1. Escolha do local, análise e correção do
solo, confecção e preparo dos canteiros
O local
deve ser de fácil acesso, próximo à residência, afastado de sanitários, esgotos
e chiqueiros e cercado, para evitar a invasão de animais. A área deve ser
ensolarada (mínimo de 4 a 5 horas de sol), com solos de textura média, com boa
drenagem e protegida dos ventos fortes e frios e, de preferência pouco
inclinada e próxima à fonte de água de boa qualidade. O segundo passo é fazer a
análise do solo; para sabermos
como está o nosso solo, necessitamos também de uma análise do mesmo para ver a
acidez e os nutrientes que estão faltando ou estão em excesso. Para isso,
deve-se procurar um técnico do município para orientar sobre a coleta do solo
para análise e, posteriormente a recomendação de adubação. Numa horta orgânica
é proibido o uso de adubos químicos e deve-se utilizar a adubação orgânica,
pois além de melhorar as propriedades físicas dos solos muito argilosos
(barrentos) e arenosos, fornece todos os nutrientes essenciais para as plantas
(macro e micronutrientes) e com menor custo. Para terrenos pouco férteis, com
baixo teor de matéria orgânica (menos de 2%), determinada pela análise do solo,
recomenda-se a aplicação, preferencialmente, de composto orgânico (3 a 4 kg/m2)
ou esterco de aves ou de gado, curtidos, na quantidade máxima de 2 e 5 kg/m² por ano, respectivamente. Os resíduos orgânicos oriundos da cozinha, os
restos de culturas, as aparas da grama do jardim e as plantas espontâneas
(“mato”) podem se tornar um adubo natural de ótima qualidade e mais barato, que
pode ser feito em casa, através da compostagem. Preparo do canteiro: Para algumas espécies cultivadas em
espaçamentos maiores, basta revolver o solo com enxadão ou pá de corte, na
profundidade mínima de 20 cm e
destorroar o solo com a enxada. Em seguida, deve-se abrir as covas, sulcos ou
ainda fazer camalhões ou leiras, adubar e plantar, conforme o sistema de cada
cultura. Algumas hortaliças necessitam de preparo
especial do terreno para confecção de canteiros que podem servir como
sementeira para posterior transplante de mudas e para semeadura direta/plantio.
Após o revolvimento do solo, os canteiros são levantados e destorroados
com enxada e após, com o rastelo,
elimina-se os torrões. Deve-se evitar preparar o canteiro quando o solo estiver
muito seco ou muito úmido. Em terrenos inclinados, os canteiros devem ficar
atravessados em relação à declividade para evitar que as águas das chuvas os
destruam. Sempre que possível recomenda-se canteiros fixos, feitos
especialmente com tijolos ou pedras (maior durabilidade), madeira, bambu, caule
de bananeira e com outros materiais,
pois evita a erosão e facilita o preparo do mesmo para novos plantios. Na horta
da Escola Municipal Núcleo Rio Caeté, as mães dos alunos confeccionaram
canteiros utilizando garrafas pet e pneus descartados.
2. Escolha das espécies, variedades,
sementes e mudas de acordo com a época de cultivo
No
planejamento da horta é importante a escolha correta das espécies e variedades
de hortaliças conforme a preferência, de acordo com o tamanho do terreno e com
a época de plantio. Na escolha de sementes, deve-se tomar cuidado na aquisição
de sementes de boa qualidade com vigor e germinação, adequados. Caso haja sobra
de sementes de um plantio para outro, recomenda-se guardá-las em sacos
plásticos, eliminando-se o ar e colocando-os na gaveta inferior da geladeira.
