Publicação: O trabalho faz parte
do ANEXO B do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no
litoral sul catarinense”. publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a
publicação completa e ilustrada com 204 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar os link “Publicações”
e “Boletim didático”.
Mesmo no cultivo orgânico
podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de
insetos-pragas ou patógenos nocivos em níveis incontroláveis. Esses fatores
podem ser chuvas ou secas excessivas, mudas ou sementes de baixa qualidade,
tratamentos com agrotóxicos agressivos nas propriedades vizinhas, uso de
cultivares não adaptados, solos degradados e adubações desequilibradas.
Recomenda-se no
cultivo orgânico que o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente
para não provocar o desequilíbrio do sistema. Por isso, os produtos
alternativos apresentados, mesmo que a grande maioria não cause riscos ao homem
ou ao ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários. Neste caso, deve-se recorrer às caldas
protetoras, aos preparados de plantas e outros produtos alternativos
recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, visando ao manejo de doenças e
pragas em hortaliças.
Observação: A utilização de alguns dos
preparados, bem como outros produtos alternativos, é baseada em trabalhos de
pesquisa em determinadas condições edafoclimáticas, outros são resultados de
experiências de técnicos e agricultores. Por isso, recomenda-se sempre que o
agricultor teste o produto alternativo em pequena área de cultivo e observe os
resultados.
Outros
produtos alternativos recomendados ou tolerados no cultivo orgânico
a)
Água de cinza e cal
(“fertiprotetor” de plantas): É um produto ecológico obtido pela mistura de
água, cinza e cal, recomendado para aumentar a resistência das culturas às
pragas, reduzindo a ocorrência de vaquinhas e pulgões e também de doenças. Essa
mistura contém expressivos teores de macro (Ca, Mg e K) e micronutrientes,
estimulando a resistência às doenças fúngicas e bacterianas. (Fonte: Claro,
2001).
Modo
de preparar: Em um
recipiente de alvenaria, plástico ou latão misturar 5kg de cal hidratado e 5kg
de cinza peneirada com 100L de água. A mistura deve permanecer em repouso no
mínimo por 1 hora antes de ser utilizada. Nesse período, agita-se a mistura no
mínimo três a quatro vezes, com madeira ou taquara. Após a última agitação,
esperam-se 10 a 15 minutos para que ocorra a sedimentação das partículas
sólidas. A água de cinza e cal deve ser coada antes do uso, usando-se a peneira
do pulverizador. A mistura deve ser filtrada e armazenada em bombonas. No
momento de usá-la, basta agitar o conteúdo que irá retomar a cor branco-leitosa.
Preferencialmente, no momento de usá-la, pode-se associá-la a um espalhante
adesivo (farinha de trigo a 2%).
Cuidados na
aplicação: Evitar aplicar
em horários de intenso calor. No verão, aplicar à tardinha ou de manhã cedo,
especialmente quando a cinza utilizada for de madeira, pois tem maior
concentração de nutrientes e é mais salina e alcalina.
b)
Enxofre (acaricida):
É um produto natural que pode ser usado puro ou na calda sulfocálcica visando o
manejo de ácaros. Ao ser utilizado puro, devem-se misturar, a seco, 800g de
enxofre e 200g de farinha de milho bem fina, diluindo 34g em 10 litros de água
e aplicar sobre as plantas (Fonte: Paulus, 2000).
c) Farinha de trigo (espalhante adesivo ecológico e manejo de ácaros,
pulgões e lagartas): Quanto mais cerosa for a superfície da folha ou ramos das
plantas tratadas, maior número de gotas se forma, menor a área de molhamento,
maior a possibilidade de injúrias e menor a eficiência da pulverização sobre a
nutrição ou manejo de pragas e doenças. Dentre as hortaliças, alho, cebola,
repolho e couve-flor são exemplos de culturas com alta cerosidade nas folhas e
que exigem, por isso, o uso de espalhante adesivo nas pulverizações das caldas,
da água de cinza e cal e de outros produtos alternativos. Quando as gotas
permanecem inteiras sobre a superfície foliar, por falta de espalhante adesivo,
podem danificar os tecidos vegetais quando o sol incide sobre elas.
Modo
de preparar: Em um
recipiente apropriado, misture com água os ingredientes a serem pulverizados, acrescentando
a farinha por último. Adicionar a farinha aos poucos, lentamente, sob forte e
constante agitação com auxílio de uma pá de madeira ou taquara para que a
dissolução seja completa. Para evitar obstrução de bicos do pulverizador
recomenda-se coar a calda, podendo-se utilizar a própria peneira do
pulverizador.
