terça-feira, 10 de novembro de 2015

Autor: Irceu Agostini

Publicação:  O trabalho compõe a parte I – Recomendações gerais para produção sustentável de hortaliças -  do Boletim Didático nº 107  “Produção de hortaliças em Santa Catarina”, publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 156 páginas, devem entrar  em  contato  através do site: www.epagri.sc.gov.br

=======================================================

Recomendações gerais
     A atividade olerícola possui algumas peculiaridades, entre elas a alta perecibilidade dos produtos, o ciclo curto das hortaliças e o uso intensivo de área, mão-de-obra e insumos.
     Devido a essas peculiaridades e, sobretudo, ao alto dinamismo da atividade, a primeira e mais importante providência do produtor ao iniciar (ou incrementar) a produção de hortaliças é procurar conhecer bem o mercado que irá absorver seus produtos. Algumas questões devem ser levantadas antes mesmo de iniciar o plantio, como: “o que, para quem e quanto produzir”. Só depois disso é que se passa a levantar a questão do “como produzir”, ou seja, “qual a tecnologia de produção”.

A rentabilidade de algumas hortaliças
     A título de exemplo, apresenta-se, a seguir, a rentabilidade de algumas hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense (Tabela 1). Estes resultados foram levantados pelo grupo de gestão agrícola, vinculado ao projeto de Administração Rural e Socioeconomia da Epagri, que acompanhou propriedades produtoras de hortaliças da região durante o período estudado.

Tabela 1 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 -2001. 

Atividades

Indicadores (US$/ha)2
Renda
Bruta*
Custos Variáveis1
Margem Bruta*
Batata doce
3.733
223
3.510
Beterraba
4.985
1.200
3.785
Cenoura 
2.888
530
2.358
Couve-flor 
4.443
917
3.526
Repolho
6.888
870
6.019
Tomate
18.387
3.445
14.942
Fonte: Epagri, 2005.
1 A renda bruta resulta da quantidade vendida dividida pelo preço da hortaliça; a margem bruta é a diferença entre a renda bruta e o custo variável, que é a soma de todos os custos efetuados na cultura, excluídos os custos fixos (que são os gastos com a infraestrutura utilizada na produção, como terra, máquinas, equipamentos, benfeitorias, etc).

2 Os valores, em dólares (US$) por hectare, referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este período.


     Em todas as atividades é possível perceber que a margem bruta é sempre um valor muito alto em relação ao custo variável. É que o custo da mão-de-obra, que é um custo expressivo, foi incorporado ao custo fixo, por se tratar de mão-de-obra familiar. Assim, mesmo que o valor da margem bruta seja alto, isto não garante que a atividade seja lucrativa, pois desta margem bruta ainda precisa ser descontado o custo da mão-de-obra familiar e todos os demais custos fixos.
     O cultivo de tomate é o que apresenta a maior margem bruta, muito acima das dos demais cultivos, como pode ser observado na Tabela 1. Isto, no entanto, não permite concluir que o tomate sempre será o cultivo mais rentável dentro da olericultura porque o preço das hortaliças pode variar muito de um ano para outro e, consequentemente, a margem bruta também e qualquer projeção de resultados econômicos poderá ser rapidamente anulada devido a estas grandes flutuações nos preços. Diante disso, a recomendação econômica mais segura em relação à escolha da espécie a ser cultivada é a diversificação de cultivos. Ao diversificar os cultivos, o produtor tem a chance de recuperar com uma espécie o que tiver perdido com outra. Mas também não se pode exagerar na diversificação, utilizando um grande número de espécies, porque haverá dificuldades na operacionalização do sistema, seja pela dificuldade de especialização do produtor, seja pela maior complexidade na condução da produção em si e da própria comercialização.
     Ainda que o tomate apresente a maior margem bruta (Tabela 1) não é possível afirmar que o tomate seja a cultura olerícola mais rentável porque esta margem bruta está expressa como “por hectare”. Dividindo-se as margens brutas da Tabela 1 pelas respectivas necessidades de mão-de-obra de cada cultura, as margens brutas passam a ser expressas em margem bruta “por dia-homem (DH) trabalhado” (Tabela 2). Assim, pode se observar que o tomate apresenta uma das menores margens brutas por DH trabalhado, sendo o repolho o cultivo de maior margem bruta por DH.
     Então, de acordo com os dados apresentados, que cultivo o produtor deveria incrementar se pretendesse aumentar sua renda? Para saber a resposta é preciso investigar o motivo pelo qual o produtor não expande a sua produção atual, se é por falta de área ou por falta de mão-de-obra? Se for por falta de área, então o produtor deveria aumentar a área de tomate, pois é o que apresenta a maior margem bruta para cada hectare cultivado (Tabela 1). Se é por falta de mão-de-obra, que provavelmente será o caso mais frequente, então o produtor deveria aumentar a área de repolho, pois é o que apresenta a maior margem bruta para cada DH trabalhado.

