domingo, 27 de abril de 2014


Circular Técnica, 67 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008


Autores

Tereza Cristina O.Saminêz Eng. Agr., MSc em Agronomia, Embrapa Hortaliças/MAPA- Brasília, DF. E-mail: tereza.cristina@agricultura.gov.br

Rogério Pereira Dias Eng. Agr., Fiscal Fed.Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. E-mail:

Fabiana Góes A. Nobre Zootecnista, Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Rio de Janeiro, J. Email: fabiana.nobre@agricultura.gov.br

Roberto Guimarães H. Mattar Eng. Agr., Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. Email: roberto.mattar@agricultura.gov.br

Jorge Ricardo A.Gonçalves Eng. Agr., MSc., Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. E-mail: jorge.ricardo@agricultura.gov.br

                   Foto: Tereza Saminêz


Agroecologia é a ciência que apresenta uma série de princípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar sistemas de produção de base ecológica (agroecossistemas), mas não é uma prática agrícola ou um sistema de produção (ALTIERI, 1995).
É uma nova abordagem que integra os conhecimentos científicos (agronômicos, veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e antropológicos) aos conhecimentos populares para a compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolas, com vistas a sustentabilidade.
Em termos simples, a agroecologia pode ser considerada como a ciência que norteia os sistemas orgânicos de produção, enquanto a agricultura orgânica é a aplicação prática dos conhecimentos gerados pela agroecologia e abrange todas as linhas de base ecológica, como biodinâmica, natural, conservacionistas.

A Agricultura Orgânica
A agricultura orgânica surgiu de 1925 a 1930 com os trabalhos do inglês Albert Howard. Ressalta a importância da matéria orgânica nos processos produtivos e mostra que o solo não deve ser entendido apenas como um conjunto de substâncias, tendência proveniente da química analítica, pois nele ocorre uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas (“solo vivo”). Em 1940, Jerome Irving Rodale difundiu a agricultura orgânica nos EUA (EHLERS, 1999). A base da agricultura orgânica é o manejo do solo, por meio da compostagem em pilhas, do uso de plantas de raízes profundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, e da atuação de micorrizas na produtividade e “saúde das culturas” (PASCHOAL, 1994).

O termo ‘Agricultura Orgânica’ usado hoje
Na década de 1920 surgiram, quase que simultaneamente, alguns movimentos contrários à adubação química, que valorizavam o uso da matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos biológicos. Esses movimentos podem ser agrupados em quatro grandes vertentes: a agricultura biodinâmica, a orgânica, a biológica e a natural. Com o passar do tempo apareceram outras designações variantes das quatro vertentes citadas ou denominações recentes de uso restrito, tais como: método Lemaire-Boucher, permacultura, ecológica, ecologicamente apropriada, regenerativa, agricultura poupadora de insumos, renovável. Nos anos da década de 1970, o conjunto dessas vertentes passaria a ser chamado de agricultura alternativa e logo depois, o termo agricultura orgânica passou a ser comumente usado com o sentido de agricultura alternativa.

A agricultura orgânica pela definição da legislação brasileira
Segundo Brasil (2003), “sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”. O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange, portanto, os denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos em Brasil (2003).



Outras definições

Agricultura biodinâmica
É fruto da antroposofia (“conhecimento do ser humano”), uma filosofia baseada nas ideias da “ciência espiritual”, fundada em 1924 pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Embora fundamentada nos mesmos princípios e técnicas da agricultura orgânica, a biodinâmica apresenta peculiaridades, tais como as questões espirituais ligadas à antroposofia; o uso de preparados biodinâmicos; os calendários astrológicos; os testes de cristalização sensitiva e cromatrografia de solos e de plantas; as marcas registradas universais Demeter e Biodyn; e o equilíbrio e harmonia entre cinco elementos básicos: terra, plantas, animais, influências cósmicas e o homem (KOEPF et al., 1983).

Agricultura biológica
Surgiu em 1941 com os trabalhos do suíço Hans Peter Muller. Em 1960, o médico alemão Hans Peter Rush sistematizou e difundiu as propostas de Muller (EHLERS, 1999). A compostagem na superfície do solo e o teste microbiológico de Rush para a avaliação da fertilidade do solo são particularidades desse método, que tem como princípio fundamental o ciclo das bactérias formadoras de ácido lático e de nucleoproteínas. A partir de 1960, as atividades da agricultura biológica foram introduzidas na França pelo método Lemaire- Boucher, também chamado de agrobiológico. A pecualiridade deste método é o uso do pó de uma alga marinha, Lithothamne calcareum, rica em micronutrientes, necessários às culturas (PASCHOAL, 1994).

Agricultura natural
Em 1935, o japonês Mokiti Okada criou uma religião que tinha como um dos seus alicerces a agricultura natural, cujo princípio é que as atividades agrícolas devem respeitar as leis da natureza. Praticamente na mesma época, em 1938, Masanobu Fukuoka chegava a conclusões muito semelhantes às de Okada. As práticas agrícolas mais recomendadas são a rotação de culturas e o uso de adubos verdes, compostos e cobertura morta sobre o solo. A agricultura natural é bastante reticente em relação ao uso de matéria orgânica de origem animal (EHLERS, 1999).

Agricultura regenerativa
Nome pelo qual a agricultura orgânica ficou conhecida nos EUA, na década de 1930 (PASCHOAL, 1994). Segundo Pretty (1995), citado por Darolt (2002), este modelo reforça o fato de o agricultor buscar sua independência pela maximização do uso dos recursos encontrados e criados na própria unidade de produção agrícola ao invés de buscar recursos externos.

Permacultura
Método surgido na Austrália, no final da década de 1970, desenvolvido por Bill Mollison, que visa criar agroecossistemas sustentáveis mediante a simulação dos ecossistemas naturais, o movimento coloca as culturas perenes como elemento central da sua proposta (KHATOUNIAN, 2001). A permacultura é um sistema evolutivo integrado de espécies, úteis ao homem, animais e vegetais perenes, onde se destacam as árvores (MOLLISON; HOLMGREN, 1983, citados por DAROLT, 2002), e que consideram aspectos paisagísticos e energéticos em sua elaboração e manutenção. As principais técnicas aplicadas são a alternância de cultivos de gramíneas e leguminosas, e a manutenção de palha como cobertura do solo.

