Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br; Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo7:
Adubação Orgânica
Autores: Ronessa B. de Souza e Flávia A. de Alcântara
O que são
fertilizantes orgânicos?
São fertilizantes (ou adubos) de natureza
orgânica, ou seja, obtidos de matérias-primas de origem animal ou vegetal,
sejam elas provenientes do meio rural, de áreas urbanas ou da agroindústria.
Os fertilizantes
orgânicos podem ou não ser enriquecidos com nutrientes de origem mineral (não
orgânica), podendo ser divididos em quatro tipos principais:
• Fertilizantes orgânicos simples.
• Fertilizantes orgânicos mistos.
• Fertilizantes orgânicos compostos.
• Fertilizantes organominerais.
O que é
cada um desses tipos de fertilizante orgânico ?
• Fertilizantes orgânicos simples:
fertilizante natural de origem animal ou vegetal. Exemplos: estercos animais,
torta de mamona, borra de café.
• Fertilizantes orgânicos
mistos: produto da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples.
Exemplo: cinzas (fonte principalmente de potássio (K)) + torta de mamona (fonte
principalmente de nitrogênio (N))
• Fertilizantes
orgânicos compostos: fertilizante não natural, ou seja, obtido por um processo
químico, físico, físico-químico ou bioquímico, sempre a partir de matéria-prima
orgânica, tanto vegetal como animal. Pode ser enriquecido com nutrientes de
origem mineral. Exemplos: composto orgânico, vermicomposto (húmus de minhoca),
lodo de esgoto.
• Fertilizantes
organominerais: não passam por nenhum processo específico, são simplesmente o produto
da mistura de fertilizantes orgânicos (simples ou compostos) com fertilizantes
minerais.
Existem
fertilizantes minerais de uso permitido na agricultura orgânica?
Sim. Somente os fertilizantes minerais de
origem natural e de baixa solubilidade são permitidos na agricultura orgânica,
como os fosfatos naturais, os calcários e os pós de rocha. Em situações específicas,
para uso restrito, uma vez constatada a necessidade de utilização do adubo e
com autorização da certificadora, podem ser utilizados os termofosfatos,
sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio de origem natural,
sulfato de magnésio, micronutrientes e guano (fosfatos de origem orgânica –
provenientes de excrementos de aves marinhas).
Pode-se
fazer calagem no sistema orgânico?
Sim.
A calagem é permitida e a quantidade de calcário a ser utilizada deve ser
calculada com base na análise química do solo.
Entretanto, a quantidade é geralmente
limitada a 2 t/ha/ano.
Como saber
que materiais são permitidos na adubação orgânica?
Os padrões internacionais que regem a
produção orgânica de alimentos estão agrupados na International Federation of
Organic Agriculture Movements (Ifoam) e podem ser consultados pela internet no
endereço <www.ifoam.org>. As normas brasileiras de produção orgânica
constam da Instrução Normativa no 7, de 17/5/991, em que estão listados os
materiais permitidos para uso na
adubação orgânica.
Existe
algum problema em usar estercos frescos?
Sim. Os estercos frescos podem conter
microrganismos causadores de doenças no homem. Não devem ser utilizados no cultivo
de hortaliças, pois podem contaminar as partes comestíveis das plantas. Esse
problema pode ser resolvido pelo curtimento, ou envelhecimento do esterco em
condições naturais, não controladas. Deve-se deixar o monte de esterco
“envelhecer” em local coberto ou protegido com plástico ou lona contra chuvas,
cujas águas lavam o esterco removendo os nutrientes. O tempo aproximado para
‘curtir’ é de 90 dias, dependendo das condições ambientais. O esterco curtido é
uma massa escura com aspecto gorduroso, odor agradável de terra e sem nenhum
mau cheiro.
O que é
composto orgânico?
Composto orgânico é o produto final da
decomposição aeróbia (na presença de ar) de resíduos vegetais e animais. A
compostagem permite a reciclagem desses resíduos e sua desinfecção contra
pragas, doenças, plantas espontâneas e compostos indesejáveis. O composto
orgânico atua como condicionador e melhorador das propriedades físicas,
físico-químicas e biológicas do solo, fornece nutrientes, favorece o rápido
enraizamento e aumenta a resistência das plantas.
Como é feito o composto orgânico?
O composto orgânico é feito com resíduos
vegetais, ricos em carbono (galhos, folhas, capim e outros), e resíduos animais,
ricos em nitrogênio (esterco bovino, de aves e de outros animais, cama de aviário de matrizes,
dentre outros). Quando se dispõe apenas de materiais pobres em N, como cascas de pínus, árvores velhas e capins,
estes devem ser alternados com camadas de resíduos de leguminosas.
