sábado, 28 de setembro de 2013




   




  Em vez de arar, gradear e revolver bem a terra, apenas plantar deixando os restos da cultura anterior sobre o solo. A proposta é exatamente inversa ao preparo convencional: manter o solo intacto e protegido por uma generosa camada de palha. Essa mudança de atitude, que no início pareceu um tanto estranha para os agricultores acostumados movimentar a terra antes de plantar, se espalhou pelas lavouras em Santa Catarina e Brasil afora. E a expansão tem um bom motivo: se antes estavam desconfiados, agora os agricultores veem na prática que é possível melhorar a rentabilidade e, ao mesmo tempo, conservar a terra. 

     Nesse sistema, a semente ou a muda é colocada diretamente no solo não revolvido, sem preparo prévio, usando máquinas especiais. “É aberto apenas um pequeno sulco ou uma cova com profundidade e largura suficientes para garantir o contato da semente ou muda com o solo. Não mais de 25% a 30% da superfície são preparados”, explica o engenheiro-agrônomo Milton da Veiga, da Epagri/Estação Experimental de Campos Novos. 


     Há duas formas principais de fazer o plantio direto. Na mais comum, as semeadoras-adubadoras são adaptadas com discos para cortar a palhada e um dispositivo para sulcar o solo e, dessa forma, efetuam a adubação de base e o plantio numa só operação. Também é comum, em pequenas áreas, o plantio direto com plantadora-adubadora manual adaptada com bico fino. De qualquer forma, a faixa de terra entre as linhas de plantio fica coberta com a vegetação dessecada.

Sem erosão

     Essa camada de restos de plantas tem diversas vantagens. A principal é proteger o solo da erosão, impedindo o carregamento de terra e nutrientes para fora da lavoura. “Ela forma uma barreira que protege o solo do impacto das gotas de chuva, facilita a infiltração da água e reduz o escoamento superficial”, explica Milton. 

     A cobertura é capaz de reduzir as perdas de solo provocadas pela erosão em mais de 90% em relação ao preparo convencional. Esse benefício vai além das propriedades agrícolas e evita uma série de problemas ecológicos. A água da chuva escorre para fora das lavouras em menor quantidade e é mais limpa, o que reduz a poluição e o assoreamento dos rios.


Mais água

     Se chove pouco, o plantio direto também é vantajoso, pois a camada de palha diminui a evaporação da umidade e melhora a capacidade do solo de armazenar água. Em relação ao sistema convencional, a perda de água é pelo menos 70% menor. “Essa situação reduz os impactos que os períodos de estiagem causam às plantas, além de permitir melhor germinação e emergência mais uniforme das sementes”, detalha o agrônomo.

     Com mais água no solo, o período para plantar aumenta: é possível fazer a semeadura de 6 a 12 dias após uma chuva, enquanto no sistema convencional o prazo é de 3 a 6 dias. “O agricultor tem mais flexibilidade para implantar a lavoura na época mais propícia ou ampliar o período de efetivo plantio e, com isso, cultivar uma área maior com os recursos que tiver disponíveis”, diz Milton.


Solo fértil

     As culturas encontram um ambiente muito mais favorável para se desenvolver. Os resíduos vegetais são capazes de aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo em cerca de 500kg por hectare a cada ano. Esse material se decompõe lentamente, melhorando o processo de reciclagem dos nutrientes e mantendo alto o nível de atividade biológica do solo. No longo prazo, a fertilidade aumenta.


     Para o agricultor, isso permite, safra após safra, economizar em corretivos e fertilizantes, já que também não é mais preciso compensar as perdas de nutrientes por erosão. A economia de adubo fosfatado, por exemplo, pode chegar a 50%. “Diagnósticos da fertilidade do solo realizados em todo o Estado têm mostrado que as características químicas são melhores nas regiões onde o plantio direto é adotado com mais intensidade, principalmente no que diz respeito ao percentual de amostras com maiores teores de matéria orgânica, fósforo e potássio”, revela Milton.

Evolução

     A história do plantio direto já tem seis décadas. Foi nos Estados Unidos e no Canadá que surgiram os primeiros estudos sobre formas de preparo do solo que reduzissem a erosão. No iní-cio, a dificuldade para controlar plantas invasoras prejudicou a evolução das técnicas. Mas nas décadas seguintes, o desenvolvimento de herbicidas e máquinas que permitiam plantar com a presença dos resíduos vegetais tornaram os sistemas conservacionistas mais promissores, e o interesse por eles se difundiu pelo mundo.

     No Brasil, no início da adoção do plantio direto, os custos de produção eram superiores aos do sistema convencional. Isso porque os gastos com herbicidas para dessecar as plantas daninhas ou de cobertura ainda não eram compensados pela redução de custos no preparo do solo. Além disso, a ausência de informações técnicas e a falta de equipamentos adequados levaram a uma baixa adoção nas décadas de 1970 e 1980. Também era difícil para os agricultores mudar completamente a forma de cuidar do solo.

    Na década seguinte, a área cultivada cresceu exponencialmente. Com semeadoras adaptadas e herbicidas mais baratos, a expansão começou no Sul e se espalhou pelas demais regiões. “O desenvolvimento tecnológico do sistema e a capacitação de técnicos e produtores aliados aos menores custos de condução da lavoura e à falta de recursos para financiamentos foram decisivos para a expansão”, conta Milton da Veiga.

     Em Santa Catarina, o maior impulso aconteceu entre 1995 e 1999, quando a Epagri desenvolveu o Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas (Microbacias), cuja ênfase foi a adoção de práticas de manejo conservacionista do solo. Desde aquela época, a Empresa e seus parceiros desenvolvem e difundem o plantio direto no Estado, principalmente junto aos agricultores familiares, o que contribuiu para expandir rapidamente a área de adoção. Entre 1993/94 e 1998/99, a área manejada dessa forma cresceu quase 48% ao ano, saltando de 120 mil hectares para cerca de 880 mil hectares.


Menos trabalho

     A cada safra, o sistema foi se tornando mais vantajoso para os agricultores. Como no plantio direto as operações de preparo do solo não são realizadas, o custo de produção e o trabalho nas lavouras são reduzidos. “Há economia de tempo, mão de obra, combustíveis e uso de máquinas tanto na implantação quanto na condução da lavoura”, diz Milton da Veiga, que estima uma redução de aproximadamente 40 L/ha/ano no consumo de óleo diesel em relação ao manejo convencional. 

    Facilitando o trabalho, a tecnologia humanizou as tarefas agrícolas e melhorou a autoestima dos agricultores. Além disso, permitiu às famílias cultivar áreas maiores e até iniciar outras atividades, como implantar pastagens em áreas menos aptas para o cultivo de grãos. “Isso se refletiu sobre a redução do êxodo do campo para as cidades e das cidades menores para as maiores”, avalia o pesquisador. A redução da mão de obra é uma das transformações mais visíveis nas lavouras de soja, milho, feijão e trigo que Tania Manfrói Cassiano cultiva com o pai e os irmãos em Campos Novos, SC. “O plantio direto permitiu aumentar nossa área de produção com o mesmo maquinário e a mesma mão de obra”, destaca a produtora. 

     Já faz 12 anos que eles praticam o plantio direto. “No início foi difícil por causa do maquinário, que não era adaptado, mas a gente foi conseguindo aos poucos”, conta. Agora, com o sistema consolidado, Tania colhe os resultados. “Melhorou tudo: a qualidade física do solo, a umidade, a fertilidade e o controle de plantas invasoras”, explica. Com tantos benefícios, a produtividade também cresceu. Se antes a lavoura de soja dava 40 a 44 sacas de soja por hectare, agora são 52 a 54 sacas na mesma área.

Economia 

     O sistema de plantio direto já ocupa mais de 1 milhão de hectares das lavouras utilizadas para a produção de grãos em Santa Catarina. Esse manejo é praticado em cerca de 100% da área cultivada com soja, 90% da área com trigo e 80% da área com milho e feijão no Estado. O benefício alcança agricultores com qualquer escala de produção e atinge os maiores índices de adoção entre o Planalto e o Extremo Oeste. No Brasil, segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP), a área manejada com plantio direto em 2012/13 ultrapassou 35 milhões de hectares. 

     De acordo com cálculos da Epagri, o sistema gera uma economia média de R$390,00 para cada hectare plantado com grãos em Santa Catarina. Considerando toda a área de adoção do Sistema de Plantio Direto de Grãos (SPDG) no Estado, a economia em horas-máquina foi de R$72 milhões no ano agrícola 2011/12. 

     Além de reduzir o custo de produção, a substituição do preparo convencional do solo pelo plantio direto elevou a produtividade em diversas culturas. Nas lavouras catarinenses de grãos que adotaram a tecnologia, estima-se um crescimento médio de aproximadamente 10% no rendimento. Na safra de 2010/11, isso significou um acréscimo de R$247 milhões na renda bruta da produção de grãos do Estado. 

     Outro benefício econômico é a estabilidade da produção. “A necessidade de replantio é menor, assim como a variação anual nos índices de produtividade das culturas. Esses aspectos são fundamentais para manter a sustentabilidade econômica nas propriedades”, aponta o pesquisador Milton da Veiga. 



Implantação 

     O sistema é adequado para grandes e pequenas lavouras. Mas para ter bons resultados, é preciso contar com implementos apropriados, herbicidas de baixo custo e baixa toxicidade, além de conhecimento técnico sobre a adequação do plantio direto para a propriedade. Não há um desembolso efetivo para implantar o sistema, pois todas as semeadeiras disponíveis no mercado são adaptadas ao plantio direto. “Se o agricultor tem a semeadeira adequada, a margem de lucro líquido é maior do que no manejo convencional desde o primeiro ano em função da redução do custo com combustível e do aumento da produtividade das culturas”, explica Milton. 

     Mas antes de implantar o sistema, é preciso tomar alguns cuidados. O solo não pode ser úmido ou mal drenado, a não ser para culturas específicas, como o arroz. Solos ácidos devem ser corrigidos com calcário e deve-se assegurar que haja nutrientes suficientes para o desenvolvimento das plantas. Além disso, as espécies daninhas precisam ser controladas. 

     A cobertura do solo por resíduos vegetais deve ser de, no mínimo, 60% da superfície. Para isso, são necessárias 3 a 4 toneladas de massa seca por hectare. “A camada adequada pode ser obtida pela rotação de culturas apropriadas e pela adubação verde de inverno com espécies produtoras de massa vegetal abundante”, explica Milton. 

