Autores: Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.
De que modo a
compostagem ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
A compostagem é uma maneira mais eficiente
de se utilizar os estercos e o material volumoso (capins, resíduos vegetais). É
um processo de decomposição “forçada” da matéria orgânica em ambiente aeróbico
(na presença de ar). O material é empilhado, geralmente na proporção de três
pilhas de volumoso para uma pilha de esterco, e é revirado de 15 em 15 dias,
quando é também umedecido. Como resultado,...
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo
5:...
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 3: Organização da Propriedade
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Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
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estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais...
sábado, 10 de setembro de 2016
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Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do e-mail: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
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sábado, 10 de dezembro de 2016
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 5: Manejo do Solo
Autores: Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.
De que modo a
compostagem ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
A compostagem é uma maneira mais eficiente
de se utilizar os estercos e o material volumoso (capins, resíduos vegetais). É
um processo de decomposição “forçada” da matéria orgânica em ambiente aeróbico
(na presença de ar). O material é empilhado, geralmente na proporção de três
pilhas de volumoso para uma pilha de esterco, e é revirado de 15 em 15 dias,
quando é também umedecido. Como resultado, obtém-se, após um período aproximado
de 90 dias, um produto parcialmente mineralizado, ou seja, mais eficiente como
fonte de nutrientes para as culturas e, além disso, higienizado. O composto
também apresenta outra vantagem em relação ao esterco não compostado: por ter
um volumoso em sua formação, geralmente palhada e capim, permanece mais tempo
no solo, funcionando também como um condicionador físico e melhorando sua
estrutura.
De que modo a adubação
verde ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
A adubação verde é uma prática excelente
em quantidade e qualidade de matéria orgânica. Em quantidade, porque os adubos
verdes produzem muita massa vegetal e, em qualidade, porque essa massa é muito
rica em nutrientes. Além disso, como se decompõe mais lentamente no solo, em
comparação com os estercos e composto, a matéria orgânica proveniente dos
adubos verdes é um ótimo condicionador físico de solo.
Os adubos verdes podem ser utilizados em
esquemas de rotação, sucessão ou consórcio com as hortaliças. Muitos produtores
não utilizam essa prática porque não querem ou não podem deixar a área “parada”
por um tempo (enquanto os adubos verdes crescem e chegam ao ponto ideal de
corte). O consórcio, porém, é uma boa alternativa para esses casos. Algumas
hortaliças podem ser consorciadas sem problema com os adubos verdes, mas é
preciso saber qual a melhor época de plantio do adubo verde em relação à da
cultura, para não haver competição.
Como é feito o manejo
dos adubos verdes?
O manejo dos adubos verdes depende do
objetivo de sua utilização. Sua massa vegetal pode ser tanto incorporada ao
solo quanto mantida na superfície. No primeiro caso, os processos de
decomposição e mineralização acontecem mais rápido e, conseqüentemente, os
efeitos positivos na melhoria da fertilidade e no condicionamento do solo
aparecem mais cedo. Essa é a melhor alternativa de manejo dos adubos verdes
quando se objetiva o fornecimento de nutrientes para a cultura sucessora. No
segundo caso, a massa vegetal fica disposta sobre o solo após seu corte e, por
isso, se decompõe mais devagar. Essa é uma boa alternativa quando o objetivo
principal é proteger o solo contra a erosão e contra o surgimento de plantas
espontâneas problemáticas. Nesse caso, os adubos verdes são utilizados como
cobertura vegetal. Se essa cobertura vegetal for realizada visando à produção
de palhada para o sistema de plantio direto ou para o cultivo mínimo, dará
origem ao que se chama de cobertura morta.
Qual a situação ideal
para manter ou repor a matéria orgânica num sistema orgânico de produção de
hortaliças?
Uma situação ideal seria aquela em que o
produtor orgânico pudesse aliar um esterco curtido e de boa qualidade, ou um composto
bem produzido, com a prática da adubação verde ou da cobertura vegetal. Assim,
consegue-se manter os teores de matéria orgânica e propiciar a manutenção, e
mesmo a melhoria, da qualidade do solo ao longo do tempo. Além disso, deve-se
adotar o preparo conservacionista do terreno, evitando-se o revolvimento excessivo.
Como é feito o preparo
do solo no cultivo orgânico de hortaliças?
O preparo do solo no cultivo orgânico de
hortaliças procura ser conservacionista, priorizando a movimentação mínima do
terreno. Recomenda-se fazer as operações de aração e gradagem apenas no
primeiro ano e utilizar, nos anos seguintes, mecanização reduzida, mantendo o
solo coberto, e fazer o novo plantio sem fazer novo preparo.
Pode-se utilizar o
sistema de plantio direto no cultivo orgânico de hortaliças?
Sim. Esse é um sistema de plantio
conservacionista que pode ser utilizado no cultivo orgânico de hortaliças.
Entretanto, o que ocorre é que muitas pessoas acreditam que o plantio direto
está necessariamente vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Da
mesma forma que se faz capinas manuais ou com enxadas em sistemas orgânicos com
revolvimento de solo, também se faz o mesmo em sistemas orgânicos com plantio
direto. É importante que a área apresente baixa ocorrência de plantas
espontâneas problemáticas, como tiririca, losna ou trapoeraba. Outro ponto
importante é o entendimento de que é essencial trabalhar para a construção da
fertilidade, utilizando rotação de culturas adequada, pensando em longo prazo e
não somente na safra corrente.
Qual a definição de
sistema de plantio direto e qual a diferença entre plantio direto e cultivo
mínimo?
No meio técnico, ainda não há consenso em
relação a conceitos e definições. Entretanto, a maioria dos profissionais
concorda com a seguinte terminologia:
a)Plantio
direto: é um sistema de plantio que visa maximizar a produção em longo prazo,
considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, baseado em
três princípios básicos:
•
Revolvimento mínimo do solo, restrito à cova ou sulco de plantio.
•
Rotação de culturas.
•
Cobertura do solo.
b)
Cultivo mínimo: é um sistema intermediário de plantio, entre o convencional e o
direto, que visa maximizar a produção em longo prazo, considerando os custos
indiretos advindos da atividade agrícola, mas que não atende a um dos três
princípios básicos do plantio direto. Como exemplo de cultivo mínimo pode-se
citar o cultivo de cebola em área cultivada com milho, passando-se a grade
niveladora fechada sobre a palhada para homogeneizar a área e facilitar o
plantio ou transplantio da cebola, mantendo a palhada em cobertura e revolvendo
o solo em área total apenas superficialmente. É importante mencionar que o
plantio diretamente no local definitivo após o preparo de solo em vez da
tradicional formação de mudas, como ocorre no plantio de cebola e beterraba, é
chamado por vezes de plantio direto, no setor de hortaliças. Entretanto,
tratase, na verdade, de um método de cultivo – o de semeadura direta – distinto
do sistema de plantio direto.
Que hortaliças podem ser
cultivadas no sistema de plantio direto e no cultivo mínimo?
Há diversas espécies que se adaptam
facilmente ao sistema de plantio direto, como couve, repolho, couve-flor,
brócolis, berinjela, jiló, abobrinha, abóboras, tomate, pimentão, entre outras.
