Autor: José Angelo Rebelo
Publicação:
O
trabalho compõe a parte I –
Recomendações gerais para produção sustentável de hortaliças - do Boletim Didático nº 107 “Produção de hortaliças em Santa Catarina”,
publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e
ilustrada com 156 páginas, devem entrar em contato através do site: www.epagri.sc.gov.br
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As
doenças podem ser causadas por microrganismos patogênicos e por má condição de
cultivo e nutrientes, solo, temperatura e umidade inadequados para a planta. As más condições ambientais para as plantas, além de
favorecer as doenças, ainda incitam os
microrganismos patogênicos à infectá-las.
A
existência de qualquer doença causada por microrganismo patogênico, ou não,
depende, principalmente, de três condições:
- Se o microrganismo patogênico ou o agente
da doença é capaz de infectar a planta;
- Se a planta é susceptível à doença;
- Se as condições de cultivo são
desfavoráveis às plantas.
Com
base nesta terceira condição, pode-se dizer que a
incidência de doença é indicadora de mau manejo do cultivo.
O
que fazer para impedir ou reduzir o prejuízo por doenças?
- Usar cultivares resistentes, quando
houver;
- Evitar áreas onde a doença ocorre
normalmente.
Para
que a incidência da doença não seja corriqueira, a exploração da planta mais
suscetível deve ser alternada por cultivos de plantas resistentes ou imunes à
doença incidente.
As
condições de cultivo se tornam mais favoráveis às plantas quando, entre outros
cuidados, nas seguintes situações:
- Houver escolha correta da área, ou seja, bem
ventilada e onde o sol incida sobre as plantas durante todo o dia, evitando-se
locais sujeitos à neblinas;
- O solo é apropriado (sem muito barro ou sem
muita areia, areno-argiloso, enxuto, fértil e bem ventilado por dentro) e
preparado adequadamente; o uso de máquinas pesadas e, especialmente o emprego excessivo
de rotativa, deve ser evitado, pois além de provocar a erosão, especialmente
nos terrenos declivosos, favorece a compactação do solo, deixando-o sem ventilação;
- Ao utilizar adubação orgânica,
de preferência composto orgânico. Os estercos de animais devem ser curtidos e
na quantidade recomendada pela análise do solo;
- A adubação das plantas
(química ou orgânica) e correção do solo é feita de forma equilibrada e baseada na análise do
solo (química e física). Ao ser utilizada a adubação orgânica, deve ser feita
análise do adubo orgânico empregado;
- A fertilidade do solo for mantida com matéria orgânica, uso de adubo verde e plantas recicladoras de
nutrientes que protegem o solo contra a sua degradação por chuvas e sol diretos:;
- O plantio de mudas de boa
qualidade for feito na época recomendada e, sempre que possível, oriundas de
cultivares resistentes às pragas e doenças;
- For utilizado o espaçamento
entre as filas e plantas, condução e os tratos culturais mais indicados para
cada espécie;
- A irrigação, quando
necessária, for feita de forma adequada
(sistema, época e quantidade correta) utilizando-se água de boa qualidade;
- A prática da rotação de culturas for adotada
para todas as espécies cultivadas;
- A lavoura tenha sido periodicamente
visitada durante o ciclo da cultura para retirar as plantas doentes, bem como
os restos culturais da lavoura anterior que podem ser compostados;
- Agrotóxicos ou outros produtos
alternativos tenham sido utilizados somente quando for necessário e, de acordo
com a recomendação de um técnico da área;
Como
se viu, a saúde das plantas não depende de agrotóxicos e outros produtos
alternativos, mas, entre outras coisas, de:
- Bons tratos culturais;
- Boa nutrição;
- Adequado ambiente de cultivo.
A boa nutrição é dependente do grau de
acidez do solo, que deve estar de acordo com o que a planta exige, para que ela
possa aproveitar bem a adubação. Por exemplo: o cálcio e o magnésio estão
ligados com a absorção do potássio e este é um grande protetor contra doenças
causadas por microrganismos
patogênicos, assim como o cálcio. O enxofre está
ligado com a absorção do nitrogênio; o boro com a absorção do cálcio e
potássio, o zinco com a absorção do fósforo.
Causas
e efeitos
Para
qualquer efeito ou consequência há uma causa. Se algo acontece é porque alguém
ou alguma coisa fez acontecer. Como exemplo, pode-se lembrar da dor de cabeça.