     Culturas como o milho produzem grande quantidade de resíduos, que podem ser acamados com rolo-faca, roçadeira ou grade. “No caso de culturas que produzem pouco ou nenhum resíduo, como feijão e cebola, deve-se escolher como cobertura de inverno uma espécie com maior persistência da palha, característica apresentada pelas gramíneas, como aveia-preta, centeio, triticale e azevém”, recomenda. 



Plantas do bem 

     Os adubos verdes são verdadeiros guardiões do solo, pois “preparam o terreno” para que as culturas conduzidas na sequência tenham desempenho melhor. Essas plantas protegem o solo contra chuvas fortes, o sol e o vento durante a entressafra e fornecem um grande aporte de massa vegetal capaz de elevar o teor de matéria orgânica ao longo dos anos. Além disso, ajudam a reduzir a população de plantas daninhas. 

     O sistema radicular bem desenvolvido de muitas espécies traz os nutrientes das camadas profundas para a superfície do solo – eles se acumulam na palhada e tornam-se novamente disponíveis para as culturas comerciais. As raízes ainda rompem camadas adensadas, promovendo a aeração e estruturação do solo. 

     As espécies leguminosas também têm a capacidade de fixar o nitrogênio do ar em sua fitomassa, o que pode representar uma economia importante na adubação das culturas e melhorar o balanço desse nutriente no solo. A quantidade de nitrogênio fixado pode chegar a 200kg/ha/ano no caso da ervilhaca, por exemplo. 

   Os adubos verdes podem ser implantados no período de primavera-verão, usando leguminosas como mucuna, guandu e crotalária; no outono-inverno, com aveia-preta, ervilhaca e nabo--forrageiro; na entrelinha das culturas comerciais, como no caso da mucuna intercalar-se ao milho, ou de forma perene, para recuperar áreas degradadas ou que não estejam em cultivo. Espécies como guandu, leucena e tefrósia, que têm raízes profundas e produzem bastante massa vegetal, ajudam a recuperar o solo e ainda podem alimentar os animais. 

     Antes do plantio das culturas comerciais, os adubos verdes podem ser cortados com rolo-faca, roçadeira ou grade fechada, ou ainda dessecados com herbicidas, cujo uso deve ser evitado sempre que for possível. Quando a palhada tem crescimento ereto, como no caso da aveia e do azevém, o plantio pode ser feito sem acamamento.

Melhor solução

     O agricultor e engenheiro-agrônomo Hilário Daniel Cassiano, de 65 anos, conheceu o sistema de plantio direto no Paraná ainda na década de 1980 e começou a adaptar a tecnologia na própria fazenda, em Campos Novos. “Trabalhávamos com o preparo convencional e, em 1983, perdemos metade da produção com uma enxurrada. Aí surgiu a ideia de iniciar o plantio direto. No Paraná o sistema tinha bons resultados e a gente tinha certeza de que essa era a solução”, lembra.

     E era mesmo. Décadas depois da mudança, praticamente não há erosão nas lavouras. O controle de plantas daninhas ficou muito mais eficiente e a fertilidade do solo melhorou: aumentou o teor de fósforo, potássio e matéria orgânica. “Agora o solo segura mais a umidade. No ano passado tivemos uma estiagem grande após o plantio de soja, com 60 dias sem chuva e, mesmo assim, colhemos 54 sacas por hectare”, conta.

     Todos esses benefícios se refletem na hora da colheita. Hoje a produção de milho varia entre 150 e 160 sacas por hectare, a de soja alcança mais de 50 sacas e a de trigo chega a 60 sacas. Além disso, o custo de produção caiu em pelo menos 30%, e a área de cultivo, que era de 200ha, dobrou. “Essa é a melhor tecnologia que já surgiu para os produtores rurais, para manter as famílias do campo na atividade”, conclui o produtor.




Menos CO2 na atmosfera

     O plantio direto contribui para reduzir o efeito estufa. Com menos gastos de combustíveis no maquinário, as emissões de CO2 diminuem. E o aumento no teor de matéria orgânica do solo promove o sequestro de carbono. Por isso, o sistema é uma das práticas financiadas pelo programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), do Governo Federal. De acordo com Caio Rocha, secretário de desenvolvimento agropecuário e cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o uso da técnica nas lavouras tem se ampliado a partir das condições facilitadas de crédito oferecidas pelo programa. “É fundamental o fomento dessa prática nos campos brasileiros porque, além de ganhos produtivos, há os ambientais: em apenas uma década, esse sistema pode reduzir a emissão de CO2 equivalentes a até 20 milhões de toneladas”, explica.

     

Boa colheita com as hortaliças

     O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), desenvolvido pela Epagri com apoio de instituições parceiras, é um caminho que muitos olericultores vêm adotando para produzir alimentos de forma mais barata e com menos insumos químicos. Apenas em 2012, o SPDH proporcionou uma economia de R$7 milhões para os produtores catarinenses nos cultivos de tomate, cebola, chuchu e mandioquinha-salsa.

     As pesquisas iniciaram em 1998 e, três anos depois, as primeiras lavouras de estudo foram implantadas. “O objetivo era buscar uma forma de transição da agricultura convencional para um sistema sustentável que produzisse alimentos limpos e diminuísse os impactos ambientais e o custo de produção”, diz o extensionista Jamil Abdalla Fayad, da Epagri/Gerência Regional de Florianópolis.

     O SPDH é baseado em fundamentos como rotação de culturas, revolvimento do solo restrito à linha de plantio, manutenção de resíduos vegetais no solo, produção de biomassa superior a 10t/ha, redução até a eliminação do uso de agrotóxicos e adubos altamente solúveis, promoção da saúde e do conforto da planta e evolução do plantio direto na palha para o plantio direto no verde. 

     As tecnologias são geradas e adaptadas nas estações experimentais da Epagri e em lavouras de estudos instaladas nas propriedades. Esse conhecimento vem sendo disseminado em Santa Catarina há 16 anos por meio de cursos, dias de campo, palestras e visitas a técnicos e agricultores.

     Na cadeia produtiva do tomate, o sistema já ajudou a reduzir 70% do uso do trator, 60% do uso de fungicida, 100% do uso de herbicida e 60% do uso de adubos químicos. Estima-se que os impactos diretos e indiretos tenham atingido pelo menos 30% da área cultivada com tomate no Estado, reduzindo o custo de produção de R$12 para R$8 por caixa. 

     No cultivo de cebola houve diminuição em mais de 70% do trabalho com trator, 60% do uso de adubo químico e mais de 40% de fungicidas. Além disso, o tempo de armazenagem do bulbo aumentou em cerca de 60 dias. De acordo com estimativas da Epagri, os impactos desse sistema atingem mais de 25% da área cultivada com cebola no Estado, fazendo o custo do quilo cair de R$0,39 para R$0,24.


Ferreira On 9/28/2013 05:00:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Artigo científico publicado na Revista Agropecuária Catarinense  (RAC, v.24, n.2, jul. 2011)

Autor:  Eloi Erhard Scherer  -  Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638, e-mail: escherer@epagri.sc.gov.br

Resumo – Em um experimento conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, SC, foram avaliadas diferentes fontes de adubo nas culturas de milho e feijão em cultivo orgânico. Os adubos orgânicos foram aplicados a lanço, na superfície do solo, no dia da implantação das culturas de feijão e milho, em sistema de rotação e semeadura direta. Os adubos sólidos (esterco de aves, esterco de suínos com cama sobreposta, composto orgânico de esterco de suínos e composto orgânico de esterco de bovinos) foram aplicados nas doses de 5t/ha e 10t/ha (base seca) e o adubo líquido (esterco de suínos) nas doses de 30 e 60m3 /ha para feijão e milho, respectivamente. O experimento foi conduzido no delineamento de blocos casualizados com seis repetições. A aplicação de adubos orgânicos aumentou a produção de grãos de feijão e de milho em todos os anos, atingindo aumento médio de 413kg/ha (30%) de feijão e 2.350kg/ha (54%) de milho em relação à testemunha. Os estercos sólidos e compostos orgânicos apresentaram melhor desempenho na produção de feijão, e o esterco líquido de suínos na produção de milho.

Termos para indexação: Zea mays, Phaseolus vulgaris, adubação orgânica, produção de grãos.

Effects of organic manure and compost sources on corn and common bean production in organic farming system under no-till management

Abstract – Organic agriculture in no-till system requires a new set of producer skills especially in the area of soil fertility and fertilizer use. In a field experiment in organic system in Chapecó, SC, Southern Brazil, the effect of different organic fertilizers (poultry dry litter, swine deep litter, swine composted manure, cattle composted manure and liquid swine manure) on the corn and common been yields was investigated. The organic fertilizers were scattered on the soil surface in the no-till system on the day of the sowing of common bean and corn. The solid manure was applied at 5 and 10t/ha, dry weight, and the liquid manure at 30 and 60m3 /ha for common beans and corn, respectively. A completely randomized block experimental design with six replications was used. The utilization of solid and liquid organic manure increased the grain yield of both cultures in all six years. Common beans and corn grain average yield with organic fertilizers use was 30% and 54% greater than yield without fertilizer, respectively. Solid swine manure and organic compost had a better performance on common bean grain yield, and liquid swine manure on corn yield.

Index terms: Zea mays, Phaseolus vulgaris, grain yields, organic manure.