Dosagem: 200g de farinha de trigo em cada 10L de
calda. Essa dose pode ser aumentada ou diminuída de acordo com o grau de
cerosidade das folhas.
No
manejo de insetos-pragas que ocorrem em hortas, recomenda-se o seguinte
preparo: diluir 1 colher de sopa de farinha de trigo em 1L de água e pulverizar
nas folhas atacadas. Aplicar pela manhã em cobertura total nas folhas, em dias
quentes, secos e com sol; mais tarde, as folhas secando com o sol formam uma
película que envolve as pragas e caem com o vento.
d) Leite cru (manejo
de ácaros, ovos de lagartas, lesmas, doenças fúngicas e viróticas): O leite, na
sua forma natural ou como soro de leite, é indicado para o manejo de ácaros e
ovos de diversas lagartas como atrativo para lesmas e no controle de várias
doenças fúngicas e viróticas. Pesquisa comprovou a eficiência do leite cru (+10%)
sobre o oídio em cucurbitáceas, mesmo após o início da infecção no campo,
superando o leite industrializado (tipo C e o longa vida). Essa maior
eficiência do leite cru e fresco pode ser explicada, em parte, pela maior
concentração de substâncias e de microrganismos fermentados em relação aos
leites industrializados. (Fonte: Zatarim et al., 2005).
e) Iscas tóxicas com ácido bórico (manejo de lesmas): A isca deve ser formulada com 7 partes de farinha
de trigo, 3 partes de farinha de milho, 3% a 5% de ácido bórico (encontrado em
farmácias) e ovos. A pasta resultante deve ser filamentosa, seca à sombra,
fragmentada em pedaços de 0,5cm de comprimento e distribuída na área infestada
(Fonte: Milanez & Chiaradia, 1999b).
f) Iscas com plantas e sementes de gergelim e com raízes de
mandioca-brava ralada (manejo
de formigas): O uso de sementes de gergelim como iscas, para ninhos pequenos,
na base de 30 a 50g, ao redor do olheiro, é útil no combate a formigas, que vão
carregá-las para dentro com o objetivo de alimentar os fungos que, por sua vez,
morrem intoxicados, deixando as formigas sem alimento (fungos). Um bom método
natural para espantar as formigas é espalhar sementes de gergelim em torno dos
canteiros ou da área a ser protegida. Raízes de mandioca-brava raladas
colocadas ao redor do formigueiro intoxicam as formigas com o ácido cianídrico.
g) Cinzas de madeira
(manejo de pulgões e lagarta-rosca e dos fungos míldio e sapeco; nutrição): Além de ser um ótimo adubo rico em
potássio, o polvilhamento de cinza sobre as culturas controla os pulgões dos
cítrus (laranja, limão e outras) das hortaliças e de outras espécies.
Polvilhada sobre o solo ou incorporada a ele, controla a lagarta-rosca por um
período de 10 dias, dependendo do clima. No manejo da doença do sapeco da
folha, que ocorre em cebolinha verde, e em sementeiras de cebola na fase de
produção de mudas, recomenda-se aplicar sobre as plantas, antes que o sereno
(orvalho) evapore, 50g/m2 de cinza de madeira.
h) Manipueira (nutrição; inseticida, acaricida, nematicida,
fungicida, herbicida; manejo de fungos, pragas de solo e formigas): É um líquido de aspecto leitoso e de
cor amarelo-clara que escorre das raízes da mandioca, por ocasião da sua
prensagem para obtenção de fécula ou farinha de mandioca. Portanto, é um
subproduto ou um resíduo da industrialização da mandioca que fisicamente se
apresenta na forma de suspensão aquosa e, quimicamente, como uma miscelânea de
compostos que possuem macro e micronutrientes vegetais. Embora atualmente seja
cedida gratuitamente, pois é um produto descartável, muito em breve poderá ser
aproveitada como inseticida, acaricida, nematicida, fungicida, herbicida e até
como adubo.
Dosagem: Como inseticida e acaricida, o tratamento
deve constar de, no mínimo, de três ou quatro pulverizações aplicadas em
intervalos semanais, puras ou diluídas, conforme a cultura, acrescentando-se 1%
de farinha de trigo para maior aderência. Para tratamento de árvores frutíferas
(cítrus, abacateiro e outras) e arbustos (maracujá), usar a diluição 1:1 (manipueira:água);
para plantas herbáceas de maior porte (pimentão, berinjela, etc.), diluições de
1:2 e 1:3 e para as espécies de menor porte, usar a diluição 1:4.