Basicamente, podem ser cultivadas nesse sistema todas as espécies plantadas em
espaçamento relativamente aberto, o suficiente para permitir fáceis capinas
depois do transplantio. Culturas como cebola, beterraba, alho, alface, entre
outras, apresentam dificuldades em relação à manutenção da população de plantas
espontâneas em níveis abaixo do competitivo com a cultura. Entretanto, para
pequenas áreas e quando se dispõe de mão-de-obra, é possível seu plantio,
especialmente em cultivo mínimo, desde que se tenha mais cuidado na fase de
formação de palhada.
Algumas culturas apresentam verdadeira
limitação ao cultivo em sistemas de plantio direto, como cenoura,
mandioquinha-salsa, batata-doce e batata. A cenoura necessita de solo
extremamente solto em virtude da frágil dominância apical de suas raízes, o que
leva à formação de raízes tortuosas ou bifurcadas em caso de qualquer
impedimento físico, por mínimo que seja. A mandioquinha-salsa e a batata-doce
necessitam de leiras para a formação de raízes e para evitar o acúmulo de água
no pé das plantas, no caso da mandioquinha-salsa. A batata necessita de amontoa
para a formação dos tubérculos, e o aspargo, para a formação dos brotos.
Entretanto, há casos de cultivo mínimo de batata em que o plantio é feito em
sulcos sobre a palhada, quebrando-se o sistema por ocasião da amontoa, de 25 a
30 dias após o plantio.
O que é cobertura morta?
É a palhada disposta sobre o solo para a
realização do plantio direto ou do cultivo mínimo. A obtenção da cobertura
morta pode ser feita de duas maneiras: pela importação de palhada de outra
área, como se faz tradicionalmente na cultura do alho comum, e pelo cultivo de
plantas de cobertura, fornecedoras de palhada, e seu manejo (corte) no próprio
local. Produzindo a palhada no próprio local, o agricultor está respeitando o
princípio da sustentabilidade, preconizado pelos sistemas orgânicos de
produção, reduzindo a importação de insumos.
A busca de palhada em outro local garante
a cobertura do solo, mas não o efeito de estruturação do solo promovido pela
“aração biológica”, que consiste na decomposição do sistema radicular das
culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor
de matéria orgânica. Que materiais podem ser utilizados como cobertura morta?
Há inúmeras espécies que podem ser utilizadas para produção de cobertura morta,
tanto em cultivo “solteiro” como no consorciado. Espécies de adubos verdes,
sejam leguminosas, gramíneas ou plantas de outras famílias, podem ser
utilizadas como plantas de cobertura. Plantas de interesse econômico, como
milho, especialmente milho verde, soja hortaliça, ervilha, etc., também podem
ser utilizadas na produção de palhada. Para todas essas plantas de cobertura
existe a possibilidade de produção de sementes na própria propriedade, sendo
inclusive difícil encontrar fornecedores de sementes de algumas delas.
De que depende a escolha
da planta de cobertura?
A escolha da planta de cobertura depende
de diversos fatores, como:
• Clima.
• Esquema de rotação de culturas, devendo-se
considerar o tempo disponível para a formação de palhada.
•
Capacidade das plantas de hospedarem pragas e patógenos.
•
Características físicas do solo, como camadas compactadas.
•
Características químicas do solo, como necessidade de reciclagem de nutrientes
e velocidade na disponibilização de nutrientes pela cobertura morta.
•
Utilidade comercial das plantas de cobertura.
Como regra geral, se o desejado é a
obtenção de cobertura morta duradoura, deve-se optar pelo plantio de gramíneas,
de plantas com alta relação carbono/nitrogênio (C/N), como milho, milheto,
sorgo, aveias, entre outras.
Se, por sua vez, deseja-se obter cobertura
morta de degradação mais rápida para liberação de nutrientes para a cultura
sucessora, utilizam-se plantas de cobertura com relação C/N mais baixa, do
grupo das brássicas, como nabo forrageiro, e das nabiças, das amarantáceas,
como o amaranto, ou das leguminosas, como as mucunas, as crotalárias, o
lab-lab, as sojas, o guandu, o feijão-de-porco, entre outras.
A vegetação espontânea
pode ser utilizada como cobertura?
Sim. O uso de vegetação espontânea pode
ser viável. Normalmente, há predominância de gramíneas, especialmente no verão.
Entretanto, é preciso observar se estão ocorrendo plantas espontâneas
problemáticas, que podem competir por água e nutrientes durante o ciclo da
cultura principal, inviabilizando-a.
Podem ser utilizados
consórcios de plantas de cobertura?
Sim. O uso de consórcios com plantas de
diferentes famílias é muito interessante e recomendado. Um exemplo é o
consórcio de milho (gramínea) e mucuna (leguminosa), tirando-se proveito do
milho como fornecedor de palhada duradoura e da mucuna, como fornecedora de
nutrientes, especialmente nitrogênio. Outro consórcio muito utilizado em
regiões de clima ameno, e que merece destaque, é o de aveia-preta, nabo forrageiro
e ervilhaca, em que a aveia-preta atua como fornecedora de palhada, a
ervilhaca, como fornecedora de nutrientes, especialmente nitrogênio, e o nabo
forrageiro, como descompactador. 131 132 93 É preciso lembrar que, em sistemas
orgânicos de produção, deve-se optar por plantas com baixa capacidade de
rebrota ou, preferencialmente, sem essa capacidade, levando em conta tanto a
espécie quanto a época de corte.
Como manejar as plantas
de cobertura no sistema orgânico?
A formação de palhada deve ser feita com
roçadeira ou rolofaca. No cultivo mínimo, pode-se usar grade niveladora que,
aliás, só deve ser usada em casos de grande massa vegetal, e fechada, a fim de
não aprofundar no solo e não incorporar a cobertura morta, que deve ficar na
superfície. O corte deve ser feito antes da formação de sementes viáveis.
O plantio em linha de espécies de
cobertura para formação de palhada com alguma capacidade de rebrota pode
facilitar as capinas posteriormente, fazendo-se o semeio ou o transplantio de
mudas da cultura principal nas entrelinhas das plantas de cobertura.
Quais as vantagens do
sistema de plantio direto?
Alguns
dos principais benefícios da adoção do plantio direto são:
•
Minimização da erosão, pelo amortecimento do impacto das gotas da chuva, e
minimização dos efeitos das pesadas enxurradas, tanto pela palhada quanto pela
integridade da estrutura do solo, não submetido a revolvimento, mas apenas à
“aração biológica”, do que resulta significativo aumento da infiltração de água
e da capacidade de retenção de água no solo.
•
Aumento da eficiência de uso de água e energia, pela maior infiltração da água
no solo, menor escorrimento superficial e menor e vaporação, resultando em
redução de até 20 % na necessidade de irrigação.
•
Redução da mecanização, superior a 50 % em relação a sistemas convencionais de
produção. • Elevação dos teores de matéria orgânica do solo, pela reduzida
movimentação e pelo aporte de resíduos.
•
Redução da infestação por plantas espontâneas, tanto por ação física, que atua
como barreira, quanto por ação química, a exemplo do efeito alelopático de
algumas espécies como sorgo, mucunas e outras.
•
Aumento da diversidade da biota do solo, em virtude da elevação dos teores de
matéria orgânica. • Redução da dispersão de doenças de solo, em conseqüência da
diminuição dos respingos de água da chuva e do escorrimento superficial.
•
Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas
mais quentes do dia com redução de até 9 o C na palhada de superfície do solo,
próximo ao coleto da planta, em relação ao solo desprotegido, e retenção do
calor residual nas horas mais frias do dia.