Introdução
     A agricultura orgânica é um sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos ou minerais de alta solubilidade e agrotóxicos, tendo como princípio produzir em harmonia com a natureza, mantendo o equilíbrio biológico do sistema produtivo por meio da ciclagem de nutrientes e aplicação de matéria orgânica de origem vegetal e animal (Rusch, 2004).
     A agricultura orgânica é, atualmente, uma das alternativas usadas para agregar valor aos produtos cultivados em propriedades familiares (Cruz et al., 2006). Esse sistema de produção se aplica muito bem às pequenas propriedades rurais da Região Oeste de Santa Catarina, que se caracterizam pela utilização de sistemas diversificados de produção, englobando produção animal e vegetal (Testa et al., 1996; LAC, 2004). Essa integração entre a produção vegetal e a animal é fundamental para o desenvolvimento sustentável da agricultura orgânica, pois sua complementaridade permite, entre outras coisas, a diversificação de atividades, a ciclagem de nutrientes na própria unidade de produção e a redução na dependência de insumos externos (Scherer, 1998).
     O adubo orgânico mais utilizado é o esterco, que é formado por excrementos sólidos e líquidos dos animais e, em alguns sistemas, está misturado com restos vegetais utilizados como cama. Os estercos são considerados excelentes adubos, pois apresentam em sua composição praticamente todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento vegetal (Kiehl, 1985).
     Além da sua utilização direta como fonte de nutrientes, o esterco constitui um dos componentes básicos para a produção de compostos orgânicos (Kiehl, 2004), que são considerados insumos fundamentais para o desenvolvimento de uma agricultura orgânica dentro dos conceitos agroecológicos estabelecidos (Rusch, 2004).
     Em função da grande quantidade de esterco líquido de suínos disponível em algumas propriedades rurais da Região Oeste de Santa Catarina e da dificuldade de sua utilização integral na agricultura, surgiu a necessidade de se pesquisar novos sistemas de manejo para que se dê adequado destino a ele (Oliveira, 2004). Isso fez com que a produção de compostos orgânicos em plataformas semiautomatizadas ou no sistema de cama sobreposta (compostagem in situ) ganhasse impulso na Região (Oliveira, 2004). A transformação dos resíduos em insumos agrícolas de baixo risco ambiental exige a adoção de adequados processos de manejo, tratamento, armazenamento e utilização (Konzen et al., 1998).
     O milho e o feijão são duas das principais culturas cultivadas em muitas das propriedades familiares com produção animal e disponibilidade de esterco para ciclagem na agricultura (LAC, 2004). Ambas as culturas são utilizadas na alimentação humana e o milho é, também, importante componente de rações para diversos animais (Testa et al., 1996).
     Considerando que o sistema plantio direto já está consolidado em praticamente todas as regiões do Estado, há necessidade de se realizarem estudos com o uso de adubos orgânicos nesse sistema de cultivo, em que eles são aplicados sobre os resíduos culturais das espécies que antecedem cada cultivo. O aprimoramento do cultivo orgânico dessas culturas contribuirá para o desenvolvimento da cadeia de produção de alimentos orgânicos, uma tendência mundial e que se observa também no Brasil.
     O objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficiência de fontes de esterco e composto orgânico na produção de milho e feijão no sistema orgânico com semeadura direta e rotação de culturas.

Material e métodos
     O experimento foi conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, SC, no sistema orgânico sob plantio direto. Quando da instalação do experimento, a área se encontrava em processo de transição para o sistema orgânico. Nos três anos que antecederam a pesquisa, tinham sido cultivadas plantas recuperadoras do solo (mucuna-preta e Crotalaria juncea, no verão; nabo-forrageiro e aveia ou ervilhaca, no inverno). No ano anterior à implantação do experimento, foi realizado cultivo de milho sem adubação.
     O experimento foi instalado em 2003, em Latossolo Vermelho Distroférrico, com acidez e fertilidade corrigidas de acordo com as exigências das culturas, em sistema de rotação de culturas com feijão e milho, cultivados a cada dois anos no verão, e plantas de cobertura do solo no inverno. Por ocasião da implantação do experimento, o solo da área apresentava as seguintes características na camada de até 10cm: pH em água =6,2; P = 15,6mg/dm3 ; K = 136mg/dm3 ; Al3+ = zero; Ca2+ = 6,8cmol c /dm3 ; Mg2+ = 3,1cmol c/dm3 ; matéria orgânica = 3,4%; e argila = 58%.
     O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com seis repetições. Os tratamentos constaram de cinco tipos de adubos orgânicos: esterco de aves (EA), esterco de suínos com cama sobreposta (CS), composto orgânico de esterco de suínos (CES), composto orgânico de esterco de bovinos (CEB) e esterco líquido de suínos (ELS), e uma testemunha, sem adubação. O EA foi proveniente de aviário de frangos de corte com uso de cama de maravalha, que foi adquirido no comércio local. A CS foi coletada em uma pocilga com produção de suínos em sistema de terminação com leito de maravalha. O CES foi produzido em plataforma de compostagem com adição de esterco líquido à maravalha e revolvimento mecânico por um período de aproximadamente 6 meses.
     O CEB foi produzido a partir da mistura de palhas das trilhas de feijão e milho com esterco de bovinos, deixado em leiras de compostagem por um período de 150 dias. O ELS foi coletado em esterqueira com fermentação anaeróbia, estando armazenado por um período superior a 30 dias. As principais características dos estercos e compostos orgânicos são apresentadas na Tabela 1.
     Os adubos orgânicos foram aplicados anualmente, a lanço, na superfície do solo, no dia da semeadura das culturas de milho ou feijão. Os adubos sólidos foram aplicados nas doses de 5 e 10t/ha (base seca), respectivamente nas culturas de feijão e milho, enquanto o esterco líquido foi aplicado nas doses de 30 e  60m3 /ha, nas mesmas culturas. As doses foram baseadas nas necessidades médias de nutrientes de cada cultura. Como plantas reagentes foram utilizados o cultivar de feijão SCS202 Guará (anos agrícolas 2003/04, 2005/06 e 2007/08) e o cultivar de milho SCS154 Fortuna (anos agrícolas 2004/05, 2006/07 e 2008/09). O cultivar Guará pertence ao grupo carioquinha, e o cultivar Fortuna é uma variedade de polinização aberta, desenvolvido pelo Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf).
     As culturas foram semeadas com semeadora de plantio direto, utilizando o espaçamento de 0,45m entre linhas para feijão e 0,90m para milho. A densidade utilizada foi de 55.000 e 266.000 plantas/ha, respectivamente para o milho e o feijão. As parcelas mediram 3,6 x 5m, colhendo--se para avaliação da produção de grãos as duas linhas centrais de milho e as quatro de feijão de cada parcela.
     O sistema de rotação de culturas consistiu na semeadura anual de milho ou feijão nos meses de setembro ou outubro, e o cultivo de espécies para cobertura do solo, em sucessão, visando ao controle de plantas espontâneas e ciclagem de nutrientes. Após a colheita do feijão de cada ano, foi semeada a mucuna-cinza ou a mucuna-preta, e após o milho foi semeado, no primeiro ano, nabo-forrageiro e nos demais anos, aveia--preta. As plantas de cobertura foram manejadas com rolo-faca, em torno de 20 dias antes da semeadura do milho.
     Em se tratando de cultivo orgânico, não foram utilizados adubos de alta solubilidade nem agrotóxicos. Para o controle de lagarta-do-cartucho em milho, que ocorreu esporadicamente, foi usado preventivamente um produto à base de Bacillus thuringiensis ou óleo de Nim para seu controle (Prates et al., 2003). O controle de plantas espontâneas foi realizado de forma manual, com capinas.
     Os rendimentos de grãos foram expressos na umidade padrão de 13%, submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 1. Teores médios de matéria seca e nutrientes nos materiais usados na adubação de milho e feijão.
Fonte de adubo(1)
MS(2)
N
P2 O5
K2O
Ca
Mg
Cu
Mn
Zn
                     %     ................................g/kg..............................    ….. ......mg/kg..............
EA
83
30,8
32,4
28,8
28,2
12,1
79
433
268
CS
46
18,5
29,2
21,0
12,5
5,3
192
604
397
CES
44
17,8
26,8
16,4
6,4
4,2
223
592
438
CEB
42
16,4
19,8
9,5
8,6
7,2
72
426
166
                     %     ...........................g/L....................................... . ..........mg/L.................
ELS
2,8
3,3
1,93
1,56
0,86
0,41
14
34
27
(1) EA = esterco de aves; CS = cama sobreposta; CES = composto orgânico de esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos; ELS = esterco líquido de suínos.
(2) MS = Matéria seca. Resultados expressos em base seca (65ºC).


Resultados e discussão
     Na Tabela 2 são apresentados os resultados referentes aos três anos de avaliação de feijão, sendo dois anos com produção de grãos (anos agrícolas 2003/04 e 2005/06) e um (ano agrícola 2007/08) com resultados de massa seca. A produção de grãos do último ano não foi avaliada porque um prolongado período de estiagem inviabilizou a produção de grãos. São apresentados somente os rendimentos de massa seca de plantas amostradas no estádio de florescimento pleno.
     Em todos os anos se observou efeito positivo da adubação orgânica sobre a produção de grãos de feijão ou de massa seca. No primeiro ano, os melhores resultados foram verificados com a CS, que diferiu do esterco ELS e da testemunha (T). Os quatro adubos sólidos – EA, CEB, CES e a CS – apresentaram comportamento semelhante, não diferindo entre si. Em média, a adubação orgânica proporcionou aumento de 21% na produção de feijão em relação à testemunha, sem adubação.
     No terceiro ano, segundo cultivo de feijão (ano agrícola 2005/06), todos os tratamentos com adubo apresentaram produção superior à testemunha, sem diferir entre si. O aumento médio na produção de feijão em relação à testemunha foi de 67%. Um aumento mais expressivo do que no primeiro cultivo, porém com produtividade menor em função de estiagem, atingindo, na média, 1.065kg/ha nos tratamentos com adubação. A análise conjunta dos dois anos com produção de grãos indicou não haver diferenças entre as fontes de adubo, que, por sua vez, diferiram da testemunha, sem adubação.
     O rendimento de massa seca do ano agrícola 2007/08 também foi positivamente influenciado pela adubação orgânica. O tratamento com EA foi o que proporcionou as maiores produções, porém sem diferir do ELS e da CS, que apresentaram produções semelhantes ao CES e ao CEB e superiores à testemunha.
     Os resultados mostraram que, na média dos anos, a resposta do feijão às cinco fontes de adubo avaliadas foi semelhante, com incremento médio de sobre a produção de grãos de feijão ou de massa seca. No primeiro ano, os melhores resultados foram verificados com a CS, que diferiu do esterco ELS e da testemunha (T). Os quatro adubos sólidos – EA, CEB, CES e a CS –apresentaram comportamento semelhante, não diferindo entre si. Em média, a adubação orgânica proporcionou aumento de 21% na produção de feijão em relação à testemunha, sem adubação. No terceiro ano, segundo cultivo de feijão (ano agrícola 2005/06), todos os tratamentos com adubo apresentaram produção superior à testemunha, sem diferir entre si. O aumento médio na produção de feijão em relação à testemunha foi de 67%. Um aumento mais expressivo do que no primeiro cultivo, porém com produtividade menor em função de 0% na produção de grãos e 69% na produção de massa seca em relação à testemunha. Resultados semelhantes que confirmam a boa resposta da cultura à adubação orgânica foram verificados no sistema convencional, com incorporação dos adubos ao solo (Scherer, 1998).

Tabela 2. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de feijão nos anos agrícolas 2003/04 e 2005/06 e massa seca no ano agrícola 2007/08, no sistema plantio direto em rotação com a cultura do milho.
Fonte de adubo
Grãos
Massa seca
2003/04
2005/06
Média
2007/08
                          .......................................................kg/ha................................................
Esterco líquido (ELS)
2.389 b (1)
988 a
1.688 a
2.179 ab
Esterco de aves (EA)
2.554 ab
1.203 a
1.878 a
2.576 a
Cama sobreposta (CS)
2.682 a
1.028 a
1.855 a
2.202 ab
Composto orgânico (CES)(2)
2.447 ab
1.108 a
1.778 a
2.089 b



Testemunha (T)
2.081 c
678 b
1.380 b
1.569 c
(1) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%.
(2) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.

