Publicação: O trabalho faz parte
do ANEXO B do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no
litoral sul catarinense”. publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a
publicação completa e ilustrada com 204 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar os link “Publicações”
e “Boletim didático”.
Mesmo no cultivo orgânico
podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de
insetos-pragas ou patógenos nocivos em níveis incontroláveis. Esses fatores
podem ser chuvas ou secas excessivas, mudas ou sementes de baixa qualidade,
tratamentos com agrotóxicos agressivos nas propriedades vizinhas, uso de
cultivares não adaptados, solos degradados e adubações desequilibradas.
Recomenda-se no
cultivo orgânico que o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente
para não provocar o desequilíbrio do sistema. Por isso, os produtos
alternativos apresentados, mesmo que a grande maioria não cause riscos ao homem
ou ao ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários. Neste caso, deve-se recorrer às caldas
protetoras, aos preparados de plantas e outros produtos alternativos
recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, visando ao manejo de doenças e
pragas em hortaliças.
Observação: A utilização de alguns dos
preparados, bem como outros produtos alternativos, é baseada em trabalhos de
pesquisa em determinadas condições edafoclimáticas, outros são resultados de experiências de técnicos e agricultores.
Por isso, recomenda-se sempre que o agricultor teste o produto alternativo em
pequena área de cultivo e observe os resultados.
Produtos alternativos −
preparados de plantas
O uso de preparados vegetais no manejo de doenças e
pragas de plantas é denominado de fitoterapia vegetal. A maioria das plantas
utilizadas são plantas aromáticas, medicinais e algumas ornamentais.
Observação:
Alguns dos princípios ativos das plantas usados nas formulações podem provocar
irritação e intoxicação. Por isso, devem ser manipulados com cuidado, não os
deixando ao alcance de criança ou animais.
A extração dos princípios ativos dos vegetais para
uso agrícola, geralmente, é feita pelos métodos de maceração, fervura e
infusão.
Preparado por maceração:
As plantas são picadas bem finas ou amassadas e postas num recipiente com água,
álcool ou óleo. O tempo de maceração varia de 1 a 10 dias, conforme as partes
das plantas usadas. Partes mais tenras ficam menos tempo e as mais lenhosas,
mais tempo. Deve-se agitar a maceração duas vezes por dia.
Preparado por fervura:
As plantas são picadas ou amassadas e postas a ferver por 10 minutos. O
recipiente deve ter tampa e permanecer tampado até que o líquido esfrie, para
não perder os princípios ativos com o vapor.
Preparado por infusão:
As plantas são picadas ou amassadas num recipiente, despejando-se água fervente
sobre elas. Deixar abafado por, no mínimo, 10 minutos.
Diversos extratos
são eficientes na nutrição suplementar, na estimulação fisiológica e na proteção
sanitária. Outros preparados necessitam de comprovação através de pesquisas em
diferentes condições de solo, clima e sistemas de produção.
● Preparado
com cavalinha-do-campo (Equisetum arvense) – Proteção de pragas – pulgões e ácaros;
doenças – fungos de solo, míldio e outras e para nutrição das plantas: Ferver 1kg de folhas verdes ou 200g de
folhas secas por 20 minutos em 2L de água (10%). Diluir em 10 a 20 litros de
água e pulverizar no final da tarde (Deffune, 2000).
●
Preparado com urtiga (Urtica urens L.) – Nutrição, estimulante de vigor e resistência, manejo de pulgões:
deixar de molho por duas semanas 1kg de folhas verdes ou 200g de folhas secas/2
litros de água. Diluir em 20 litros de água e pulverizar nas plantas e solo no
final da tarde, alternando com o preparado de cavalinha. (Deffune, 2000).