Quais as desvantagens do
sistema de plantio direto?
Os
principais problemas que podem ocorrer no sistema de plantio direto são:
•
Em regiões muito úmidas, o plantio direto pode favorecer o desenvolvimento de
alguns fungos fitopatogênicos que sobrevivem na palhada, aumentando o inóculo
inicial de doenças, mas a dispersão das doenças é mais lenta.
•
Aumento da população de “corós”, de besouros consumidores de matéria orgânica
que, em elevadas populações, podem atacar as raízes das plantas para alimentar-se
– fenômeno já relatado em áreas de plantio direto de grãos.
•
Aumento da população de cupins, consumidores de celulose, que podem atacar as
raízes em caso de desequilíbrio na população e se a disponibilidade de palhada
135 95 for insuficiente em alguns períodos do ano.
•
Compactação do solo, caso não ocorra o pleno estabelecimento das plantas de
cobertura, em geral, em decorrência da escolha inadequada da rotação de
culturas ou de seu manejo inadequado, a exemplo do excesso de pisoteio ou de
trânsito de máquinas na área.
•
Indisponibilização da área pelo cultivo de plantas de cobertura que muitas
vezes não tem valor comercial direto. Quanto a este último item cabe citar a
importância de se entender que o solo deve ser tratado e não somente explorado.
Hoje, deve-se pensar em “adubar o solo” e não em adubar a planta, e a obtenção
de produções satisfatórias é conseqüência do equilíbrio do solo.
Quais as conseqüências
do manejo inadequado do solo?
O manejo inadequado do solo, no sistema
orgânico de produção ou no convencional, pode levar a graves conseqüências.
Problemas freqüentes estão relacionados com a fertilidade do solo. Se a
fertilidade do solo não for acompanhada com análises periódicas, corre-se o
risco de errar na fertilização tanto para menos como para mais.
Quando se erra para menos, ocorre
deficiência, ou a falta de um, ou mais, dos nutrientes da planta. Mesmo a falta
de apenas um nutriente prejudica o desenvolvimento da cultura e a produção é
comprometida.
Quando se erra para mais, ocorre toxidez,
além de maior gasto com adubo. O uso de fertilizantes em doses maiores que as
necessárias para a cultura pode levar ao excesso de um ou mais nutrientes, o
que também acarreta desequilíbrio nutricional e redução da produção.
A deficiência é relativamente mais fácil
de resolver. Dependendo do nutriente e do estágio da cultura, é possível
aplicar um fertilizante e reverter o quadro de deficiência. Para o excesso, 136
96 porém, não há solução em curto prazo.
O revolvimento excessivo provoca a
destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da
matéria orgânica. Além disso, pode levar ao endurecimento da camada superior do
solo, que fica então compactada e difícil de trabalhar. A desagregação do solo,
provocada pelo revolvimento excessivo, também pode ocorrer quando o solo está
desprotegido, isto é, sujeito à ação do vento e da água das chuvas, que são os
principais causadores da erosão.
Uma prática inadequada ainda utilizada por
alguns produtores de hortaliças é a formação de canteiros “morro abaixo”, ou
seja, no sentido da declividade do terreno. Essa prática é uma porta aberta
para a erosão, pois facilita grandemente a formação de sulcos no terreno
causados pelo escorrimento da enxurrada.
O que é compactação?
A compactação não é um fenômeno natural.
Isso significa que é um processo exclusivamente causado pelo manejo incorreto
do solo. Ocorre quando o solo é comprimido, ou seja, quando sofre compressão
por máquinas ou pelo pisoteio animal ou humano. A compressão causa o
adensamento do solo, o que dificulta o desenvolvimento das raízes das plantas e
reduz o número de poros do solo, por onde circulam água e ar, levando à redução
do movimento de água no perfil.
O que é erosão?
Erosão é o processo de transporte do solo
para outro local pela ação de agentes erosivos como a água e o vento. Pode
ocorrer naturalmente, sem a ação do homem. No entanto, em áreas agrícolas é
causada principalmente pela falta de
proteção do terreno, pois o solo desprotegido fica vulnerável à ação da água da
chuva e do vento.
No Brasil, o principal agente erosivo é a
chuva. Quando as gotas batem sobre o solo desprotegido, a força do impacto
provoca o desagregamento das partículas do solo que são arrastadas pela água da
chuva. Com a perda do solo, perdem-se também nutrientes e matéria orgânica. Com
o passar do tempo, o processo vai se tornando mais intenso e perigoso, a erosão
vai formando sulcos no terreno e pode evoluir para grandes voçorocas. Além
disso, a terra vai parar nos cursos d’água, provocando o assoreamento de rios e
lagos, tornando a água suja e de má qualidade.
Para se ter uma idéia, em solos com
declividade mediana cultivados convencionalmente e sem práticas
conservacionistas, é comum a perda de 20 t/ha de solo a cada ano. Esse material
é proveniente justamente da camada arável, ou seja, da fração mais fértil do
solo e mais rica em matéria orgânica.
Como o manejo “orgânico”
contribui para a qualidade do solo?
O manejo do solo no sistema orgânico de
cultivo contribui para sua qualidade na medida em que prioriza seu uso
sustentável. Na agricultura orgânica, o solo é valorizado como um recurso-chave
e assim é desde seu surgimento, nos anos 1920. O revolvimento mínimo e a
adição/reposição da matéria orgânica, priorizados pelo sistema orgânico, muito
contribuem para a manutenção e melhoria das características químicas, físicas e
biológicas do solo, e, conseqüentemente, para sua qualidade. Além disso, como o
manejo “orgânico” preconiza o preparo conservacionista, as possibilidades de
compactação e erosão são muito reduzidas.
O manejo do solo no
sistema orgânico garante seu uso sustentável?
Não se pode fazer essa afirmação porque o
manejo do solo tanto no sistema orgânico como no convencional precisa ser bem
feito. O que se pode dizer é que o manejo do solo no sistema orgânico tem
maiores chances de ser bem-sucedido e garantir o uso sustentável desse recurso
porque a preocupação com a qualidade do solo é maior. Entretanto, é preciso
considerar que o manejo do solo envolve todas as práticas relacionadas com o
solo, desde o preparo do solo até a adubação, sendo necessário que o produtor,
orgânico ou convencional, cuide de todos os aspectos da operação ‘manejo’.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 5: Manejo do Solo
Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
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Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo
5: Manejo do Solo
Autores: Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.
O que é manejo do solo?
O solo é a “pele” do Planeta Terra, pois é
o resultado da ação do clima, do relevo e dos organismos sobre as rochas
expostas na superfície do planeta. Essas rochas vão sofrendo transformações com
o tempo (muito tempo!) e o solo vai sendo formado aos poucos. Para se ter uma
ideia, são necessários cerca de 400 anos para que 1 cm de solo seja formado. O
processo de formação do solo ocorre de baixo para cima, ou seja, à medida que o
material de origem vai sendo desintegrado e transformado, vão sendo depositadas
camadas, que também vão se transformando com o tempo e dando origem a novas
camadas. Já os solos localizados na parte mais baixa dos vales, nas margens dos
rios e lagos , podem ser formados pela deposição de materiais , muitas vezes já
transformados, que vêm das partes mais altas.
Na atividade agrícola, trabalha-se com uma
pequena porção do solo, a mais superficial, chamada de camada arável. O solo
faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes,
como a água, as plantas, os animais e o homem. Dessa forma, tudo que acontece
com o solo tem algum reflexo, positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz
parte.