     Na Tabela 3 são apresentados os resultados referentes aos três anos de avaliação de milho. Em todos os anos se observou efeito positivo da adubação orgânica na produção de grãos. No primeiro ano com milho e segundo ano de condução do experimento (2004/05), a maior produção de grãos (7.176kg/ha) foi obtida com a aplicação de ELS, que, por sua vez, não diferiu dos tratamentos com EA, CES e CS, mas foi superior ao CEB e à testemunha. Scherer (2003), avaliando diferentes fontes de esterco, também observou menor eficiência dos estercos sólidos em comparação ao esterco líquido na produtividade de milho, quando foram aplicados na superfície do solo sob plantio direto. Essa menor eficiência dos estercos sólidos em aplicação superficial deve ser atribuída ao menor contato dos resíduos com o solo, o que proporciona uma mineralização mais lenta dos compostos orgânicos adicionados.
     No segundo cultivo de milho (2006/07), o tratamento com ELS foi novamente o que proporcionou a maior produção de grãos (7.848kg/ ha), seguido do EA e dos compostos orgânicos (CS, CES e CEB). Esses quatro adubos sólidos formaram um grupo estatisticamente homogêneo e superior à testemunha.
     Cabe destacar a elevada produtividade alcançada (5.112kg/ha) no tratamento sem adubação, superior à média estadual, que foi de 3.680kg/ha (Epagri/Cepa, 2009). Provavelmente, essa produtividade foi consequência do sistema de produção adotado, contemplando rotação de culturas e inclusão de espécies recuperadoras do solo, com capacidade de alternar nutrientes e fixar nitrogênio, como é o caso da mucuna (Scherer & Baldissera, 1988), cultivada em sucessão ao feijão e antecedendo o milho.
     No terceiro cultivo de milho (2008/09), o ELS e o EA foram os que proporcionaram as maiores produções de grãos, respectivamente 6.854 e 6.802kg/ha, seguidos dos compostos orgânicos CS e CES. Essa maior produtividade do EA em comparação aos demais adubos sólidos pode estar relacionada a uma maior aplicação não só de N, que é o nutriente exigido em maiores quantidades pelo milho, mas também de outros elementos, como P e K, que se encontram em maiores concentrações no EA (Tabela 1). O CEB, um resíduo mais pobre em nutrientes, principalmente em N, apresentou tendência de sempre apresentar menores produtividades em relação ao ELS.
     Na média dos anos, o ELS apresentou os melhores resultados, porém sem diferir dos tratamentos com EA e CS. Observa-se que os quatro adubos sólidos (EA, CS, CES e CEB) formam um grupo estatisticamente homogêneo, com produção de grãos 50% (2.216kg/ha) superior à testemunha. Por sua vez, o ELS, nas mesmas condições, aumentou a produção de grãos em 66% (2.910kg/ha) em relação à testemunha.
     É provável que esse bom desempenho do ELS, verificado nos três anos com cultivo de milho, seja devido ao maior teor de N mineral que apresenta (Scherer et al., 1996), havendo uma disponibilização mais rápida e, provavelmente, uma maior eficiência do N adicionado, coincidindo com os períodos de maior exigência durante a fase de desenvolvimento vegetativo (Konzen et al., 1998). Os adubos sólidos (CS, EA, CES e CEB), ao contrário, apresentam maiores quantidades de N na forma orgânica, que é colocado à disposição das plantas somente ao longo do tempo, após sua mineralização, podendo seu efeito ultrapassar o ciclo da cultura (Comissão..., 2004). Segundo Pommer (2009), gramíneas forrageiras ou produtoras de grãos, como o milho, por serem culturas altamente exigentes em N, respondem melhor à aplicação de chorume e estercos líquidos do que aos compostos orgânicos e estercos sólidos, o que também se verifica nos sistemas orgânicos com adubações anuais e efeito cumulativo dos adubos.
     O feijão, ao contrário do milho, por menos dependente do fornecimento de N via adubação, pois apresenta capacidade de obter parte do N por fixação biológica (Vieira et al., 2005), foi menos influenciado pela fonte de adubo orgânico, mostrando até mesmo uma tendência de maior produtividade com adubos sólidos. Resultados desses autores mostraram que o adubo orgânico pode até melhorar a eficiência simbiótica dos rizóbios nativos em feijoeiro.
     A alta produtividade de grãos alcançada pelo cultivar de milho SCS154 Fortuna, de polinização aberta, em média acima de 7t/ha com adubação orgânica, mostra que esse cultivar apresenta boa adaptação e alto potencial de produção em sistema orgânico, sem utilização de agrotóxicos ou adubos de alta solubilidade. Os resultados mostram ainda que, mesmo sem adubação, o cultivar apresenta bom potencial de produção, e que a boa fertilidade inicial do solo e o sistema de produção adotado, com rotação de culturas e a inclusão de plantas recicladoras de nutrientes e fixadoras de nitrogênio, devem ter contribuído para esse bom desempenho.
     O cultivar de feijão SCS202 Guará, pertencente ao grupo carioca, também mostrou boa adaptação ao sistema orgânico, atingindo, com adubação orgânica, no primeiro ano, produtividade média de 2.521kg/ha, 21% superior à testemunha. No segundo cultivo o aumento em produtividade foi de 67%, porém o potencial de produção da cultura nesse ano foi limitado por deficiência hídrica.

Tabela 3. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de milho nos anos agrícolas 2004/05, 2006/07 e 2008/09 no sistema plantio direto em rotação com a cultura do feijão.
Fonte de adubo
2004/05
2006/07
2008/09
Média
                          .......................................................kg/ha................................................
Esterco líquido (ELS)
7.176 a (2)
7.848 a
6.854 a
7.293 a
Esterco de aves (EA)
6.665 ab
7.322 b
6.802 a
6.926 ab
Cama sobreposta (CS)
6.685 ab
7.349 b
6.110 b
6.715 ab
Composto orgânico (CES)(1)
6.677 ab
7.173 b
5.692 bc
6.509 b
Composto orgânico (CEB) (1)
6.346 b
6.918 b
5.449 c
6.237 b
Testemunha (T)
4.739 c
5.112 c
3.299 d
4.383 c
(1) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.
(2) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%

Conclusões
• A adubação orgânica influencia positivamente a produção de grãos de milho e de feijão no sistema orgânico.
• Altas produtividades de feijão (2,5t/ha) e de milho (7t/ha) são alcançadas com uso exclusivo de adubação orgânica e rotação de culturas, sem necessidade de se fazer uso de adubos minerais.
• O milho responde mais em produtividade à aplicação de esterco líquido de suínos e ao esterco sólido com maior teor de nitrogênio, ao passo que o feijoeiro responde de forma semelhante às diversas fontes de adubo.

Literatura citada
1. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS/RS-SC). Manual de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/Núcleo Regional Sul, 2004. 400p.

2. CRUZ, J.C.; KONZEN, E.A.; PEREIRA FILHO, I.A. et al. Produção de milho orgânico na agricultura familiar. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS, 2006. 17p. (Embrapa-CNPMS. Circular Técnica, 81).

3. EPAGRI/CEPA. Índice de Produtividade e Produtividade de Milho - 1985-2007. Disponível em: . Acesso em: 17 dez. 2009.

4. KIEHL, E.J. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba: Editora Agronômica Ceres, 1985. 492p.

5. KIEHL, E.J. Manual de compostagem: maturação e qualidade do composto. 4.ed. Piracicaba: E.J. Kiehl, 2004. 173p.

6. KONZEN, E.A.; PEREIRA FILHO, I.A.; BAHIA FILHO, A.F.C. et al. Manejo do esterco líquido de suínos e sua utilização na adubação do milho. 2.ed. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS, 1998. (Embrapa-CNPMS. Circular Técnica, 25).

7. LAC... Levantamento agropecuário de Santa Catarina. Primeiro Censo Agropecuário do Brasil com a identificação da localização das sedes das propriedades pelo uso de tecnologia de localização por satélite. Epagri, Florianópolis, 2004.

8. OLIVEIRA, P.A.V. de. Tecnologias para o manejo de resíduos na produção de suínos: manual de boas práticas. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2004. 109p. (PNMA II).

9. POMMER, G. Vergleich der Wirkungen von Gülle mit Stallmist und Jauche im Ökologischen Landbau Bayeriche Landesanstalt für Landwirtschaft. Institut für Agrarökologie, Ökologischen Landbau und Bodenschutz. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2009.

10. PRATES, H.T.; VIANA, P.A.; WAQUIL, J.M. Atividade de extrato aquoso de folhas de nim (Azadirachta indica) sobre Spodoptera frugiperda. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.38, n.3, p.437-439, 2003.

11. RUSCH, H.P. Bodenfruchtbarkeit. Eine Studie biologischen Denkens. 7.ed. Berlim: Organischer Landbau Verlagsgesellschaft, 2004. 256p.

12. SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T. Mucuna: a proteção do solo em lavoura de milho. Agropecuária Catarinense, v.1, n.1, p.21-25, 1988.

13. SCHERER, E.E.; AITA, C.; BALDISSERA, I.T. Avaliação da qualidade do esterco líquido de suíno da região Oeste Catarinense para fins de utilização como fertilizante. Florianópolis: Epagri, 1996. 46p. (Epagri. Boletim Técnico, 79).

14. SCHERER, E.E. Utilização de esterco de suínos como fonte de nitrogênio: bases para adubação dos sistemas milho/feijão e feijão/milho em cultivos de sucessão. Florianópolis: Epagri, 1998. 49p. (Epagri. Boletim Técnico, 99).

15.SCHERER, E.E. Eficiência do esterco de suínos no suprimento de nitrogênio para milho no sistema plantio direto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 1., Porto Alegre, 2003. Anais... Porto Alegre: Emater/RS-ASCAR, 2003. 1 CD-Rom.

16. TESTA, V.M.; NADAL, R. de; MIOR, L.C. et al. O desenvolvimento sustentável do Oeste Catarinense -Proposta para discussão. Florianópolis: Epagri, 1996. 247p.

17. VIEIRA, R.F.; TSAI, S.M.; TEIXEIRA, M.A. Nodulação e fixação simbiótica de nitrogênio em feijoeiro com estirpes nativas de rizóbio, em solo tratado com lodo de esgoto. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.40, n.10, p.1047-1050, 2005.