As mudas devem ser vigorosas e sadias e, sempre que possível, produzidas em
bandejas de isopor ou copinhos de plásticos, protegidas das chuvas intensas e
das altas temperaturas. Para pequenas hortas, recomenda-se adquirir as mudas,
com bom vigor, de produtores especializados (em Urussanga, na localidade de
Santa Luzia, tem o Eloi Beterli EB Viveiros) ou em agropecuárias. Se houver limitação de espaço, deve-se dar
preferência para espécies de ciclo curto (2 a 3 meses de ciclo, no máximo) e
com espécies plantadas ou semeadas em
espaçamentos menores entre plantas e linhas. A época de cultivo é muito
importante, pois certas espécies se desenvolvem bem em determinadas estações do
ano. Algumas espécies não suportam o frio, por isso não devem ser plantadas no
inverno e outras não produzem bem no verão. Algumas espécies possuem variedades
que foram desenvolvidas para épocas diferentes de plantio. A alface, cenoura,
repolho, couve-flor e brócolis possuem variedades adaptadas para cultivo em
todas as épocas de plantio, por isso, é importante saber a variedade certa para
cada estação. No verão, especialmente em regiões quentes e em períodos de
férias, deve-se escolher espécies que não exigem muitos cuidados. Estas devem
ser pouco dependentes de irrigação e mais resistentes à estiagens e às altas e
freqüentes precipitações, associadas às altas temperaturas que ocorrem nessa
época, especialmente no litoral. Sugere-se no verão hortaliças que propiciem
boa cobertura de solo como batata-doce, abóboras, morangas, repolho, aipim e milho
consorciado com outras espécies, evitando erosão e não dando chance para
surgimento de plantas espontâneas (“mato”) entre os cultivos. Além disso e, o
mais importante, melhora a fertilidade do solo através da reciclagem de
nutrientes, em função do sistema radicular mais profundo. A adubação verde (mucuna) consorciada com
milho-verde é uma boa opção no verão pois, além de colher um alimento
importante (milho-verde), o solo fica coberto, regenera a fertilidade do solo e
ainda se faz rotação de culturas, fundamental prática para reduzir pragas e
doenças nos próximos cultivos. Eu sou fã deste consórcio, por isso, tenho
implementado nas hortas municipais escolares (Alda Brognoli Marcon - Rio Caeté
e Ernesto César Mariot - De Villa; fotos em anexo de março 2019). É importante
reservar algumas plantas de milho e mucuna para colher sementes para o próximo
plantio.
3.Adubação orgânica do solo
É importante lembrar que plantas bem nutridas são mais resistentes às
doenças e pragas. A vida do solo depende, essencialmente, da matéria orgânica
que mantém a sua estrutura porosa,
proporcionando a vida vegetal, graças à entrada de ar e água. A matéria
orgânica é um dos componentes do solo e atua como agente de estruturação,
possibilitando a existência de vida microbiana e fauna, além de adicionar
nutrientes ao solo. A adubação
orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em
vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem
mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação. Para uma adubação
equilibrada, deve-se sempre fazer a análise do solo, com antecedência. Na falta
desta análise, indica-se, anualmente, para solos de média fertilidade, a
seguinte adubação: adubo orgânico, preferencialmente, oriundo de compostagem (3
a 4 kg/m2)
ou ainda, esterco
de gado (4 a 5 kg/m2 ) ou de aves (1 a 2 kg/m2), curtidos.
Adubação
verde: Na agricultura orgânica, o solo deve ser tratado como um “organismo
vivo”. A adubação verde é uma das práticas recomendadas para melhorar o solo e
os cultivos. A adubação verde é uma técnica de manejo agrícola que consiste no
cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa
vegetal, semeadas em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas,
incorporando-as ao solo ou deixando-as na superfície, visando à proteção
superficial, bem como à manutenção e melhoria das características físicas,
químicas e biológicas do solo; onde há pouco esterco de animais é a principal e
mais barata fonte de matéria orgânica, fundamental na produção sustentável de
alimentos. A adubação com fertilizantes químicos é uma prática não
sustentável, pois a maior parte é lavado pelas chuvas e regas, através da
erosão, contaminando os solos, rios, córregos e lagos, além de aumentar o custo de produção e tornar os
agricultores dependentes destes insumos, na maioria são importados e mais caros.
