Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo
5: Manejo do Solo
Autores: Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.
O que é manejo do solo?
O solo é a “pele” do Planeta Terra, pois é
o resultado da ação do clima, do relevo e dos organismos sobre as rochas
expostas na superfície do planeta. Essas rochas vão sofrendo transformações com
o tempo (muito tempo!) e o solo vai sendo formado aos poucos. Para se ter uma
ideia, são necessários cerca de 400 anos para que 1 cm de solo seja formado. O
processo de formação do solo ocorre de baixo para cima, ou seja, à medida que o
material de origem vai sendo desintegrado e transformado, vão sendo depositadas
camadas, que também vão se transformando com o tempo e dando origem a novas
camadas. Já os solos localizados na parte mais baixa dos vales, nas margens dos
rios e lagos , podem ser formados pela deposição de materiais , muitas vezes já
transformados, que vêm das partes mais altas.
Na atividade agrícola, trabalha-se com uma
pequena porção do solo, a mais superficial, chamada de camada arável. O solo
faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes,
como a água, as plantas, os animais e o homem. Dessa forma, tudo que acontece
com o solo tem algum reflexo, positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz
parte.
O que é manejo do solo?
Manejo do solo é o conjunto de todas as
práticas aplicadas a determinado solo visando à produção agrícola. Inclui
operações de cultivo, práticas culturais, práticas de correção e fertilização,
entre outras. É a forma de cultivar e tratar o solo.
Como é feito o manejo do
solo nos sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
De forma geral, práticas tradicionais de
conservação do solo, como o plantio em curva de nível, a formação de faixas de
retenção e cordões, são utilizadas também na agricultura orgânica. No entanto,
a agricultura orgânica vê o solo como o centro de todo o processo produtivo,
valorizando-o como recurso-chave. Por isso, o manejo orgânico prioriza práticas
que proporcionem a manutenção e a melhoria da qualidade do solo, por meio do
revolvimento mínimo e do aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade
biológica. Desse modo, o manejo orgânico recomenda a manutenção de cobertura
vegetal sobre o solo, a adubação verde, o cultivo mínimo, o plantio direto,
entre outras práticas conservacionistas. Além disso, o manejo do solo no
sistema orgânico prioriza as fontes orgânicas de nutrientes e não utiliza
fertilizantes químicos de alta solubilidade. Para finalizar, é uma forma de
manejar o solo “pensando em longo prazo”, ou seja, objetivando a construção da
qualidade do solo com o tempo.
Quais as principais diferenças
entre o manejo do solo na produção orgânica de hortaliças e na convencional?
No caso específico da produção de
hortaliças, o manejo do solo costuma ser bastante intensivo no sistema
convencional. Muitas vezes são utilizadas quantidades excessivas de
fertilizantes, o que pode causar desequilíbrios químicos no solo e nutricionais
na cultura. Além disso, as glebas são, em geral, utilizadas continuamente,
ciclo após ciclo, e, em alguns casos, com revolvimento excessivo da camada
arável.
O sistema orgânico de produção de
hortaliças, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica,
a cobertura do solo e o revolvimento mínimo. Mas a preocupação com a
conservação do solo está crescendo na produção convencional e, por isso, a utilização
de práticas conservacionistas, como a adubação verde e a cobertura vegetal,
está ganhando cada vez mais espaço também no cultivo convencional.
O que é matéria orgânica
do solo?
De maneira bem simples e direta, pode-se
dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A
matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria
orgânica é constituída de resíduos de origem vegetal ou animal como:
.
Estercos.
.
Restos de cultura que ficam no campo.
.
Palhadas.
.
Folhas, cascas e galhos de árvores.
.
Raízes das plantas.
.
Animais que vivem no solo, como cupins, formigas, besouros, fungos, bactérias e
outros microrganismos.
Esses componentes da matéria orgânica
podem estar vivos (como os pequenos animais) ou já em decomposição (como os
resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura). Como tudo que foi um
dia vivo é constituído de carbono orgânico, muitas vezes encontra-se o termo “carbono
orgânico” como sinônimo de matéria orgânica.
Na realidade, o carbono é o principal
constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros
elementos importantes, como o nitrogênio. É a matéria orgânica que dá a cor
escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. Em solo muito claro,
aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica
seja muito baixo.
O que é decomposição e
mineralização da matéria orgânica?
A decomposição é o processo de quebra da
matéria orgânica em partes menores, feita por microrganismos decompositores
presentes no solo. Esses microrganismos utilizam a matéria orgânica como
alimento para sua sobrevivência e, para isso, precisam quebrá-la em pequenas
partes.
A mineralização é o resultado do processo
de decomposição microbiana. Durante a decomposição, elementos químicos que antes se encontravam
na forma orgânica são convertidos para a forma mineral. Os nutrientes,
elementos químicos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das culturas, só
são absorvidos pelas raízes das plantas quando se encontram na forma mineral.
