossa alimentação quando escolhemos o que compramos com base em critérios socioambientais, quando observamos a origem e os impactos dos produtos, quando demandamos informação para uma decisão responsável, quando cortamos intermediários e compramos em feiras ou diretamente dos produtores, onde o preço é quase sempre muito menor.

Como cidadãos, podemos cobrar empresas e governos que apostem na solução agroecológica, destinando recursos e promovendo um ambiente de desenvolvimento amplo da agroecologia no Brasil.

O Greenpeace convida a sociedade brasileira a fazer parte deste movimento de construção de um futuro alimentar saudável para as pessoas e o meio ambiente, e justo para quem produz e consome.


Ferreira On 11/10/2017 11:47:00 AM Comentarios LEIA MAIS

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Comer é um ato agrícola, disse um fazendeiro e economista americano, mas é também um ato ecológico e um ato político, por Jaqueline B. Ramos*

(*) Jaqueline B. Ramos é jornalista e editora do blog Ambiente-seEste artigo foi publicado originalmente na Agência Envolverde

     Quando falamos em sustentabilidade, pensamos em ações como não poluir, preservar áreas naturais, reciclar lixo, economizar água, dar preferência às fontes alternativas de energia etc. Mas raramente nos lembramos de relacionar uma de nossas atividades mais básicas com impactos negativos no meio ambiente: o ato de se alimentar. Nos primórdios da humanidade, a alimentação era baseada em frutas, raízes, carnes de animais caçados e outras fontes que não modificavam significativamente a natureza (pelo contrário, tudo fazia parte de um ciclo natural). Com o advento da agricultura e da domesticação de animais, há cerca de 12 mil anos, deu-se início à produção de alimentos.

     A passagem do estado nômade para a fixação na terra marcou o início do que chamamos “desenvolvimento da humanidade”. Com o passar dos séculos, o homem foi criando novas formas de manejo do solo e as populações concentradas nas cidades cresceram em ritmo progressivo, aumentando a demanda por alimentos. Até que a chegada da Era Industrial, no final do século XVIII, intensificou a aglomeração de pessoas no ambiente urbano, colocando fim, definitivamente, na ligação direta que o ser humano tinha com a natureza para a obtenção de alimentos. O resultado disso tudo é uma agricultura transformada em indústria que passou a utilizar métodos artificiais, como fertilizantes e pesticidas químicos, irrigação, manipulação genética e uso de hormônios em animais, visando sempre o aumento da produção (e o lucro). Sem contar a dependência por combustíveis fósseis, inclusive no transporte, por longas distâncias, dos alimentos. É a cadeia alimentar industrial.

     Se por um lado todo esse advento é considerado positivo, sendo denominado como desenvolvimento ou modernidade, por outro é fato que o modelo de alimentação industrializado é um forte candidato a causar sérios danos à conservação do meio ambiente e também à saúde do homem. E por incrível que pareça, a maior parte das pessoas atualmente não se dá conta disso. A origem dos alimentos que consome simplesmente não faz parte da sua lista de prioridades e a alimentação, o ato mais corriqueiro e básico do dia-a-dia, não é visto sob a perspectiva ambiental ou da sustentabilidade.

     “Comer é um ato agrícola, disse, numa frase famosa, Wendell Berry (fazendeiro e economista americano). É também um ato ecológico, além de um ato político. Ainda que muito tenha sido feito para obscurecer esse fato bastante simples, o que e como comemos determinam, em grande parte, o que fazemos do nosso mundo – e o que vai acontecer com ele. (…) Muita gente hoje parece totalmente satisfeita comendo na extremidade da cadeia alimentar industrial sem parar para pensar no assunto”, escreve o jornalista norte-americano Michael Pollan, no seu livro “Dilema do Onívoro”. O jornalista passou cinco anos investigando os bastidores da cadeia industrial alimentícia nos Estados Unidos, reconstituindo o trajeto dos pratos mais consumidos e analisando o caminho percorrido pelo alimento da origem à mesa.

Insumos químicos, agrotóxicos, erosão do solo…

     Como afirma o jornalista norte-americano, comer é um ato ecológico, o que faz com que todo cidadão deva, idealmente, ficar atento à origem do alimento que consome e analisar criticamente as técnicas empregadas no sistema de produção. A qualidade e pureza dos alimentos, a sustentabilidade (social e ecológica) dos métodos de produção e os problemas e desigualdades existentes na sua distribuição são algumas das questões que devemos analisar em busca de uma alimentação mais sustentável. Em tempo: é fato que se produz alimento em quantidade suficiente para atender 100% da população mundial. Dificuldades de acesso aos alimentos pela parcela mais carente da sociedade decorrem de problemas sociais e econômicos, que por sua vez causam desequilíbrios na distribuição.

     Destacando algumas problemáticas da agricultura moderna para o meio ambiente, uma primeira questão a ser analisada é o uso de insumos químicos. Visando melhorar a produtividade e assegurar índices de produção, agricultores costumam utilizar adubo e fertilizantes em suas plantações. O adubo mais simples, natural e antigo é o esterco, que misturado a restos de vegetais e fermentado de forma correta resulta no composto orgânico. Mas para ser empregado em larga escala, o processo do fertilizante natural se tornou inviável, economicamente falando. Para os empresários do agrobusiness, passou a ser mais rentável o uso de agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes, principalmente), inclusive para viabilizar o cultivo intensivo de uma única cultura em uma área (as monoculturas, principais vilãs da qualidade do solo).

     Os fertilizantes industriais contêm altas concentrações de nitrogênio, fósforo, potássio e metais pesados. O nitrogênio, por exemplo, pode se acumular no solo e ser transformado, por processos químicos, em nitrato. Além de ser um composto cancerígeno, o nitrato pode contaminar o solo e também ser conduzido aos lençóis subterrâneos, contaminando a água.

     Outro problema gerado neste cenário é o desequilíbrio ecológico causado pela própria prática da monocultura regada por fertilizantes químicos. Entre os principais indicadores do desequilíbrio está o aparecimento de pragas, doenças e ervas daninhas, que por sua vez são combatidas com agrotóxicos – inseticidas, herbicidas e fungicidas. Ou seja, mais uma carga de substâncias químicas tóxicas bombardeando o meio ambiente e a saúde de quem consome os alimentos, pois estes acabam guardando resíduos dos agrotóxicos e têm alta probabilidade de ficarem contaminados.

     Como mais um remediador para o desequilíbrio ecológico conduzido pelo próprio homem e visando, sempre, produtos finais comercialmente mais lucrativos, entram em cena os alimentos transgênicos. Tratam-se de organismos geneticamente modificados (OGMs) desenvolvidos em laboratório. Entre os objetivos da manipulação genética está o de criar plantas mais resistentes a pragas ou até mais resistentes a determinados agrotóxicos. Alimentos transgênicos já são comercializados em vários países – entre eles o Brasil – e ainda há muitas controvérsias em relação aos prós e contras da manipulação genética para a saúde das pessoas e os impactos no meio ambiente. Enquanto os debates e as pesquisas avançam, o importante é o consumidor se informar e exigir a rotulagem dos alimentos transgênicos, de forma a ter condições de decidir por consumir ou não um OGM.

Erosão e o impacto do bife

     Uma questão importante decorrente da agricultura moderna é o fenômeno chamado de “erosão genética”. A interferência do homem nas variedades tradicionais com a manipulação de plantas e animais pode consistir em uma ameaça para a diversidade genética, a principal responsável pela capacidade de resistência, imunidade e sobrevivência das espécies.

     Quando falamos em erosão é importante também lembrar do processo de degradação do solo decorrente do uso de práticas agrícolas inadequadas e da monocultura combinada com a mecanização, o corte de espécies nativas, a queima da vegetação e a pecuária intensiva. Aliás, esta última rende um capítulo à parte na discussão sobre alimentação sustentável, visto que o aumento no consumo de carne e de seus derivados sobrepôs formas naturais (e mais éticas) de criação dos animais, sem contar os problemas ambientais decorrentes da pecuária.