A escolha da matéria-prima é importante
para maior eficiência da compostagem. A relação carbono/nitrogênio (C/N) inicial ótima (de
25–35:1) pode ser atingida com o uso de 75 % de restos vegetais variados e 25 %
de esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são dispostos em camadas
alternadas formando uma leira ou monte de dimensões e formatos variados.
O formato mais usual é o de seção
triangular, sendo a largura comandada pela altura da leira, a qual deve
situar-se entre 1,5 m e 1,8 m. À medida que a pilha vai sendo formada, cada
camada de material vai sendo umedecida com água, tomando-se o cuidado para que
não haja escorrimento. A pilha deve ser revirada (parte de cima para baixo e
parte de dentro para fora) aos 15, 30 e 45 dias. No momento das reviradas,
o material deve ser umedecido para que a umidade fique em torno de 50 % a 60 %
(na prática, atinge-se esse teor de umidade quando o material transmite a
sensação de úmido ao ser tocado com as mãos, e, ao ser comprimido, não deixa
escorrer água entre os dedos e forma um torrão que se desmancha com
facilidade).
Para manter a umidade ideal, a pilha deve
ser coberta com palhas, folhas de bananeira ou lona de plástico. O local deve
ser protegido do sol e da chuva (área coberta ou à sombra de uma árvore). Como
exemplo, pode-se citar o composto produzido na Unidade de Produção de
Hortaliças orgânicas da Embrapa Hortaliças:
• 15 carrinhos-de-mão de capim braquiária
roçado.
• 30 carrinhos de capim-napier.
• 20 carrinhos de cama de matriz de
aviário.
• 13 kg de termofosfato.
Formar camadas alternadas na seguinte
ordem: braquiária, napier, cama de matriz e termofosfato, montando uma meda de 1
m x 10 m x 1,5 m (largura x comprimento x altura) para obtenção de 2.500 kg de
composto orgânico após cerca de 90 dias.
Quais as
vantagens do composto orgânico em relação ao esterco curtido?
O composto orgânico é um produto
estabilizado e mais equilibrado, em cujo processo de produção ocorreram todas
as condições necessárias à eficiente fermentação aeróbica, dando-lhe qualidade
superior à do esterco curtido como condicionador ou melhorador do solo. Além
disso, é mais rico em nutrientes por constituir-se de resíduos vegetais e
animais e por ser, muitas vezes, enriquecido com resíduos agroindustriais e
adubos minerais.
Como saber
quando o composto orgânico está pronto?
O composto orgânico estará pronto para uso
quando apresentar as seguintes características:
• Temperaturas normalmente inferiores a 35 oC.
• Redução do volume para 1/3 do volume
inicial.
• Constituintes degradados fisicamente, não
sendo possível identificá-los.
• Permite que seja moldado facilmente com
as mãos.
• Cheiro de terra mofada, tolerável e até
mesmo agradável para alguns.
Como
enriquecer o composto orgânico?
O enriquecimento do composto orgânico pode
ser obtido com a adição, no momento de montagem da pilha, de fosfatos de reação
ácida como fosfatos naturais (6 kg m-3), calcário (25 kg t-1
a 50 kg t-1), torta de cacau (40 kg m-3) ou de mamona (20
kg m-3 a 30 kg m-3), borra de café (50 kg m-3),
cinzas, entre outros. O enriquecimento do composto orgânico deve ser feito de
acordo com as exigências da cultura e a necessidade do solo. Geralmente, o
enriquecimento com fósforo (P) só é recomendado nos 2 ou 3 anos iniciais de produção,
e sua continuidade por mais tempo depende da disponibilidade de fósforo no
solo.
O que é
biofertilizante?
É o material líquido resultante da
fermentação de estercos, enriquecido ou não com outros resíduos orgânicos e
nutrientes, em água. O processo de fermentação pode ser aeróbico (na presença
de ar) ou anaeróbico (na ausência de ar). Os biofertilizantes podem ser aplicados
via foliar, diluídos em água na proporção de 2 % a 5 %, ou no solo, via
gotejamento. A forma como o biofertilizante atua nas plantas ainda não é
completamente esclarecida e merece ser melhor estudada. Apresenta efeitos
nutricionais (fornecimento de micronutrientes) e fitossanitários, atuando
diretamente no controle de alguns fitoparasitas por meio de substâncias com
ação fungicida, bactericida ou inseticida presentes em sua composição. Parece
atuar equilibrando e tonificando o metabolismo da planta, tornando-a mais
resistente ao ataque de pragas e doenças. Entre os biofertilizantes mais
conhecidos destacam-se:
• Supermagro.