Dos processos de decomposição e mineralização é que surgem jos principais
efeitos benéficos da matéria orgânica sobre a fertilidade do solo.
Quais os benefícios da
matéria orgânica para o solo?
a) Benefícios para a fertilidade do solo
(para os atributos químicos e físico-químicos do solo):
. Fornecimento de nutrientes para as
cultuas (macro e micronutrientes): quando decomposta e mineralizada, a matéria
orgânica torna-se fonte de nutrientes.
. Aumento da capacidade de troca de
cátions (CTC) do solo: tem a capacidade de adsorver (reter) cátions (muitos
nutrientes estão na forma de cátions) presentes no solo, que depois podem ser
disponibilizados para as culturas.
. Aumento da superfície específica do
solo: quanto maior a superfície específica, maior a capacidade de retenção de
nutrientes.
. Aumento da disponibilidade de
nutrientes para as culturas: por causa dos efeitos na capacidade de troca de
cátions e na superfície específica.
. Complexação de substâncias tóxicas:
a matéria orgânica em estágios avançados de decomposição tem a capacidade de
controlar a toxidez causada por certos elementos presentes no solo em teores
acima do normal e, por isso, tóxicos.
b b) Benefícios para o condicionamento
físico do solo:
. Melhoria da estrutura do solo: tem a
capacidade de agregar as partículas do solo, formando “grumos”. Esse efeito
agregador desencadeia benefícios nas outras características físicas do solo.
. Densidade do solo: redução da densidade
aparente do solo, tornando-o mais “leve” e solto.
. Porosidade do solo: melhoria da
circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo.
. Capacidade de retenção e infiltração
de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
c c) Benefícios para a biota do solo:
. Atua como uma fonte de alimento para
microrganismos decompositores, que a utilizam como substrato e são responsáveis
pela decomposição e mineralização da matéria orgânica no solo.
. Aumenta a população de minhocas,
besouros, fungos, bactérias e outros organismos benéficos para a manutenção da
vida no solo.
Quando é preciso
adicionar ou repor matéria orgânica?
Existe uma pequena fração da matéria
orgânica, já bem decomposta, que pode durar muito tempo no solo (até mais de
1.000 anos). Isso ocorre porque os microrganismos decompõem primeiro as
moléculas menores, ou seja, a parte mais fácil de ser quebrada e, nesse
processo, a parte mais “ura”, mais difícil de decompor, vai “sobrando” no solo.
Porém, a maior parte da matéria orgânica adicionada ao solo é decomposta de
forma relativamente rápida (de alguns meses até alguns anos), principalmente em
regiões onde a temperatura e a precipitação pluvial são altas. O preparo
intensivo do solo por meio do revolvimento também acelera a decomposição da
matéria orgânica, pois favorece a ruptura dos agregados do solo, expondo-os
mais ao ataque dos microrganismos.
É muito mais fácil e rápido “perder”
matéria orgânica do que “ganhar”. Portanto, para se manter o solo produtivo ao
longo do tempo é necessário que se adicione ou reponha a matéria orgânica com
certa frequência. O ideal é que a cada cultivo se adicione matéria orgânica ao
solo. No entanto, a frequência da adição ou da reposição depende do ciclo da
cultura em questão e do sistema de cultivo. Mas, como existem várias maneiras
de se manter e aumentar o teor de matéria orgânica do solo, uma delas, com
certeza, será adequada para cada caso.
Quais as maneiras de se
repor ou adicionar matéria orgânica ao solo?
Uma das maneiras de se repor ou adicionar
matéria orgânica ao solo é a utilização de estercos animais. Na produção de
hortaliças, são utilizados estercos de aves, de bovinos, equinos e caprinos. É
preciso lembrar que não se deve utilizar esterco de suínos na produção de
hortaliças, pois algumas doenças que acometem os porcos podem ser transmitidas
ao homem pela ingestão de alimentos contaminados.
Os estercos animais são material orgânico
de fácil decomposição e, por isso, são decompostos rapidamente, principalmente
o esterco de aves. Assim, seu principal benefício é o suprimento de nutrientes ás
culturas, pois, como não “duram” muito, não são bons condicionadores físicos do
solo.
Outros materiais, provenientes da própria
fazenda ou de agroindústrias, também podem ser boas fontes de matéria orgânica,
sendo utilizados puros ou junto com os estercos em compostagem.
Dentre
esses materiais podem-se citar alguns exemplos como:
.
Palhas de milho, de aveia, arroz, feijão e café.
.
Capim-gordura, capim-guiné, capim-meloso, entre outros capins.
.
Serragem de madeira.
.
Bagaço de cana.
.
Tortas de algodão e de mamona.
É importante ressaltar que o produto deve
priorizar resíduos produzidos na propriedade ou resíduos agroindustriais da
região, a fim de facilitar e baratear custos. Uma alternativa prática e eficaz
para se adicionar matéria orgânica ao solo é a adubação verde que proporciona
ao produtor a produção de matéria orgânica diretamente na área de cultivo.
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