     Numa sociedade majoritariamente onívora, o “impacto do bife” passa por questões de ordem moral – não é à toa a afirmação de que se os abatedouros tivessem paredes de vidro, muita gente se tornaria vegetariana – e também de ordem ambiental. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) em 2006 alertou para o fato de que “estoques de animais vivos” mantidos para alimentação são responsáveis por 18% da emissão de todos os gases causadores do aquecimento global, porcentagem que supera, por exemplo, as emissões causadas por todos os veículos automotores do mundo somados.

     O levantamento da FAO inclui as emissões de metano provocadas pelo sistema digestivo dos animais, as emissões de CO2 geradas pelas queimadas para a formação de pastos, a energia – quase sempre à base de queima de combustíveis fósseis – usada na fabricação de insumos agrícolas, a energia gasta na produção de ração e no bombeamento de água, a energia dos procedimentos de abate e processamento das carcaças, o combustível usado no transporte de animais vivos e de produtos processados de carne, entre outras questões relacionadas à pecuária.

     Seja analisando as técnicas industriais agrícolas ou o modelo intensivo da pecuária, o fato é que a humanidade atingiu um limite perigoso na história de uma relação insustentável com a natureza para obtenção de fontes de alimentos. E nesse momento é importante que cada um, como consumidor, pare para pensar mais criticamente e faça escolhas mais criteriosas e cuidadosas. Como afirma o autor de “Dilema do Onívoro” em um dos trechos do livro, “a insensatez demonstrada na busca por alimentos não é um fenômeno novo. No entanto, os novos atos de insensatez que estamos cometendo na nossa cadeia alimentar industrial hoje são de um tipo diferente.

     Ao substituir a energia solar pelo combustível fóssil, ao criar milhões de animais em rígidas condições de confinamento, ao alimentar esses animais com comida para a qual sua evolução não os adaptou, e ao nos alimentarmos com comidas que são muito mais insólitas do que imaginamos, estamos pondo em grave risco nossa saúde e a saúde do mundo natural.”


O que o consumidor pode fazer em prol de uma alimentação sustentável

# Informar-se sobre a importância da agricultura sustentável e seus benefícios para a produção de alimentos, inclusive em relação à saúde dos indivíduos e ambientes.

# Apoiar propostas de produção regional, especialmente a familiar e a associada, com o objetivo de fortalecer a segurança alimentar local e reduzir o desperdício de energia no transporte.

# Exigir que os produtores respeitem as leis ambientais, assim como a legislação trabalhista, e que utilizem métodos menos impactantes ao meio ambiente, adquirindo produtos elaborados com este diferencial.

# Demandar que os vendedores de alimentos estimulem a produção ecológica, inclusive solicitando a certificação dos produtores por um organismo independente, para que possa ter certeza de que os mesmos cumprem todas as exigências ambientais.

# Organizar-se em cooperativas de consumo que estimulem a produção sustentável local e regional.


Fontes:


Cartilha Alimentos IDEC, livro “Dilema do Onívoro” (editora Intrínseca) e Sociedade Vegeteriana Brasileira (SVB); Cartilha Alimentos (IDEC); Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 78 -março/abril 2008.
Ferreira On 10/10/2017 04:38:00 PM Comentarios LEIA MAIS

domingo, 10 de dezembro de 2017

Cultivo de hortaliças no sistema orgânico

Fonte: Rev. Ceres, Viçosa, v. 61, Suplemento, p. 829-837, nov/dez, 2014 ; http://dx.doi.org/10.1590/0034-737X201461000008

Autores:

.Maria Aparecida Nogueira Sediyama - Engenheira-Agrônoma, Doutora. EPAMIG Zona da Mata, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Email: mariasediyama@gmail.com
.Izabel Cristina dos Santos -  Engenheira-Agrônoma, Doutora. EPAMIG Sul de Minas, 36301-360, São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil. Email: csantos@epamig.br
.Paulo César de Lima - Engenheiro-Agrônomo, Doutor. EPAMIG Zona da Mata, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Email: plima@gmail.com


RESUMO

Cultivo de hortaliças no sistema orgânico

As hortaliças são os alimentos que mais se destacam, em artigos científicos e em jornais, quando se trata de contaminação com agrotóxicos. Isso tem levado ao aumento na demanda por produtos orgânicos por parte dos consumidores. Há, então, a necessidade de se desenvolverem tecnologias que viabilizem esses sistemas, atendendo ao consumidor e melhorando a renda dos agricultores, geralmente de base familiar. A produção de hortaliças em sistema orgânico requer tecnologias que respeitem os processos ecológicos, que promovam o aumento da matéria orgânica do solo e que sejam poupadoras de energia. Neste artigo, são discutidas algumas dessas tecnologias e resultados de pesquisas, com foco em produção de mudas, manejo e adubação do solo, adubação verde, rotação de culturas, consórcio de hortaliças, manejo de plantas espontâneas e manejo de pragas e doenças, que são práticas aprovadas pelas normas para produção orgânica e seguem os princípios agroecológicos, que contribuem para a maior eficiência energética dos sistemas produtivos e, em conjunto, para o necessário desenvolvimento do setor de produção de hortaliças orgânicas com base científica.

Palavras-chave: Agroecologia, olericultura, agricultura orgânica, segurança alimentar.

ABSTRACT

Growing vegetables in the organic system

Growing vegetables in the organic system Vegetables and agrochemical contamination is the most outstanding food topic addressed by scientific journals and popular scientific articles. This increasingly available information has led to an increase in consumers demand for organic products and, consequently, for the development of technologies that make organic production viable to meet this demand and raise the income of producers, mostly family farmers The production of organic vegetables requires technologies that foster ecological processes, promote the increase of organic matter in the soil and energy-saving practices. The objective of this work was to present and discuss some of these technologies and research results, focusing on seedling production, soil fertilization and management, green fertilization, crop rotation, vegetable consortium, weed, pest and disease management. Such practices are approved by organic production norms and follow agroecological principles, contributing to a greater energetic efficiency of the productive systems, which collectively provide the necessary development of a scientifically-based vegetable production sector.

Key words: agroecology, vegetable farming, organic agriculture, food safety.


INTRODUÇÃO

 A produção de hortaliças em sistema orgânico é uma atividade em crescimento no mundo, em decorrência da necessidade de se proteger a saúde dos produtores e consumidores e de preservar o ambiente, dentre outras. Esse sistema de produção é usado, especialmente, por agricultores familiares, por sua adequação às características das pequenas propriedades com gestão familiar, pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, pela menor dependência de recursos externos, com maior absorção de mão de obra familiar e menor necessidade de capital. Embora seja um setor em expansão, a produção de hortaliças orgânicas está sujeita a riscos. Além daqueles inerentes à agricultura convencional, tem-se: baixa escala de produção; maior uso de mão de obra; uso de embalagens adequadas para a certificação; custos com a certificação, que oneram o produto final, o que também representa um risco de mercado, segundo Lima (2005). Para hortaliças, produtos altamente perecíveis, o produtor deve adotar estratégias minimizadoras dos riscos, como programação da produção e previsão de mercado. Neste sentido, produzir diversas hortaliças é uma boa estratégia para reduzir os riscos. Na produção de hortaliças, algumas práticas são essenciais para condução das hortas e a produção de insumos destinados ao sistema orgânico. Dentre elas, a produção de mudas, de fertilizantes orgânicos, de biofertilizantes, de vermicompostos e de adubos verdes. Além de tecnologias para manejo de pragas, doenças e de plantas espontâneas, rotação e consorciação de olerícolas contribuem para a melhoria da produção orgânica. Neste artigo, são discutidas algumas dessas tecnologias e apresentados alguns resultados de pesquisas, que, em conjunto, contribuem para o necessário desenvolvimento do setor de produção de hortaliças orgânicas com base científica.