O que é manejo do solo?
Manejo do solo é o conjunto de todas as
práticas aplicadas a determinado solo visando à produção agrícola. Inclui
operações de cultivo, práticas culturais, práticas de correção e fertilização,
entre outras. É a forma de cultivar e tratar o solo.
Como é feito o manejo do
solo nos sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
De forma geral, práticas tradicionais de
conservação do solo, como o plantio em curva de nível, a formação de faixas de
retenção e cordões, são utilizadas também na agricultura orgânica. No entanto,
a agricultura orgânica vê o solo como o centro de todo o processo produtivo,
valorizando-o como recurso-chave. Por isso, o manejo orgânico prioriza práticas
que proporcionem a manutenção e a melhoria da qualidade do solo, por meio do
revolvimento mínimo e do aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade
biológica. Desse modo, o manejo orgânico recomenda a manutenção de cobertura
vegetal sobre o solo, a adubação verde, o cultivo mínimo, o plantio direto,
entre outras práticas conservacionistas. Além disso, o manejo do solo no
sistema orgânico prioriza as fontes orgânicas de nutrientes e não utiliza
fertilizantes químicos de alta solubilidade. Para finalizar, é uma forma de
manejar o solo “pensando em longo prazo”, ou seja, objetivando a construção da
qualidade do solo com o tempo.
Quais as principais diferenças
entre o manejo do solo na produção orgânica de hortaliças e na convencional?
No caso específico da produção de
hortaliças, o manejo do solo costuma ser bastante intensivo no sistema
convencional. Muitas vezes são utilizadas quantidades excessivas de
fertilizantes, o que pode causar desequilíbrios químicos no solo e nutricionais
na cultura. Além disso, as glebas são, em geral, utilizadas continuamente,
ciclo após ciclo, e, em alguns casos, com revolvimento excessivo da camada
arável.
O sistema orgânico de produção de
hortaliças, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica,
a cobertura do solo e o revolvimento mínimo. Mas a preocupação com a
conservação do solo está crescendo na produção convencional e, por isso, a utilização
de práticas conservacionistas, como a adubação verde e a cobertura vegetal,
está ganhando cada vez mais espaço também no cultivo convencional.
O que é matéria orgânica
do solo?
De maneira bem simples e direta, pode-se
dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A
matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria
orgânica é constituída de resíduos de origem vegetal ou animal como:
.
Estercos.
.
Restos de cultura que ficam no campo.
.
Palhadas.
.
Folhas, cascas e galhos de árvores.
.
Raízes das plantas.
.
Animais que vivem no solo, como cupins, formigas, besouros, fungos, bactérias e
outros microrganismos.
Esses componentes da matéria orgânica
podem estar vivos (como os pequenos animais) ou já em decomposição (como os
resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura). Como tudo que foi um
dia vivo é constituído de carbono orgânico, muitas vezes encontra-se o termo “carbono
orgânico” como sinônimo de matéria orgânica.
Na realidade, o carbono é o principal
constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros
elementos importantes, como o nitrogênio. É a matéria orgânica que dá a cor
escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. Em solo muito claro,
aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica
seja muito baixo.
O que é decomposição e
mineralização da matéria orgânica?
A decomposição é o processo de quebra da
matéria orgânica em partes menores, feita por microrganismos decompositores
presentes no solo. Esses microrganismos utilizam a matéria orgânica como
alimento para sua sobrevivência e, para isso, precisam quebrá-la em pequenas
partes.
A mineralização é o resultado do processo
de decomposição microbiana. Durante a decomposição, elementos químicos que antes se encontravam
na forma orgânica são convertidos para a forma mineral. Os nutrientes,
elementos químicos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das culturas, só
são absorvidos pelas raízes das plantas quando se encontram na forma mineral.
Dos processos de decomposição e mineralização é que surgem jos principais
efeitos benéficos da matéria orgânica sobre a fertilidade do solo.
Quais os benefícios da
matéria orgânica para o solo?
a) Benefícios para a fertilidade do solo
(para os atributos químicos e físico-químicos do solo):
. Fornecimento de nutrientes para as
cultuas (macro e micronutrientes): quando decomposta e mineralizada, a matéria
orgânica torna-se fonte de nutrientes.
. Aumento da capacidade de troca de
cátions (CTC) do solo: tem a capacidade de adsorver (reter) cátions (muitos
nutrientes estão na forma de cátions) presentes no solo, que depois podem ser
disponibilizados para as culturas.
. Aumento da superfície específica do
solo: quanto maior a superfície específica, maior a capacidade de retenção de
nutrientes.
. Aumento da disponibilidade de
nutrientes para as culturas: por causa dos efeitos na capacidade de troca de
cátions e na superfície específica.
. Complexação de substâncias tóxicas:
a matéria orgânica em estágios avançados de decomposição tem a capacidade de
controlar a toxidez causada por certos elementos presentes no solo em teores
acima do normal e, por isso, tóxicos.
b b) Benefícios para o condicionamento
físico do solo:
. Melhoria da estrutura do solo: tem a
capacidade de agregar as partículas do solo, formando “grumos”. Esse efeito
agregador desencadeia benefícios nas outras características físicas do solo.
. Densidade do solo: redução da densidade
aparente do solo, tornando-o mais “leve” e solto.
. Porosidade do solo: melhoria da
circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo.
. Capacidade de retenção e infiltração
de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
c c) Benefícios para a biota do solo:
. Atua como uma fonte de alimento para
microrganismos decompositores, que a utilizam como substrato e são responsáveis
pela decomposição e mineralização da matéria orgânica no solo.
. Aumenta a população de minhocas,
besouros, fungos, bactérias e outros organismos benéficos para a manutenção da
vida no solo.
Quando é preciso
adicionar ou repor matéria orgânica?
Existe uma pequena fração da matéria
orgânica, já bem decomposta, que pode durar muito tempo no solo (até mais de
1.000 anos). Isso ocorre porque os microrganismos decompõem primeiro as
moléculas menores, ou seja, a parte mais fácil de ser quebrada e, nesse
processo, a parte mais “ura”, mais difícil de decompor, vai “sobrando” no solo.
Porém, a maior parte da matéria orgânica adicionada ao solo é decomposta de
forma relativamente rápida (de alguns meses até alguns anos), principalmente em
regiões onde a temperatura e a precipitação pluvial são altas. O preparo
intensivo do solo por meio do revolvimento também acelera a decomposição da
matéria orgânica, pois favorece a ruptura dos agregados do solo, expondo-os
mais ao ataque dos microrganismos.
É muito mais fácil e rápido “perder”
matéria orgânica do que “ganhar”. Portanto, para se manter o solo produtivo ao
longo do tempo é necessário que se adicione ou reponha a matéria orgânica com
certa frequência. O ideal é que a cada cultivo se adicione matéria orgânica ao
solo. No entanto, a frequência da adição ou da reposição depende do ciclo da
cultura em questão e do sistema de cultivo. Mas, como existem várias maneiras
de se manter e aumentar o teor de matéria orgânica do solo, uma delas, com
certeza, será adequada para cada caso.
Quais as maneiras de se
repor ou adicionar matéria orgânica ao solo?