Princípios dos sistemas orgânicos de produção (BRASIL, 2007)
• A rede de produção orgânica deve contribuir para o desenvolvimento local, social e econômico sustentáveis;
• A rede de produção orgânica deve manter esforços contínuos para o cumprimento da legislação ambiental e trabalhista pertinentes na unidade de produção, considerada na sua totalidade;
• Possuir relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e eqüidade, independentemente das formas de contrato de trabalho;
• Incentivar à integração da rede de produção orgânica e à regionalização da produção e comércio dos produtos, e estimular a relação direta entre o produtor e o consumidor final;
• Realizar produção e consumo responsáveis, comércio justo e solidário baseados em procedimentos éticos;
• Desenvolver sistemas agropecuários baseados em recursos renováveis e organizados localmente;
• Incluir práticas sustentáveis em todo o seu processo, desde a escolha do produto a ser cultivado até sua colocação no mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produção e dos resíduos gerados;
• Ofertar produtos saudáveis, isentos de contaminantes, oriundos do emprego intencional de produtos e processos que possam gerá-los e que ponham em risco a saúde do produtor, do trabalhador ou do consumidor e o meio ambiente;
• Preservar a diversidade biológica dos ecossistemas naturais, a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção, com especial atenção às espécies ameaçadas de extinção, e a diversificação da paisagem e produção vegetal;
• Usar boas práticas de manuseio e processamento com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas;
• Adotar práticas na unidade de produção que contemplem o uso saudável do solo, da água e do ar de modo a reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação e desperdícios desses elementos;
• Utilizar práticas de manejo produtivo que preservem as condições de bem-estar dos animais; o manejo produtivo deve permitir condições onde os animais vivam livres de dor, sofrimento, angústia, em um ambiente em que possam expressar proximidade com o comportamento em seu habitat original, compreendendo movimentação, territorialidade, descanso e ritual reprodutivo. A nutrição dos animais deve assegurar alimentações balanceadas, correspondentes à fisiologia e comportamento de cada raça;
• Incrementar os meios necessários ao desenvolvimento e equilíbrio da atividade biológica do solo.
• Empregar produtos e processos que mantenham ou incrementem a fertilidade do solo em longo prazo;
• Proporcionar a reciclagem de resíduos de origem orgânica, e reduzir ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis;
• Manter o equilíbrio no balanço energético do processo produtivo; e Realizar a conversão progressiva de toda a unidade de produção para o sistema orgânico.

      Foto: Roberto Mattar


A Teoria da Trofobiose
Segundo Chaboussou (1999), as plantas desequilibradas são mais susceptíveis ao ataque de pragas (fungos, bactérias, insetos, nematóides, e outros). Este desequilíbrio pode ser provocado por alterações fisiológicas, principalmente na composição da seiva vegetal, causada por fatores nutricionais, excesso ou falta de nutrientes; por intoxicações químicas; pelo excesso do uso de produtos químicos sintéticos; e por estresse hídrico, excesso ou falta de água. As pragas não possuem capacidade de decompor e aproveitar as substâncias complexas e insolúveis, mas a partir de substâncias simples e solúveis são capazes de formá-las. Assim, o estado bioquímico das plantas, presença ou ausência de substâncias simples e solúveis essenciais à sobrevivência das pragas é que determinará o estabelecimento ou não das pragas e, consequentemente, o aparecimento dos sintomas de ataque. Como as moléculas simples e solúveis estão presentes nas plantas desequilibradas, as desordens fisiológicas tornam as plantas mais susceptíveis ao ataque das pragas. Como exemplos pode-se citar o uso de agrotóxicos, que leva a inibição da formação de substâncias complexas na planta; a carência de micronutrientes nas plantas, que inibe a formação de substâncias complexas; e o uso exagerado de adubos nitrogenados solúveis, que leva a produção de substâncias mais simples, como os aminoácidos.

Equilíbrio Ecológico
Equilíbrio ecológico é o estado ou condição de um ambiente natural ou manejado pelo homem em que ocorrem relações harmoniosas entre os organismos vivos e entre estes e o meio ambiente, ao longo do tempo. É uma condição fundamental para a sustentabilidade nos sistemas orgânicos de produção no tempo e no espaço.

Diversidade biológica ou biodiversidade
Compreende todas as formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos), suas diferentes relações e funções e os diversos ambientes formados por eles. É responsável pela manutenção e recuperação do equilíbrio e estabilidade dos ambientes naturais e manejados pelo homem. Proporciona o aumento da freqüência de reprodução, da taxa
de crescimento, do tamanho e da diversidade de organismos vivos num dado espaço e o conseqüente surgimento e manutenção de espécies que sustentam outras formas de vida e modificam o ambiente, tornando-o apropriado e seguro para a vida.
Um dos princípios da produção orgânica é a preservação e ampliação da biodiversidade. A restituição da biodiversidade vegetal permite o restabelecimento de inúmeras interações entre o solo, as plantas e os animais, resultando em efeitos benéficos para o agroecossistema.
Entre estes efeitos pode-se citar: variedade na dieta alimentar e de produtos para o mercado; uso eficaz e conservação do solo e da água, através da proteção com cobertura vegetal contínua, manejo da matéria orgânica e implantação de quebra ventos; otimização na utilização de recursos locais; e controle biológico natural.

Aspectos sociais e econômicos da produção na agricultura orgânica
A agricultura orgânica visa o desenvolvimento de sistemas agropecuários sustentáveis organizados localmente, levando em consideração os contextos culturais, sociais e econômicos. É um modelo de produção ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável em pequena, média e grande escala, que visa otimizar o processo produtivo ao invés de maximizar a produtividade. A agricultura orgânica incentiva a integração dos envolvidos na rede de produção, a regionalização da produção e comércio de produtos, a relação direta entre o produtor e consumidor final, o consumo responsável, comércio justo e solidário, e relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e equidade, independente das formas de contrato de trabalho. Quando em comunidades locais, deve-se respeitar a tradição, a cultura e os mecanismos de organização social nas relações de trabalho.

 Foto: Roberto Mattar


Boas práticas da produção orgânica vegetal
As boas práticas são procedimentos orientadores, não obrigatórios, a serem adotados no manejo dos agroecossistemas, e elaborados com a finalidade de serem incorporados, a médio e longo prazo, nos regulamentos técnicos da produção orgânica.
Os sistemas orgânicos de produção agropecuária deverão assegurar a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e modificados em que se insere o sistema de produção.

      Foto: Roberto Mattar


 As práticas recomendadas são:
• Adoção de rotação de culturas diversas e versáteis que incluam adubos verdes, leguminosas e plantas de raízes profundas, ou outras práticas promotoras de diversidade;
• Diversificação entre e dentro das espécies cultivadas;
• Utilização de cordões de contorno;
• Promoção da biodiversidade vegetal e animal em áreas em que esteja cultivada uma só espécie vegetal, através do plantio de várias espécies de plantas, preferencialmente Boas práticas na fertilidade do solo e fertilização A nutrição de plantas deverá estar fundamentada nos recursos do solo, sendo que a base para o programa de adubação deverá ser o material biodegradável produzido nas unidades de produção orgânicas. O manejo da adubação deverá minimizar as perdas de árvores nativas, ou da implantação de faixas de vegetação intercaladas à cultura principal criando corredores ecológicos e;
 • Cobertura apropriada do solo com espécies diversas pelo maior período possível.