Ferreira On 9/06/2013 05:08:00 PM Comentarios LEIA MAIS

sábado, 28 de setembro de 2013

Cultivo que protege a terra




   




  Em vez de arar, gradear e revolver bem a terra, apenas plantar deixando os restos da cultura anterior sobre o solo. A proposta é exatamente inversa ao preparo convencional: manter o solo intacto e protegido por uma generosa camada de palha. Essa mudança de atitude, que no início pareceu um tanto estranha para os agricultores acostumados movimentar a terra antes de plantar, se espalhou pelas lavouras em Santa Catarina e Brasil afora. E a expansão tem um bom motivo: se antes estavam desconfiados, agora os agricultores veem na prática que é possível melhorar a rentabilidade e, ao mesmo tempo, conservar a terra. 

     Nesse sistema, a semente ou a muda é colocada diretamente no solo não revolvido, sem preparo prévio, usando máquinas especiais. “É aberto apenas um pequeno sulco ou uma cova com profundidade e largura suficientes para garantir o contato da semente ou muda com o solo. Não mais de 25% a 30% da superfície são preparados”, explica o engenheiro-agrônomo Milton da Veiga, da Epagri/Estação Experimental de Campos Novos. 


     Há duas formas principais de fazer o plantio direto. Na mais comum, as semeadoras-adubadoras são adaptadas com discos para cortar a palhada e um dispositivo para sulcar o solo e, dessa forma, efetuam a adubação de base e o plantio numa só operação. Também é comum, em pequenas áreas, o plantio direto com plantadora-adubadora manual adaptada com bico fino. De qualquer forma, a faixa de terra entre as linhas de plantio fica coberta com a vegetação dessecada.

Sem erosão

     Essa camada de restos de plantas tem diversas vantagens. A principal é proteger o solo da erosão, impedindo o carregamento de terra e nutrientes para fora da lavoura. “Ela forma uma barreira que protege o solo do impacto das gotas de chuva, facilita a infiltração da água e reduz o escoamento superficial”, explica Milton. 

     A cobertura é capaz de reduzir as perdas de solo provocadas pela erosão em mais de 90% em relação ao preparo convencional. Esse benefício vai além das propriedades agrícolas e evita uma série de problemas ecológicos. A água da chuva escorre para fora das lavouras em menor quantidade e é mais limpa, o que reduz a poluição e o assoreamento dos rios.


Mais água

     Se chove pouco, o plantio direto também é vantajoso, pois a camada de palha diminui a evaporação da umidade e melhora a capacidade do solo de armazenar água. Em relação ao sistema convencional, a perda de água é pelo menos 70% menor. “Essa situação reduz os impactos que os períodos de estiagem causam às plantas, além de permitir melhor germinação e emergência mais uniforme das sementes”, detalha o agrônomo.

     Com mais água no solo, o período para plantar aumenta: é possível fazer a semeadura de 6 a 12 dias após uma chuva, enquanto no sistema convencional o prazo é de 3 a 6 dias. “O agricultor tem mais flexibilidade para implantar a lavoura na época mais propícia ou ampliar o período de efetivo plantio e, com isso, cultivar uma área maior com os recursos que tiver disponíveis”, diz Milton.


Solo fértil

     As culturas encontram um ambiente muito mais favorável para se desenvolver. Os resíduos vegetais são capazes de aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo em cerca de 500kg por hectare a cada ano. Esse material se decompõe lentamente, melhorando o processo de reciclagem dos nutrientes e mantendo alto o nível de atividade biológica do solo. No longo prazo, a fertilidade aumenta.


     Para o agricultor, isso permite, safra após safra, economizar em corretivos e fertilizantes, já que também não é mais preciso compensar as perdas de nutrientes por erosão. A economia de adubo fosfatado, por exemplo, pode chegar a 50%. “Diagnósticos da fertilidade do solo realizados em todo o Estado têm mostrado que as características químicas são melhores nas regiões onde o plantio direto é adotado com mais intensidade, principalmente no que diz respeito ao percentual de amostras com maiores teores de matéria orgânica, fósforo e potássio”, revela Milton.

Evolução

     A história do plantio direto já tem seis décadas. Foi nos Estados Unidos e no Canadá que surgiram os primeiros estudos sobre formas de preparo do solo que reduzissem a erosão. No iní-cio, a dificuldade para controlar plantas invasoras prejudicou a evolução das técnicas. Mas nas décadas seguintes, o desenvolvimento de herbicidas e máquinas que permitiam plantar com a presença dos resíduos vegetais tornaram os sistemas conservacionistas mais promissores, e o interesse por eles se difundiu pelo mundo.

     No Brasil, no início da adoção do plantio direto, os custos de produção eram superiores aos do sistema convencional. Isso porque os gastos com herbicidas para dessecar as plantas daninhas ou de cobertura ainda não eram compensados pela redução de custos no preparo do solo. Além disso, a ausência de informações técnicas e a falta de equipamentos adequados levaram a uma baixa adoção nas décadas de 1970 e 1980. Também era difícil para os agricultores mudar completamente a forma de cuidar do solo.

    Na década seguinte, a área cultivada cresceu exponencialmente. Com semeadoras adaptadas e herbicidas mais baratos, a expansão começou no Sul e se espalhou pelas demais regiões. “O desenvolvimento tecnológico do sistema e a capacitação de técnicos e produtores aliados aos menores custos de condução da lavoura e à falta de recursos para financiamentos foram decisivos para a expansão”, conta Milton da Veiga.

     Em Santa Catarina, o maior impulso aconteceu entre 1995 e 1999, quando a Epagri desenvolveu o Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas (Microbacias), cuja ênfase foi a adoção de práticas de manejo conservacionista do solo. Desde aquela época, a Empresa e seus parceiros desenvolvem e difundem o plantio direto no Estado, principalmente junto aos agricultores familiares, o que contribuiu para expandir rapidamente a área de adoção. Entre 1993/94 e 1998/99, a área manejada dessa forma cresceu quase 48% ao ano, saltando de 120 mil hectares para cerca de 880 mil hectares.


Menos trabalho

     A cada safra, o sistema foi se tornando mais vantajoso para os agricultores. Como no plantio direto as operações de preparo do solo não são realizadas, o custo de produção e o trabalho nas lavouras são reduzidos. “Há economia de tempo, mão de obra, combustíveis e uso de máquinas tanto na implantação quanto na condução da lavoura”, diz Milton da Veiga, que estima uma redução de aproximadamente 40 L/ha/ano no consumo de óleo diesel em relação ao manejo convencional. 

    Facilitando o trabalho, a tecnologia humanizou as tarefas agrícolas e melhorou a autoestima dos agricultores. Além disso, permitiu às famílias cultivar áreas maiores e até iniciar outras atividades, como implantar pastagens em áreas menos aptas para o cultivo de grãos. “Isso se refletiu sobre a redução do êxodo do campo para as cidades e das cidades menores para as maiores”, avalia o pesquisador. A redução da mão de obra é uma das transformações mais visíveis nas lavouras de soja, milho, feijão e trigo que Tania Manfrói Cassiano cultiva com o pai e os irmãos em Campos Novos, SC. “O plantio direto permitiu aumentar nossa área de produção com o mesmo maquinário e a mesma mão de obra”, destaca a produtora. 

     Já faz 12 anos que eles praticam o plantio direto. “No início foi difícil por causa do maquinário, que não era adaptado, mas a gente foi conseguindo aos poucos”, conta. Agora, com o sistema consolidado, Tania colhe os resultados. “Melhorou tudo: a qualidade física do solo, a umidade, a fertilidade e o controle de plantas invasoras”, explica. Com tantos benefícios, a produtividade também cresceu. Se antes a lavoura de soja dava 40 a 44 sacas de soja por hectare, agora são 52 a 54 sacas na mesma área.

Economia 

     O sistema de plantio direto já ocupa mais de 1 milhão de hectares das lavouras utilizadas para a produção de grãos em Santa Catarina. Esse manejo é praticado em cerca de 100% da área cultivada com soja, 90% da área com trigo e 80% da área com milho e feijão no Estado. O benefício alcança agricultores com qualquer escala de produção e atinge os maiores índices de adoção entre o Planalto e o Extremo Oeste. No Brasil, segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP), a área manejada com plantio direto em 2012/13 ultrapassou 35 milhões de hectares. 

     De acordo com cálculos da Epagri, o sistema gera uma economia média de R$390,00 para cada hectare plantado com grãos em Santa Catarina. Considerando toda a área de adoção do Sistema de Plantio Direto de Grãos (SPDG) no Estado, a economia em horas-máquina foi de R$72 milhões no ano agrícola 2011/12. 

     Além de reduzir o custo de produção, a substituição do preparo convencional do solo pelo plantio direto elevou a produtividade em diversas culturas. Nas lavouras catarinenses de grãos que adotaram a tecnologia, estima-se um crescimento médio de aproximadamente 10% no rendimento. Na safra de 2010/11, isso significou um acréscimo de R$247 milhões na renda bruta da produção de grãos do Estado. 

     Outro benefício econômico é a estabilidade da produção. “A necessidade de replantio é menor, assim como a variação anual nos índices de produtividade das culturas. Esses aspectos são fundamentais para manter a sustentabilidade econômica nas propriedades”, aponta o pesquisador Milton da Veiga. 



Implantação 

     O sistema é adequado para grandes e pequenas lavouras. Mas para ter bons resultados, é preciso contar com implementos apropriados, herbicidas de baixo custo e baixa toxicidade, além de conhecimento técnico sobre a adequação do plantio direto para a propriedade. Não há um desembolso efetivo para implantar o sistema, pois todas as semeadeiras disponíveis no mercado são adaptadas ao plantio direto. “Se o agricultor tem a semeadeira adequada, a margem de lucro líquido é maior do que no manejo convencional desde o primeiro ano em função da redução do custo com combustível e do aumento da produtividade das culturas”, explica Milton. 

     Mas antes de implantar o sistema, é preciso tomar alguns cuidados. O solo não pode ser úmido ou mal drenado, a não ser para culturas específicas, como o arroz. Solos ácidos devem ser corrigidos com calcário e deve-se assegurar que haja nutrientes suficientes para o desenvolvimento das plantas. Além disso, as espécies daninhas precisam ser controladas. 

     A cobertura do solo por resíduos vegetais deve ser de, no mínimo, 60% da superfície. Para isso, são necessárias 3 a 4 toneladas de massa seca por hectare. “A camada adequada pode ser obtida pela rotação de culturas apropriadas e pela adubação verde de inverno com espécies produtoras de massa vegetal abundante”, explica Milton. 

