Publicação: O trabalho faz parte do ANEXO B do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense”. publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 204 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar os link “Publicações” e “Boletim didático”.
Mesmo no cultivo orgânico podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de insetos-pragas ou patógenos nocivos em níveis incontroláveis. Esses fatores podem ser chuvas ou secas excessivas, mudas ou sementes de baixa qualidade, tratamentos com agrotóxicos agressivos nas propriedades vizinhas, uso de cultivares não adaptados, solos degradados e adubações desequilibradas.
Recomenda-se no cultivo orgânico que o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente para não provocar o desequilíbrio do sistema. Por isso, os produtos alternativos apresentados, mesmo que a grande maioria não cause riscos ao homem ou ao ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários. Neste caso, deve-se recorrer às caldas protetoras, aos preparados de plantas e outros produtos alternativos recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, visando ao manejo de doenças e pragas em hortaliças.
Observação: A utilização de alguns dos preparados, bem como outros produtos alternativos, é baseada em trabalhos de pesquisa em determinadas condições edafoclimáticas (ver literatura citada e consultada), outros são resultados de experiências de técnicos e agricultores. Por isso, recomenda-se sempre que o agricultor teste o produto alternativo em pequena área de cultivo e observe os resultados.
Caldas
As caldas possuem baixo impacto ambiental sobre o homem e os animais. O cobre presente na calda bordalesa é pouco tóxico para a maioria dos pássaros, abelhas e mamíferos, porém é tóxico para peixes. A aplicação de caldas não tem o objetivo de erradicar os insetos e os microrganismos nocivos, mas proteger as plantas e ativar o seu mecanismo de resistência. Essas caldas podem ser preparadas na propriedade, reduzindo significativamente o custo de produção.
Calda bordalesa
É o resultado da mistura simples de sulfato de cobre e cal virgem diluídos em água. É recomendada como fungicida para manejo preventivo de doenças fúngicas e bacterianas e também pode atuar como repelente de muitos insetos.
A calda bordalesa é uma das formulações mais antigas que se conhece, tendo sido descoberta quase por acaso, no final do século XIX na França, por um agricultor que estava aplicando água com cal para evitar que cachos de uva fossem roubados. Logo, percebeu-se que as plantas tratadas estavam livres do míldio. Estudando o caso, um pesquisador descobriu que o efeito estava associado ao fato de o leite de cal ter sido preparado em tachos de cobre. A partir daí, desenvolveram-se pesquisas para chegar à formulação mais adequada da proporção entre a cal e o sulfato de cobre.
Observação: As doenças de hortaliças geralmente ocorrem em condições de alta umidade do ar. Portanto, quando as condições do ambiente forem favoráveis às doenças, devem-se fazer aplicações semanais. Caso contrário, pulverizar a cada quinzena ou a cada mês.
Vantagens
● Forma camada protetora contra doenças e pragas.
● Possui alta resistência à lavagem pelas águas de irrigação ou chuvas.
● Aumenta a resistência da planta à insolação.
● Promove a resistência da planta e dos frutos.
● Melhora a conservação e a regularidade de maturação e aumenta o teor de açúcares.
● Tem baixo impacto ambiental sobre o homem e os animais domésticos.
● É um dos fungicidas mais baratos e eficientes.
Preparo da calda bordalesa a 1%
A formulação a seguir é para preparo de 100 litros. Para fazer outras medidas, é só manter as proporções entre os ingredientes listados a seguir:
Ingredientes: Sulfato de cobre - - - 1.000g
Cal virgem ou hidratada - - 1.500g
Água - - - - - 100L
1o
passo: dissolver o sulfato de cobre – Colocar o sulfato de cobre em um saco de pano e mantê-lo imerso em suspensão na parte superior de um balde de água (a dissolução demora até 24 horas). Quando necessário, pode-se dissolver as pedras de sulfato de cobre para uso imediato, aquecendo a água ou moendo as pedras. Atualmente, já se encontra nas agropecuárias o sulfato de cobre moído, que dissolve rapidamente (em torno de 1 hora).
2o
passo: dissolver a cal virgem – Em outra vasilha (sem ser de plástico) fazer a queima da cal virgem de boa qualidade (cal velha com aspecto farinhento não deve ser utilizada), que pode ser no mesmo dia em que for usada. Colocar 1500g de cal em uma lata de metal de 20 litros e adicionar 9 litros de água aos poucos e mexer com pá de madeira até formar uma pasta mole. Tomar cuidado com a temperatura da mistura, que se eleva bastante. Após o resfriamento, adicionar um pouco de água, obtendo-se um leite de cal. A cal hidratada pode ser utilizada desde que tenha boa qualidade; é mais prática e proporciona a mesma eficiência. Passar a calda por uma peneira fina, colocando-se mais água e agitando-se para passar pela peneira. Adicionar água até 50 litros ao leite de cal.
3o
passo: Despejar a solução de sulfato de cobre em um tonel (sem ser de ferro ou aço) com capacidade para 200 litros. Adicionar água até 50 litros.