                                       Foto: Ronessa Souza


Boas práticas no manejo orgânico e conservação do solo e água
A unidade produtora deverá destinar áreas apropriadas cujo manejo respeite o habitat de espécies silvestres, preserve a qualidade das águas e a saúde do solo. As práticas recomendadas são:
• Adoção de medidas para prevenir erosão, compactação, salinização e outras formas de degradação do solo;
• Minimização das perdas de solo;
• Utilização de matéria orgânica;
• Planejamento de sistemas que utilizem os recursos hídricos de forma responsável e apropriada ao clima e a geografia local;
• Planejamento e manejo de sistemas de irrigação considerando as especificidades de cada cultura;
• Manutenção e preservação de nascentes e mananciais hídricos;
• Utilização de quebra-ventos;
• Integração da produção animal e vegetal e;
• Implantação de sistemas agroflorestais.

Boas práticas no manejo de insetos-praga
Os sistemas orgânicos de produção deverão promover a estruturação das culturas em ecossistemas equilibrados visando à maior resistência a pragas e promovendo a saúde do organismo agrícola. O uso de produtos e processos para controle de organismos potencialmente danosos às culturas deve preservar o desenvolvimento natural das plantas, a sustentabilidade ambiental, a saúde do agricultor e do consumidor final, inclusive em sua fase de armazenamento.

                                        Foto: Ronessa Souza



Referências

ALTIERI, M. A. Entrevista. Agricultura Sustentável, Jaguariúna, v. 2, n. 2, p. 5-11, jul./dez. 1995.
BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de Dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 24 dez. 2003.

BRASIL. Decreto nº 6.323, de 27 de Dezembro de 2007. Regulamenta a Lei nº 10.831, de 23 de Dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 28 dez. p. 2, 2007.

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da trofobiose. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1999. 272 p.

DAROLT, M. R. Agricultura orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 249 p.

EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2. ed. Guaíba: Agropecuária, 1999. 157 p.

KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001. 348 p.

KOEPF, H. H.; PETTERSSON, B. D.; SHAUMANN, W. Agricultura biodinâmica. São Paulo: Nobel, 1983. 332 p.

PASCHOAL, A. D. Produção orgânica de alimentos: agricultura sustentável para os séculos XX e XXI. Piracicaba: Adilson D. Paschoal, 1994. 191 p.


Circular Exemplares desta edição (Circular Técnica) podem ser adquiridos na:
Embrapa Hortaliças
Endereço: BR 060 km 9 Rod. Brasília-Anápolis,  C. Postal 218, 70.531-970 Brasília-DF
 Fone: (61) 3385-9115,  Fax: (61) 3385-9042

 1ª edição: 1ª impressão (2008): 1000 exemplares

 Comitê de Publicações: Presidente: Gilmar P. Henz
Editor Técnico: Flávia A. Alcântara
Membros: Alice Maria Quezado Duval  Edson Guiducci Filho  Milza M. Lana

Expediente: Normalização Bibliográfica: Rosane M. Parmagnani

Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos
Ferreira On 4/27/2014 06:53:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sábado, 12 de abril de 2014

Family Farmer Turns monocropping dependent Pesticides in Agroforestry System biodiverse and Organic

COSTA Junior, Edgar Alves da 1; OLIVEIRA, Geraldo Xavier 2
1 UFSCAR Sorocaba, Bolsista CNPq, e dgac j @ yahoo.com.br ;
2 Autor da Experiência, aguacooperagua @ yahoo.com.br

Resumos do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia
– Porto Alegre/RS 25 a 28/11/2013 -


Resumo: Na região do Vale do Ribeira, perto de Sete Barras, no estado de São Paulo, foi fundada em 1997, a Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Guapiruvú (“AGUA”), que a partir da construção da Agenda 21 local, vem estimulando os pequenos produtores da comunidade a implantar alternativas para uma agricultura sustentável. Esta associação criou uma cooperativa (AGUA-Cooperagua), visando desenvolver as atividades comerciais. A associação e cooperativa agregam, juntas, 121 famílias, na sua maioria, famílias tradicionais (comunidades “caiçaras”). O presente estudo tem por objetivo apresentar uma experiência que vem se consolidando ao longo de 12 anos na prática com Sistemas Agroflorestais, demonstrando a mudança e busca pela qualidade de vida, com menos dependência de insumos externos, otimização da mão-de-obra, a partir de um sistema que oferece diversidade e possibilidade de produtos e renda, aliado ao equilíbrio ecológico.

Palavras-Chave: Banana, Transição Agroecológica, Agricultura Familiar, Vale do Ribeira, Cooperativismo


Abstract: The Association of Friends and Residents of the Guapiruvu District ("AGUA") was founded in 1997 in Vale do Ribeira region, near Sete Barras, state of São Paulo.. In the domain of the local Agenda 21, the association has been encouraging small farmers of the community to implement alternatives for sustainable agriculture. This association has created a cooperative (AGUA-Cooperágua) in order to develop commercial activities. Combined, the association and cooperative aggregate 121 families, mostly traditional families of "native” communities. The present study presents an experience that is being consolidated for over 12 years with practices in agroforestry systems. It demonstrates changes and the search for quality of life, with less dependence on external inputs, labor optimization, based on a system that offers diversity of products and income sources, combined with ecological balance.

Keywords: Agroforestry, Pesticides, Banana, Agroecological Transition, Family Farming


Contexto
O agricultor Geraldo Xavier de Oliveira, morador do Bairro do Guapiruvú, em Sete Barras, no estado de São Paulo, juntamente com seus familiares, adquiriu uma propriedade em 1985 e a dividiram em partes iguais, ficando o agricultor com uma parcela que depois foi denominada Sítio Bela Vista. O sítio possui uma área total de oito hectares, deste total, aproximadamente três hectares são caracterizados por vegetação nativa e os cinco hectares restantes fazem parte do seu novo modelo de transição agroecológica. Na região do Bairrobdo Guapiruvú, próximo ao Parque Estadual de Intervales, produz-se muita banana a partir dos modelos convencionais, monocultivados, com constantes aplicações de adubos químicos e agrotóxicos, muitas vezes utilizando-se de pulverizações aéreas.
Os agricultores familiares estavam cansados deste tipo de sistema, que muitos deles, assim como o agricultor Geraldo, também fez parte. “Quem ganha é dominado pelo sistema capitalista, que quanto mais se produz, mais se empresta dos bancos, ou seja, compra e usa mais insumos, fazendo parte de um ciclo vicioso que será difícil de sair dele sem se Em 1997, esses agricultores formaram uma associação denominada AGUA ou (Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Guapiruvú), que a partir da construção da Agenda 21 local está mudando a realidade do bairro e dos agricultores familiares que fazem parte deste conjunto.
A partir de 1999, após participar de um curso sobre sistemas agroflorestais, Geraldo resolveu modificar a sua forma de trabalhar com relação agricultura-meio ambiente, saindo de um sistema de monocultivo de bananeiras, mantido “a pleno sol” e submetido a freqüentes aplicações de agrotóxicos, para um sistema biodiversificado, buscando com isso, qualidade de vida e um envolvimento maior da família na produção. O presente estudo tem por objetivo apresentar uma experiência que vem se consolidando na prática com Sistemas Agroflorestais, demonstrando a mudança ou busca pela qualidade de vida, com menos dependência de insumos externos, otimização da mão-de-obra, a partir de um sistema que oferece diversidade e possibilidade de produtos e renda, aliado ao equilíbrio ecológico.