●
Preparado com nim (Azadirachta indica) – Manejo da mosca-branca, pulgões, mosca-minadora, mosca-da-fruta,
brocas-do-tomateiro, ácaros, trips, cochonilhas, minador-das-folhas-dos-citrus,
outros besouros, vaquinha, nematoides, traça das crucíferas, lagartas em geral
e outros; manejo de doenças: manchas de alternária, tombamento, ferrugem do
feijoeiro, requeima, fusariose e esclerotínia: O nim, árvore da família
Meliaceae, a mesma do cinamomo, do cedro e do mogno, é originário da Índia. O
princípio ativo, denominado de azadirachtin, se concentra mais nas sementes e
controla os insetos impedindo sua metamorfose em fase de larva, além de
repeli-los. O extrato de nim pode ser
feito da seguinte forma:
a) folhas e ramos finos verdes picados:
1.250g para 100L de água. Deixar repousar a mistura durante 12 horas, no
mínimo, coar e pulverizar imediatamente;
b) sementes moídas: 1,5 a 3kg para 100
litros de água. Deixar repousar por 12 horas, coar e pulverizar;
c) óleo de sementes: utilizar 250 a 500ml
em 100L de água e pulverizar.
O extrato pode ser
armazenado em frasco em local escuro por 3 dias. As lojas agropecuárias vendem
o óleo de nim em embalagens de 1L, 100ml e 20ml. É empregado na dosagem de 0,5%
(Abreu Junior, 1998).
● Preparado com confrei (Symphytum officinale) (manejo de pulgões): Utilizar o liquidificador para triturar 1kg de folhas de confrei
com água. Acrescentar 10 litros de água e pulverizar nas plantas.
● Preparado com alho (manejo
de trips, pulgões, lagarta-do-cartucho-do-milho e doenças [podridão negra,
ferrugem e alternária]): O alho é um antibiótico natural e
pode ser usado como inibidor ou repelente de parasitas de plantas ou animais.
Receita
1: Dissolver 50g de
sabão em 4 litros de água, juntar 2 cabeças picadas de alho e 4 colheres de
pimenta vermelha picada. Coar com pano fino e pulverizar.
Receita
2: Moer 100g de alho e
deixar em repouso por 24 horas em 2 colheres de óleo mineral. Dissolver, à
parte, 10g de sabão em 0,5L de água. Misturar todos os ingredientes e filtrar.
Antes de usar o preparado, diluí-lo em 10L de água (Fonte: Abreu Junior, 1998);
Receita
3: (manejo de doenças fúngicas do tomateiro): 7 dentes de alho macerados em 1 litro
de água. Deixa-se essa mistura em repouso durante 10 dias. Antes de usar, de
forma preventiva, diluir em 10L de água (Fonte: Primavesi, 1994);
● Preparado com pimenta vermelha (manejo de
vaquinhas, pulgões, grilos e paquinhas):
Receita
1: Bater 500g
de pimenta vermelha em um liquidificador com 2L de água até a maceração total.
Coar o preparado e misturar com 5 colheres de sopa de sabão de coco em pó,
acrescentando então mais 2L de água. Pulverizar sobre as plantas atacadas
(Fonte: Andrade, 1992).
Receita
2: Outra forma de
preparo é bater 60g de pimenta no liquidificador com meio litro de água,
acrescentando meio litro de água. Macerar por 12 horas, coar e diluir 1L do
macerado para 5L de água. Pode-se dissolver um pedaço de sabão de 50g em 1L de
água quente e, em seguida, misturar a calda como produto adesivo.
Receita
3: Colocar 100g de
pimenta-do-reino em 1L de álcool durante 7 dias. Dissolver 60g de sabão de coco
em 1L de água fervente. Retirar do fogo e juntar as duas partes. Utilizar um
copo cheio para 10L de água fazendo três pulverizações a cada 3 dias. Indicação: pulgões, ácaros e cochonilhas
(Fonte: Paiva, 1995).
Observação: Obedecer a um período de carência mínima de 12 dias da colheita,
para evitar a obtenção de frutos com forte odor.
● Preparado com primavera/maravilha (Bougainvillea
spectabilis/Mirabilis jalapa) (manejo do vírus do vira-cabeça do tomateiro e pimentão): Juntar 1kg de folhas maduras e lavadas
de buganvília (flor rosa ou roxa) com água e bater no liquidificador. Coar e
diluir o macerado em 20L de água. Pulverizar imediatamente nas horas mais
frescas do dia no tomateiro, iniciando na fase de mudas e terminando no início
da frutificação. O preparado reduz os danos causados pelo vírus, que é
disseminado por trips e sementes contaminadas, especialmente na primavera e no
início do verão. O trips adquire o vírus depois de alimentar-se de plantas
infectadas ou ervas nativas, transmitindo-o ao tomateiro (Fonte: Souza & Resende, 2003).