MANEJO E ADUBAÇÃO DO SOLO

As práticas de manejo do solo são as principais alterações nos agroecossistemas. Nessa concepção, o ambiente físico-químico tem sido apontado como o principal regulador da produção das lavouras, tanto pelas modificações físicas causadas pelo preparo e manejo do solo e, ou, pela irrigação, quanto pelas modificações químicas, com a adição de nutrientes por meio dos fertilizantes. Principalmente a partir da década de 90, é que o conceito de manejo biológico do solo se fortaleceu com o reconhecimento do papel regulatório das populações de organismos e de suas atividades sobre a fertilidade do solo. Nesse aspecto, deve ser dada ênfase às práticas de manejo que incrementam ou potencializam as atividades biológicas do solo (Lima et al., 2011). A adubação sob o paradigma orgânico pressupõe que a fertilidade do solo deve ser mantida ou melhorada, utilizando-se recursos naturais e das atividades biológicas. Na medida do possível, devem-se utilizar recursos locais, bem como subprodutos orgânicos que proporcionem o fornecimento de nutrientes, de forma ampla e diversificada, devendo priorizar a ciclagem de nutrientes por meio de restos culturais, compostos e resíduos orgânicos e adubações verdes com leguminosas ou plantas espontâneas (Lima et al., 2011). Para tanto, há necessidade da realização de análises dos componentes da ciclagem de nutrientes e dos materiais a serem empregados, para se determinar a composição química de cada um deles e o potencial fertilizante. Também são fundamentais as análises periódicas do solo, para avaliação da sua fertilidade, visando à adoção de boas práticas de manejo, incluindo-se a correção da acidez e a adubação adequada, sem excessos, para evitar a toxidez de nutrientes e o acúmulo de metais pesados no solo. Considerando-se que grande parte das hortaliças é consumida in natura, é importante conhecer a qualidade sanitária dos estercos de animais. Neste sentido, a fermentação da matéria orgânica presente nos estercos e a compostagem com outros resíduos orgânicos são de extrema importância, antes que sejam aplicados ao solo, o que reduz as chances de contaminação por microorganismos patogênicos, além de melhorar a qualidade do esterco e a disponibilidade de nutrientes para as culturas (Sediyama et al., 2000). Muitas vezes, o uso ou descarte de resíduos agrícolas e agroindustriais orgânicos são feitos sem tratamento, o que pode causar danos ao ambiente e às plantas, como no caso de estercos de animais. A compostagem é a melhor estratégia para o uso desses resíduos, pois facilita o manejo do esterco, reduz o volume dos resíduos e a perda de nitrogênio. Um composto bem feito apresenta matéria orgânica transformada em húmus e atua, no solo, melhorando sua estrutura e dando a ele condições de armazenar maior quantidade de água, de ar e de nutrientes, que alimentarão as plantas (Lucon & Chaves, 2004). A compostagem é o processo aeróbico controlado da decomposição microbiana da matéria orgânica. O nome do produto obtido, “composto orgânico” (Corg) vem justamente da mistura dos materiais para sua fabricação, que é um processo simples e de baixo custo, especialmente nas regiões onde haja abundância desses resíduos. Para incrementar a produção em sistema orgânico, há necessidade de aumentar a produção de compostos de qualidade, pois o composto orgânico é o principal fertilizante usado nesse sistema de cultivo de hortaliças. Os materiais empregados na compostagem determinam a composição final do Corg. Assim, recomenda-se a avaliação de diferentes materiais quanto à sua composição química, para avaliar o valor fertilizante e a resposta na produção e na qualidade do alimento produzido. Sediyama et al. (2011) avaliaram os Corgs das misturas descritas a seguir: 1) Bagaço de cana-de-açúcar (BCA) + casca de café (CC) + esterco bovino (EB); 2) BCA + CC + dejeto suíno na forma sólida (DSS); 3) BCA + CC + EB + DSS; 4) BCA + EB + DSS; 5) BCA + pseudocaule de bananeira (PB) + DSS e 6) PB + CC + EB. O tempo de compostagem de 98 dias foi adequado para a maturação dos Corgs, a ausência de aquecimento no interior das pilhas, a relação C:N abaixo de 10:1, o aumento de pH e de nutrientes. O composto ‘5’ apresentou maiores teores de fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, zinco, cobre e sódio, enquanto o composto ‘2’ apresentou maior teor de nitrogênio. O composto ‘5’ teve bom aquecimento e maior concentração de nutrientes, sendo o mais promissor para a produção de fertilizante orgânico, considerando-se a grande disponibilidade desses resíduos na Zona da Mata de Minas Gerais. A compostagem foi eficiente para reduzir a população de coliformes fecais para contagens inferiores a 102 UFC/ g, em todos os compostos orgânicos produzidos. No cultivo de cebola (CNPH 6400) em sistema orgânico, Vidigal et al. (2010) avaliaram o uso de cinco doses de Corg à base de dejeto sólido de suíno (0; 10; 20; 30 e 60 t ha-1), aplicadas uma semana antes do transplantio das mudas para os canteiros. A colheita ocorreu 168 dias após a semeadura e a produtividade máxima de bulbos comercializáveis foi de 60,3 t ha-1, estimada, com a aplicação de 43,4 t ha-1 do Corg. Houve redução do teor de sólidos solúveis (Brix) dos bulbos com o aumento das doses, alcançando-se o mínimo de 9,77, estimado, com a aplicação de 50 t ha-1 do Corg. Os resultados permitiram concluir que a aplicação de 43 t ha-1 do Corg é suficiente para a obtenção de bulbos com ótima qualidade e produtividade. A adição dos adubos orgânicos ao solo proporcionou melhorias nas condições físicas e químicas, aumentando os teores de macro e micronutrientes e propiciando maiores produtividades.

PRODUÇÂO DE MUDAS

A produção de mudas é uma das etapas mais importantes da produção de hortaliças, pois a qualidade da muda determina o desempenho produtivo das plantas. Esta etapa é altamente dependente de insumos, especialmente de semente e de substrato para a germinação, o enraizamento e o crescimento das mudas. Algumas empresas já produzem substratos apropriados; entretanto, a maioria dos substratos comerciais não é recomendada para sistemas orgânicos, pois, além do alto custo, eles não são registrados e, portanto, não permitidos pelas entidades certificadoras, em função da presença de componentes antiecológicos e de adubos sintéticos de alta solubilidade (Santos et al., 2010). Diversos trabalhos têm apontado substratos alternativos eficientes, que utilizam materiais de diversas origens: animal (estercos e húmus de minhoca) (Santos et al., 2010), vegetal (casca de arroz carbonizada ou natural, tortas, bagaços, serragem, fibra ou pó da casca de coco) (Silva et al. 2010; Lüdke et al., 2008) e mineral (vermiculita, perlita, areia). Esses materiais podem ser usados de forma simples, ou combinados para promover condições favoráveis ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas, com custo acessível. Uma medida adequada para diminuir o custo e facilitar a produção dos substratos é utilizar material existente na propriedade ou na região, de reconhecida qualidade e adequação à produção orgânica (isento de minerais ou outras substâncias em concentração fitotóxica, bem como de fitopatógenos, de pragas e de sementes ou estruturas de plantas indesejáveis). Santos et al. (2010) avaliaram substratos constituídos de vermicomposto (originado de esterco bovino) ou de sua mistura com vermiculita, para a produção de mudas de pimentão em bandejas de poliestireno expandido. No geral, o substrato comercial produziu mudas mais vigorosas; mas os substratos com 100% de vermicomposto e 75% de vermicomposto + 25% de vermiculita produziram mudas com o mesmo índice SPAD e diâmetro de colo, para os dois híbridos de pimentão (‘Etna’ e ‘Tiberius’). Concluiu-se que o vermicomposto bovino pode ser utilizado como substrato na produção de mudas de pimentão, com mistura de até 25% de vermiculita, principalmente, pelo menor custo, em relação ao do substrato comercial. Antes de usar os substratos produzidos com resíduos orgânicos, obtidos nas propriedades agrícolas, é importante submetê-los ao processo de solarização, tratamento que se baseia no aquecimento do substrato por meio da energia solar, para a sua desinfecção e inativação de estruturas e sementes de plantas espontâneas, a menos que tenha sido produzido por processo adequado de compostagem dos materiais orgânicos.