Como fungicida (para
oídios e ferrugens) e bactericida, devem ser observadas as mesmas recomendações
prescritas para seu uso como inseticida.
No controle de
nematoides, utilizar manipueira (1:1) aplicando no solo, na linha de cultivo,
com auxílio de regador, 2 a 4L da diluição por metro de sulco. A aplicação deve
ser antes do plantio, devendo o solo ficar em repouso por 8 dias ou mais e,
posteriormente, ser revolvido levemente a parte que compõe e margeia a linha de
cultivo, antes de proceder à semeadura ou ao plantio.
Observação:
recomenda-se sempre fazer um teste preliminar com algumas plantas com o
objetivo de ajustar a diluição à sensibilidade da planta a ser tratada e da
praga a ser controlada (Fonte: Ponte, 2006).
No manejo de
formigas, utilizar 2L de manipueira no formigueiro para cada olheiro, repetindo
a operação a cada 5 dias. Em tratamento de canteiro, regá-lo usando 4L de
manipueira e uma parte de água, acrescentando 1% de açúcar ou farinha de trigo.
Aplicar em intervalos de 14 dias, pulverizando ou irrigando.
i) Urina de vaca em lactação (manejo de pragas, doenças e nutrição): indicada para legumes em geral
e para o abacaxi, pois contém catecol, substância que aumenta a resistência das
plantas ao ataque de pragas e doenças. No abacaxi, a urina é eficiente no
controle de fusariose. No geral, durante os 3 primeiros dias após aplicação, age
como repelente contra insetos, principalmente a mosca-branca. Serve também como
fonte de macro e micronutrientes (Fonte: Gadela et al., 2002).
Coleta e preparo: Coletar a urina e colocá-la em
recipiente plástico fechado durante 3 dias, que é o tempo necessário para que a
ureia se transforme em amônia. Pode ser guardada por 1 ano em vasilha
fechada. A coleta da urina é simples e deve ser feita na hora de tirar o leite,
pois ao ter as pernas amarradas para a ordenha é normal o animal urinar.
Dosagem e aplicação: Para cada 100L de água usar 1L de
urina de vaca em lactação. Pulverizar sobre a planta a cada 15 dias.
Recomendações:
Toda pulverização com
solução de urina deve ser aplicada nas horas frescas do dia. Evitar o uso em
hortaliças folhosas e em hortaliças-frutos próximo à colheita devido ao forte
odor. A urina de cabra também pode ser utilizada, mas como possui maior
concentração de nitrogênio, deve ser colocado meio litro de urina para cada
100L de água. Dar preferência à urina de vacas em lactação porque tem mais
substâncias (fenóis e hormônios) que as outras. O cheiro forte após a aplicação
permanece durante 3 dias, agindo nesse
período como repelente de insetos.
Bibliografia citada
CLARO, S.A. Uso de água de zinza e cal como fertiprotetor de plantas. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v., n.4, p.55-57, out./dez.2001.
GADELHA, R.S.S.; CELESTINO, R.C.A.; SHIMOYA, A. Efeito da urina de vaca na produtividade do abacaxi. Pesquisa Agropecuária & Desenvolvimento Sustentável, Niterói, v.1, n.1, p.91-95, dez. 2002.
PAULUS, G.MULLER, A.M.; BARCELLOS, L.A.R. Agroecologia aplicada: práticas e métodos para uma agricultura de base ecológica. Porto Alegre, RS: Emater-RS, 2000. 86p.
ZATARIM, M.; CARDOSO, A.I.I.; FURTADO, E.L. Efeito de tipos de leite sobre oídio em abóbora plantadas a campo. Horticultura Brasileira, v.23, n.2, p.198-201, abr./jun, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?scrip=sci-arttext&pid=SO102-05362005000200007>.Acesso em: 11 jul. 2008.
MILANEZ, J.M.; CHIARADIA, L.A. Eficiência de iscas com base em ácido bórico no controle de Sarasinula linguaeformis (Semper, 1885) (Mollusca, Veronicellidae). Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre, v.5, n.2, p.351-355, 1999 b.
PONTE, J.J. da. Cartilha da manipueira: uso do composto como insumo agrícola. e. ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2006. 64p.