• Agrobio.
• Biofertilizante líquido (Vairo).
Como
surgiram os biofertilizantes Vairo, Supermagro e Agrobio?
O
biofertilizante Vairo é o efluente pastoso resultante da fermentação anaeróbia
da matéria orgânica em biodigestor. O
biodigestor é uma invenção secular, originária da Ásia, cujo objetivo primário
era o saneamento de dejetos humanos e animais, e o secundário, a produção de
gás metano, fonte alternativa de energia de baixo custo no meio rural.
No Brasil, o uso do efluente líquido de
biodigestores como fertilizante teve início na década de 1980 por
extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do
Rio de Janeiro (Emater/Rio), principalmente pelo engenheiro agrônomo Antônio
Carlos Vairo dos Santos. Esse biofertilizante é obtido a partir da fermentação,
em sistema fechado (ausência de ar), do esterco fresco de gado ruminante, de
preferência gado leiteiro.O Supermagro é uma variante do biofertilizante Vairo.
Foi elaborado pelo Delvino Magro, fruticultor, técnico agrícola e secretário da
Agricultura do Município de Ipê, Rio Grande do Sul. O Supermagro foi utilizado
por ele por mais de 20 anos para o controle de doenças e pragas de fruteiras
temperadas, especialmente maçã, no Sul do Brasil. É a formulação mais difundida
atualmente, na qual são misturados ingredientes orgânicos e minerais, basicamente
micronutrientes, todos submetidos à fermentação anaeróbica.
Outra formulação bastante conhecida é o
Agrobio, elaborado por pesquisadores da Estação xperimental de Itaguaí, da Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro), desde 1997, e de composição
semelhante ao Supermagro. É constituído igualmente de uma mistura de materiais
orgânicos e minerais fermentados erobicamente
por 8 semanas.
Como
preparar um biofertilizante na propriedade?
Não há uma fórmula padrão para a produção
de biofertilizante. Apresenta-se, a seguir, uma receita básica de
biofertilizante líquido, na qual podem ser feitas variações:
Em uma bombona de
plástico, colocam-se volumes iguais de esterco fresco e água, deixando um espaço
vazio de 15 cm a 20 cm. Essa bombona deve ser fechada hermeticamente, adaptando-se
uma mangueira fina de plástico em sua tampa. Uma extremidade da mangueira fica
no espaço vazio da bombona e a outra deve ser imersa em um recipiente com água
para permitir a saída do gás metano e impedir a entrada de ar (oxigênio). O
final do processo, que dura de 30 a 40 dias, coincide com a cessação do
borbulhamento observado no recipiente d’água, quando a solução deve ter
atingido pH próximo de 7,0.
Para separação da parte ainda sólida, o
material deve ser coado em peneira e filtrado em um pano ou tela bem fina.
Geralmente é utilizado diluído em água em concentrações variáveis de acordo com
os diferentes usos e aplicações. É recomendado em dosagens mais elevadas de até
30 % do que as do Supermagro ou do Agrobio. Esse biofertilizante tem múltiplas
finalidades, desde o controle de determinados fitopatógenos até a promoção de
florescimento e enraizamento de algumas plantas cultivadas.
O que são
os compostos de farelos ou bokashis?
São compostos orgânicos produzidos a
partir da mistura de argilas com farelos de cereais (arroz, trigo), torta de
oleaginosas (soja, mamona), farinha de osso, farinha de peixe e outros
resíduos.
Essa mistura é inoculada
com microrganismos e submetida à fermentação aeróbica ou anaeróbica. O
inoculante microbiano pode ser terra de mata (bosque natural), soja fermentada,
microrganismos capturados da natureza
por meio de arroz cozido ou inoculantes comerciais como o EM® (microrganismos
eficazes). Sua composição deve ser ajustada de acordo com os ingredientes
disponíveis e as necessidades nutricionais das culturas. Por utilizar
matérias-primas nobres, de uso freqüente na alimentação animal, o bokashi é um fertilizante
relativamente caro e rico em nutrientes, especialmente N, P e K.
Existem diferentes formulações com duração
variável de 3 a 21 dias para obtenção do composto. Durante o processo
fermentativo aeróbio, a umidade deve permanecer em torno de 50 % a 60 % e a
temperatura em torno de 50 oC. Na maioria das formulações, a movimentação da
mistura é feita diariamente, uma vez que a temperatura eleva-se com facilidade
por causa das boas características físicas (partículas pequenas) e químicas
(riqueza em nutrientes) da matéria-prima.