ADUBAÇÃO VERDE

 A adubação verde tem sido utilizada como alternativa prática e eficaz para o fornecimento de nutrientes e a adição de matéria orgânica ao solo, diretamente, na área de cultivo. Dentre as plantas empregadas como adubos verdes destacam-se as leguminosas, que produzem grande quantidade de biomassa e são capazes de se associar às bactérias que transformam o nitrogênio do ar em compostos nitrogenados, tornando esse nutriente disponível para as espécies de interesse comercial. Outras espécies vegetais também podem trazer vantagens ao sistema, sendo muito importante a escolha das espécies de adubos verdes mais adequadas para cada tipo de clima, solo e sistema de manejo das plantas cultivadas (Santos et al., 2013). Quando utilizados no esquema de rotação de culturas, os adubos verdes são plantados na área, antes da cultura principal, e cortados por ocasião da floração; a biomassa pode ser deixada sobre o solo e, neste caso, a decomposição é mais lenta, mas pode-se contar com os efeitos da cobertura do solo, como a conservação da umidade, a menor variação da temperatura, a proteção contra erosão, o efeito supressor e, ou, alelopático sobre várias plantas espontâneas. Se a biomassa for incorporada ao solo, ocorrerá a sua decomposição pela ação dos organismos e os nutrientes serão mineralizados mais rapidamente. Para o cultivo do adubo verde em consórcio com hortaliças, deve-se observar o porte das plantas e a época de plantio do adubo verde, em relação ao da cultura, para que não haja competição (Santos et al., 2013). Geralmente é dito que os adubos verdes são úteis no controle de nematoides, por serem desfavoráveis, ou pouco adequados, à reprodução desses organismos, mas pesquisas evidenciam que pode haver variação na susceptibilidade dos adubos verdes, dependendo da espécie de nematoide e de sua população no local. Inomoto et al. (2006) avaliaram a reação dos adubos verdes guandu cv. ‘Fava Larga’ e guandu anão cv. ‘Iapar 43’ – ambos Cajanus cajan; mucuna preta e mucuna cinza - ambas Mucuna pruriens; Crotalaria breviflora e C. spectabilis a Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus. Com guandu anão, mucuna preta, Crotalaria breviflora e Crotalaria spectabilis, a população de M. javanica diminuiu, enquanto, com guandu (‘Fava Larga’) e mucuna cinza, o nematoide multiplicou-se. Os adubos verdes guandu anão, Crotalaria breviflora e Crotalaria spectabilis foram os mais resistentes a P. brachyurus, enquanto, com os outros adubos verdes, a população desse nematoide aumentou. Assim, as três últimas espécies seriam as mais indicadas quando há infestação pelas duas espécies de nematoides citadas. Quando se trata de culturas de ciclo curto, como as olerícolas, nem todo o nitrogênio do adubo verde é aproveitado num único ciclo de cultivo; parte do nitrogênio não aproveitado no mesmo ciclo vai para a matéria orgânica do solo e parte fica no material vegetal ainda em decomposição, até que o adubo verde decomponha-se completamente. Esse nitrogênio residual deve ser considerado e pode ser aproveitado por culturas subsequentes, em um sistema de sucessão (Diniz, 2011). Para as culturas de alface americana e de repolho, três leguminosas foram avaliadas como adubos verdes, na complementação da adubação com composto orgânico (Fontanétti et al., 2006). A crotalária (C. juncea) apresentou maior produção de matéria seca e maiores acúmulos dos nutrientes N, P, K, Mg, B, Mn e Zn, em relação aos do feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e da mucuna preta (Mucuna aterrima) e, portanto, maior potencial para aporte de nutrientes. A adubação verde em complementação ao composto proporcionou produção de alface e repolho com características adequadas para comercialização. Alves et al. (2004) avaliaram os efeitos da incorporação de biomassa de guandu (Cajanus cajan), proveniente de sua poda, na fertilidade do solo e na produtividade de beterraba, cenoura e feijão-de-vagem sob cultivo orgânico. As produtividades das plantas não foram afetadas pelos tratamentos. Mas, quando se incorporou a biomassa de guandu, verificou-se que o balanço de nitrogênio do sistema foi positivo e houve aumento significativo da absorção de fósforo pelas hortaliças. O sistema de cultivo em aleias de guandu pode representar uma prática vantajosa para os produtores orgânicos, por contribuir na manutenção da fertilidade do solo. Diniz (2011) avaliou doses de 0, 3, 6, 9 t ha-1 de adubo verde, em base de massa seca, na produção de brócolis, com adição de 12 t ha-1 de composto orgânico e dois tratamentos testemunhas: 100% da recomendação de nitrogênio na forma mineral e testemunha absoluta, sem adubação. O adubo verde foi aplicado no dia do transplantio do brócolis, sendo que, no primeiro experimento, foi utilizada a mucuna cinza e, no segundo, a crotalária (C. juncea). A aplicação do adubo verde favoreceu o crescimento do brócolis, à medida que se aumentou a dose. O tempo geral necessário para a decomposição de 50% da massa, nas doses 3, 6 e 9 t ha-1, foi de 50, 102 e 119 dias e, para a liberação da quantidade total do nitrogênio, foi de 9, 24 e 32 dias, respectivamente.

 ROTAÇÃO DE CULTURAS

A rotação de culturas é essencial para a condução das hortas, uma vez que as hortaliças estão entre as espécies mais atacadas por um grande número de pragas e doenças, sendo, portanto, o grupo de plantas com mais problemas fitossanitários. Esta prática consiste em evitar o plantio sucessivo de uma mesma cultura, na mesma área, ao longo do tempo, assim como plantas da mesma família. Desta forma evita-se a reprodução e o acúmulo de organismos (insetos, fungos, bactérias) que causam danos às culturas, facilitando o seu controle. Se uma hortaliça recobre pouco o solo, deve ser substituída por uma que produza bom sombreamento, visando a interromper o ciclo reprodutivo das espécies espontâneas mais frequentes. É importante alternar culturas de sistema radicular superficial com aquelas de sistema radicular profundo, para melhor aproveitamento da adubação residual, assim como cultura que produza pouca biomassa com outra que produza muita, para favorecer a reposição da matéria orgânica do solo (Souza & Resende, 2003; Amaro et al., 2007; Santos & Carvalho, 2013). De acordo com Souza & Resende (2003) e Amaro et al. (2007), para se implantar um bom esquema de rotação é importante a divisão da horta em talhões e faixas de plantio, para facilitar o planejamento do sistema, alternando diferentes espécies vegetais no mesmo local, de acordo com os princípios básicos. Na EPAGRI, o efeito da rotação de culturas nos cultivos orgânico e convencional de cebola (cv. Empasc 352 ‘Bola Precoce’) foi avaliado por três anos. A batata-doce foi plantada em novembro e a aveia foi semeada em abril, em sucessão à cebola. O sistema com rotação produziu 17,4 e 33,3% a mais, em relação ao monocultivo nos sistemas convencional e orgânico, respectivamente. Ao se compararem os sistemas de produção, verificou-se ligeira vantagem do cultivo convencional (19,2 t ha-1) em relação ao orgânico (17,2 t ha-1) quanto ao rendimento comercial de bulbos (Silva & Peruch, 2014). Juntamente com a adubação verde, a rotação de culturas é uma das práticas mais importantes e efetivas na redução da população de nematoides em áreas de cultivo. Em cenoura, a rotação com culturas que não hospedam o nematoide-das-galhas (Meloidogyne sp.) contribui para a morte desses organismos por inanição (Pinheiro et al., 2010).