Descrição da experiência
A história do agricultor experimentador Geraldo, vem daqueles agricultores que resolveram buscar uma alternativa sustentável, empurrado pela experiência dura com a utilização de produtos químicos em sua produção. Até 1999, o agricultor conduziu sua produção de bananas em pleno monocultivo, super adensadas, para aproveitar a aplicação aérea de Óleo Mineral e Tilt, como também as aplicações constantes de adubos químicos (NPK, FTE, Bórax e etc).
Diante dos objetivos propostos pela associação, a comunidade, através de parcerias,realizou um curso sobre agrofloresta, recebendo o agricultor difusor de sistema agroflorestais, Ernest Göstch, para ministrar o curso. Neste curso, os agricultores perceberam a importância de se criar um equilíbrio no seu local de produção, o chamado equilíbrio ecológico, assim como olhar para sua pequena área e pensar num sistema para produzir diversos produtos, tanto para sua alimentação, como para comercialização do excedente, buscando com isso, geração de renda, produção de modo saudável, sem a necessidade de aplicações de adubos e, sim, da introdução de espécies que tenham essa função, bem como outras.
Geraldo plantou, de forma esparsa nos bananais, o palmiteiro jussara (Euterpe edulis) que vem sendo manejado. Existe dentro dessa área, um local com muitas matrizes e que vem sendo implantado por todo o bananal que além de proporcionar uma sombra rala para as bananeiras o agricultor pretende deixá-las crescer para que, comercialmente, seja vendido o suco da polpa, ou mesmo o palmito em conserva.
Outra espécie utilizada com tamanha importância pelo agricultor é o guapiruvú ou guapuruvú (Schizolobium parahyba), uma grande árvore da família das leguminosas, considerada pioneira de crescimento muito rápido, que forma uma copa a mais de vinte metros do chão e que deixa passar bastante luz para as bananeiras.
A madeira do guapiruvú é utilizada pelas indústrias de caixotaria e lâminas de compensados. Esta mesma planta pode ser vista atualmente, em regiões litorâneas do Estado de Santa Catarina. O mais interessante na estratégia da utilização desta planta está no seu efeito protetor, porque cria uma sombra rala, que permite a passagem da luz solar moderada e com isso, os agricultores acreditam que o efeito da Sigatoka Amarela, diminua mais que 70%. Na área do agricultor Geraldo, antes pulverizadas com TILT® e através de pulverização aérea, gerando custos e danos ambientais, são controladas atualmente com apenas 25% de óleo mineral, com bomba costal motorizada e espaçadas a cada 60 dias na proporção de 5:1 composta na maior parte por água.
Na sombra das bananeiras, ele deixa formar uma vegetação nativa espontânea, constituída principalmente por espécies medicinais, ocupando o “sub-bosque” e por espécies madeireiras nativas cujas sementes são introduzidas por ele, obtidas em sua área de mata nativa, ou no próprio viveiro da associação, ou ainda, trazidas por pássaros e pequenos mamíferos que freqüentemente visitam suas áreas.
Hoje, no bananal do Geraldo, existe em torno de 40 espécies nativas por hectare (além das espécies introduzidas com maior interesse, como a bananeira, o palmito e o guapuruvú).
Além dessas espécies, existem aquelas que são manejadas para a formação de biomassa, visando o melhoramento do solo e que são reservadas para fins madeireiros, medicinais e etc. Pequenas áreas dentro do bananal são mantidas e manejadas como “bancos de sementes” onde são preservadas matrizes de espécies florestais nativas.


Pontos fortes da experiência:
Diversidade de produtos em tempos diferentes (curto, médio e longo prazo); Maior independência financeira (sem financiamentos, dívidas com bancos e etc.); Há um maior equilíbrio de ataques de pragas e doenças, principalmente na banana; Aumento da biodiversidade (principalmente de aves e animais terrestre); Qualidade de vida e saúde (sem aplicação de agroquímicos), e conscientização ambiental; Investimento (abertura de uma poupança) para o futuro e principalmente para novas gerações; Através do sistema agroflorestal, se consegue quebrar regras da lei [por ex.: licença para comercialização de certos produtos de maneira legal (manejo)].


Pontos Fracos da experiência:
“Toma muito tempo e dá um trabalhão danado, não é como uma pessoa dizer que vai fazer tantas tarefas. Tem que observar e planejar tudo antes e quando for fazer, souber o que se deve plantar, podar...”, etc.; Retorno de uma implantação desde o início é de médio a longo prazo; O comércio (atacadista e varejista) ainda não está preparado para produtos de SAFs (querem produtos sempre em grandes quantidades e perfeitos); No caso deles (produtores de banana), há uma grande redução da produção.


Formas de comercialização e agregação de valor (cadeia produtiva)
Em 2004, os agricultores conseguiram a certificação de transição agroecológica de algumas áreas junto ao IMAFLORA e também formalizaram a COOPERAGUA, cooperativa que gerencia a comercialização dos agricultores associados. Com esta cooperativa, os agricultores compraram um caminhão, melhorando e facilitando a entrega direta dos produtos.
A comercialização, principalmente da banana, ainda é feita para intermediários. Porém, os agricultores sempre estão procurando encontrar mercados alternativos, bem como processarem alguns produtos para agregarem maior valor.


Objetivo comercial do Agricultor nos SAFs
Em curto prazo o principal objetivo é a comercialização de banana certificada. Como a associação pensa em ter uma agroindústria, os agricultores querem utilizar algumas frutas para o processamento de doces, compotas, etc.
O palmito Jussara, do qual principalmente utiliza-se a polpa na fabricação de sucos e em último caso o palmito em conserva. Em médio prazo, visa-se a comercialização de plantas medicinais e a longo prazo, o comércio de toras de madeiras de lei.


Resultados
O agricultor, desde 1999, quando ouviu pela primeira vez sobre a ideia do trabalho com sistemas agroflorestais, nunca mais deixou de buscar capacitação técnica. Para isso, o agricultor sempre procura participar de cursos, palestras sobre assuntos ligados à Agroecologia. O agricultor diz que é tão importante trocar experiências, realizar intercâmbios, que ter feito parte deste projeto para ele, é ter tido a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre SAFs e continuar acreditando que é possível a sustentabilidade na agricultura.


Localização
Bairro do Guapiruvú, município de Sete Barras, Vale do Ribeira, estado de São Paulo.