Os adubos verdes também chamadas de “plantas de cobertura” exercem
importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o
nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e no manejo de plantas
espontâneas (“mato”). A adubação verde, especialmente quando utilizada em
rotação de culturas, também auxilia no manejo de pragas e doenças, pois
favorece a quebra do ciclo de proliferação de pragas e doenças.
4.Sistemas de semeadura ou plantio
Semeadura
direta: consiste na semeadura uniforme das sementes em sulcos, no
canteiro, na profundidade de 1 a 2cm, utilizando-se marcadores ou sacho,
cobrindo-as com a própria terra; pode ser feita também em covas ou em sulcos,
sem preparo de canteiros. Como regra
geral, as sementes devem ficar enterradas numa profundidade de cinco vezes o
seu tamanho.
Plantio
direto: consiste no plantio de tubérculos, raízes, rizomas,
bulbilhos, ramas, filhotes e estolhos em
sulcos, em covas, ou em camalhões, na profundidade de 5 a 10 cm, utilizando-se
enxada ou sacho, no espaçamento indicado para cada espécie; pode ser feito
também em sulcos, ou em covas, diretamente no canteiro.
Transplante
de mudas:
consiste na mudança das plantas que cresceram na sementeira ou em recipientes,
para o local definitivo em sulcos ou em covas, enterrando-as até à profundidade
em que estavam na sementeira ou em recipiente, no espaçamento indicado para a
espécie. Deve ser feito, preferencialmente, em dias nublados ou à tardinha para
garantir melhor pegamento, principalmente no verão. Quando as mudas são
produzidas em copinhos ou em bandejas, o pegamento é de 100%, pois a maioria
das raízes estão intactas no torrão formado nesses recipientes. Para retirá-las
da bandeja basta umedecer um pouco e bater de leve no fundo.
Plantio direto e cultivo mínimo: o sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos. O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal (adubos verdes ou “mato”) é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda. O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas.
5. Manutenção e ampliação da biodiversidade
Biodiversidade são as diferentes formas de
vida existentes na natureza. A terra funciona como uma máquina, onde cada
espécie (simples micróbio ao ser humano) desempenha a sua parte para manter o
planeta funcionando, normalmente. As principais causas da perda de biodiversidade
são: Destruição das florestas onde estão 2/3 das espécies; Mudanças climáticas;
As atividades de agricultura e pecuária através da exploração excessiva de
espécies de plantas e animais, monoculturas, contaminação do solo, água e
atmosfera por poluentes (agrotóxicos e adubos químicos); A industrialização tem
causado a poluição do ar, do solo e da água; O crescimento das cidades, produzindo
cada vez mais lixo e demandando mais esgotos; A construção de barragens
para mineração, armazenamento de água
para consumo e produção de energia elétrica (hidroelétricas) fazem com que
grandes extensões de terra deixem de existir, comprometendo também a vida de
plantas e animais. Mas porque é tão
importante preservar e ampliar a biodiversidade? A restituição da biodiversidade vegetal permite o restabelecimento
de inúmeras interações entre o solo, as plantas e os animais, resultando em
efeitos benéficos para o meio ambiente. Entre estes efeitos pode-se citar:
maior variedade na dieta alimentar e mais produtos para o mercado; uso eficaz e
conservação do solo e da água, manejo da matéria orgânica e implantação de
quebra ventos; otimização na utilização de recursos locais e controle biológico
natural. Mas como
preservar e ainda ampliar a biodiversidade?Educação ambiental; Praticar agricultura orgânica: adubação orgânica,
nunca utilizar agrotóxicos e adubos químicos, considerar as plantas espontâneas
(“mato”) como plantas “amigas”, fazer
rotação e consorciação de culturas, plantio direto e outras práticas; Produzir
alimentos no sistema de produção agroflorestal, conciliando agricultura, pecuária e floresta ;Proteger e fazer o plantio de
árvores. Entre
os motivos para preservar e ampliar a biodiversidade, são citados:Motivos éticos, pois o ser humano
tem o dever moral de proteger outras formas de vida, já que é espécie dominante
no planeta;Motivos estéticos,
uma vez que as pessoas apreciam a natureza e gostam de ver animais e plantas no
seu estado selvagem; Motivos econômicos pois a
diminuição de espécies pode prejudicar atividades já existentes e ainda
comprometer a produção de medicamentos; Motivos
funcionais da natureza, tendo em vista que a redução da biodiversidade
leva a perdas ambientais. Isto acontece porque as espécies estão interligadas
por mecanismos naturais com importantes funções, tais como: a regulação do
clima, purificação do ar, proteção dos solos e das bacias hidrográficas contra
a erosão, controle de pragas e doenças, além de outras.