 CONSÓRCIO DE HORTALIÇAS

 O consórcio de hortaliças é um importante componente dos sistemas agrícolas sustentáveis e consiste no desenho de combinações espaciais e temporais, de duas ou mais culturas, na mesma área. O arranjo das culturas no espaço pode ser feito em fileiras alternadas, em faixas, em mosaico, de forma mista (sem arranjo definido), uma servindo de bordadura para a outra, ou uma servindo de cultura de cobertura do solo para a outra. O resultado dessa interação é o aumento da produtividade por unidade de área cultivada, da estabilidade econômica e biológica do agroecossistema, da eficiência de uso dos recursos disponíveis (solo, água, luz, nutrientes), da eficiência de uso da mão de obra, bem como a redução da infestação com plantas espontâneas, pragas e doenças. Além disso, a consorciação contribui para a estabilidade da atividade rural, assegurando colheitas escalonadas e possibilitando renda adicional para o produtor (Altieri et al., 2003; Santos & Carvalho, 2013). O sistema consorciado é empregado, sobretudo, nas pequenas propriedades, procurando-se dessa forma, aproveitar ao máximo as áreas disponíveis, os insumos e a mão de obra utilizada em capinas, adubações, aplicações de insumos e outros tratos culturais, além de possibilitar maior diversificação da dieta e aumento da rentabilidade por unidade de área cultivada (Montezano & Peil, 2006). A medida mais utilizada para avaliar a eficiência biológica de sistemas consorciados, em relação aos monocultivos, é o uso eficiente da terra (UET), expresso pelo índice de equivalência de área (IEA). Esse índice quantifica a área necessária para que as produções dos monocultivos se igualem às atingidas pelas mesmas culturas em associação, sendo considerado um método prático e bastante útil. O consórcio será vantajoso quando o IEA for superior a 1,0 e, quando inferior, o consórcio será prejudicial à produção, resultado avaliado pela produtividade (Gliessman, 2009; Lira, 2013). Várias pesquisas comprovaram a vantagem do consórcio entre hortaliças. No consórcio de coentro (cv. Verdão, Supéria, Português, Asteca e Santo) e alface (cv. Tainá e Babá de Verão) em sistema agroecológico, Oliveira et al. (2005) verificaram interação entre os cultivares de alface e os de coentro, na altura de plantas, no número de molhos/m2 e no rendimento estimado de massa verde do coentro, com o cv. ‘Português’ registrando o melhor desempenho produtivo, quando combinado com ambos os cultivares de alface. O desempenho produtivo da alface ‘Babá de Verão’ foi superior ao da ‘Tainá’. Em todos os sistemas consorciados verificou-se eficiência agroeconômica, porém os maiores valores foram registrados nos consórcios entre ‘Tainá’ e ‘Asteca’, e ‘Babá de Verão’ e ‘Português’. Costa et al. (2007) avaliaram o consórcio de alface (crespa, lisa e americana) e rúcula, em diferentes épocas de semeadura da última (0, 7 e 14 dias após transplante da alface), em relação ao de seus cultivos solteiros. Os valores de matéria fresca e seca de alface não foram afetados pelo consórcio e a matéria seca da rúcula foi reduzida nas semeaduras mais tardias. De acordo com o índice UET, os cultivos consorciados foram superiores aos cultivos solteiros entre 5 e 93%. A viabilidade econômica do cultivo consorciado de pimentão, repolho, alface, rabanete e rúcula foi avaliada por Rezende et al. (2005). Os autores concluíram que os custos operacionais totais dos cultivos consorciados foram inferiores à soma dos custos das respectivas culturas em monocultivo; considerando-se o índice UET, a qualidade das hortaliças colhidas e a receita líquida, os cultivos consorciados de duas ou três hortaliças foram economicamente vantajosos, em comparação com os monocultivos. Nos sistemas orgânicos, a consorciação das hortaliças com adubos verdes também é vantajosa, pois cumpre duas funções, a de proteção física do solo, como cobertura viva, e a de fertilização, após o corte e decomposição da biomassa. Resultados positivos foram relatados para o consórcio de pimenta com Pueraria phaseoloides (Santos et al., 2004a), milho com feijãode-porco (Santos et al., 2004b), quiabo com crotalária (Ribas et al., 2003), dentre outros.

 MANEJO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS

O manejo das plantas espontâneas (PE) é um dos principais gargalos da produção de hortaliças em sistema orgânico, especialmente por serem culturas de ciclo curto e, na maioria das vezes, de espaçamento reduzido. Dentre as estratégias de manejo está a prevenção, que consiste na adoção de práticas que evitem a entrada dos propágulos das espécies indesejadas no local do plantio. O impedimento mecânico da emergência das plantas espontâneas, por meio da cobertura morta (CM), é uma alternativa para o seu manejo; além disso, a CM protege o solo, reduzindo a erosão. Com a repetição dessa prática, tem-se, também, maior aporte de matéria orgânica e de nutrientes. O uso da CM no solo é prática de baixo custo e de fácil execução, pois diferentes resíduos orgânicos podem ser utilizados, como o capim gordura seco, o capim cortado, a casca de arroz, o bagaço de cana-de-açúcar triturado, a palha, a serragem e a casca de café dentre outros (Sediyama et al., 2010). Os benefícios da CM na manutenção da produtividade foram documentados em diversas hortaliças. Carvalho et al. (2005) avaliaram o efeito de cinco tipos de materiais de cobertura do solo (palha de arroz, palha de café, Brachiaria brizantha, serragem, testemunha sem cobertura morta) sobre a produtividade da alface cv. ‘Regina 2000’ e verificaram que todos os materiais empregados controlaram a infestação de PE, enquanto na testemunha, a grande infestação promoveu redução da produtividade. Na cultura do alho, é muito comum aplicar o capim seco sobre os canteiros, após o plantio, como verificado nos municípios de Inconfidentes e Ouro Fino, região sul de Minas Gerais, com o intuito de manter o solo úmido, favorecendo o desenvolvimento da cultura e maior produtividade dos bulbos, em relação aos do tratamento sem cobertura (Corrêa et al., 2003). Em cenoura, as vantagens da CM podem-se estender desde a maximização da germinação das sementes até a manutenção das condições adequadas de temperatura e umidade do solo, necessárias ao desenvolvimento ótimo das raízes. Resende et al. (2005) avaliaram os benefícios da CM de solo com serragem de madeira, casca de arroz, raspa de madeira e capim seco, no desenvolvimento e produtividade da cenoura, e constataram que a prática é vantajosa para o cultivo de verão, melhorando as características hidrotérmicas do solo, reduzindo a incidência de PE, estimulando o desenvolvimento das plantas e aumentando a produtividade em relação ao solo descoberto. Entre os tipos de CM utilizados, as coberturas com casca de arroz e maravalha destacaram-se, em relação ao solo descoberto com maior produtividade para a cultura. Santos et al. (2012) avaliaram a produção total e o diâmetro dos bulbos de cebola que receberam três tipos de CM (bambu - Bambuza sp.; gliricídia - Gliricidia sepium e um tratamento controle - ausência de cobertura do solo), associados a quatro doses de torta de mamona aplicadas em cobertura, 22 dias após o transplantio das mudas. De cada cobertura, foi aplicado o equivalente a 2,0 kg m2 de matéria seca de folhas e pecíolos resultantes da poda da parte aérea da gliricídia e do processo natural da renescência do bambu. Também não houve diferença significativa entre os tratamentos palha bambu e palha de gliricídia apresentar maior conteúdo de nitrogênio (35,1g kg-1 de N) que a palha de bambu (11,8g kg-1 de N) e maior velocidade de decomposição. O efeito benéfico da CM na produtividade e na qualidade da cebola foi, provavelmente, decorrente da manuten- ção de maior umidade e da redução da amplitude térmica do solo. Entre as práticas de manejo, a redução do espaçamento entre fileiras pode influenciar positivamente o controle de PE. Algumas pesquisas evidenciam que espaçamentos menores propiciam menor interferência das PE nas culturas, como consequência do fechamento mais rápido do dossel vegetativo (Carvalho & Guzzo, 2008; Dias et al., 2009). Em beterraba, o adensamento de plantas aumentou a capacidade da cultura de suprimir as PE, sendo considerado por Carvalho & Guzzo (2008) como ferramenta eficaz no manejo das PE.

 MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS

 Em sistemas orgânicos de cultivo, o controle de pragas e doenças deve ser feito somente quando houver possibilidade de danos consideráveis à produção. Antes, deve-se procurar o equilíbrio natural do agroecossistema, por meio de práticas promotoras da biodiversidade, como policultivos, rotação de culturas, adubação verde, quebra-ventos, uso de plantas companheiras, bem como buscar a elevação dos teores de matéria orgânica do solo e a nutrição equilibrada das culturas, além de outros fatores que permitam um manejo adequado dos sistemas. A diversificação da vegetação, nas áreas de cultivo, por introdução de plantas fornecedoras de abrigo e de alimento alternativo para inimigos naturais – prática denominada controle conservativo - é uma alternativa para diminuir o ataque de pragas, discutida amplamente por Rosado (2007). Souza (2014) avaliou o controle conservativo de pragas do pimentão, por meio de sua associação com o manjericão (Ocimum basilicum L.), e concluiu que o uso do manjericão diminuiu a população de pulgões, sem afetar significativamente a produção. O monitoramento sistemático de doenças e pragas é que determinará a necessidade ou não de intervenção, que somente poderá ser feita com produtos permitidos pela legislação em vigor e aceitos pelas certificadoras. Alguns métodos alternativos, como a biofumigação e a solarização, estão em desenvolvimento (Ghini & Bettiol, 2000; Souza & Resende, 2003; Patrício, 2007). Em Bettiol et al. (2014) encontra-se uma ampla revisão sobre o controle biológico de doenças de plantas e uma lista dos agentes de biocontrole, registrados para uso agrícola, no Brasil. De acordo com esses autores, em abril de 2013 havia 16 biopesticidas registrados para uso na agricultura orgânica no País. Dentre os produtos naturais, utilizados para o controle de pragas e doenças em sistema orgânico, destacam-se a urina de vaca, o leite cru de vaca, os extratos de plantas (Nim - Azadirachta indica, alho e pimenta), os óleos essenciais e as caldas (Bordalesa, Viçosa e Sulfocálcica). Há, contudo, a possibilidade de essas caldas e também de os biofertilizantes usados nas culturas aumentarem a resistência das plantas às pragas, por via do fornecimento de nutrientes. Além desses produtos, tem-se recomendado o uso de armadilhas luminosas, armadilhas de cor, armadilhas com feromônios, iscas e controle mecânico (Souza e Rezende, 2003; Venzon et al., 2010). Notadamente, as hortaliças estão entre as culturas mais propícias à utilização dessas novas tecnologias, não apenas porque podem ser afetadas por grande quantidade de doenças, mas, especialmente, porque são destinadas à alimentação humana, muitas vezes consumidas in natura, e por apresentarem maior valor agregado, permitindo a incorporação de eventuais aumentos no custo de produção, que podem acompanhar a adoção de tecnologias alternativas para o controle de doenças de plantas (Patrício, 2007). De acordo com Penteado (2001), são considerados defensivos alternativos e naturais todos os produtos químicos, biológicos, orgânicos ou naturais, que apresentem as seguintes características: praticamente não tóxicos (grupo toxicológico IV), de baixa ou nenhuma agressividade ao homem e à natureza, eficientes no combate aos insetos e micro-organismos nocivos, desfavoráveis à ocorrência de formas de resistência de pragas e microorganismos, de custo reduzido, de simplicidade de manejo e aplicação, disponibilidade do produto ou do material para aquisição. Apesar de haver grande interesse pelos métodos alternativos de controle, existem poucos produtos registrados, frente à grande quantidade de produtos naturais e de agentes biológicos de controle existentes. Diante disso, ocorrem dificuldades para atender à demanda dos produtores que praticam o sistema de produção orgânico, especialmente, em condições tropicais como no Brasil.

ENERGIA E SUSTENTABILIDADE DOS AGROECOSSISTEMAS

O uso apropriado de energia é parte conceitual para produção em agroecossistemas orgânicos (López de León & Mendonza Diaz, 1999) e um dos objetivos da Lei Federal 10.831, de 23 de dezembro de 2003 (Brasil, 2009). O exame da agricultura pela lente da energia revela uma fonte crítica de insustentabilidade. A agricultura convencional está usando, hoje, mais energia, para a produção do alimento, do que a energia que o alimento contém em si, e a maior parte é de fontes não renováveis, principalmente os combustíveis fósseis (Gliessman, 2009). Os insumos e serviços utilizados na produção vegetal representam custo energético. Dependendo desses fatores e das produtividades obtidas, a conversão da produção em energia determinará a eficiência energética do sistema; entendendo-se como eficiência energética as unidades em kcal ha-1, de energia produzida ou contida nos alimentos, por kcal ha-1 de energia consumida para produzi-los. A agricultura orgânica somente atingirá a missão de preservação ambiental se tiver comprovada sustentabilidade energética (Souza et al., 2008). Com base nesse preceito, Souza et al. (2008) realizaram pesquisa, avaliando o balanço e a análise da sustentabilidade energética da produção orgânica de hortaliças, em comparação com o sistema convencional de produção. Foi comprovada maior eficiência energética, em favor do cultivo orgânico, para abóbora, alho, repolho e tomate. Apenas o cultivo convencional de cenoura apresentou-se mais eficiente que o cultivo orgânico. O balanço energético médio do sistema orgânico foi 2,78, contra 1,93 do sistema convencional. Algumas estratégias foram propostas por Gliessman (2009), visando ao uso sustentável da energia na produção de alimentos. Com relação às hortaliças podem ser listadas as seguintes: desenhar agroecossistemas nos quais as relações biológicas e ecológicas supram a maioria dos aportes de nutrientes e de biomassa; usar sistemas de cultivo mínimo; empregar práticas que reduzam o uso e a perda de água; usar rotações e associações de culturas apropriadas; aumentar o uso de estercos; expandir o uso de controle biológico e o manejo integrado de pragas; potencializar a presença de relações micorrízicas; fazer maior uso de culturas fixadoras de nitrogênio, de adubos verdes e de pousios; fazer maior uso do manejo biológico de pragas, por meio de cultivos de cobertura, consórcios, estímulos aos micro-organismos benéficos etc.; introduzir culturas que sejam apropriadas ou adaptadas ao ambiente local e incorporar quebra-ventos, cercas vivas e áreas não produtivas aos sistemas de cultivo.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A preocupação do consumidor brasileiro com a qualidade nutricional e a inocuidade dos alimentos que consome tem aumentado. Em muitos artigos científicos e em manchetes de jornais, observam-se relatos de contaminação de alimentos, em especial de hortaliças, com agrotóxicos, fato que tem despertado o interesse do consumidor por produtos orgânicos, que têm sido considerados mais confiáveis com relação a essa problemática. Assim, cabe aos pesquisadores e técnicos, em parceria com os produtores, a viabilização de sistemas produtivos que garantam a qualidade desejada pelos consumidores e o retorno econômico desejado pelos agricultores. As práticas hoje aplicadas favorecem os sistemas de produção utilizados pelos agricultores de base familiar, produtores de hortaliças em sistema orgânico. Este artigo descreve as principais, como o manejo e a adubação do solo, a produção de mudas, a adubação verde, a rotação e a consorciação de hortaliças, o manejo de plantas espontâneas, o manejo de pragas e doenças. São práticas aprovadas pelas normas para produção orgânica, que, além de seguirem os princípios da agroecologia, contribuem para a maior eficiência energética dos sistemas produtivos.

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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO O futuro em nosso prato



Fonte:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/agricultura-alimentacao/



Um modelo esgotado

Há vinte anos, o Greenpeace expõe e questiona o modelo agrícola praticado no Brasil. As sementes transgênicas, os agrotóxicos, a expansão da agropecuária sobre a Amazônia e os impactos climáticos da nossa produção comprometem o futuro da nossa alimentação e do planeta. Não temos escolha: é urgente e necessária a mudança para uma outra agricultura, que produza alimentos de maneira ecológica e socialmente justa, para cidadãos cada vez mais preocupados com sua saúde e a saúde do planeta.