4o
passo: com um balde, aos poucos, despejar a solução de leite de cal sobre a solução de sulfato de cobre. As duas soluções devem estar sob a mesma temperatura. Com auxílio de uma pá de madeira, agitar constantemente durante a operação de mistura.
5o
passo: Testar a acidez (pH) da calda – Mergulhar um prego novo durante um minuto na calda. Se houver escurecimento, significa que a calda está ácida (pH abaixo de 7) e precisa ainda de neutralização com mais leite de cal. Não escurecendo, a calda estará pronta (alcalina). Outra maneira de se verificar a acidez é pingar duas a três gotas sobre uma lâmina de faca bem limpa (sem ser de aço inoxidável). Após 1 minuto, sacudir a faca e, se ficarem manchas avermelhadas onde estavam as gotas da calda, ela está ácida. Quando a cal virgem é de má qualidade, a calda permanecerá ácida, sendo preciso, então, acrescentar mais leite de cal para neutralizar a acidez.
Observação: De modo geral, a cal é um bom aderente. Entretanto, certas culturas podem necessitar de um espalhante-adesivo. Para melhorar a aderência da calda bordalesa, acrescentar 1,5 litro de leite desnatado ou 1 a 2kg de farinha de trigo no preparo de 100L de calda (dissolver a farinha de trigo em água e depois peneirar) após o seu preparo.
Calda sulfocálcica
É o resultado da mistura de enxofre e cal, diluídos em água. É indicada como acaricida e inseticida (trips, cochonilhas, etc.), além de ter efeito fungicida, atuando de forma curativa (ferrugens, oídio, etc.). É muito utilizada para tratamento de inverno de fruteiras de clima temperado e subtropical.
● Os ácaros não criam resistência à calda sulfocálcica.
● A calda fornece nutrientes essenciais (cálcio e enxofre);
● A calda aumenta a resistência das plantas e melhora o sabor dos frutos.
● A calda é um dos fungicidas/inseticidas mais baratos e eficientes.
Embora também possa ser preparada na propriedade, a calda sulfocálcica pode ser adquirida nas lojas agropecuárias a um baixo custo.
Aplicação das caldas e cuidados
A aplicação, o preparo correto e o uso de pulverizadores com bicos-cones, de preferência de cerâmica (os de metal estragam rapidamente) em bom estado e com jatos que formem uma névoa, cobrindo uniformemente folhas, frutos e ramos, são importantes para o êxito do tratamento, assim como a concentração e a qualidade dos ingredientes. A concentração das caldas depende das condições climáticas locais, da espécie, da fase da cultura e da forma de condução. Para evitar riscos de fitotoxidade e queima de folhas e frutos, deve-se fazer um teste em poucas plantas, podendo-se aplicar em toda a área depois de observado o seu efeito.
Os principais cuidados a ser observados no momento da aplicação são:
● deve-se sempre utilizar o equipamento de proteção individual (EPI) no preparo e na aplicação;
● a aplicação deve ser com tempo bom, seco e fresco, pela manhã ou à tardinha. Quando aplicada com tempo úmido, os riscos de fitotoxidade são maiores;
● por ser um produto protetor, somente as partes atingidas pelas caldas estarão protegidas de doenças e pragas;
● as caldas devem ser mantidas sob forte agitação durante toda a aplicação;
● para a maioria das plantas, não deve ser aplicada a calda bordalesa no período do florescimento, nem estando as plantas murchas ou molhadas e em época de forte estiagem;
● a aplicação deve ser no mesmo dia do preparo da calda. No entanto, o leite de cal e o sulfato de cobre, quando em recipientes separados, podem ser guardados por 2 a 3 dias;
● a calda sulfocálcica deve ser aplicada durante a floração somente naquelas culturas que toleram o enxofre;
● a calda bordalesa pode ser misturada com os biofertilizantes;
● com temperaturas acima de 30ºC e abaixo de 10ºC, suspender a aplicação da calda;
● após aplicação das caldas, os equipamentos e os metais devem ser lavados para evitar corrosão, com vinagre (20%) e duas colheres de chá de óleo mineral. Verificar o desgaste dos bicos do pulverizador, fazendo a troca necessária. As caldas corroem os orifícios do bico, alterando a vazão e o tamanho de gotas e, em consequência, a dose aplicada e a cobertura de plantas;
● no caso de empregar a calda sulfocálcica após aplicação da calda bordalesa, deixar um intervalo mínimo de 30 dias. Quando for o contrário, isto é, aplicar a calda bordalesa após a aplicação da calda sulfocálcica, observar intervalo de 15 dias;
● o intervalo de aplicações da calda bordalesa varia de 7 a 15 dias ou até mais, dependendo das condições climáticas, da ocorrência de doenças e do desenvolvimento da planta;
● recomenda-se obedecer, no mínimo, ao intervalo de uma semana entre a aplicação das caldas e a colheita.
0 comentários:
Postar um comentário