Agradecimentos
Agradeço pela oportunidade de participação no Projeto “Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica” – CONSAFs/FNMA, executado pelo PROTER – Programa da Terra Assessoria, Pesquisa e Educação Popular no Meio Rural, no Vale do Ribeira/SP

Figura 1 - Sistema Agroflorestal, demonstrando interação das árvores aliada à produção e proteção







Ferreira On 4/12/2014 04:20:00 PM Comentarios LEIA MAIS

domingo, 27 de abril de 2014

Princípios Norteadores da Produção Orgânica de Hortaliças


Circular Técnica, 67 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008


Autores

Tereza Cristina O.Saminêz Eng. Agr., MSc em Agronomia, Embrapa Hortaliças/MAPA- Brasília, DF. E-mail: tereza.cristina@agricultura.gov.br

Rogério Pereira Dias Eng. Agr., Fiscal Fed.Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. E-mail:

Fabiana Góes A. Nobre Zootecnista, Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Rio de Janeiro, J. Email: fabiana.nobre@agricultura.gov.br

Roberto Guimarães H. Mattar Eng. Agr., Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. Email: roberto.mattar@agricultura.gov.br

Jorge Ricardo A.Gonçalves Eng. Agr., MSc., Fiscal Fed. Agropecuário – MAPA- Brasília, DF. E-mail: jorge.ricardo@agricultura.gov.br

                   Foto: Tereza Saminêz


Agroecologia é a ciência que apresenta uma série de princípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar sistemas de produção de base ecológica (agroecossistemas), mas não é uma prática agrícola ou um sistema de produção (ALTIERI, 1995).
É uma nova abordagem que integra os conhecimentos científicos (agronômicos, veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e antropológicos) aos conhecimentos populares para a compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolas, com vistas a sustentabilidade.
Em termos simples, a agroecologia pode ser considerada como a ciência que norteia os sistemas orgânicos de produção, enquanto a agricultura orgânica é a aplicação prática dos conhecimentos gerados pela agroecologia e abrange todas as linhas de base ecológica, como biodinâmica, natural, conservacionistas.

A Agricultura Orgânica
A agricultura orgânica surgiu de 1925 a 1930 com os trabalhos do inglês Albert Howard. Ressalta a importância da matéria orgânica nos processos produtivos e mostra que o solo não deve ser entendido apenas como um conjunto de substâncias, tendência proveniente da química analítica, pois nele ocorre uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas (“solo vivo”). Em 1940, Jerome Irving Rodale difundiu a agricultura orgânica nos EUA (EHLERS, 1999). A base da agricultura orgânica é o manejo do solo, por meio da compostagem em pilhas, do uso de plantas de raízes profundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, e da atuação de micorrizas na produtividade e “saúde das culturas” (PASCHOAL, 1994).

O termo ‘Agricultura Orgânica’ usado hoje
Na década de 1920 surgiram, quase que simultaneamente, alguns movimentos contrários à adubação química, que valorizavam o uso da matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos biológicos. Esses movimentos podem ser agrupados em quatro grandes vertentes: a agricultura biodinâmica, a orgânica, a biológica e a natural. Com o passar do tempo apareceram outras designações variantes das quatro vertentes citadas ou denominações recentes de uso restrito, tais como: método Lemaire-Boucher, permacultura, ecológica, ecologicamente apropriada, regenerativa, agricultura poupadora de insumos, renovável. Nos anos da década de 1970, o conjunto dessas vertentes passaria a ser chamado de agricultura alternativa e logo depois, o termo agricultura orgânica passou a ser comumente usado com o sentido de agricultura alternativa.

A agricultura orgânica pela definição da legislação brasileira
Segundo Brasil (2003), “sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”. O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange, portanto, os denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos em Brasil (2003).



Outras definições

Agricultura biodinâmica
É fruto da antroposofia (“conhecimento do ser humano”), uma filosofia baseada nas ideias da “ciência espiritual”, fundada em 1924 pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Embora fundamentada nos mesmos princípios e técnicas da agricultura orgânica, a biodinâmica apresenta peculiaridades, tais como as questões espirituais ligadas à antroposofia; o uso de preparados biodinâmicos; os calendários astrológicos; os testes de cristalização sensitiva e cromatrografia de solos e de plantas; as marcas registradas universais Demeter e Biodyn; e o equilíbrio e harmonia entre cinco elementos básicos: terra, plantas, animais, influências cósmicas e o homem (KOEPF et al., 1983).

Agricultura biológica
Surgiu em 1941 com os trabalhos do suíço Hans Peter Muller. Em 1960, o médico alemão Hans Peter Rush sistematizou e difundiu as propostas de Muller (EHLERS, 1999). A compostagem na superfície do solo e o teste microbiológico de Rush para a avaliação da fertilidade do solo são particularidades desse método, que tem como princípio fundamental o ciclo das bactérias formadoras de ácido lático e de nucleoproteínas. A partir de 1960, as atividades da agricultura biológica foram introduzidas na França pelo método Lemaire- Boucher, também chamado de agrobiológico. A pecualiridade deste método é o uso do pó de uma alga marinha, Lithothamne calcareum, rica em micronutrientes, necessários às culturas (PASCHOAL, 1994).

Agricultura natural
Em 1935, o japonês Mokiti Okada criou uma religião que tinha como um dos seus alicerces a agricultura natural, cujo princípio é que as atividades agrícolas devem respeitar as leis da natureza. Praticamente na mesma época, em 1938, Masanobu Fukuoka chegava a conclusões muito semelhantes às de Okada. As práticas agrícolas mais recomendadas são a rotação de culturas e o uso de adubos verdes, compostos e cobertura morta sobre o solo. A agricultura natural é bastante reticente em relação ao uso de matéria orgânica de origem animal (EHLERS, 1999).

Agricultura regenerativa
Nome pelo qual a agricultura orgânica ficou conhecida nos EUA, na década de 1930 (PASCHOAL, 1994). Segundo Pretty (1995), citado por Darolt (2002), este modelo reforça o fato de o agricultor buscar sua independência pela maximização do uso dos recursos encontrados e criados na própria unidade de produção agrícola ao invés de buscar recursos externos.

Permacultura
Método surgido na Austrália, no final da década de 1970, desenvolvido por Bill Mollison, que visa criar agroecossistemas sustentáveis mediante a simulação dos ecossistemas naturais, o movimento coloca as culturas perenes como elemento central da sua proposta (KHATOUNIAN, 2001). A permacultura é um sistema evolutivo integrado de espécies, úteis ao homem, animais e vegetais perenes, onde se destacam as árvores (MOLLISON; HOLMGREN, 1983, citados por DAROLT, 2002), e que consideram aspectos paisagísticos e energéticos em sua elaboração e manutenção. As principais técnicas aplicadas são a alternância de cultivos de gramíneas e leguminosas, e a manutenção de palha como cobertura do solo.