O modelo global de produção, distribuição e consumo de alimentos precisa ser revisto, e com urgência. No mundo, quase 800 milhões de pessoas ainda passam fome, enquanto a obesidade e o sobrepeso atingem 1,9 bilhão de pessoas. De fato, nunca produzimos tanta comida, ao passo que o futuro desta produção nunca foi tão incerto – o uso intensivo de agrotóxicos e de recursos naturais (solo e água, por exemplo), a expansão da fronteira sobre matas nativas e a enorme contribuição da agropecuária para as mudanças do clima colocam em xeque esse modelo insustentável e desigual.

O Brasil é um país simbólico, tanto do ponto de vista do problema quanto de sua solução. Por aqui, a produção convencional cresceu exponencialmente ao longo das últimas décadas, via de regra esgotando recursos naturais que garantem a própria sustentação das lavouras. A agropecuária brasileira é a campeã mundial em uso de agrotóxicos, representa mais de um terço das emissões nacionais de gases de efeito estufa e é a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado.

Por outro lado, houve grandes avanços na solução agroecológica no Brasil. A despeito deste modelo historicamente receber uma parcela ínfima dos investimentos públicos e privados, estabeleceu-se uma rede ampla de produtores ecológicos que se integram às paisagens, conservam o solo e os mananciais, se adaptam à seca e produzem comida – muita comida. Além disso, a sociedade civil organizada ampliou a pauta agroecológica no Brasil, seja nas políticas para a produção, na oferta de alimentos saudáveis para consumo ou nas compras públicas de alimentos orgânicos. São passos sólidos em direção ao necessário futuro de um novo modelo de produção de alimentos.


Comida envenenada


Produtor aplica agrotóxicos em sua plantação. Atualmente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. © Ángel Garcia / Greenpeace

Todos nós consumimos agrotóxicos. Eles estão nos alimentos que comemos, na água que bebemos, na roupa que vestimos. A agricultura brasileira é hoje dependente de herbicidas, fungicidas e inseticidas, aplicados com baixo controle e com alto impacto a quem produz e a quem consome. É alarmante que o Brasil seja o país onde mais se aplica agrotóxicos no planeta.


Segundo o último Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico(PARA), organizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram detectados resíduos em 67% de todos os alimentos testados – alimentos do nosso dia-a-dia, do nosso almoço e jantar, da sopa das crianças. Das amostras com resíduos, quase 40% contêm agrotóxicos não autorizados ou acima de limites máximos, fato destacado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que, em nota, se posicionou oficialmente pela produção de alimentos sem agrotóxicos.

No meio ambiente, a aplicação de veneno impacta os solos, as fontes de água, a flora e a fauna ao redor das plantações. A esterilização provocada pelos agrotóxicos causa desequilíbrios ambientais gravíssimos, que aumentam a proliferação de “pragas” e reduzem a produtividade agrícola. Tal cenário provoca o uso de ainda mais produtos químicos, numa espiral insustentável – mas lucrativa para as empresas do ramo. Um exemplo dramático do impacto ambiental dos agrotóxicos é a redução da população de abelhas, responsável pela polinização de 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo (incluindo espécies comerciais como o café e a laranja).



Emissões da agropecuária: um tiro no pé


O gado é responsável por boa parte das emissões globais de gases de efeito estufa (© Cheryl-Samantha Owen / Greenpeace)

Segundo o último cálculo disponibilizado no Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, a agropecuária é responsável por 32% das emissões brasileiras. Considerando que ela é a principal atividade que desmata no Brasil, e que a mudança no uso do solo representa cerca de 42% das emissões, é possível afirmar que a agropecuária brasileira é responsável, direta e indiretamente, por 74% de todas as emissões do País.


Ao longo das últimas décadas, expandimos nossas fronteiras para a produção de carne bovina (sobretudo na Amazônia) e soja e milho para a alimentação animal. O desmatamento, o gás metano produzido pela digestão do gado e a aplicação de adubos e fertilizantes sintéticos nessas culturas lideram o impacto climático da nossa produção.

Por outro lado, a agropecuária é a principal vítima do aquecimento global. Mudanças nos regimes de temperatura e chuva, bem como eventos extremos (como geadas ou secas prolongadas) atingem duramente a produção de alimentos. No Brasil, estima-se que um mundo 2°C mais quente reduzirá, até 2030, a área produtiva de culturas importantes como soja, arroz e feijão, reduzindo a oferta e, portanto, aumentando o preço destes alimentos. A urgência climática nos desafia a mudarmos nossa alimentação.


Do consumo à cidadania: pelo direito de escolha


Diversos restaurantes já servem pratos exclusivamente orgânicos. © Peter Caton / Greenpeace

Antes de escolhermos nossos alimentos em supermercados, feiras livres ou mesmo restaurantes, diversas escolhas foram feitas em nosso nome. Varejistas e grandes marcas de alimento, por sua política de compras; produtores rurais, por meio de suas escolhas de práticas agrícolas; governos, por suas políticas de subsídio, assistência técnica e compras institucionais – todos estes atores definem o que está em nosso prato.


A necessária mudança no modelo de produção de alimentos nos oferece a oportunidade de agir. Como consumidores, mudamos o futuro da nossa alimentação quando escolhemos o que compramos com base em critérios socioambientais, quando observamos a origem e os impactos dos produtos, quando demandamos informação para uma decisão responsável, quando cortamos intermediários e compramos em feiras ou diretamente dos produtores, onde o preço é quase sempre muito menor.

Como cidadãos, podemos cobrar empresas e governos que apostem na solução agroecológica, destinando recursos e promovendo um ambiente de desenvolvimento amplo da agroecologia no Brasil.

O Greenpeace convida a sociedade brasileira a fazer parte deste movimento de construção de um futuro alimentar saudável para as pessoas e o meio ambiente, e justo para quem produz e consome.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Os impactos da alimentação para o meio ambiente

Comer é um ato agrícola, disse um fazendeiro e economista americano, mas é também um ato ecológico e um ato político, por Jaqueline B. Ramos*

(*) Jaqueline B. Ramos é jornalista e editora do blog Ambiente-seEste artigo foi publicado originalmente na Agência Envolverde

     Quando falamos em sustentabilidade, pensamos em ações como não poluir, preservar áreas naturais, reciclar lixo, economizar água, dar preferência às fontes alternativas de energia etc. Mas raramente nos lembramos de relacionar uma de nossas atividades mais básicas com impactos negativos no meio ambiente: o ato de se alimentar. Nos primórdios da humanidade, a alimentação era baseada em frutas, raízes, carnes de animais caçados e outras fontes que não modificavam significativamente a natureza (pelo contrário, tudo fazia parte de um ciclo natural). Com o advento da agricultura e da domesticação de animais, há cerca de 12 mil anos, deu-se início à produção de alimentos.

     A passagem do estado nômade para a fixação na terra marcou o início do que chamamos “desenvolvimento da humanidade”. Com o passar dos séculos, o homem foi criando novas formas de manejo do solo e as populações concentradas nas cidades cresceram em ritmo progressivo, aumentando a demanda por alimentos. Até que a chegada da Era Industrial, no final do século XVIII, intensificou a aglomeração de pessoas no ambiente urbano, colocando fim, definitivamente, na ligação direta que o ser humano tinha com a natureza para a obtenção de alimentos. O resultado disso tudo é uma agricultura transformada em indústria que passou a utilizar métodos artificiais, como fertilizantes e pesticidas químicos, irrigação, manipulação genética e uso de hormônios em animais, visando sempre o aumento da produção (e o lucro). Sem contar a dependência por combustíveis fósseis, inclusive no transporte, por longas distâncias, dos alimentos. É a cadeia alimentar industrial.

     Se por um lado todo esse advento é considerado positivo, sendo denominado como desenvolvimento ou modernidade, por outro é fato que o modelo de alimentação industrializado é um forte candidato a causar sérios danos à conservação do meio ambiente e também à saúde do homem. E por incrível que pareça, a maior parte das pessoas atualmente não se dá conta disso. A origem dos alimentos que consome simplesmente não faz parte da sua lista de prioridades e a alimentação, o ato mais corriqueiro e básico do dia-a-dia, não é visto sob a perspectiva ambiental ou da sustentabilidade.