6.Cobertura do solo e manejo de
plantas espontâneas
Cobertura morta:
Essa prática consiste
na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais nas
entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura
morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície
endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a
erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e,
principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas
espontâneas. A cobertura morta também reduz
a freqüência de capinas, escarificações e irrigação. Cobertura viva: As
plantas espontâneas ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento
superficial, nossos principais problemas, contribuindo para melhorar a
disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes. Ao impedir o
carregamento de terra e nutrientes para fora da lavoura (erosão), as plantas
espontâneas formam uma barreira que protege o solo do impacto das gotas de
chuva, facilita a infiltração da água, reduz o escoamento superficial e diminui
a evaporação da umidade, melhorando a capacidade do solo de armazenar água. Havendo
necessidade de manejo, as plantas espontâneas não devem ser totalmente
eliminadas. A intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que
este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas mais
“agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais
“comportadas” e de mais fácil manejo. Dependendo do cultivo, é possível
permitir o crescimento das plantas espontâneas. Em certos casos, amassar o
“mato” pode ser mais vantajoso do que roçar e roçar mais vantajoso do que
capinar. Este manejo pode ser feito da seguinte maneira:
Práticas de prevenção: evitar a multiplicação; uso de sementes e mudas
isentas de plantas espontâneas; em áreas muito inçadas preparar o solo com
antecedência para permitir a emergência e eliminação de plantas espontâneas;
utilizar composto orgânico ao invés de esterco de gado (fonte de sementes de
plantas espontâneas); controle manual; rotação e consorciação de culturas;
Plantas de cobertura (adubos verdes) em rotação,
sucessão ou consorciadas com os cultivos e com efeitos alelopáticos: mucuna (abafamento), feijão de porco (tiririca), aveia e nabo forrageiro
(papuã), ervilhaca e outras;
Roçada das plantas espontâneas: elas podem
conviver com os cultivos, especialmente de maior espaçamento entre as linhas,
após o período crítico de competição, principalmente por luz, nos 30 dias após
o plantio. Quando necessário, recomenda-se a roçada nas entrelinhas.