O final do processo caracteriza-se pela
queda de temperatura. O composto de farelos mais conhecido é o Nutri Bokashi,
produzido pela Kórin, empresa criada em 1995 pela Fundação Mokiti Okada, que
utiliza os microrganismos eficazes (EM®) como inoculante.
O que são
EM®?
São preparados microbianos denominados
“microrganismos eficazes” que servem como inoculante. Sua composição não é fornecida
pelo fabricante (Fundação Mokiti Okada) e é apresentado como um preparado
líquido que contém diversos tipos de microrganismos selecionados para
desempenhar funções desejáveis com eficácia nas mais diversas situações. Os EM®
são utilizados na produção do composto de farelos, na composição de rações, na água
de bebida dos animais e em outros processos.
Deve-se
proceder à análise de solo para fazer adubação orgânica?
Sim. A análise química periódica é a única
maneira de se conhecer a fertilidade do solo, ou seja, de saber se o solo está ácido
ou não, e se os teores de macro e micronutrientes e de matéria orgânica estão
adequados. É a partir dos resultados da análise química que se pode saber se há
ou não necessidade de calagem, que
nutrientes estão em falta e quanto se deve aplicar de fertilizantes para aquela
determinada cultura.
Que tipo
de análise deve ser solicitada ao laboratório?
Deve-se solicitar a análise de rotina, que
geralmente consiste das determinações de pH, cálcio (Ca), magnésio (Mg),
potássio (K), fósforo (P), alumínio (Al), acidez potencial (H+Al) e matéria
orgânica. Havendo interesse específico de acordo com a exigência nutricional da
cultura e sendo economicamente viável
para o produtor, recomenda-se solicitar também a análise do enxofre (S) e de
micronutrientes.
A textura não é uma característica química
do solo, mas deve ser determinada em laboratório na primeira vez que se amostra
a área. Seu conhecimento ajuda a entender o comportamento de certos nutrientes
no solo e a determinar com maior precisão a necessidade de fornecimento destes.
Nas amostragens posteriores do solo da mesma área não é necessário repetir a
análise de textura, por ser uma característica física do solo que praticamente
não sofre modificações. Em geral, os laboratórios de fertilidade do solo também
fazem a determinação de textura.
Como
calcular a quantidade de adubos a ser utilizada?
Esse assunto ainda precisa ser melhor
estudado, pois em olericultura orgânica o enfoque das adubações deve basear-se
não apenas no aspecto químico da fertilidade do solo, mas também nos
componentes físicos,
físico-químicos e biológicos do solo, levando em consideração inclusive os
efeitos de médio e longo prazos do manejo da matéria orgânica. O cálculo da
adubação para o plantio deve basear-se na análise química do solo, na
composição química do adubo e na exigência da cultura.
Em geral, as recomendações de material
orgânico situam-se entre 10 t ha-1 e 50 t ha-1 de
composto orgânico ou esterco curtido. Essas doses devem ser ajustadas de acordo
com a cultura, com a qualidade do material, com as características químicas do
solo que se vai cultivar, com a cultura antecessora e com o histórico de manejo
orgânico. Como o sistema de manejo intensivo utilizado na produção de
hortaliças tende a favorecer a elevação dos teores de nutrientes no solo com o
decorrer do tempo, é importante considerar o efeito residual da adubação
orgânica a fim de evitar desequilíbrios nutricionais.
É possível
ter um exemplo do cálculo da quantidade de adubos?
Como exemplo,
considere-se o plantio de 1 ha de cebola pelos critérios de interpretação e recomendação
da agricultura convencional, cuja análise de solo indicasse a necessidade de
120 kg de N, 180 kg de K2O, 300 kg de P2O5. Na
propriedade em questão, tem-se disponível o esterco bovino, cinzas e fosfato
natural, cujas características estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Teores de nitrogênio, fósforo e potássio (% na matéria seca –
MS e fatores de conversão (fc) de alguns fertilizantes.
Fertilizante Nitrogênio
Fósforo Potássio
%
MS fc % MS fc % MS
fc
Esterco bovino 5 20 2,5 40 5 20
Fosfato natural - - 30 3,3 - -
Cinzas - - 2,5 40 10 10
fc= 100% MS
Fonte: Souza e Resende2
2 SOUZA, J. L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. Viçosa,
MG: Aprenda Fácil, 2003. 564 p.
