Autor: Irceu Agostini
Publicação: O trabalho compõe a parte I – Recomendações gerais para produção
sustentável de hortaliças - do Boletim Didático nº
107 “Produção de hortaliças em Santa
Catarina”, publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação
completa e ilustrada com 156 páginas, devem entrar em
contato através do site: www.epagri.sc.gov.br
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Recomendações
gerais
A
atividade olerícola possui algumas peculiaridades, entre elas a alta
perecibilidade dos produtos, o ciclo curto das hortaliças e o uso intensivo de
área, mão-de-obra e insumos.
Devido
a essas peculiaridades e, sobretudo, ao alto dinamismo da atividade, a primeira
e mais importante providência do produtor ao iniciar (ou incrementar) a
produção de hortaliças é procurar conhecer bem o mercado que irá absorver seus
produtos. Algumas questões devem ser levantadas
antes mesmo de iniciar o plantio, como: “o que, para quem e quanto produzir”.
Só depois disso é que se passa a levantar a questão do “como produzir”, ou
seja, “qual a tecnologia de produção”.
A
rentabilidade de algumas hortaliças
A
título de exemplo, apresenta-se, a seguir, a rentabilidade de algumas
hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense (Tabela 1).
Estes resultados foram levantados pelo grupo de gestão agrícola, vinculado ao
projeto de Administração Rural e Socioeconomia da Epagri, que acompanhou
propriedades produtoras de hortaliças da região durante o período estudado.
Tabela 1 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças
cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 -2001.
Atividades
|
Indicadores
(US$/ha)2
|
||
Renda
Bruta*
|
Custos
Variáveis1
|
Margem
Bruta*
|
|
Batata doce
|
3.733
|
223
|
3.510
|
Beterraba
|
4.985
|
1.200
|
3.785
|
Cenoura
|
2.888
|
530
|
2.358
|
Couve-flor
|
4.443
|
917
|
3.526
|
Repolho
|
6.888
|
870
|
6.019
|
Tomate
|
18.387
|
3.445
|
14.942
|
Fonte: Epagri, 2005.
1 A renda bruta resulta da quantidade vendida
dividida pelo preço da hortaliça; a margem bruta é a diferença entre a renda
bruta e o custo variável, que é a soma de todos os custos efetuados na cultura,
excluídos os custos fixos (que são os gastos com a infraestrutura utilizada na
produção, como terra, máquinas, equipamentos, benfeitorias, etc).
2 Os valores, em dólares (US$) por hectare,
referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este período.
Em
todas as atividades é possível perceber que a margem bruta é sempre um valor
muito alto em relação ao custo variável. É que o custo da mão-de-obra, que é um
custo expressivo, foi incorporado ao custo fixo, por se tratar de mão-de-obra
familiar. Assim, mesmo que o valor da margem bruta seja alto, isto não garante
que a atividade seja lucrativa, pois desta margem bruta ainda precisa ser
descontado o custo da mão-de-obra familiar e todos os demais custos fixos.
O
cultivo de tomate é o que apresenta a maior margem bruta, muito acima das dos
demais cultivos, como pode ser observado na Tabela 1. Isto, no entanto, não
permite concluir que o tomate sempre será o cultivo mais rentável dentro da
olericultura porque o preço das hortaliças pode variar muito de um ano para
outro e, consequentemente, a margem bruta também e qualquer projeção de
resultados econômicos poderá ser rapidamente anulada devido a estas grandes
flutuações nos preços. Diante disso, a recomendação econômica mais segura em
relação à escolha da espécie a ser cultivada é a diversificação de cultivos. Ao
diversificar os cultivos, o produtor tem a chance de recuperar com uma espécie
o que tiver perdido com outra. Mas também não se pode exagerar na
diversificação, utilizando um grande número de espécies, porque haverá
dificuldades na operacionalização do sistema, seja pela dificuldade de
especialização do produtor, seja pela maior complexidade na condução da
produção em si e da própria comercialização.
Ainda
que o tomate apresente a maior margem bruta (Tabela 1) não é possível afirmar
que o tomate seja a cultura olerícola mais rentável porque esta margem bruta
está expressa como “por hectare”. Dividindo-se as margens brutas da Tabela 1
pelas respectivas necessidades de mão-de-obra de cada cultura, as margens
brutas passam a ser expressas em margem bruta “por dia-homem (DH) trabalhado”
(Tabela 2). Assim, pode se observar que o tomate apresenta uma das menores
margens brutas por DH trabalhado, sendo o repolho o cultivo de maior margem
bruta por DH.
Então, de acordo com os dados apresentados, que cultivo o produtor
deveria incrementar se pretendesse aumentar sua renda? Para saber a resposta é
preciso investigar o motivo pelo qual o produtor não expande a sua produção
atual, se é por falta de área ou por falta de mão-de-obra? Se for por falta de
área, então o produtor deveria aumentar a área de tomate, pois é o que
apresenta a maior margem bruta para cada hectare cultivado (Tabela 1). Se é por
falta de mão-de-obra, que provavelmente será o caso mais frequente, então o
produtor deveria aumentar a área de repolho, pois é o que apresenta a maior
margem bruta para cada DH trabalhado.
Tabela 2 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças
cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 a 2001.
Atividades
|
Mão de obra utilizada
(DH/ha)
|
Indicadores
econômicos (US$/DH)*
|
||
Renda
Bruta
|
Custos
Variáveis
|
Margem
Bruta
|
||
Batata doce
|
71
|
53
|
3
|
50
|
Beterraba
|
55
|
91
|
22
|
69
|
Cenoura
|
118
|
24
|
4
|
20
|
Couve-flor
|
60
|
74
|
15
|
59
|
Repolho
|
53
|
130
|
16
|
114
|
Tomate
|
454
|
41
|
8
|
33
|
Nota: ha = hectare.
*Os valores, em dólares (US$) por dia-homem
(DH), referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este
período
Fonte:
Rochenbach et al., 2005
Portanto, o fator determinante para que o produtor possa escolher a
espécie olerícola que irá cultivar está em conhecer qual o fator de produção
mais limitante, se a área ou a mão-de-obra. O produtor deve preferir aquela que
agrega mais margem bruta em relação ao
fator de produção que mais limita a produção.