     Culturas como o milho produzem grande quantidade de resíduos, que podem ser acamados com rolo-faca, roçadeira ou grade. “No caso de culturas que produzem pouco ou nenhum resíduo, como feijão e cebola, deve-se escolher como cobertura de inverno uma espécie com maior persistência da palha, característica apresentada pelas gramíneas, como aveia-preta, centeio, triticale e azevém”, recomenda. 



Plantas do bem 

     Os adubos verdes são verdadeiros guardiões do solo, pois “preparam o terreno” para que as culturas conduzidas na sequência tenham desempenho melhor. Essas plantas protegem o solo contra chuvas fortes, o sol e o vento durante a entressafra e fornecem um grande aporte de massa vegetal capaz de elevar o teor de matéria orgânica ao longo dos anos. Além disso, ajudam a reduzir a população de plantas daninhas. 

     O sistema radicular bem desenvolvido de muitas espécies traz os nutrientes das camadas profundas para a superfície do solo – eles se acumulam na palhada e tornam-se novamente disponíveis para as culturas comerciais. As raízes ainda rompem camadas adensadas, promovendo a aeração e estruturação do solo. 

     As espécies leguminosas também têm a capacidade de fixar o nitrogênio do ar em sua fitomassa, o que pode representar uma economia importante na adubação das culturas e melhorar o balanço desse nutriente no solo. A quantidade de nitrogênio fixado pode chegar a 200kg/ha/ano no caso da ervilhaca, por exemplo. 

   Os adubos verdes podem ser implantados no período de primavera-verão, usando leguminosas como mucuna, guandu e crotalária; no outono-inverno, com aveia-preta, ervilhaca e nabo--forrageiro; na entrelinha das culturas comerciais, como no caso da mucuna intercalar-se ao milho, ou de forma perene, para recuperar áreas degradadas ou que não estejam em cultivo. Espécies como guandu, leucena e tefrósia, que têm raízes profundas e produzem bastante massa vegetal, ajudam a recuperar o solo e ainda podem alimentar os animais. 

     Antes do plantio das culturas comerciais, os adubos verdes podem ser cortados com rolo-faca, roçadeira ou grade fechada, ou ainda dessecados com herbicidas, cujo uso deve ser evitado sempre que for possível. Quando a palhada tem crescimento ereto, como no caso da aveia e do azevém, o plantio pode ser feito sem acamamento.

Melhor solução

     O agricultor e engenheiro-agrônomo Hilário Daniel Cassiano, de 65 anos, conheceu o sistema de plantio direto no Paraná ainda na década de 1980 e começou a adaptar a tecnologia na própria fazenda, em Campos Novos. “Trabalhávamos com o preparo convencional e, em 1983, perdemos metade da produção com uma enxurrada. Aí surgiu a ideia de iniciar o plantio direto. No Paraná o sistema tinha bons resultados e a gente tinha certeza de que essa era a solução”, lembra.

     E era mesmo. Décadas depois da mudança, praticamente não há erosão nas lavouras. O controle de plantas daninhas ficou muito mais eficiente e a fertilidade do solo melhorou: aumentou o teor de fósforo, potássio e matéria orgânica. “Agora o solo segura mais a umidade. No ano passado tivemos uma estiagem grande após o plantio de soja, com 60 dias sem chuva e, mesmo assim, colhemos 54 sacas por hectare”, conta.

     Todos esses benefícios se refletem na hora da colheita. Hoje a produção de milho varia entre 150 e 160 sacas por hectare, a de soja alcança mais de 50 sacas e a de trigo chega a 60 sacas. Além disso, o custo de produção caiu em pelo menos 30%, e a área de cultivo, que era de 200ha, dobrou. “Essa é a melhor tecnologia que já surgiu para os produtores rurais, para manter as famílias do campo na atividade”, conclui o produtor.




Menos CO2 na atmosfera

     O plantio direto contribui para reduzir o efeito estufa. Com menos gastos de combustíveis no maquinário, as emissões de CO2 diminuem. E o aumento no teor de matéria orgânica do solo promove o sequestro de carbono. Por isso, o sistema é uma das práticas financiadas pelo programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), do Governo Federal. De acordo com Caio Rocha, secretário de desenvolvimento agropecuário e cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o uso da técnica nas lavouras tem se ampliado a partir das condições facilitadas de crédito oferecidas pelo programa. “É fundamental o fomento dessa prática nos campos brasileiros porque, além de ganhos produtivos, há os ambientais: em apenas uma década, esse sistema pode reduzir a emissão de CO2 equivalentes a até 20 milhões de toneladas”, explica.

     

Boa colheita com as hortaliças

     O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), desenvolvido pela Epagri com apoio de instituições parceiras, é um caminho que muitos olericultores vêm adotando para produzir alimentos de forma mais barata e com menos insumos químicos. Apenas em 2012, o SPDH proporcionou uma economia de R$7 milhões para os produtores catarinenses nos cultivos de tomate, cebola, chuchu e mandioquinha-salsa.

     As pesquisas iniciaram em 1998 e, três anos depois, as primeiras lavouras de estudo foram implantadas. “O objetivo era buscar uma forma de transição da agricultura convencional para um sistema sustentável que produzisse alimentos limpos e diminuísse os impactos ambientais e o custo de produção”, diz o extensionista Jamil Abdalla Fayad, da Epagri/Gerência Regional de Florianópolis.

     O SPDH é baseado em fundamentos como rotação de culturas, revolvimento do solo restrito à linha de plantio, manutenção de resíduos vegetais no solo, produção de biomassa superior a 10t/ha, redução até a eliminação do uso de agrotóxicos e adubos altamente solúveis, promoção da saúde e do conforto da planta e evolução do plantio direto na palha para o plantio direto no verde. 

     As tecnologias são geradas e adaptadas nas estações experimentais da Epagri e em lavouras de estudos instaladas nas propriedades. Esse conhecimento vem sendo disseminado em Santa Catarina há 16 anos por meio de cursos, dias de campo, palestras e visitas a técnicos e agricultores.

     Na cadeia produtiva do tomate, o sistema já ajudou a reduzir 70% do uso do trator, 60% do uso de fungicida, 100% do uso de herbicida e 60% do uso de adubos químicos. Estima-se que os impactos diretos e indiretos tenham atingido pelo menos 30% da área cultivada com tomate no Estado, reduzindo o custo de produção de R$12 para R$8 por caixa. 

     No cultivo de cebola houve diminuição em mais de 70% do trabalho com trator, 60% do uso de adubo químico e mais de 40% de fungicidas. Além disso, o tempo de armazenagem do bulbo aumentou em cerca de 60 dias. De acordo com estimativas da Epagri, os impactos desse sistema atingem mais de 25% da área cultivada com cebola no Estado, fazendo o custo do quilo cair de R$0,39 para R$0,24.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Efeitos de fontes de esterco e composto orgânico na produção de milho e feijão no sistema orgânico sob plantio direto

Artigo científico publicado na Revista Agropecuária Catarinense  (RAC, v.24, n.2, jul. 2011)

Autor:  Eloi Erhard Scherer  -  Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638, e-mail: escherer@epagri.sc.gov.br

Resumo – Em um experimento conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, SC, foram avaliadas diferentes fontes de adubo nas culturas de milho e feijão em cultivo orgânico. Os adubos orgânicos foram aplicados a lanço, na superfície do solo, no dia da implantação das culturas de feijão e milho, em sistema de rotação e semeadura direta. Os adubos sólidos (esterco de aves, esterco de suínos com cama sobreposta, composto orgânico de esterco de suínos e composto orgânico de esterco de bovinos) foram aplicados nas doses de 5t/ha e 10t/ha (base seca) e o adubo líquido (esterco de suínos) nas doses de 30 e 60m3 /ha para feijão e milho, respectivamente. O experimento foi conduzido no delineamento de blocos casualizados com seis repetições. A aplicação de adubos orgânicos aumentou a produção de grãos de feijão e de milho em todos os anos, atingindo aumento médio de 413kg/ha (30%) de feijão e 2.350kg/ha (54%) de milho em relação à testemunha. Os estercos sólidos e compostos orgânicos apresentaram melhor desempenho na produção de feijão, e o esterco líquido de suínos na produção de milho.

Termos para indexação: Zea mays, Phaseolus vulgaris, adubação orgânica, produção de grãos.

Effects of organic manure and compost sources on corn and common bean production in organic farming system under no-till management

Abstract – Organic agriculture in no-till system requires a new set of producer skills especially in the area of soil fertility and fertilizer use. In a field experiment in organic system in Chapecó, SC, Southern Brazil, the effect of different organic fertilizers (poultry dry litter, swine deep litter, swine composted manure, cattle composted manure and liquid swine manure) on the corn and common been yields was investigated. The organic fertilizers were scattered on the soil surface in the no-till system on the day of the sowing of common bean and corn. The solid manure was applied at 5 and 10t/ha, dry weight, and the liquid manure at 30 and 60m3 /ha for common beans and corn, respectively. A completely randomized block experimental design with six replications was used. The utilization of solid and liquid organic manure increased the grain yield of both cultures in all six years. Common beans and corn grain average yield with organic fertilizers use was 30% and 54% greater than yield without fertilizer, respectively. Solid swine manure and organic compost had a better performance on common bean grain yield, and liquid swine manure on corn yield.

Index terms: Zea mays, Phaseolus vulgaris, grain yields, organic manure.