     “Comer é um ato agrícola, disse, numa frase famosa, Wendell Berry (fazendeiro e economista americano). É também um ato ecológico, além de um ato político. Ainda que muito tenha sido feito para obscurecer esse fato bastante simples, o que e como comemos determinam, em grande parte, o que fazemos do nosso mundo – e o que vai acontecer com ele. (…) Muita gente hoje parece totalmente satisfeita comendo na extremidade da cadeia alimentar industrial sem parar para pensar no assunto”, escreve o jornalista norte-americano Michael Pollan, no seu livro “Dilema do Onívoro”. O jornalista passou cinco anos investigando os bastidores da cadeia industrial alimentícia nos Estados Unidos, reconstituindo o trajeto dos pratos mais consumidos e analisando o caminho percorrido pelo alimento da origem à mesa.

Insumos químicos, agrotóxicos, erosão do solo…

     Como afirma o jornalista norte-americano, comer é um ato ecológico, o que faz com que todo cidadão deva, idealmente, ficar atento à origem do alimento que consome e analisar criticamente as técnicas empregadas no sistema de produção. A qualidade e pureza dos alimentos, a sustentabilidade (social e ecológica) dos métodos de produção e os problemas e desigualdades existentes na sua distribuição são algumas das questões que devemos analisar em busca de uma alimentação mais sustentável. Em tempo: é fato que se produz alimento em quantidade suficiente para atender 100% da população mundial. Dificuldades de acesso aos alimentos pela parcela mais carente da sociedade decorrem de problemas sociais e econômicos, que por sua vez causam desequilíbrios na distribuição.

     Destacando algumas problemáticas da agricultura moderna para o meio ambiente, uma primeira questão a ser analisada é o uso de insumos químicos. Visando melhorar a produtividade e assegurar índices de produção, agricultores costumam utilizar adubo e fertilizantes em suas plantações. O adubo mais simples, natural e antigo é o esterco, que misturado a restos de vegetais e fermentado de forma correta resulta no composto orgânico. Mas para ser empregado em larga escala, o processo do fertilizante natural se tornou inviável, economicamente falando. Para os empresários do agrobusiness, passou a ser mais rentável o uso de agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes, principalmente), inclusive para viabilizar o cultivo intensivo de uma única cultura em uma área (as monoculturas, principais vilãs da qualidade do solo).

     Os fertilizantes industriais contêm altas concentrações de nitrogênio, fósforo, potássio e metais pesados. O nitrogênio, por exemplo, pode se acumular no solo e ser transformado, por processos químicos, em nitrato. Além de ser um composto cancerígeno, o nitrato pode contaminar o solo e também ser conduzido aos lençóis subterrâneos, contaminando a água.

     Outro problema gerado neste cenário é o desequilíbrio ecológico causado pela própria prática da monocultura regada por fertilizantes químicos. Entre os principais indicadores do desequilíbrio está o aparecimento de pragas, doenças e ervas daninhas, que por sua vez são combatidas com agrotóxicos – inseticidas, herbicidas e fungicidas. Ou seja, mais uma carga de substâncias químicas tóxicas bombardeando o meio ambiente e a saúde de quem consome os alimentos, pois estes acabam guardando resíduos dos agrotóxicos e têm alta probabilidade de ficarem contaminados.

     Como mais um remediador para o desequilíbrio ecológico conduzido pelo próprio homem e visando, sempre, produtos finais comercialmente mais lucrativos, entram em cena os alimentos transgênicos. Tratam-se de organismos geneticamente modificados (OGMs) desenvolvidos em laboratório. Entre os objetivos da manipulação genética está o de criar plantas mais resistentes a pragas ou até mais resistentes a determinados agrotóxicos. Alimentos transgênicos já são comercializados em vários países – entre eles o Brasil – e ainda há muitas controvérsias em relação aos prós e contras da manipulação genética para a saúde das pessoas e os impactos no meio ambiente. Enquanto os debates e as pesquisas avançam, o importante é o consumidor se informar e exigir a rotulagem dos alimentos transgênicos, de forma a ter condições de decidir por consumir ou não um OGM.

Erosão e o impacto do bife

     Uma questão importante decorrente da agricultura moderna é o fenômeno chamado de “erosão genética”. A interferência do homem nas variedades tradicionais com a manipulação de plantas e animais pode consistir em uma ameaça para a diversidade genética, a principal responsável pela capacidade de resistência, imunidade e sobrevivência das espécies.

     Quando falamos em erosão é importante também lembrar do processo de degradação do solo decorrente do uso de práticas agrícolas inadequadas e da monocultura combinada com a mecanização, o corte de espécies nativas, a queima da vegetação e a pecuária intensiva. Aliás, esta última rende um capítulo à parte na discussão sobre alimentação sustentável, visto que o aumento no consumo de carne e de seus derivados sobrepôs formas naturais (e mais éticas) de criação dos animais, sem contar os problemas ambientais decorrentes da pecuária.

     Numa sociedade majoritariamente onívora, o “impacto do bife” passa por questões de ordem moral – não é à toa a afirmação de que se os abatedouros tivessem paredes de vidro, muita gente se tornaria vegetariana – e também de ordem ambiental. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) em 2006 alertou para o fato de que “estoques de animais vivos” mantidos para alimentação são responsáveis por 18% da emissão de todos os gases causadores do aquecimento global, porcentagem que supera, por exemplo, as emissões causadas por todos os veículos automotores do mundo somados.

     O levantamento da FAO inclui as emissões de metano provocadas pelo sistema digestivo dos animais, as emissões de CO2 geradas pelas queimadas para a formação de pastos, a energia – quase sempre à base de queima de combustíveis fósseis – usada na fabricação de insumos agrícolas, a energia gasta na produção de ração e no bombeamento de água, a energia dos procedimentos de abate e processamento das carcaças, o combustível usado no transporte de animais vivos e de produtos processados de carne, entre outras questões relacionadas à pecuária.

     Seja analisando as técnicas industriais agrícolas ou o modelo intensivo da pecuária, o fato é que a humanidade atingiu um limite perigoso na história de uma relação insustentável com a natureza para obtenção de fontes de alimentos. E nesse momento é importante que cada um, como consumidor, pare para pensar mais criticamente e faça escolhas mais criteriosas e cuidadosas. Como afirma o autor de “Dilema do Onívoro” em um dos trechos do livro, “a insensatez demonstrada na busca por alimentos não é um fenômeno novo. No entanto, os novos atos de insensatez que estamos cometendo na nossa cadeia alimentar industrial hoje são de um tipo diferente.

     Ao substituir a energia solar pelo combustível fóssil, ao criar milhões de animais em rígidas condições de confinamento, ao alimentar esses animais com comida para a qual sua evolução não os adaptou, e ao nos alimentarmos com comidas que são muito mais insólitas do que imaginamos, estamos pondo em grave risco nossa saúde e a saúde do mundo natural.”


O que o consumidor pode fazer em prol de uma alimentação sustentável

# Informar-se sobre a importância da agricultura sustentável e seus benefícios para a produção de alimentos, inclusive em relação à saúde dos indivíduos e ambientes.

# Apoiar propostas de produção regional, especialmente a familiar e a associada, com o objetivo de fortalecer a segurança alimentar local e reduzir o desperdício de energia no transporte.

# Exigir que os produtores respeitem as leis ambientais, assim como a legislação trabalhista, e que utilizem métodos menos impactantes ao meio ambiente, adquirindo produtos elaborados com este diferencial.

# Demandar que os vendedores de alimentos estimulem a produção ecológica, inclusive solicitando a certificação dos produtores por um organismo independente, para que possa ter certeza de que os mesmos cumprem todas as exigências ambientais.

# Organizar-se em cooperativas de consumo que estimulem a produção sustentável local e regional.


Fontes:


Cartilha Alimentos IDEC, livro “Dilema do Onívoro” (editora Intrínseca) e Sociedade Vegeteriana Brasileira (SVB); Cartilha Alimentos (IDEC); Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 78 -março/abril 2008.
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