Tabela 2 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 a 2001.

Atividades

Mão de obra utilizada (DH/ha)

Indicadores econômicos (US$/DH)*
Renda
Bruta
Custos Variáveis
Margem Bruta
Batata doce
71
53
3
50
Beterraba
55
91
22
69
Cenoura 
118
24
4
20
Couve-flor
60
74
15
59
Repolho
53
130
16
114
Tomate
454
41
8
33
Nota: ha = hectare.
*Os valores, em dólares (US$) por dia-homem (DH), referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este período
Fonte:  Rochenbach et al., 2005

     Portanto, o fator determinante para que o produtor possa escolher a espécie olerícola que irá cultivar está em conhecer qual o fator de produção mais limitante, se a área ou a mão-de-obra. O produtor deve preferir aquela que  agrega mais margem bruta em relação ao fator de produção que mais limita a produção.












Ferreira On 11/10/2015 03:37:00 PM Comentarios LEIA MAIS

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Mercado e Economia

Autor: Irceu Agostini

Publicação:  O trabalho compõe a parte I – Recomendações gerais para produção sustentável de hortaliças -  do Boletim Didático nº 107  “Produção de hortaliças em Santa Catarina”, publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 156 páginas, devem entrar  em  contato  através do site: www.epagri.sc.gov.br

=======================================================

Recomendações gerais
     A atividade olerícola possui algumas peculiaridades, entre elas a alta perecibilidade dos produtos, o ciclo curto das hortaliças e o uso intensivo de área, mão-de-obra e insumos.
     Devido a essas peculiaridades e, sobretudo, ao alto dinamismo da atividade, a primeira e mais importante providência do produtor ao iniciar (ou incrementar) a produção de hortaliças é procurar conhecer bem o mercado que irá absorver seus produtos. Algumas questões devem ser levantadas antes mesmo de iniciar o plantio, como: “o que, para quem e quanto produzir”. Só depois disso é que se passa a levantar a questão do “como produzir”, ou seja, “qual a tecnologia de produção”.

A rentabilidade de algumas hortaliças
     A título de exemplo, apresenta-se, a seguir, a rentabilidade de algumas hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense (Tabela 1). Estes resultados foram levantados pelo grupo de gestão agrícola, vinculado ao projeto de Administração Rural e Socioeconomia da Epagri, que acompanhou propriedades produtoras de hortaliças da região durante o período estudado.

Tabela 1 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 -2001. 

Atividades

Indicadores (US$/ha)2
Renda
Bruta*
Custos Variáveis1
Margem Bruta*
Batata doce
3.733
223
3.510
Beterraba
4.985
1.200
3.785
Cenoura 
2.888
530
2.358
Couve-flor 
4.443
917
3.526
Repolho
6.888
870
6.019
Tomate
18.387
3.445
14.942
Fonte: Epagri, 2005.
1 A renda bruta resulta da quantidade vendida dividida pelo preço da hortaliça; a margem bruta é a diferença entre a renda bruta e o custo variável, que é a soma de todos os custos efetuados na cultura, excluídos os custos fixos (que são os gastos com a infraestrutura utilizada na produção, como terra, máquinas, equipamentos, benfeitorias, etc).