Introdução
     A agricultura orgânica é um sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos ou minerais de alta solubilidade e agrotóxicos, tendo como princípio produzir em harmonia com a natureza, mantendo o equilíbrio biológico do sistema produtivo por meio da ciclagem de nutrientes e aplicação de matéria orgânica de origem vegetal e animal (Rusch, 2004).
     A agricultura orgânica é, atualmente, uma das alternativas usadas para agregar valor aos produtos cultivados em propriedades familiares (Cruz et al., 2006). Esse sistema de produção se aplica muito bem às pequenas propriedades rurais da Região Oeste de Santa Catarina, que se caracterizam pela utilização de sistemas diversificados de produção, englobando produção animal e vegetal (Testa et al., 1996; LAC, 2004). Essa integração entre a produção vegetal e a animal é fundamental para o desenvolvimento sustentável da agricultura orgânica, pois sua complementaridade permite, entre outras coisas, a diversificação de atividades, a ciclagem de nutrientes na própria unidade de produção e a redução na dependência de insumos externos (Scherer, 1998).
     O adubo orgânico mais utilizado é o esterco, que é formado por excrementos sólidos e líquidos dos animais e, em alguns sistemas, está misturado com restos vegetais utilizados como cama. Os estercos são considerados excelentes adubos, pois apresentam em sua composição praticamente todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento vegetal (Kiehl, 1985).
     Além da sua utilização direta como fonte de nutrientes, o esterco constitui um dos componentes básicos para a produção de compostos orgânicos (Kiehl, 2004), que são considerados insumos fundamentais para o desenvolvimento de uma agricultura orgânica dentro dos conceitos agroecológicos estabelecidos (Rusch, 2004).
     Em função da grande quantidade de esterco líquido de suínos disponível em algumas propriedades rurais da Região Oeste de Santa Catarina e da dificuldade de sua utilização integral na agricultura, surgiu a necessidade de se pesquisar novos sistemas de manejo para que se dê adequado destino a ele (Oliveira, 2004). Isso fez com que a produção de compostos orgânicos em plataformas semiautomatizadas ou no sistema de cama sobreposta (compostagem in situ) ganhasse impulso na Região (Oliveira, 2004). A transformação dos resíduos em insumos agrícolas de baixo risco ambiental exige a adoção de adequados processos de manejo, tratamento, armazenamento e utilização (Konzen et al., 1998).
     O milho e o feijão são duas das principais culturas cultivadas em muitas das propriedades familiares com produção animal e disponibilidade de esterco para ciclagem na agricultura (LAC, 2004). Ambas as culturas são utilizadas na alimentação humana e o milho é, também, importante componente de rações para diversos animais (Testa et al., 1996).
     Considerando que o sistema plantio direto já está consolidado em praticamente todas as regiões do Estado, há necessidade de se realizarem estudos com o uso de adubos orgânicos nesse sistema de cultivo, em que eles são aplicados sobre os resíduos culturais das espécies que antecedem cada cultivo. O aprimoramento do cultivo orgânico dessas culturas contribuirá para o desenvolvimento da cadeia de produção de alimentos orgânicos, uma tendência mundial e que se observa também no Brasil.
     O objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficiência de fontes de esterco e composto orgânico na produção de milho e feijão no sistema orgânico com semeadura direta e rotação de culturas.

Material e métodos
     O experimento foi conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, SC, no sistema orgânico sob plantio direto. Quando da instalação do experimento, a área se encontrava em processo de transição para o sistema orgânico. Nos três anos que antecederam a pesquisa, tinham sido cultivadas plantas recuperadoras do solo (mucuna-preta e Crotalaria juncea, no verão; nabo-forrageiro e aveia ou ervilhaca, no inverno). No ano anterior à implantação do experimento, foi realizado cultivo de milho sem adubação.
     O experimento foi instalado em 2003, em Latossolo Vermelho Distroférrico, com acidez e fertilidade corrigidas de acordo com as exigências das culturas, em sistema de rotação de culturas com feijão e milho, cultivados a cada dois anos no verão, e plantas de cobertura do solo no inverno. Por ocasião da implantação do experimento, o solo da área apresentava as seguintes características na camada de até 10cm: pH em água =6,2; P = 15,6mg/dm3 ; K = 136mg/dm3 ; Al3+ = zero; Ca2+ = 6,8cmol c /dm3 ; Mg2+ = 3,1cmol c/dm3 ; matéria orgânica = 3,4%; e argila = 58%.
     O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com seis repetições. Os tratamentos constaram de cinco tipos de adubos orgânicos: esterco de aves (EA), esterco de suínos com cama sobreposta (CS), composto orgânico de esterco de suínos (CES), composto orgânico de esterco de bovinos (CEB) e esterco líquido de suínos (ELS), e uma testemunha, sem adubação. O EA foi proveniente de aviário de frangos de corte com uso de cama de maravalha, que foi adquirido no comércio local. A CS foi coletada em uma pocilga com produção de suínos em sistema de terminação com leito de maravalha. O CES foi produzido em plataforma de compostagem com adição de esterco líquido à maravalha e revolvimento mecânico por um período de aproximadamente 6 meses.
     O CEB foi produzido a partir da mistura de palhas das trilhas de feijão e milho com esterco de bovinos, deixado em leiras de compostagem por um período de 150 dias. O ELS foi coletado em esterqueira com fermentação anaeróbia, estando armazenado por um período superior a 30 dias. As principais características dos estercos e compostos orgânicos são apresentadas na Tabela 1.
     Os adubos orgânicos foram aplicados anualmente, a lanço, na superfície do solo, no dia da semeadura das culturas de milho ou feijão. Os adubos sólidos foram aplicados nas doses de 5 e 10t/ha (base seca), respectivamente nas culturas de feijão e milho, enquanto o esterco líquido foi aplicado nas doses de 30 e  60m3 /ha, nas mesmas culturas. As doses foram baseadas nas necessidades médias de nutrientes de cada cultura. Como plantas reagentes foram utilizados o cultivar de feijão SCS202 Guará (anos agrícolas 2003/04, 2005/06 e 2007/08) e o cultivar de milho SCS154 Fortuna (anos agrícolas 2004/05, 2006/07 e 2008/09). O cultivar Guará pertence ao grupo carioquinha, e o cultivar Fortuna é uma variedade de polinização aberta, desenvolvido pelo Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf).
     As culturas foram semeadas com semeadora de plantio direto, utilizando o espaçamento de 0,45m entre linhas para feijão e 0,90m para milho. A densidade utilizada foi de 55.000 e 266.000 plantas/ha, respectivamente para o milho e o feijão. As parcelas mediram 3,6 x 5m, colhendo--se para avaliação da produção de grãos as duas linhas centrais de milho e as quatro de feijão de cada parcela.
     O sistema de rotação de culturas consistiu na semeadura anual de milho ou feijão nos meses de setembro ou outubro, e o cultivo de espécies para cobertura do solo, em sucessão, visando ao controle de plantas espontâneas e ciclagem de nutrientes. Após a colheita do feijão de cada ano, foi semeada a mucuna-cinza ou a mucuna-preta, e após o milho foi semeado, no primeiro ano, nabo-forrageiro e nos demais anos, aveia--preta. As plantas de cobertura foram manejadas com rolo-faca, em torno de 20 dias antes da semeadura do milho.
     Em se tratando de cultivo orgânico, não foram utilizados adubos de alta solubilidade nem agrotóxicos. Para o controle de lagarta-do-cartucho em milho, que ocorreu esporadicamente, foi usado preventivamente um produto à base de Bacillus thuringiensis ou óleo de Nim para seu controle (Prates et al., 2003). O controle de plantas espontâneas foi realizado de forma manual, com capinas.
     Os rendimentos de grãos foram expressos na umidade padrão de 13%, submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 1. Teores médios de matéria seca e nutrientes nos materiais usados na adubação de milho e feijão.
Fonte de adubo(1)
MS(2)
N
P2 O5
K2O
Ca
Mg
Cu
Mn
Zn
                     %     ................................g/kg..............................    ….. ......mg/kg..............
EA
83
30,8
32,4
28,8
28,2
12,1
79
433
268
CS
46
18,5
29,2
21,0
12,5
5,3
192
604
397
CES
44
17,8
26,8
16,4
6,4
4,2
223
592
438
CEB
42
16,4
19,8
9,5
8,6
7,2
72
426
166
                     %     ...........................g/L....................................... . ..........mg/L.................
ELS
2,8
3,3
1,93
1,56
0,86
0,41
14
34
27
(1) EA = esterco de aves; CS = cama sobreposta; CES = composto orgânico de esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos; ELS = esterco líquido de suínos.
(2) MS = Matéria seca. Resultados expressos em base seca (65ºC).


Resultados e discussão
     Na Tabela 2 são apresentados os resultados referentes aos três anos de avaliação de feijão, sendo dois anos com produção de grãos (anos agrícolas 2003/04 e 2005/06) e um (ano agrícola 2007/08) com resultados de massa seca. A produção de grãos do último ano não foi avaliada porque um prolongado período de estiagem inviabilizou a produção de grãos. São apresentados somente os rendimentos de massa seca de plantas amostradas no estádio de florescimento pleno.
     Em todos os anos se observou efeito positivo da adubação orgânica sobre a produção de grãos de feijão ou de massa seca. No primeiro ano, os melhores resultados foram verificados com a CS, que diferiu do esterco ELS e da testemunha (T). Os quatro adubos sólidos – EA, CEB, CES e a CS – apresentaram comportamento semelhante, não diferindo entre si. Em média, a adubação orgânica proporcionou aumento de 21% na produção de feijão em relação à testemunha, sem adubação.
     No terceiro ano, segundo cultivo de feijão (ano agrícola 2005/06), todos os tratamentos com adubo apresentaram produção superior à testemunha, sem diferir entre si. O aumento médio na produção de feijão em relação à testemunha foi de 67%. Um aumento mais expressivo do que no primeiro cultivo, porém com produtividade menor em função de estiagem, atingindo, na média, 1.065kg/ha nos tratamentos com adubação. A análise conjunta dos dois anos com produção de grãos indicou não haver diferenças entre as fontes de adubo, que, por sua vez, diferiram da testemunha, sem adubação.
     O rendimento de massa seca do ano agrícola 2007/08 também foi positivamente influenciado pela adubação orgânica. O tratamento com EA foi o que proporcionou as maiores produções, porém sem diferir do ELS e da CS, que apresentaram produções semelhantes ao CES e ao CEB e superiores à testemunha.
     Os resultados mostraram que, na média dos anos, a resposta do feijão às cinco fontes de adubo avaliadas foi semelhante, com incremento médio de sobre a produção de grãos de feijão ou de massa seca. No primeiro ano, os melhores resultados foram verificados com a CS, que diferiu do esterco ELS e da testemunha (T). Os quatro adubos sólidos – EA, CEB, CES e a CS –apresentaram comportamento semelhante, não diferindo entre si. Em média, a adubação orgânica proporcionou aumento de 21% na produção de feijão em relação à testemunha, sem adubação. No terceiro ano, segundo cultivo de feijão (ano agrícola 2005/06), todos os tratamentos com adubo apresentaram produção superior à testemunha, sem diferir entre si. O aumento médio na produção de feijão em relação à testemunha foi de 67%. Um aumento mais expressivo do que no primeiro cultivo, porém com produtividade menor em função de 0% na produção de grãos e 69% na produção de massa seca em relação à testemunha. Resultados semelhantes que confirmam a boa resposta da cultura à adubação orgânica foram verificados no sistema convencional, com incorporação dos adubos ao solo (Scherer, 1998).

Tabela 2. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de feijão nos anos agrícolas 2003/04 e 2005/06 e massa seca no ano agrícola 2007/08, no sistema plantio direto em rotação com a cultura do milho.
Fonte de adubo
Grãos
Massa seca
2003/04
2005/06
Média
2007/08
                          .......................................................kg/ha................................................
Esterco líquido (ELS)
2.389 b (1)
988 a
1.688 a
2.179 ab
Esterco de aves (EA)
2.554 ab
1.203 a
1.878 a
2.576 a
Cama sobreposta (CS)
2.682 a
1.028 a
1.855 a
2.202 ab
Composto orgânico (CES)(2)
2.447 ab
1.108 a
1.778 a
2.089 b



Testemunha (T)
2.081 c
678 b
1.380 b
1.569 c
(1) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%.
(2) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.