Uma das maneiras de se repor ou adicionar
matéria orgânica ao solo é a utilização de estercos animais. Na produção de
hortaliças, são utilizados estercos de aves, de bovinos, equinos e caprinos. É
preciso lembrar que não se deve utilizar esterco de suínos na produção de
hortaliças, pois algumas doenças que acometem os porcos podem ser transmitidas
ao homem pela ingestão de alimentos contaminados.
Os estercos animais são material orgânico
de fácil decomposição e, por isso, são decompostos rapidamente, principalmente
o esterco de aves. Assim, seu principal benefício é o suprimento de nutrientes ás
culturas, pois, como não “duram” muito, não são bons condicionadores físicos do
solo.
Outros materiais, provenientes da própria
fazenda ou de agroindústrias, também podem ser boas fontes de matéria orgânica,
sendo utilizados puros ou junto com os estercos em compostagem.
Dentre
esses materiais podem-se citar alguns exemplos como:
.
Palhas de milho, de aveia, arroz, feijão e café.
.
Capim-gordura, capim-guiné, capim-meloso, entre outros capins.
.
Serragem de madeira.
.
Bagaço de cana.
.
Tortas de algodão e de mamona.
É importante ressaltar que o produto deve
priorizar resíduos produzidos na propriedade ou resíduos agroindustriais da
região, a fim de facilitar e baratear custos. Uma alternativa prática e eficaz
para se adicionar matéria orgânica ao solo é a adubação verde que proporciona
ao produtor a produção de matéria orgânica diretamente na área de cultivo.
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 3: Organização da Propriedade
Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
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Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo
3: Organização da Propriedade
Autores: Francisco Vilela Resende e Mariane
Carvalho Vidal.
Por que o sistema
orgânico de produção se contrapõe à monocultura?
O
uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação
dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada
em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de
mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas
invasoras especializadas e uma série de outros problemas peculiares para essas
culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende
de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da
diversidade biológica. Essa diversidade é o principal pilar da agricultura
orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e,
consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e
ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com
monoculturas.
Nos
cultivos especializados, onde prevalece apenas uma cultura de interesse
econômico, deve-se estabelecer algum grau de diversificação, que é conseguido
com a inserção de áreas de refúgio e/ou cordões de contorno com espécies
variadas, consórcios com adubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com
o manejo das plantas espontâneas.
Como é feita
diversificação do sistema?
O
produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da
paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre
todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos
animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com
múltiplas funções no sistema produtivo é a base do estabelecimento do
equilíbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espécies de interesse
econômico, arbóreas, atrativas e ornamentais. Deve-se atentar também para o
papel fundamental das espécies espontâneas no processo de diversificação. Dessa
forma, procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no
espaço pela incorporação de características de ecossistemas naturais, como:
-
Reciclagem de nutrientes.
-
Uso de fontes renováveis de energia.
-
Manutenção das relações biológicas que ocorrem naturalmente.
-
Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos de fora do sistema.
-
Estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas
agrícolas e animais adaptados às condições ecológicas da propriedade.
-
Ênfase na conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.
Como deve ser dividida a
área de cultivo em um sistema orgânico de produção de hortaliças?
A
produção orgânica de hortaliças exige a reformulação da organização da
propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema
convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em
talhões que, preferencialmente, não ultrapassem 1.000 m2 , com
elementos que promovam o condicionamento climático das culturas e a preservação
da biodiversidade.
O
uso intensivo das áreas associado a ciclos sucessivos de cultivo exige maior
atenção dos produtores de hortaliças na construção e proteção dos talhões. O
talhão possui papel fundamental na administração da propriedade e gerenciamento
das atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na
propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para
execução dos trabalhos, pois na produção de hortaliças há grande movimentação
de mão-de-obra e insumos, o que exige eficiência no funcionamento do sistema,
visando facilitar a administração e reduzir os custos da atividade.
A
delimitação dos espaços físicos da horta é feita por carreadores principais e
secundários. O dimensionamento dos carreadores deve ser realizado de forma a
perder o mínimo possível de área produtiva. Os caminhos secundários devem
apresentar dimensões de 30 cm de largura, no máximo, para permitir apenas o
trânsito de pessoas e carrinhos de mão. Os carreadores principais devem ser
dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entrada de máquinas e equipamentos
para transporte de insumos e escoamento da produção.
O que são cordões de
contorno?
São
faixas de vegetação que circundam a propriedade, permitindo isolamento das
áreas de cultivo convencional circunvizinhas, e utilizados também para divisão
dos talhões de cultivo. É um componente fundamental na organização de uma
propriedade orgânica voltada para a produção de hortaliças. Apresentam
múltiplas finalidades como o funcionamento como barreiras fitossanitárias,
dificultando a livre circulação de pragas e doenças entre propriedades vizinhas
e entre os talhões de cultivo; a criação de microclimas mais propícios ao
cultivo de hortaliças; a formação de áreas de refúgio e abrigo para inimigos
naturais de pragas e outros pequenos animais úteis. Resumindo, a instalação
dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis
à redução do estresse sofrido pelas plantas e é fundamental para o manejo
fitossanitário da propriedade orgânica.
Como são formados e que
espécies podem ser usadas nos cordões de contorno?
Essas
faixas podem ser formadas por uma ou várias espécies, incluindo a própria
vegetação natural. Espécies que podem servir como fontes de biomassa e
nutrientes, como capins, leucena, hibiscos, flor do mel (girassol mexicano),
espécies fixadoras de nitrogênio, como os adubos verdes, espécies atrativas
para insetos e pequenos animais, e plantas de interesse econômico, visando à
complementação de renda da atividade principal também podem ser utilizadas. É
importante preocupar-se com a diversidade dos cordões de contorno para
garantir que se tornem abrigos de biodiversidade, procurando combinar espécies
que atendam aos requisitos descritos.
Podem-se usar espécies
de interesse econômico nos cordões de contorno?
Alguns
produtores orgânicos não aceitam ou não podem dispor dentro da propriedade de
áreas de cultivo com espécies que não tenham interesse econômico. Dessa forma,
aproveitam as áreas dos cordões para a introdução de espécies que, além de
formarem cordões, possam prover-lhes algum retorno econômico e não causem
prejuízos à cultura ou às culturas principais. Podem-se destacar, como exemplo,
a banana, o café, o mamão, outras espécies frutíferas, plantas melíferas,
condimentares, medicinais e ornamentais ou uma combinação dessas espécies.
O que são áreas de
refúgio?
São
áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e
pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de
refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para
organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantação.
Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de
cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos e as
comunidades de plantas invasoras ou espontâneas. As áreas de refúgio garantem a
preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de
várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.
O que são áreas de
pousio?
Como
o próprio nome sugere, são áreas que garantem o descanso do solo, após cultivo
intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e
biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação,
que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são
muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo. O agricultor deve
prever esse período no planejamento da horta, pois para produção de hortaliças,
que utiliza intensamente os recursos do solo, essa prática é fundamental.
Qual a importância da
rotação de culturas para sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
Um
dos aspectos mais importantes do manejo em sistemas orgânicos de produção é a
exploração equilibrada do solo, por meio do emprego de práticas como a
alternância de culturas e a sucessão vegetal, levando ã prática da rotação de
culturas nas diversas unidades de solo de uma propriedade agrícola.