Princípios dos sistemas orgânicos de produção (BRASIL, 2007)
• A rede de produção orgânica deve contribuir para o desenvolvimento local, social e econômico sustentáveis;
• A rede de produção orgânica deve manter esforços contínuos para o cumprimento da legislação ambiental e trabalhista pertinentes na unidade de produção, considerada na sua totalidade;
• Possuir relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e eqüidade, independentemente das formas de contrato de trabalho;
• Incentivar à integração da rede de produção orgânica e à regionalização da produção e comércio dos produtos, e estimular a relação direta entre o produtor e o consumidor final;
• Realizar produção e consumo responsáveis, comércio justo e solidário baseados em procedimentos éticos;
• Desenvolver sistemas agropecuários baseados em recursos renováveis e organizados localmente;
• Incluir práticas sustentáveis em todo o seu processo, desde a escolha do produto a ser cultivado até sua colocação no mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produção e dos resíduos gerados;
• Ofertar produtos saudáveis, isentos de contaminantes, oriundos do emprego intencional de produtos e processos que possam gerá-los e que ponham em risco a saúde do produtor, do trabalhador ou do consumidor e o meio ambiente;
• Preservar a diversidade biológica dos ecossistemas naturais, a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção, com especial atenção às espécies ameaçadas de extinção, e a diversificação da paisagem e produção vegetal;
• Usar boas práticas de manuseio e processamento com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas;
• Adotar práticas na unidade de produção que contemplem o uso saudável do solo, da água e do ar de modo a reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação e desperdícios desses elementos;
• Utilizar práticas de manejo produtivo que preservem as condições de bem-estar dos animais; o manejo produtivo deve permitir condições onde os animais vivam livres de dor, sofrimento, angústia, em um ambiente em que possam expressar proximidade com o comportamento em seu habitat original, compreendendo movimentação, territorialidade, descanso e ritual reprodutivo. A nutrição dos animais deve assegurar alimentações balanceadas, correspondentes à fisiologia e comportamento de cada raça;
• Incrementar os meios necessários ao desenvolvimento e equilíbrio da atividade biológica do solo.
• Empregar produtos e processos que mantenham ou incrementem a fertilidade do solo em longo prazo;
• Proporcionar a reciclagem de resíduos de origem orgânica, e reduzir ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis;
• Manter o equilíbrio no balanço energético do processo produtivo; e Realizar a conversão progressiva de toda a unidade de produção para o sistema orgânico.

      Foto: Roberto Mattar


A Teoria da Trofobiose
Segundo Chaboussou (1999), as plantas desequilibradas são mais susceptíveis ao ataque de pragas (fungos, bactérias, insetos, nematóides, e outros). Este desequilíbrio pode ser provocado por alterações fisiológicas, principalmente na composição da seiva vegetal, causada por fatores nutricionais, excesso ou falta de nutrientes; por intoxicações químicas; pelo excesso do uso de produtos químicos sintéticos; e por estresse hídrico, excesso ou falta de água. As pragas não possuem capacidade de decompor e aproveitar as substâncias complexas e insolúveis, mas a partir de substâncias simples e solúveis são capazes de formá-las. Assim, o estado bioquímico das plantas, presença ou ausência de substâncias simples e solúveis essenciais à sobrevivência das pragas é que determinará o estabelecimento ou não das pragas e, consequentemente, o aparecimento dos sintomas de ataque. Como as moléculas simples e solúveis estão presentes nas plantas desequilibradas, as desordens fisiológicas tornam as plantas mais susceptíveis ao ataque das pragas. Como exemplos pode-se citar o uso de agrotóxicos, que leva a inibição da formação de substâncias complexas na planta; a carência de micronutrientes nas plantas, que inibe a formação de substâncias complexas; e o uso exagerado de adubos nitrogenados solúveis, que leva a produção de substâncias mais simples, como os aminoácidos.

Equilíbrio Ecológico
Equilíbrio ecológico é o estado ou condição de um ambiente natural ou manejado pelo homem em que ocorrem relações harmoniosas entre os organismos vivos e entre estes e o meio ambiente, ao longo do tempo. É uma condição fundamental para a sustentabilidade nos sistemas orgânicos de produção no tempo e no espaço.

Diversidade biológica ou biodiversidade
Compreende todas as formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos), suas diferentes relações e funções e os diversos ambientes formados por eles. É responsável pela manutenção e recuperação do equilíbrio e estabilidade dos ambientes naturais e manejados pelo homem. Proporciona o aumento da freqüência de reprodução, da taxa
de crescimento, do tamanho e da diversidade de organismos vivos num dado espaço e o conseqüente surgimento e manutenção de espécies que sustentam outras formas de vida e modificam o ambiente, tornando-o apropriado e seguro para a vida.
Um dos princípios da produção orgânica é a preservação e ampliação da biodiversidade. A restituição da biodiversidade vegetal permite o restabelecimento de inúmeras interações entre o solo, as plantas e os animais, resultando em efeitos benéficos para o agroecossistema.
Entre estes efeitos pode-se citar: variedade na dieta alimentar e de produtos para o mercado; uso eficaz e conservação do solo e da água, através da proteção com cobertura vegetal contínua, manejo da matéria orgânica e implantação de quebra ventos; otimização na utilização de recursos locais; e controle biológico natural.

Aspectos sociais e econômicos da produção na agricultura orgânica
A agricultura orgânica visa o desenvolvimento de sistemas agropecuários sustentáveis organizados localmente, levando em consideração os contextos culturais, sociais e econômicos. É um modelo de produção ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável em pequena, média e grande escala, que visa otimizar o processo produtivo ao invés de maximizar a produtividade. A agricultura orgânica incentiva a integração dos envolvidos na rede de produção, a regionalização da produção e comércio de produtos, a relação direta entre o produtor e consumidor final, o consumo responsável, comércio justo e solidário, e relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e equidade, independente das formas de contrato de trabalho. Quando em comunidades locais, deve-se respeitar a tradição, a cultura e os mecanismos de organização social nas relações de trabalho.

 Foto: Roberto Mattar


Boas práticas da produção orgânica vegetal
As boas práticas são procedimentos orientadores, não obrigatórios, a serem adotados no manejo dos agroecossistemas, e elaborados com a finalidade de serem incorporados, a médio e longo prazo, nos regulamentos técnicos da produção orgânica.
Os sistemas orgânicos de produção agropecuária deverão assegurar a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e modificados em que se insere o sistema de produção.

      Foto: Roberto Mattar


 As práticas recomendadas são:
• Adoção de rotação de culturas diversas e versáteis que incluam adubos verdes, leguminosas e plantas de raízes profundas, ou outras práticas promotoras de diversidade;
• Diversificação entre e dentro das espécies cultivadas;
• Utilização de cordões de contorno;
• Promoção da biodiversidade vegetal e animal em áreas em que esteja cultivada uma só espécie vegetal, através do plantio de várias espécies de plantas, preferencialmente Boas práticas na fertilidade do solo e fertilização A nutrição de plantas deverá estar fundamentada nos recursos do solo, sendo que a base para o programa de adubação deverá ser o material biodegradável produzido nas unidades de produção orgânicas. O manejo da adubação deverá minimizar as perdas de árvores nativas, ou da implantação de faixas de vegetação intercaladas à cultura principal criando corredores ecológicos e;
 • Cobertura apropriada do solo com espécies diversas pelo maior período possível.