     Na Tabela 3 são apresentados os resultados referentes aos três anos de avaliação de milho. Em todos os anos se observou efeito positivo da adubação orgânica na produção de grãos. No primeiro ano com milho e segundo ano de condução do experimento (2004/05), a maior produção de grãos (7.176kg/ha) foi obtida com a aplicação de ELS, que, por sua vez, não diferiu dos tratamentos com EA, CES e CS, mas foi superior ao CEB e à testemunha. Scherer (2003), avaliando diferentes fontes de esterco, também observou menor eficiência dos estercos sólidos em comparação ao esterco líquido na produtividade de milho, quando foram aplicados na superfície do solo sob plantio direto. Essa menor eficiência dos estercos sólidos em aplicação superficial deve ser atribuída ao menor contato dos resíduos com o solo, o que proporciona uma mineralização mais lenta dos compostos orgânicos adicionados.
     No segundo cultivo de milho (2006/07), o tratamento com ELS foi novamente o que proporcionou a maior produção de grãos (7.848kg/ ha), seguido do EA e dos compostos orgânicos (CS, CES e CEB). Esses quatro adubos sólidos formaram um grupo estatisticamente homogêneo e superior à testemunha.
     Cabe destacar a elevada produtividade alcançada (5.112kg/ha) no tratamento sem adubação, superior à média estadual, que foi de 3.680kg/ha (Epagri/Cepa, 2009). Provavelmente, essa produtividade foi consequência do sistema de produção adotado, contemplando rotação de culturas e inclusão de espécies recuperadoras do solo, com capacidade de alternar nutrientes e fixar nitrogênio, como é o caso da mucuna (Scherer & Baldissera, 1988), cultivada em sucessão ao feijão e antecedendo o milho.
     No terceiro cultivo de milho (2008/09), o ELS e o EA foram os que proporcionaram as maiores produções de grãos, respectivamente 6.854 e 6.802kg/ha, seguidos dos compostos orgânicos CS e CES. Essa maior produtividade do EA em comparação aos demais adubos sólidos pode estar relacionada a uma maior aplicação não só de N, que é o nutriente exigido em maiores quantidades pelo milho, mas também de outros elementos, como P e K, que se encontram em maiores concentrações no EA (Tabela 1). O CEB, um resíduo mais pobre em nutrientes, principalmente em N, apresentou tendência de sempre apresentar menores produtividades em relação ao ELS.
     Na média dos anos, o ELS apresentou os melhores resultados, porém sem diferir dos tratamentos com EA e CS. Observa-se que os quatro adubos sólidos (EA, CS, CES e CEB) formam um grupo estatisticamente homogêneo, com produção de grãos 50% (2.216kg/ha) superior à testemunha. Por sua vez, o ELS, nas mesmas condições, aumentou a produção de grãos em 66% (2.910kg/ha) em relação à testemunha.
     É provável que esse bom desempenho do ELS, verificado nos três anos com cultivo de milho, seja devido ao maior teor de N mineral que apresenta (Scherer et al., 1996), havendo uma disponibilização mais rápida e, provavelmente, uma maior eficiência do N adicionado, coincidindo com os períodos de maior exigência durante a fase de desenvolvimento vegetativo (Konzen et al., 1998). Os adubos sólidos (CS, EA, CES e CEB), ao contrário, apresentam maiores quantidades de N na forma orgânica, que é colocado à disposição das plantas somente ao longo do tempo, após sua mineralização, podendo seu efeito ultrapassar o ciclo da cultura (Comissão..., 2004). Segundo Pommer (2009), gramíneas forrageiras ou produtoras de grãos, como o milho, por serem culturas altamente exigentes em N, respondem melhor à aplicação de chorume e estercos líquidos do que aos compostos orgânicos e estercos sólidos, o que também se verifica nos sistemas orgânicos com adubações anuais e efeito cumulativo dos adubos.
     O feijão, ao contrário do milho, por menos dependente do fornecimento de N via adubação, pois apresenta capacidade de obter parte do N por fixação biológica (Vieira et al., 2005), foi menos influenciado pela fonte de adubo orgânico, mostrando até mesmo uma tendência de maior produtividade com adubos sólidos. Resultados desses autores mostraram que o adubo orgânico pode até melhorar a eficiência simbiótica dos rizóbios nativos em feijoeiro.
     A alta produtividade de grãos alcançada pelo cultivar de milho SCS154 Fortuna, de polinização aberta, em média acima de 7t/ha com adubação orgânica, mostra que esse cultivar apresenta boa adaptação e alto potencial de produção em sistema orgânico, sem utilização de agrotóxicos ou adubos de alta solubilidade. Os resultados mostram ainda que, mesmo sem adubação, o cultivar apresenta bom potencial de produção, e que a boa fertilidade inicial do solo e o sistema de produção adotado, com rotação de culturas e a inclusão de plantas recicladoras de nutrientes e fixadoras de nitrogênio, devem ter contribuído para esse bom desempenho.
     O cultivar de feijão SCS202 Guará, pertencente ao grupo carioca, também mostrou boa adaptação ao sistema orgânico, atingindo, com adubação orgânica, no primeiro ano, produtividade média de 2.521kg/ha, 21% superior à testemunha. No segundo cultivo o aumento em produtividade foi de 67%, porém o potencial de produção da cultura nesse ano foi limitado por deficiência hídrica.

Tabela 3. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de milho nos anos agrícolas 2004/05, 2006/07 e 2008/09 no sistema plantio direto em rotação com a cultura do feijão.
Fonte de adubo
2004/05
2006/07
2008/09
Média
                          .......................................................kg/ha................................................
Esterco líquido (ELS)
7.176 a (2)
7.848 a
6.854 a
7.293 a
Esterco de aves (EA)
6.665 ab
7.322 b
6.802 a
6.926 ab
Cama sobreposta (CS)
6.685 ab
7.349 b
6.110 b
6.715 ab
Composto orgânico (CES)(1)
6.677 ab
7.173 b
5.692 bc
6.509 b
Composto orgânico (CEB) (1)
6.346 b
6.918 b
5.449 c
6.237 b
Testemunha (T)
4.739 c
5.112 c
3.299 d
4.383 c
(1) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.
(2) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%

Conclusões
• A adubação orgânica influencia positivamente a produção de grãos de milho e de feijão no sistema orgânico.
• Altas produtividades de feijão (2,5t/ha) e de milho (7t/ha) são alcançadas com uso exclusivo de adubação orgânica e rotação de culturas, sem necessidade de se fazer uso de adubos minerais.
• O milho responde mais em produtividade à aplicação de esterco líquido de suínos e ao esterco sólido com maior teor de nitrogênio, ao passo que o feijoeiro responde de forma semelhante às diversas fontes de adubo.

Literatura citada
1. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS/RS-SC). Manual de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/Núcleo Regional Sul, 2004. 400p.

2. CRUZ, J.C.; KONZEN, E.A.; PEREIRA FILHO, I.A. et al. Produção de milho orgânico na agricultura familiar. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS, 2006. 17p. (Embrapa-CNPMS. Circular Técnica, 81).

3. EPAGRI/CEPA. Índice de Produtividade e Produtividade de Milho - 1985-2007. Disponível em: . Acesso em: 17 dez. 2009.

4. KIEHL, E.J. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba: Editora Agronômica Ceres, 1985. 492p.

5. KIEHL, E.J. Manual de compostagem: maturação e qualidade do composto. 4.ed. Piracicaba: E.J. Kiehl, 2004. 173p.

6. KONZEN, E.A.; PEREIRA FILHO, I.A.; BAHIA FILHO, A.F.C. et al. Manejo do esterco líquido de suínos e sua utilização na adubação do milho. 2.ed. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS, 1998. (Embrapa-CNPMS. Circular Técnica, 25).

7. LAC... Levantamento agropecuário de Santa Catarina. Primeiro Censo Agropecuário do Brasil com a identificação da localização das sedes das propriedades pelo uso de tecnologia de localização por satélite. Epagri, Florianópolis, 2004.

8. OLIVEIRA, P.A.V. de. Tecnologias para o manejo de resíduos na produção de suínos: manual de boas práticas. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2004. 109p. (PNMA II).

9. POMMER, G. Vergleich der Wirkungen von Gülle mit Stallmist und Jauche im Ökologischen Landbau Bayeriche Landesanstalt für Landwirtschaft. Institut für Agrarökologie, Ökologischen Landbau und Bodenschutz. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2009.

10. PRATES, H.T.; VIANA, P.A.; WAQUIL, J.M. Atividade de extrato aquoso de folhas de nim (Azadirachta indica) sobre Spodoptera frugiperda. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.38, n.3, p.437-439, 2003.

11. RUSCH, H.P. Bodenfruchtbarkeit. Eine Studie biologischen Denkens. 7.ed. Berlim: Organischer Landbau Verlagsgesellschaft, 2004. 256p.

12. SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T. Mucuna: a proteção do solo em lavoura de milho. Agropecuária Catarinense, v.1, n.1, p.21-25, 1988.

13. SCHERER, E.E.; AITA, C.; BALDISSERA, I.T. Avaliação da qualidade do esterco líquido de suíno da região Oeste Catarinense para fins de utilização como fertilizante. Florianópolis: Epagri, 1996. 46p. (Epagri. Boletim Técnico, 79).

14. SCHERER, E.E. Utilização de esterco de suínos como fonte de nitrogênio: bases para adubação dos sistemas milho/feijão e feijão/milho em cultivos de sucessão. Florianópolis: Epagri, 1998. 49p. (Epagri. Boletim Técnico, 99).

15.SCHERER, E.E. Eficiência do esterco de suínos no suprimento de nitrogênio para milho no sistema plantio direto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 1., Porto Alegre, 2003. Anais... Porto Alegre: Emater/RS-ASCAR, 2003. 1 CD-Rom.

16. TESTA, V.M.; NADAL, R. de; MIOR, L.C. et al. O desenvolvimento sustentável do Oeste Catarinense -Proposta para discussão. Florianópolis: Epagri, 1996. 247p.

17. VIEIRA, R.F.; TSAI, S.M.; TEIXEIRA, M.A. Nodulação e fixação simbiótica de nitrogênio em feijoeiro com estirpes nativas de rizóbio, em solo tratado com lodo de esgoto. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.40, n.10, p.1047-1050, 2005.


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