Deve-se
estabelecer uma escala de exigência em adubação e manter o terreno
permanentemente coberto. Essas práticas conjugadas permitem explorar os
nutrientes do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento. Deve-se
alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes
(rústicas), que exploram profundidades diferentes do solo pela diferença na
estrutura radicular.
Outro
aspecto igualmente importante da rotação, e também do consórcio de hortaliças,
é evitar a proliferação e acúmulo de doenças e pragas, que em um sistema
intensivo de cultivo pode ocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a
rotação de culturas é uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e
o controle de pragas e doenças.
Como deve ser o manejo
das rotações dentro dos talhões ou das áreas de produção de hortaliças?
A
divisão dos talhões em faixas de cultivo auxilia na implantação de esquemas de
rotação. Nessas faixas, alterna-se o cultivo de adubos verdes com diferentes
famílias de hortaliças. Nesse esquema, é importante evitar o plantio de
espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes. No caso das
hortaliças que se adaptam melhor aos cultivos de inverno, época em que o
olericultor obtém maiores rendimentos, deve-se evitar a prática de rotação com
adubos verdes, permitindo que a área fique integralmente ocupada pelas culturas
de interesse econômico. No verão, reserva-se uma área maior para o plantio de
espécies de adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estação. Dessa
frma, pratica-se a recuperação anual das áreas de produção.
Outra
estratégia importante de manejo é evitar o acúmulo de inóculos de organismos
patogênicos, uma vez que as sucessões provocam uma quebra do ciclo biológico
desses organismos pela alternância de espécies. Exemplificando, o plantio
sucessivo de espécies de solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.) na mesma
área pode elevar a incidência de patógenos foliares e de solo nessas culturas.
Qual a regra geral para
a boa rotação de culturas?
Na
rotação, o produtor pode utilizar um esquema seguindo as diferentes
características de cada grupo de hortaliças: folhosas, raízes/tubérculos e
flores/frutos. Como cada espécie se desenvolve de uma forma e tem um sistema
radicular próprio e diferenciado, também explora o solo e retira os nutrientes
de forma diferenciada. Logo após o preparo e a adubação inicial do solo,
deve-se cultivar hortaliças mais exigentes, seguindo-se com espécies cada vez menos
exigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando o esquema de
alternar entre esses grupos e deixando sempre um intervalo entre um ciclo para
descanso e recuperação do solo (pousio). Durante o pousio, o produtor pode
explorar a utilização dos adubos verdes para recomposição e manutenção do solo.
O que é
consorciação/associação de culturas?
O
sistema de consórcio caracteriza-se pelo plantio simultâneo de duas ou mais
culturas na mesma área. É uma das práticas mais importantes para o cultivo de
hortaliças no sistema orgânico, pois abrange aspectos tanto ambientais quanto
econômicos.
A
consorciação permite otimizar a produção pelo melhor aproveitamento da área
explorando a combinação de espécies eficientes na utilização dos recursos de
produção como espaço, nutrientes, água e luz. O consórcio entre espécies de
hortaliças está sendo adotado amplamente em áreas de cultivo orgânico em todo o
país, principalmente por pequenos agricultores orgânicos que buscam nessa
técnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seus escassos recursos de
produção. Assim procuram maximizar seus lucros, aproveitando melhor a área, os
insumos e a mão-de-obra.
Quais as vantagens da
consorciação de culturas?
A
eficiência e as vantagens de um sistema
consorciado estão na complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa
complementariedade é maior à medida que se consegue minimizar os efeitos
negativos de uma cultura sobre a outra. O consórcio, além de permitir o uso
mais intensivo da área de plantio, confere maior diversidade biológica e
produção por unidade de área, garante renda extra ao agricultor e proporciona
menor impacto ambiental em relação à monocultura. Para evitar a manutenção de
áreas com plantio de espécies que não tragam retorno econômico, os produtores
podem utilizar o consórcio entre a cultura de interesse comercial e outra
espécie que apresente funções importantes, como atração de inimigos naturais,
repelente de insetos, adubos verdes, etc. Um exemplo clássico dessa associação
ocorre entre milho e mucuna. O plantio sincronizado dessas espécies permite que
a floração da leguminosa coincida com a seca da planta de milho, originando uma
palhada bastante rica em nutrientes que pode ser utilizada no cultivo de várias
hortaliças. O olericultor obtém ainda retorno econômico com a comercialização
das espigas de milho ainda verdes.
Que tipos de consórcio
podem ser utilizados para hortaliças?
Embora
existam muitas possibilidades de combinação de hortaliças em consórcio, são
mais comuns os consórcios em faixas e em linhas.
No consórcio em linha, são intercaladas
linhas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Pode-se
consorciar alface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimentão e
feijão guandu anão, tomate e crotalária, entre outras.
No consórcio em faixas, são intercaladas
faixas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Em alguns casos,
essas faixas podem se confundir com os próprios canteiros. Pode-se agrupar as
hortaliças companheiras, como cenoura e tomate, batata e repolho, tomate e
cebola, cebola e pepino, alface e rúcula, abóbora e chicória, repolho e arruda,
entre outras.
Qual o objetivo de se
associar plantas repelentes e/ou atrativas à cultura principal no sistema
orgânico?
As plantas com sabor e cheiro forte são
chamadas atrativas ou repelentes, pois possuem substâncias que afastam ou
inibem a ação de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturas pode
proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratégia de manejo
agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feito isoladamente, e sim, em
conjunto com outras técnicas de controle, sempre buscando a promoção do
equilíbrio ecológico em toda a propriedade agrícola.
Quais as plantas
atrativas e repelentes mais comuns e para que servem?
As
plantas atrativas e repelentes mais comuns são:
.
Cravo-de-defunto (Tagetes minuta)
e/ou cravorana silvestre (Tagetes
sp.) – Repelente de insetos e nematóides, principalmente no florescimento. Atua
tanto por ação direta contra as pragas quanto por “disfarce”das culturas por
seu forte odor.
.
Cinamomo (Melia azedorach L.) – Ação inseticida.
Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos
armazenados.
.
Saboneteira (Sapindus saponaria L.) –
Ação inseticida. Para se ter uma ideia de seu poder de ação, apenas seis frutos
bastam para preservar 60 kg de grãos armazenados.
.
Quássia ou pau-amargo (Quassia amara)
– Ação inseticida, especialmente contra moscas e mosquits, pelo alto teor de
substâncias amargas na casca e na madeira.
.
Mucuna (Mucuna spp.) e crotalária (Crotalaria spp.) – Ação nematicida.
.
Coentro (Coriandrum sativum) – Ação repelente.
Tem-se observado redução significativa de frutos de tomateiro perfurados por
insetos quando seu plantio é associado ao de coentro.
.
Arruda (Ruta graveolens) – Ação repelente.
Evita a lagarta em folhosas, como o repolho.
.
Manjericão (Oncimum basilicum) – Por causa
do forte odor e compostos que exala, é um repelente de insetos.
Gergelim
(Sesamum indicum) – Cordões de contorno
com gergelim oferecem excelente proteção contra saúvas e outras formigas
cortadeiras.
.
Purungo ou cabaça (Lagenaria vulgaris)
– Atrativo para o besourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-se
utilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura.
.
Tajujá (Cayaponia tayuya) – Atrativa para
as vaquinhas.
Geralmente, plantas aromáticas, medicinais
e condimentares são menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, uma
boa opção para compor canteiros na
horta, próximo às culturas. Outros exemplos dessas plantas são artemísia,
alecrim, menta, tomilho, losna , funcho, hortelã, etc.