                                       Foto: Ronessa Souza


Boas práticas no manejo orgânico e conservação do solo e água
A unidade produtora deverá destinar áreas apropriadas cujo manejo respeite o habitat de espécies silvestres, preserve a qualidade das águas e a saúde do solo. As práticas recomendadas são:
• Adoção de medidas para prevenir erosão, compactação, salinização e outras formas de degradação do solo;
• Minimização das perdas de solo;
• Utilização de matéria orgânica;
• Planejamento de sistemas que utilizem os recursos hídricos de forma responsável e apropriada ao clima e a geografia local;
• Planejamento e manejo de sistemas de irrigação considerando as especificidades de cada cultura;
• Manutenção e preservação de nascentes e mananciais hídricos;
• Utilização de quebra-ventos;
• Integração da produção animal e vegetal e;
• Implantação de sistemas agroflorestais.

Boas práticas no manejo de insetos-praga
Os sistemas orgânicos de produção deverão promover a estruturação das culturas em ecossistemas equilibrados visando à maior resistência a pragas e promovendo a saúde do organismo agrícola. O uso de produtos e processos para controle de organismos potencialmente danosos às culturas deve preservar o desenvolvimento natural das plantas, a sustentabilidade ambiental, a saúde do agricultor e do consumidor final, inclusive em sua fase de armazenamento.

                                        Foto: Ronessa Souza



Referências

ALTIERI, M. A. Entrevista. Agricultura Sustentável, Jaguariúna, v. 2, n. 2, p. 5-11, jul./dez. 1995.
BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de Dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 24 dez. 2003.

BRASIL. Decreto nº 6.323, de 27 de Dezembro de 2007. Regulamenta a Lei nº 10.831, de 23 de Dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 28 dez. p. 2, 2007.

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da trofobiose. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1999. 272 p.

DAROLT, M. R. Agricultura orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 249 p.

EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2. ed. Guaíba: Agropecuária, 1999. 157 p.

KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001. 348 p.

KOEPF, H. H.; PETTERSSON, B. D.; SHAUMANN, W. Agricultura biodinâmica. São Paulo: Nobel, 1983. 332 p.

PASCHOAL, A. D. Produção orgânica de alimentos: agricultura sustentável para os séculos XX e XXI. Piracicaba: Adilson D. Paschoal, 1994. 191 p.


Circular Exemplares desta edição (Circular Técnica) podem ser adquiridos na:
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 1ª edição: 1ª impressão (2008): 1000 exemplares

 Comitê de Publicações: Presidente: Gilmar P. Henz
Editor Técnico: Flávia A. Alcântara
Membros: Alice Maria Quezado Duval  Edson Guiducci Filho  Milza M. Lana

Expediente: Normalização Bibliográfica: Rosane M. Parmagnani

Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos

sábado, 12 de abril de 2014

Agricultor Familiar Transforma Monocultivo dependente de Agrotóxicos em Sistema Agroflorestal Biodiversificado e Orgânico

Family Farmer Turns monocropping dependent Pesticides in Agroforestry System biodiverse and Organic

COSTA Junior, Edgar Alves da 1; OLIVEIRA, Geraldo Xavier 2
1 UFSCAR Sorocaba, Bolsista CNPq, e dgac j @ yahoo.com.br ;
2 Autor da Experiência, aguacooperagua @ yahoo.com.br

Resumos do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia
– Porto Alegre/RS 25 a 28/11/2013 -


Resumo: Na região do Vale do Ribeira, perto de Sete Barras, no estado de São Paulo, foi fundada em 1997, a Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Guapiruvú (“AGUA”), que a partir da construção da Agenda 21 local, vem estimulando os pequenos produtores da comunidade a implantar alternativas para uma agricultura sustentável. Esta associação criou uma cooperativa (AGUA-Cooperagua), visando desenvolver as atividades comerciais. A associação e cooperativa agregam, juntas, 121 famílias, na sua maioria, famílias tradicionais (comunidades “caiçaras”). O presente estudo tem por objetivo apresentar uma experiência que vem se consolidando ao longo de 12 anos na prática com Sistemas Agroflorestais, demonstrando a mudança e busca pela qualidade de vida, com menos dependência de insumos externos, otimização da mão-de-obra, a partir de um sistema que oferece diversidade e possibilidade de produtos e renda, aliado ao equilíbrio ecológico.

Palavras-Chave: Banana, Transição Agroecológica, Agricultura Familiar, Vale do Ribeira, Cooperativismo


Abstract: The Association of Friends and Residents of the Guapiruvu District ("AGUA") was founded in 1997 in Vale do Ribeira region, near Sete Barras, state of São Paulo.. In the domain of the local Agenda 21, the association has been encouraging small farmers of the community to implement alternatives for sustainable agriculture. This association has created a cooperative (AGUA-Cooperágua) in order to develop commercial activities. Combined, the association and cooperative aggregate 121 families, mostly traditional families of "native” communities. The present study presents an experience that is being consolidated for over 12 years with practices in agroforestry systems. It demonstrates changes and the search for quality of life, with less dependence on external inputs, labor optimization, based on a system that offers diversity of products and income sources, combined with ecological balance.

Keywords: Agroforestry, Pesticides, Banana, Agroecological Transition, Family Farming


Contexto
O agricultor Geraldo Xavier de Oliveira, morador do Bairro do Guapiruvú, em Sete Barras, no estado de São Paulo, juntamente com seus familiares, adquiriu uma propriedade em 1985 e a dividiram em partes iguais, ficando o agricultor com uma parcela que depois foi denominada Sítio Bela Vista. O sítio possui uma área total de oito hectares, deste total, aproximadamente três hectares são caracterizados por vegetação nativa e os cinco hectares restantes fazem parte do seu novo modelo de transição agroecológica. Na região do Bairrobdo Guapiruvú, próximo ao Parque Estadual de Intervales, produz-se muita banana a partir dos modelos convencionais, monocultivados, com constantes aplicações de adubos químicos e agrotóxicos, muitas vezes utilizando-se de pulverizações aéreas.
Os agricultores familiares estavam cansados deste tipo de sistema, que muitos deles, assim como o agricultor Geraldo, também fez parte. “Quem ganha é dominado pelo sistema capitalista, que quanto mais se produz, mais se empresta dos bancos, ou seja, compra e usa mais insumos, fazendo parte de um ciclo vicioso que será difícil de sair dele sem se Em 1997, esses agricultores formaram uma associação denominada AGUA ou (Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Guapiruvú), que a partir da construção da Agenda 21 local está mudando a realidade do bairro e dos agricultores familiares que fazem parte deste conjunto.
A partir de 1999, após participar de um curso sobre sistemas agroflorestais, Geraldo resolveu modificar a sua forma de trabalhar com relação agricultura-meio ambiente, saindo de um sistema de monocultivo de bananeiras, mantido “a pleno sol” e submetido a freqüentes aplicações de agrotóxicos, para um sistema biodiversificado, buscando com isso, qualidade de vida e um envolvimento maior da família na produção. O presente estudo tem por objetivo apresentar uma experiência que vem se consolidando na prática com Sistemas Agroflorestais, demonstrando a mudança ou busca pela qualidade de vida, com menos dependência de insumos externos, otimização da mão-de-obra, a partir de um sistema que oferece diversidade e possibilidade de produtos e renda, aliado ao equilíbrio ecológico.