● Preparado com cebola (manejo de pulgões, lagartas e vaquinhas): Cortar 1kg de cebola e misturar em 10L
de água, deixando o preparado curtindo durante 10 dias. Utilizar 1L da mistura
em 3L de água para pulverizar as plantas, atuando como repelente.
● Preparado com losna (manejo de lagartas, lesmas, percevejos e pulgões): Diluir 30g de folhas
secas de losna em 1L de água, fervendo essa mistura durante 10 minutos.
Adicionar 10L de água ao preparado para pulverização.
●Preparado com cravo-de-defunto (manejo de pulgões, ácaros, algumas lagartas e nematoides): Misturar
1kg de folhas e talos de cravo-de-defunto (Tagetes
sp.) com ou sem flores em 10L de
água. Levar ao fogo, deixando ferver durante meia hora ou deixar os talos e
folhas picados em molho por 2 dias. Coar e pulverizar sem diluir. O
cravo-de-defunto em área infestada de nematoides é um repelente natural.
● Preparado com chuchu (manejo de lesmas e caracóis): Colocar dentro de latas rasas pedaços de
chuchu cortados ao meio, adicionando-se sal. A mistura é bastante atrativa para
essas pragas, possibilitando, depois, a eliminação mecânica.
● Preparado com camomila (manejo de doenças fúngicas): Misturar 50g de flores de camomila em 1L
de água. Deixar de molho durante 3 dias, agitando quatro vezes ao dia. Depois
de coar, pulverizar a mistura sem diluir, três vezes a cada 5 dias.
●Preparado com sálvia (manejo de lagartas da couve): Derramar 1L de água fervente sobre duas
colheres de sopa de folhas secas de sálvia. Tampar o recipiente e deixar em
infusão durante 10 minutos. Agitar bem, filtrar e pulverizar imediatamente
sobre as plantas visando à borboleta branca, que coloca os ovos nas folhas de
couve, originando as lagartas que comem as folhas.
● Preparado com samambaia (manejo de ácaros, cochonilhas e pulgões): Colocar 500g de folhas
frescas ou 100g de folhas secas em 1L de água. Ferver por meia hora. Para a
aplicação, diluir 1L desse macerado em 10L de água.
● Preparado com cinamomo (manejo de pulgões e cochonilhas): Colocar
500g de sementes maduras, secas e moídas numa mistura de 1L de álcool e 1L de
água. Deixar descansar por 4 dias. Depois de pronto o extrato, armazenar em
vidros ou em garrafas de cor escura. Diluir a solução do extrato a 10%, ou
seja, para cada litro de extrato usar 10L de água e aplicar nas partes atacadas
das plantas. O restante das sementes secas pode ser guardado em potes para uso
posterior. O cinamomo, ou árvore-santa (Melia
azedarach), é uma planta da mesma família do nim, cujas folhas e sementes
têm propriedades inseticidas (Fonte: Uso do... 2001).
●Preparado com coentro (manejo de ácaros e pulgões): Cozinhar folhas de coentro em 2L de água.
Para pulverizar sobre as plantas, acrescentar água. (Fonte: Zamberlan &
Froncheti, 1994).
Bibliografia
citada
ABREU JUNIOR, H. (Coord.). Práticas alternativas de controle de pragas
e doenças na agricultura: coletânea de receitas. Campinas, SP: Emopi, 1998. 112p.
DEFFUNE, G. Curso fundamental de revisão científica e prática em agroecologia,
agricultura orgânica e alelopatia aplicada. 2000. 27p.
PRIMAVESI, A. Manejo ecológico de pragas e doenças: técnicas alternativas para a
produção agropecuária e defesa do meio ambiente. São Paulo: Nobel, 1994. 137p.
SOUZA,J.L. DE; RESENDE, L. de S. E. Manual de horticultura orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, 2003 564p.
SOUZA,J.L. DE; RESENDE, L. de S. E. Manual de horticultura orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, 2003 564p.
USO do cinamomo como inseticida e relente. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 2, n.3, p.69, jul./set. 2001.
ZAMBERLAN, A.F.; FRONCHETI, A. Agricultura alternativa: um enfrentamento à agricultura química. Passo Fundo, RS:Ed. P. Berthier, 1994, 167p.