As plantas espontâneas
podem contribuir para o manejo do sistema orgânico ou devem ser sempre
eliminadas?
As
plantas que crescem junto com as espécies cultivadas são consideradas invasoras
ou espontâneas e não plantas daninhas. Assim, como outros vegetais, as plantas
invasoras contribuem para:
.
Cobertura e proteção do solo.
.
Reciclagem mais eficiente de nutrientes.
.
Melhoria das condições físicas do solo pelo aumento dos teores de matéria
orgânica.
.
Rompimento de camadas compactadas.
.
Diversificação do ambiente.
Essas espécies devem ser manejadas adequadamente
para que permitam o convívio sem prejuízos para a cultura de interesse econômico.
Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar a presença das ervas próximo
à cultura de interesse comercial, deixando-se uma estreita faixa de vegetação
nas entrelinhas de plantio. Em culturas omo berinjela, jiló, abóbora, quiabo e
outras, deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roçadas leves no
restante da área.
No caso de hortaliças de canteiro, recomenda-se
capinas nos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a
vegetação dos careadores ou apenas roçando-a quando estiver dificultando os
tratos culturais. O controle de invasoras tem sido feito com o emprego de
práticas mecânicas, como aração, gradagem, cultivos, roçadas, amontoas e
capinas manuais, conforme a necessidade de redução das invasoras e, ainda, com
o uso de plantas com efeitos alelopáticos, adubação verde, cobertura morta,
cobertura viva, rotação e a consorciação de culturas.
Existe alguma forma de
se plantar hortaliças sem canteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo?
Para algumas hortaliças é possível evitar
o uso de canteiros fazendo o plantio em covas ou sulcos e até mesmo o plantio
direto sobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais a
decomposição da matéria orgânica pode ser acelerada com o excesso de
revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo do solo deve ser evitado ou
minimizado sempre que possível. Recomenda-se o uso de canteiros
semidefinitivos, restringindo ao máximo a entrada de máquinas nas áreas de
cultivo. Dessa forma, seguindo os princípios já mencionados da rotação de
culturas, após o preparo, e da adubação inicial do solo, cultiva-se uma
sucessão de hortaliças progressivamente menos exigentes em nutrientes, sem que
haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessário, pode-se
complementar a adubação inicial com aplicações em cobertura, fazendo-se apenas
uma leve incorporação superficial.
sábado, 10 de setembro de 2016
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 2: Legislação e Certificação
Fonte:
Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro
“PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem
entrar em contato através do e-mail: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
Com o objetivo de divulgar e aumentar o
conhecimento sobre agricultura orgânica,
estamos transcrevendo do livro, algumas
perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.
Capítulo
2: Legislação e Certificação
Autores: Tereza Cristina de Oliveira Saminêz;
Rogério Pereira Dias; Roberto Guimarães Habib Mattar; Fabiana Cóes de Almeida
Nobre e Jorge Ricardo de Almeida Gonçalves.
Por que é importante uma
legislação sobre a agricultura orgânica?
Porque
a legislação estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos
e observados por todos que integram a rede de produção orgânica. Além disso,
estabelece legalmente conceitos, definições e princípios relacionados à
agricultura orgânica.
Qual a legislação
brasileira vigente sobre agricultura orgânica?
A
Lei no 10.831 de 23/12/2003, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de
27 de dezembro de 2007 dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras
providências. O acesso a
essa legislação está disponível no site: http://www.cidasc.sc.gov.br/fiscalizacao/files/2012/08/DECRETO_N_6323.pdf
A Lei no 10.831,
do Ministério da Agricultura, dispõe sobre o quê?
Esta
lei é o principal marco legal da agricultura orgânica brasileira, que
estabelece critérios para a comercialização de produtos, define
responsabilidades pela qualidade orgânica, pelos procedimentos relativos à
fiscalização, à aplicação de sanções, ao registro de insumos e à adoção de
medidas sanitárias e fitossanitárias que não comprometam a qualidade orgânica
dos produtos.
O que é a avaliação da
conformidade orgânica?
É
o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou
processo está adequado às exigências específicas da produção orgânica. A
avaliação da conformidade orgânica é feita pela certificação por auditoria e
pelos mecanismos de organização com controle social.
Quais os mecanismos de
organização com controle social utilizados na avaliação, garantia e informação
da qualidade orgânica?
Os
mecanismos de organização com controle social são os próprios produtores
organizados localmente, garantindo e informando diretamente aos consumidores a
qualidade orgânica de seus produtos, e os sistemas participativos de avaliação
da conformidade orgânica.
Como ocorre a
verificação, garantia e informação da qualidade orgânica no processo de relação
direta entre produtores e consumidores?
A
garantia está na relação direta entre produtores e consumidores, que permite a
estes últimos conhecerem e confiarem nos produtores e nos processos produtivos,
tendo os produtores o mecanismo de organização com controle social, formalizado
ou não. Na organização social há co-responsabilidade entre os produtores
envolvidos no processo, podendo a veracidade da qualidade da produção de um
produtor ser verificada e garantida por outro produtor, e ocorrer, também, a
reafirmação da idoneidade quando do envolvimento de empresas de assistência
técnica de caráter público ou privado.
Como ocorre a
verificação, garantia e informação da qualidade orgânica nos sistemas
participativos de avaliação da conformidade orgânica?
São
sistemas socioparticipativos de organização com controle social, normalmente em
forma de rede, de abrangência regional, com o envolvimento de produtores,
técnicos e consumidores. A rede é organizada em núcleos que reúnem grupos de
produtores, consumidores e entidades de uma região com características
semelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca de informações
e a participação. Assim, há a participação efetiva de todos os envolvidos no
processo e, na maioria das vezes, os consumidores também fazem visitas de
inspeção às propriedades, onde todos assumem a co-responsabilidade pela
qualidade dos produtos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, é
um sistema solidário de geração de credibilidade. Como exemplos, podem-se citar
a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, com abrangência de atuação na Região
Sul do País, a Associação de Certificação Sócio-Participativa (ACS), na Região
Norte, a Certificação Participativa da Rede Cerrado, na Região Centro-Oeste, e
a Rede Xique-Xique de Certificação Participativa, na Região Nordeste.
A Lei n. 10.831, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007,
reconhece os mecanismos de organização com controle social utilizados na
avaliação da conformidade orgânica?
Os
mecanismos de organização com controles sociais utilizados na avaliação da
conformidade orgânica foram reconhecidos e garantidos no texto da lei 10.831,
que garante a isenção de certificação para a comercialização direta de produtos
orgânicos por produtores familiares, inseridos em processo de organização com
controle social e cadastrados em órgão fiscalizador conveniado. Para produtos
comercializados de forma indireta ou por produtores não familiares, os
produtores terão que certificar seu processo produtivo, pelo sistema
participativo de avaliação da conformidade ou pela certificação por auditoria.
A regulamentação da Lei 10.831 prevê também a fiscalização pelos órgãos
competentes dos mecanismos de organização com controle social utiliados para a
avaliação da conformidade orgânica.
O que é certificação por
auditoria?