2 Os valores, em dólares (US$) por hectare, referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este período.


     Em todas as atividades é possível perceber que a margem bruta é sempre um valor muito alto em relação ao custo variável. É que o custo da mão-de-obra, que é um custo expressivo, foi incorporado ao custo fixo, por se tratar de mão-de-obra familiar. Assim, mesmo que o valor da margem bruta seja alto, isto não garante que a atividade seja lucrativa, pois desta margem bruta ainda precisa ser descontado o custo da mão-de-obra familiar e todos os demais custos fixos.
     O cultivo de tomate é o que apresenta a maior margem bruta, muito acima das dos demais cultivos, como pode ser observado na Tabela 1. Isto, no entanto, não permite concluir que o tomate sempre será o cultivo mais rentável dentro da olericultura porque o preço das hortaliças pode variar muito de um ano para outro e, consequentemente, a margem bruta também e qualquer projeção de resultados econômicos poderá ser rapidamente anulada devido a estas grandes flutuações nos preços. Diante disso, a recomendação econômica mais segura em relação à escolha da espécie a ser cultivada é a diversificação de cultivos. Ao diversificar os cultivos, o produtor tem a chance de recuperar com uma espécie o que tiver perdido com outra. Mas também não se pode exagerar na diversificação, utilizando um grande número de espécies, porque haverá dificuldades na operacionalização do sistema, seja pela dificuldade de especialização do produtor, seja pela maior complexidade na condução da produção em si e da própria comercialização.
     Ainda que o tomate apresente a maior margem bruta (Tabela 1) não é possível afirmar que o tomate seja a cultura olerícola mais rentável porque esta margem bruta está expressa como “por hectare”. Dividindo-se as margens brutas da Tabela 1 pelas respectivas necessidades de mão-de-obra de cada cultura, as margens brutas passam a ser expressas em margem bruta “por dia-homem (DH) trabalhado” (Tabela 2). Assim, pode se observar que o tomate apresenta uma das menores margens brutas por DH trabalhado, sendo o repolho o cultivo de maior margem bruta por DH.
     Então, de acordo com os dados apresentados, que cultivo o produtor deveria incrementar se pretendesse aumentar sua renda? Para saber a resposta é preciso investigar o motivo pelo qual o produtor não expande a sua produção atual, se é por falta de área ou por falta de mão-de-obra? Se for por falta de área, então o produtor deveria aumentar a área de tomate, pois é o que apresenta a maior margem bruta para cada hectare cultivado (Tabela 1). Se é por falta de mão-de-obra, que provavelmente será o caso mais frequente, então o produtor deveria aumentar a área de repolho, pois é o que apresenta a maior margem bruta para cada DH trabalhado.

Tabela 2 - Renda bruta, custos variáveis e margem bruta das principais hortaliças cultivadas na região central do Litoral Catarinense, nos anos 1995 a 2001.

Atividades

Mão de obra utilizada (DH/ha)

Indicadores econômicos (US$/DH)*
Renda
Bruta
Custos Variáveis
Margem Bruta
Batata doce
71
53
3
50
Beterraba
55
91
22
69
Cenoura 
118
24
4
20
Couve-flor
60
74
15
59
Repolho
53
130
16
114
Tomate
454
41
8
33
Nota: ha = hectare.
*Os valores, em dólares (US$) por dia-homem (DH), referem-se à média das melhores propriedades acompanhadas durante este período
Fonte:  Rochenbach et al., 2005

     Portanto, o fator determinante para que o produtor possa escolher a espécie olerícola que irá cultivar está em conhecer qual o fator de produção mais limitante, se a área ou a mão-de-obra. O produtor deve preferir aquela que  agrega mais margem bruta em relação ao fator de produção que mais limita a produção.












  • RSS
  • Delicious
  • Digg
  • Facebook
  • Twitter
  • Linkedin
  • Youtube

Blog Archive

Blogger templates