A dor de cabeça pode ser causada por um mal de estômago, por fome, etc. Como se
vê, a dor de cabeça é uma consequência ou o efeito de algo que está por trás
deste incômodo. Para sarar de vez é preciso tratar a causa. Se for fome, deve-se
alimentar; se for mal do estômago, deve-se tratá-lo. Tomar remédio para a dor
de cabeça só traz sensação de alívio momentâneo, mas não cura, pois não se ataca a causa. Com a doença
de planta também é assim. A doença é o efeito ou a consequência de uma causa.
Enquanto não se descobre a causa da doença, só se gasta dinheiro à toa ao
tentar curar a planta.
Veja o seguinte exemplo: uma planta fica
murcha. Algo causou a murcha, logo, a murcha é o efeito de uma causa. A murcha
pode ocorrer por uma bactéria de solo, por diferentes fungos de solo, por
nematoides de solo, por calor excessivo, por inseto que machucou o caule, por
brocas, por muita umidade e calor, por dano causado por enxadas, por
herbicidas, por falta de água, por excesso de sal no solo oriundo de exagerada
adubação, etc. Enquanto não se descobre a causa e trata-se somente o efeito,
gasta-se muito dinheiro inutilmente e o efeito da causa desconhecida, acaba se
repetindo. A murcha é apenas um sintoma. Não se trata sintomas. Muitas doenças
apresentam o mesmo sintoma. Para fazer a coisa certa, deve-se responder duas perguntas importantes:
- Qual é a doença?
- Por que ela está ocorrendo?
Descoberta
a causa da ocorrência pode-se tomar cuidados para que a doença não se repita ou
cause pouco ou nenhum prejuízo.
Em uma olericultura sustentável, tratam-se
as causas para que os resultados sejam os mais duradouros e equilibrados
possíveis.
Aplicação
de agrotóxicos
Por
ser difícil, ou até impossível oferecer todas as boas condições para que as
plantas não adoeçam, às vezes precisamos de agrotóxicos, que podem ser desde
uma calda bordalesa, calda sulfocálcica e caldas de produtos diversos para
curá-las ou para ajudar na prevenção do mal.
Além
de todos os cuidados no manuseio de agrotóxicos, alguns itens merecem atenção
especial:
- certifique-se da necessidade do uso de
agrotóxico e se o produto é apropriado ao que deseja fazer e se é permitido
pelo ministério da agricultura (Vide Agrofit:
http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons);
- não faça mistura de produtos sem saber se
é permitido ou recomendável;
- antes de preparar a calda, os produtos em
pó devem ser transformados em pasta e depois dissolvê-la no volume de água
recomendado;
- prepare somente a quantidade necessária
para aplicar no mesmo dia;
- respeite as doses recomendadas;
- aplique os produtos somente quando as
condições climáticas forem adequadas, sem vento, sem orvalho e quando as
temperaturas estiverem mais baixas;
- mantenha a calda sempre agitada durante a
aplicação;
- em culturas que dependem de polinização
por insetos, a aplicação de agrotóxicos deve ser feita fora de período de maior
atuação dos polinizadores;
- cobrir bem a planta com a calda. Para isto
observe o tamanho das gotas que é resultado da pressão e pelo diâmetro do bico
do pulverizador;
- quando preciso, use espalhante adesivo e
na dose certa;
- respeite o
período de carência dos produtos. Período de carência é o tempo que se tem de
esperar para colher depois que se aplicou um agrotóxico. É muito importante na produção de alimentos
respeitar o período de carência do produto aplicado, especialmente quando se
trata de hortaliças, pois várias delas são consumidas ainda cruas e por crianças e convalescentes.
- só
adquira produtos com receituário agronômico.
Lembrete 1
- as plantas adoecem em solos mal tratados, ruins e sem fertilidade;
- não é boa a saúde das pessoas que se alimentam de plantas destes solos;
- a fertilidade de
nosso solo de amanhã depende do que se faz
com ele hoje;
- da fertilidade
do solo depende a qualidade dos alimentos que se produz;
- a saúde e a
qualidade de nossa vida dependem da qualidade dos alimentos que elas consumem;
- cerca de 80% de
todos os cânceres estão relacionados com
nossa alimentação.
Lembrete 2
- os abrigos de
cultivo são ferramentas indispensáveis, quando corretamente manejados, no
controle de doenças das hortaliças.
Algumas doenças, como evitá-las ou como
torná-las menos prejudiciais
Podridões
Alface
As
podridões em alface podem ocorrer, secundariamente, por falta de cálcio. Falta
de cálcio pode ocorrer por acidez alta, por falta de água, por calor
(evapotranspiração), por excesso de umidade no solo e por desequilíbrio entre
os nutrientes, como excesso de potássio e de magnésio.