É
a avaliação da conformidade orgânica pela qual a garantia da qualidade orgânica
do produto, obtida em determinada unidade de produção, é dada por uma terceira
parte, a certificadora, não envolvida no processo produtivo, que é uma
instituição que inspeciona as condições técnicas, sociais e ambientais e
verifica se estão de acordo com as exigências dos regulamentos específicos da
produção orgânica. A certificação é concretizada com a assinatura de contrato
entre certificadora e representante legal da unidade de produção, com
consequente autorização para utilização da marca da certificadora. A unidade
certificada passa a receber inspeções no mínimo duas vezes ao ano, para verificação
da conformidade, e o inspetor produz um relatório onde os critérios de
conformidade são listados e avaliados. As certificadoras possuem normas
próprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei 10.831 prevê que as
certificadoras devem se credenciar no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa).
O que é um produto
orgânico certificado?
É
o produto que possui as características de conformidade orgânica, podendo usar
um selo de qualidade, autorizado pela certificadora ou pelo sistema
socioparticipativo de avaliação da conformidade orgânica.
O que é o selo de
qualidade orgânica de um produto certificado?
É
um selo que identifica os produtos e insumos orgânicos com essa qualidade
específica. Após passar por todas as etapas de avaliação da conformidade
orgânica, uma unidade de produção está apta a usar esse selo em seus produtos.
Cada organismo de avaliação da qualidade orgânica e/ou certificadora possui
selo próprio. A lei 10.831 prevê a criação de um selo para o sistema brasileiro
de avaliação da conformidade orgânica, que será o selo oficial do governo
brasileiro para os produtos avaliados por entidades (certificadoras e outros
organismos de avaliação da conformidade orgânica) credenciadas nos órgãos
competentes. O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidade
quanto o oficial, sendo este último de uso obrigatório.
Como solicitar a
certificação de produtos orgânicos?
Depois
de adotar as práticas de manejo exigidas pelos regulamentos da produção
orgânica, a unidade de produção está apta a solicitar a certificação, feita por
uma entidade que avalia a conformidade orgânica, isto é, que analise todo o
processo produtivo e socioambiental da área. É aconselhado solicitar que a
certificadora escolhida faça uma visita de pré-certificação, quando será
definido o período de conversão da unidade produtiva, com base num plano de
manejo com a forma de implantação das exigências específicas da produção
orgânica.
O que as certificadoras
exigem?
As
certificadoras e os demais organismos de avaliação da conformidade orgânica
exigem que os processos e produtos utilizados no sistema de produção orgânico
estejam de acordo com as normas específicas da produção orgânica. O sistema de
controle da produção orgânica exige ainda que haja rastreabilidade, isto é, o
produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificado de maneira que se
possa chegar à sua origem.
Todas as certificadoras
usam os mesmos critérios para certificar a produção orgânica?
Não.
As certificadoras e os organismos de avaliação da conformidade orgânica podem
exigir particularidades no sistema de produção da unidade, de acordo com suas
normas específicas. Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com
determinada entidade, o produtor deve cumprir as exigências previstas, mas as
normas devem obrigatoriamente atender às exigências contidas nos regulamentos
oficiais. Por exemplo: algumas entidades não permitem uso de estercos de
animais na adubação, ao passo que outras exigem o uso de insumos específicos
para que o produto receba uma classificação diferenciada. As normas podem ser
solicitadas diretamente às certificadoras, ou acessadas pela internet, em seus
respectivos sítios.
Quais as vantagens de se
ter um produto orgânico certificado?
Ao
colocar no mercado um produto com selo orgânico, o produtor pode obter
vantagens em relação ao produto convencional, pois cada vez mais o consumidor
tende a dar preferência a um produto cuja qualidade envolva atributos
relacionados à saúde, à justiça social, à conservação e preservação ambientais,
como é o caso do produto orgânico, especialmente quando há preços competitivos.
Outra vantagem para o produtor é o aumento da preferência pela aquisição do
produto orgânico pelos mercados institucionais, como as escolas, os hospitais
e o programa de Aquisições do Governo Federal (AGF), em que o produto orgânico
alcança valorização de cerca de 30% em relação ao convencional.
O que é conversão?
Conversão
é o período de tempo mínimo necessário para uma unidade de produção ser
considerada apta a receber a classificação de “orgânica”, após ter cumprido
todas as exigências específicas para a produção orgânica.
Como fazer a conversão
da área?
Para
fazer a conversão, a unidade de produção deve adotar as técnicas agropecuárias
preconizadas nos regulamentos oficiais para a produção orgânica e procurar se
adequar às especificidades das normas de produção da certificadora que pretende
contratar. Na conversão, não são considerados apenas os aspectos normativos,
mas também os biológicos e educativos.
Qual o tempo necessário
para fazer a conversão da área pelas leis atuais?
O
período de conversão, previsto na regulamentação da Lei 10.831, será variável
de acordo com o tipo de exploração e a utilização anterior da unidade de
produção. Para a produção vegetal, esses períodos serão definidos de acordo com
as seguintes condições:
-
Mínimo de 12 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas anuais,
para que a produção do ciclo subsequente seja considerada orgânica.
-
Mínimo de 18 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas perenes,
para que a colheita subsequente seja considerada orgânica.
-
Mínimo de 12 meses de manejo orgânico ou pousio na produção vegetal de
pastagens perenes.
Qual o tempo necessário
para fazer a conversão da área pelas certificadoras?
As
normas de produção da certificadora ou de outros organismos de avaliação da
conformidade orgânica prevêem períodos diferentes para o tempo de conversão,
dependendo de alguns fatores, como uso anterior da área, produtos químicos
sintéticos utilizados no sistema convencional antes da conversão, a situação
ecológica e social atual (adequação às exigências ambientais e cumprimento da
legislação trabalhista) e o tempo necessário para o treinamento dos
colaboradores nas práticas ecológicas.
Como saber se a área já
pode ser considerada orgânica?
Após
implementar o plano de manejo da unidade de produção, cumprir os prazos
exigidos para o período de conversão, receber a visita do organismo de
avaliação da conformidade orgânica, a certificadora ou outro organismo de
avaliação da conformidade orgânica avaliará o pedido de certificação com base
no relatório de inspeção (visita à unidade produtiva). A avaliação da
solicitação de certificação é realizada por um conselho de certificação, que
aprova as condições técnicas, ambientais e sociais da unidade de produção.
Quais os impactos do
período de conversão nos aspectos econômicos e ecológicos da propriedade?
Na
dimensão econômica, os maiores riscos de abandonar a atividade, em curto prazo,
ocorrem na fase de conversão, daí a necessidade de financiamento e incentivos
específicos a esse período, para que os produtores permaneçam na atividade, até
que a fase de conversão termine e haja condições de o agricultor comercializar
sua produção como orgânica. No período de conversão também ocorrem deficiências
na integração de atividades como lavoura, pecuária e floresta, acarretando
maior dependência de insumos externos, o que dificulta o equilíbrio dos fatores
econômicos por causa do aumento de custos com insumos.
Na
dimensão ecológica, analisando os aspectos internos do sistema, percebe-se que
as unidades com maior dificuldade no processo de conversão são as que
apresentam os recursos naturais mais degradados, pouca diversificação e falta
de integração das atividades. Diversos estudos têm demonstrado que a
agricultura orgânica é uma alternativa sustentável, demonstrando que, à medida
que ocorre a consolidação do sistema orgânico de produção, existe a tendência
de equilíbrio entre as diferentes dimensões da sustentabilidade. Além disso, a
conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica, apesar de
ser uma etapa delicada nos primeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo
um impacto favorável ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente.
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