Descrição da experiência
A história do agricultor experimentador Geraldo, vem daqueles agricultores que resolveram buscar uma alternativa sustentável, empurrado pela experiência dura com a utilização de produtos químicos em sua produção. Até 1999, o agricultor conduziu sua produção de bananas em pleno monocultivo, super adensadas, para aproveitar a aplicação aérea de Óleo Mineral e Tilt, como também as aplicações constantes de adubos químicos (NPK, FTE, Bórax e etc).
Diante dos objetivos propostos pela associação, a comunidade, através de parcerias,realizou um curso sobre agrofloresta, recebendo o agricultor difusor de sistema agroflorestais, Ernest Göstch, para ministrar o curso. Neste curso, os agricultores perceberam a importância de se criar um equilíbrio no seu local de produção, o chamado equilíbrio ecológico, assim como olhar para sua pequena área e pensar num sistema para produzir diversos produtos, tanto para sua alimentação, como para comercialização do excedente, buscando com isso, geração de renda, produção de modo saudável, sem a necessidade de aplicações de adubos e, sim, da introdução de espécies que tenham essa função, bem como outras.
Geraldo plantou, de forma esparsa nos bananais, o palmiteiro jussara (Euterpe edulis) que vem sendo manejado. Existe dentro dessa área, um local com muitas matrizes e que vem sendo implantado por todo o bananal que além de proporcionar uma sombra rala para as bananeiras o agricultor pretende deixá-las crescer para que, comercialmente, seja vendido o suco da polpa, ou mesmo o palmito em conserva.
Outra espécie utilizada com tamanha importância pelo agricultor é o guapiruvú ou guapuruvú (Schizolobium parahyba), uma grande árvore da família das leguminosas, considerada pioneira de crescimento muito rápido, que forma uma copa a mais de vinte metros do chão e que deixa passar bastante luz para as bananeiras.
A madeira do guapiruvú é utilizada pelas indústrias de caixotaria e lâminas de compensados. Esta mesma planta pode ser vista atualmente, em regiões litorâneas do Estado de Santa Catarina. O mais interessante na estratégia da utilização desta planta está no seu efeito protetor, porque cria uma sombra rala, que permite a passagem da luz solar moderada e com isso, os agricultores acreditam que o efeito da Sigatoka Amarela, diminua mais que 70%. Na área do agricultor Geraldo, antes pulverizadas com TILT® e através de pulverização aérea, gerando custos e danos ambientais, são controladas atualmente com apenas 25% de óleo mineral, com bomba costal motorizada e espaçadas a cada 60 dias na proporção de 5:1 composta na maior parte por água.
Na sombra das bananeiras, ele deixa formar uma vegetação nativa espontânea, constituída principalmente por espécies medicinais, ocupando o “sub-bosque” e por espécies madeireiras nativas cujas sementes são introduzidas por ele, obtidas em sua área de mata nativa, ou no próprio viveiro da associação, ou ainda, trazidas por pássaros e pequenos mamíferos que freqüentemente visitam suas áreas.
Hoje, no bananal do Geraldo, existe em torno de 40 espécies nativas por hectare (além das espécies introduzidas com maior interesse, como a bananeira, o palmito e o guapuruvú).
Além dessas espécies, existem aquelas que são manejadas para a formação de biomassa, visando o melhoramento do solo e que são reservadas para fins madeireiros, medicinais e etc. Pequenas áreas dentro do bananal são mantidas e manejadas como “bancos de sementes” onde são preservadas matrizes de espécies florestais nativas.


Pontos fortes da experiência:
Diversidade de produtos em tempos diferentes (curto, médio e longo prazo); Maior independência financeira (sem financiamentos, dívidas com bancos e etc.); Há um maior equilíbrio de ataques de pragas e doenças, principalmente na banana; Aumento da biodiversidade (principalmente de aves e animais terrestre); Qualidade de vida e saúde (sem aplicação de agroquímicos), e conscientização ambiental; Investimento (abertura de uma poupança) para o futuro e principalmente para novas gerações; Através do sistema agroflorestal, se consegue quebrar regras da lei [por ex.: licença para comercialização de certos produtos de maneira legal (manejo)].


Pontos Fracos da experiência:
“Toma muito tempo e dá um trabalhão danado, não é como uma pessoa dizer que vai fazer tantas tarefas. Tem que observar e planejar tudo antes e quando for fazer, souber o que se deve plantar, podar...”, etc.; Retorno de uma implantação desde o início é de médio a longo prazo; O comércio (atacadista e varejista) ainda não está preparado para produtos de SAFs (querem produtos sempre em grandes quantidades e perfeitos); No caso deles (produtores de banana), há uma grande redução da produção.


Formas de comercialização e agregação de valor (cadeia produtiva)
Em 2004, os agricultores conseguiram a certificação de transição agroecológica de algumas áreas junto ao IMAFLORA e também formalizaram a COOPERAGUA, cooperativa que gerencia a comercialização dos agricultores associados. Com esta cooperativa, os agricultores compraram um caminhão, melhorando e facilitando a entrega direta dos produtos.
A comercialização, principalmente da banana, ainda é feita para intermediários. Porém, os agricultores sempre estão procurando encontrar mercados alternativos, bem como processarem alguns produtos para agregarem maior valor.


Objetivo comercial do Agricultor nos SAFs
Em curto prazo o principal objetivo é a comercialização de banana certificada. Como a associação pensa em ter uma agroindústria, os agricultores querem utilizar algumas frutas para o processamento de doces, compotas, etc.
O palmito Jussara, do qual principalmente utiliza-se a polpa na fabricação de sucos e em último caso o palmito em conserva. Em médio prazo, visa-se a comercialização de plantas medicinais e a longo prazo, o comércio de toras de madeiras de lei.


Resultados
O agricultor, desde 1999, quando ouviu pela primeira vez sobre a ideia do trabalho com sistemas agroflorestais, nunca mais deixou de buscar capacitação técnica. Para isso, o agricultor sempre procura participar de cursos, palestras sobre assuntos ligados à Agroecologia. O agricultor diz que é tão importante trocar experiências, realizar intercâmbios, que ter feito parte deste projeto para ele, é ter tido a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre SAFs e continuar acreditando que é possível a sustentabilidade na agricultura.


Localização
Bairro do Guapiruvú, município de Sete Barras, Vale do Ribeira, estado de São Paulo.


Agradecimentos
Agradeço pela oportunidade de participação no Projeto “Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica” – CONSAFs/FNMA, executado pelo PROTER – Programa da Terra Assessoria, Pesquisa e Educação Popular no Meio Rural, no Vale do Ribeira/SP

Figura 1 - Sistema Agroflorestal, demonstrando interação das árvores aliada à produção e proteção







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