7.Rotação, sucessão e
consorciação de cultivos
A monocultura, ou seja, o cultivo de apenas uma espécie numa área, é um
dos maiores problemas da agricultura “moderna”, pois não existindo
diversificação de espécies, as pragas e doenças ocorrem de forma mais intensa,
por ser a única espécie presente no local, tornando o sistema de produção mais
instável e mais sujeito às adversidades. O equilíbrio ecológico não pode ser
mantido com as monoculturas. Daí a
importância dos consórcios de culturas e até a manutenção de faixas ou refúgios
com “mato” e até consórcios dos cultivos com plantas espontâneas que podem
servir para atrair insetos predadores e
até como alimento preferencial das pragas das culturas e também como abrigo e
alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas. Portanto, no sistema de
produção orgânico é fundamental buscar-se em primeiro lugar uma maior
diversificação da paisagem geral com espécies de interesse comercial ou não, de
forma a restabelecer a cadeia alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos
até animais maiores e pássaros, pois somente assim se obterá sistemas de
produção mais estáveis, garantindo o lucro dos produtores, mesmo em condições
climáticas adversas. A rotação de culturas é uma prática que reduz e até pode
eliminar alguns dos problemas citados. Na prática, sabe-se que a rotação ou
sucessão de cultivos já é realizada por alguns olericultores localizados
próximos aos grandes centros consumidores sem, no entanto, levar em
consideração os princípios fundamentais para o sucesso dessa prática milenar. É
comum também os produtores confundirem rotação de culturas com sucessão de
culturas. Por isso, a seguir estão relacionados os conceitos de rotação,
monocultura, sucessão e consorciação de culturas. Rotação: é o cultivo alternado de diferentes espécies
vegetais, de diferentes famílias botânicas, no mesmo local e na mesma estação
do ano, seguindo-se um plano pré-definido, de acordo com princípios básicos. Monocultura: uso continuado de uma mesma cultura, numa
mesma estação de crescimento e numa mesma área. Sucessão de culturas: estabelecimento de duas ou mais espécies em sequência na mesma área, em
um período igual ou inferior a 12 meses.
Principais benefícios da rotação de
culturas: Redução ou eliminação de doenças, pragas e plantas espontâneas; Aumento da produtividade e melhoria da
qualidade, com redução de custos; Manutenção ou melhoria da fertilidade e
propriedades físicas do solo; Redução
das perdas por erosão; Diversificação de renda da propriedade e Melhor aproveitamento dos fatores de produção
(terra, capital e mão-de-obra).
8.Irrigação
ou rega
Embora dois terços do planeta terra seja
formado por água, apenas 0,008 % do total é potável (própria para o consumo).
E, o que é pior, grande parte das fontes desta água (rios, lagos e represas)
está sendo contaminada, poluída e degradada pela ação predatória do homem. Esta
situação é preocupante, pois poderá faltar, num futuro próximo, água para o
consumo de grande parte da população mundial. Sendo a água de qualidade, um
recurso natural cada vez mais escasso e, considerando que busca-se uma horta
sustentável, recomenda-se que seja instalado, a exemplo da escola municipal da
localidade de Rio Caeté, com orientação de técnicos especializados, uma
cisterna com filtro, objetivando o aproveitamento da água da chuva para a
irrigação e também limpeza. As hortaliças, por terem ciclo curto, sofrem
mais que outras espécies com pequenos períodos de estiagem. Embora ocorram
precipitações consideradas suficientes para
desenvolvimento das hortaliças, essas são irregulares. Além disso, a
maioria das hortaliças são exigentes,
pois apresentam em sua composição mais de 85% de água. A qualidade da água é
muito importante, pois grande parte das hortaliças são consumidas cruas. Caso
não seja água potável, recomenda-se
fazer a análise da mesma, mesmo
sendo oriunda de uma fonte natural, pois pode estar contaminada com alto teor
de coliformes fecais. O sistema de irrigação mais usado numa horta doméstica,
comunitária ou escolar é através da aspersão. Havendo reservatório de água,
pode-se utilizar mangueiras com jatos finos ou adaptadas a microaspersores. O ideal é utilizar sistema de irrigação que produz gotas pequenas, formando uma espécie de neblina, evitando-se
assim que, as plantinhas recém emergidas ou transplantadas sofram danos, além