Nesse caso, como fonte de N tem-se apenas
o esterco bovino. Assim, para suprir todo o N recomendado (120 kg de N), a quantidade
de esterco necessária será:
N = quantidade de N recomendada pela
análise de solo x fc para N = 120 x 20 = 2.400 kg ha-1 de esterco
bovino que fornece também:
P = kg ha-1 de esterco bovino: fc para P =
2.400/40 = 60 kg ha-1;
K = kg ha-1 de esterco bovino: fc para K =
2.400/20 = 120 kg ha-1.
Para completar o K, usam-se cinzas como
adubo:
K = (quantidade recomendada de K - K
fornecido pelo esterco bovino) x fc para K = (180-120) x 10 = 600 kg ha-1
de cinzas que fornecem também:
P = kg ha-1 de cinzas : fc para
P = 600/40 = 15 kg ha-1.
Para completar o P, usa-se o fosfato natural:
P = (quantidade recomendada de P - P
fornecido pelo esterco bovino - P fornecido pelas cinzas) x fc para P =
(300-60-15) x 3,3 = 742 kg ha-1 de fosfato natural.
Portanto,
para atender as recomendações indicadas pela análise de solo para o plantio de
1 ha de cebola deve-se aplicar 2.400 kg de esterco bovino, 600 kg de cinzas e
742 kg de fosfato natural.
Esses cálculos levam em consideração
apenas a constituição química dos adubos, porém os aspectos físico e biológico
do solo e o efeito residual das adubações, muito importantes nos sistemas de produção
orgânicos, não são considerados. Portanto, as quantidades recomendadas no
exemplo devem ser ajustadas de acordo com a situação específica
(características climáticas, de solo e histórico
de manejo de cada local) do sistema de produção.
O que
fazer para corrigir uma eventual deficiência no meio do ciclo da cultura?
Sistemas orgânicos efetivamente
equilibrados e sustentáveis não devem apresentar deficiências minerais.
Contudo, falhas na escolha das culturas, no manejo ou na própria concepção do sistema,
especialmente na fase de transição para o sistema orgânico, podem propiciar o
aparecimento de deficiências. Nesse caso, a correção pode ser feita por meio de
aplicações de biofertilizantes, cuja formulação pode ser ajustada de acordo com
a necessidade das culturas. Pode-se preparar diferentes formulações de biofertilizantes
enriquecidos com os diversos macro e micronutrientes.
O que
fazer para corrigir a toxidez?
Situações de toxidez são raras em sistemas
orgânicos. Em solos de baixa fertilidade, como os latossolos da região do
Cerrado, no(s) primeiro(s) ano(s) de cultivo, é possível ocorrer toxidez de magnésio
(Mn) e/ou de ferro (Fe). Nesse caso, a correção se faz com a calagem calculada
de acordo com a análise de solo e na quantidade permitida para sistemas
orgânicos. Por causa de seu alto poder tampão, a adição de matéria orgânica ao
solo ajuda a corrigir problemas de excessos e deficiências de nutrientes, especialmente
de micronutrientes, com muitos dos quais forma quelatos, regulando a
disponibilidade para as plantas.
Quais as
principais fontes de nitrogênio permitidas na produção orgânica?
Estercos puros de animais diversos, cama e
urina de animais, espécies leguminosas de adubos verdes (mucunas, crotalárias, guandu,
feijão-de-porco, feijão-bravo-do-ceará, etc.), resíduos agroindustriais como
torta de oleaginosas (mamona, algodão, soja) e de cacau, palhadas e resíduos de
culturas leguminosas como soja e feijão, farinha de sangue, farinha de peixe,
composto orgânico,
biofertilizantes, bokashis, entre outros.
Quais as
principais fontes de potássio, fósforo e micronutrientes permitidas para uso na
produção orgânica?
As
principais fontes são:
• Para potássio: cinzas, cascas de café,
pós de rochas silicatadas com altos teores de potássio, talos de banana, entre
outros.
• Para fósforo: fosfatos naturais e farinha
de ossos.
• Para micronutrientes: alguns pós de
rocha, estercos, fontes minerais permitidas (óxido de cobre e outros utilizados
nos biofertilizantes).
De acordo com a Instrução Normativa no 7,
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, podem ser utilizados
sulfato de potássio e sulfato duplo de potássio e magnésio (de origem mineral
natural), termofosfatos, sulfato de magnésio, ácido bórico (quando não
utilizado diretamente sobre as plantas e o solo) e carbonatos (como fonte de
micronutrientes). Entretanto, esses produtos só podem ser empregados se a
necessidade de utilização for indicada pela análise e se esses fertilizantes estiverem livres de substâncias tóxicas. Além
disso, a permissão para utilização depende também das normas da certificadora.