A falta de potássio na planta favorece o
fungo (Sclerotinia sclerotiorum)
causador de podridão. A falta de potássio ocorre em solos com muito nitrogênio,
fósforo, cálcio e magnésio. O fungo
ainda é favorecido pela falta de rotação de culturas e em plantios ricos em
nitrogênio, em solos muito úmidos, em canteiros mal ventilados, durante épocas
mais frias. O fungo pode permanecer por muito tempo no solo, principalmente
naqueles pobres de matéria orgânica.
Brócolis,
repolho e couve-flor (coração oco)
As
podridões nessas plantas podem ser causadas por falta de boro. A falta de boro
ocorre em solo com pH acima de 6,5 e em solos arenosos e em época de seca. O
excesso de potássio no solo dificulta a assimilação do boro pelas plantas.
A
falta de boro leva à morte a medula (miolo) do caule por onde entram bactérias
causadoras de podridões. Não se deixam restos culturais de brócolis repolho ou
couve-flor na lavoura, para que a bactéria da podridão não sobreviva na área de
plantio. Ao colher a parte comercial dessas plantas, não se deve deixar o resto
do caule na lavoura.
Salsa
A
salsa, quando plantada em épocas quentes, fica muito sujeita a podridões. Essas
podridões são oportunizadas pela dificuldade que a planta tem de se nutrir
adequadamente em condição de calor e de irrigação desfavoráveis. Em épocas
quentes deve-se preferir locais de plantios mais frescos, pouco ensolarados
após o meio-dia e usar sombras para atenuar o calor sobre as plantas.
Os
fungos que se aproveitam de condições inadequadas para a salsa são Rhizoctonia
solani, Pythium spp., Fusarium spp. e Sclerotinia sclerotiorum. A falta de rotação de culturas com
plantas não suscetíveis é um fator muito favorável a podridões da salsa,
principalmente em solos e ambientes impróprios ao cultivo. A salsa requer
nitrogênio, mas o excesso desse nutriente causa deficiência de potássio,
deixando as plantas suscetíveis a doenças.
Vermelhão
Beterraba
A beterraba
produz pigmentos vermelhos, um chamado de antocianina, muito favorável à saúde
humana, e outro conheconhecido como betalaína. Sob condição
desfavorável de cultivo, como calor, falta de água e boro, a planta se
desequilibra e produz excessivamente o pigmento antocianina (Figura 1), o que a
prejudica. A falta de boro ocorre em solos pobres em matéria orgânica e em
solos com pH maior que 6,5.
FIGURA 1. Produção de antocianina, à direita, por mudas de beterraba, desnutridas.
Viroses
Viroses,
como a que ocorre em pepineiros também afetam a beterraba. A proximidade destes
dois cultivos não é recomendável. A beterraba também é muito exigente em
potássio, que a protege de doenças.
Seca de
baraço
Batata-doce
Há
um fungo, Plenodomus destruens que, em condições de cultivo desfavorável, pode
apodrecer plantas de batata-doce. As condições mais desfavoráveis para esta
planta são cultivo em solo pesados, duro, sombreado e que acumula água da chuva
entre as filas de plantio. A adubação deve prever a aplicação de matéria
orgânica e de acordo com a análise do solo. A batata-doce é exigente em
potássio que a protege de doenças. Para ajudar no controle destas doenças, além
das medidas acima, evita-se colher baraços de lavouras que apresentaram a
doença. Antes do plantio, os baraços devem murchar por um a dois dias de modo a
cicatrizar a ferida do corte. Além desses cuidados, é importante que se faça a
rotação de culturas na área utilizada.
Murchadeira
Batata,
tomate, pimentão, pimenta e muitas outras hortaliças
A
doença conhecida por murchadeira é causada por uma bactéria que habita o solo,
onde pode viver muitos anos, mesmo que não tenha plantas para infectar. No
entanto, se houver plantas e boas condições ambientais para este agente ele
pode ser um problema sério para a agricultura. Assim, é preciso manter baixa a
infestação e não dar condições para que infecte as plantas. Essa bactéria
prefere solo úmido, com pouca matéria orgânica e pH alto (onde se colocou
calcário demais). Não se deve plantar em locais infestado e onde a doença
incide corriqueiramente.
Cuidados: drenar o solo; aplicar matéria orgânica e
calcário conforme análise de solo; fazer rotação de cultura com milho, aveia,
leguminosas de inverno, por pelo menos três anos nas áreas onde a doença
ocorreu. Cuidar para que no meio desses cultivos em rotação não cresçam plantas
suscetíveis a essa bactéria.
A
solarização do solo, principalmente em abrigos de cultivo, é capaz de reduzir a
pressão desse patógeno, de nematoides e fusário sobre as plantas a eles
suscetíveis.