de evitar a formação de uma crosta endurecida no solo. Outra forma muito
prática e barata de irrigar é através do sistema “santeno” que consiste numa mangueira de plástico,
perfurada com raios laser e resistente à exposição ao sol, produzindo uma
neblina fina. Com essa mangueira, encontrada em lojas especializadas, deve-se
evitar a irrigação quando houver ventos. A terra deve ser molhada até à
profundidade em que se encontra a maioria das raízes. A maior parte das
raízes das hortaliças em pleno
desenvolvimento alcança a profundidade
de 15-20 cm. Para hortaliças-folhosas é aconselhável irrigar diariamente, caso não
chova, durante todo o ciclo das plantas para se obter folhas tenras. Para hortaliças-frutos, à medida que as
plantas forem crescendo, a irrigação pode ser espaçada de três em três dias até
o final da colheita, caso não chova o suficiente; o mesmo intervalo de
irrigação pode ser utilizado para as
hortaliças-raízes, dispensando-a quando já estiverem em condições de serem
colhidas. Sempre que possível, para as espécies
pertencentes à família das solanáceas, que têm maiores problemas
de doenças, deve-se evitar que a folhagem das plantas passem a noite molhada,
preferindo-se a irrigação pela manhã,
quando o sistema for por aspersão. A irrigação por sulcos e por gotejamento são
ideais para essas espécies. Uma indicação
prática, aproximada, da necessidade de irrigação pode ser obtida quando um
punhado de terra apertado na palma da mão formar um conjunto coeso e úmido
(“bolo”), o que significa que ela apresenta boas condições de umidade. É
importante após a irrigação, esperar um pouco para que a água se infiltre,
observando-se, depois, a profundidade atingida pela mesma.
9.Principais tratos culturais
Adubação de cobertura: Em solos com menos de 2% de matéria
orgânica é muito importante esta prática, especialmente nas hortaliças-folhosas.
No entanto, deve-se evitar o uso exagerado de adubos nitrogenados, especialmente
esterco de aves, pois podem salinizar, desagregar e compactar o solo, reduzir a
resistência das plantas e até queimá-las. Recomenda-se, preferencialmente, o
composto orgânico que pode ser feito na propriedade; deve ser utilizado na adubação de cobertura em pequenas
quantidades por aplicação e bem incorporado ao solo (no máximo 0,5 kg/m2).
Desbaste ou raleamento: consiste
na eliminação do excesso de plantas semeadas diretamente no canteiro, nas covas
e nos recipientes, deixando as mais vigorosas. Capinas e escarificações: as plantas espontâneas competem
com os cultivos por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30
dias. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são
consideradas “amigas”, pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão
do solo.. Mesmo que não haja “mato”,
recomenda-se o uso de enxada ou sacho nas linhas de cultivo para escarificar o
solo (revolvimento superficial), no início do desenvolvimento vegetativo. Tutoramento ou estaqueamento é
feito com bambu para algumas hortaliças como ervilha torta, tomate, feijão-de-vagem, pepino, pimentão, beringela
e chuchu, para evitar o crescimento das
plantas e frutos em contato com a terra, facilitar a aeração e a insolação e
evitar a quebra de ramos. No tomateiro, recomenda-se o tutoramento vertical onde as plantas são
conduzidas perpendicularmente ao solo, melhorando a distribuição solar e a
aeração. Amarrio e Desbrota: o amarrio consiste em amarrar as plantas nas
estacas e arames, sem estrangular, pois estão em crescimento, com o objetivo de
melhorar o apoio e evitar danos causados por ventos, especialmente nos cultivos
de tomate e pimentão. A desbrota consiste na eliminação dos brotos que saem das
axilas das folhas ou da haste de algumas espécies como o tomate. Amontoa: consiste em chegar terra
junto às plantas, para melhorar sua fixação ao solo e, no caso da batata, serve
ainda para evitar que os tubérculos se desenvolvam fora da terra, favorecendo o
seu esverdeamento. Uma boa amontoa (cerca de 20cm de altura) com o solo sem
torrões, reduz também os danos de insetos (larva-alfinete, a forma jovem da
vaquinha) que perfuram e depreciam os tubérculos de batata e raízes de
batata-doce. A amontoa bem feita impede que os ovos que a vaquinha (patriota)
põe nas plantas caiam diretamente nas proximidades dos tubérculos, dando origem
às larvas-alfinete que acabam perfurando-os e depreciando-os.