domingo, 23 de junho de 2013



Artigo publicado em Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.1, p.61-70, jan./abr. 2000


Autores:
Raquel Ghini,  eng. agron., Ph.D., Embrapa Meio Ambiente, C. Postal 69, CEP 13820-000
                       Jaguariúna, SP.E-mail: raquel@cnpma.embrapa.br
Wagner Bettiol, eng. agron., Ph.D., Embrapa Meio Ambiente, C. Postal 69, CEP 13820-000
                       Jaguariúna, SP.E-mail: bettiol@cnpma.embrapa.br


RESUMO
A sustentabilidade agrícola implica necessariamente na resolução dos problemas relacionados com o controle de doenças, pragas e plantas invasoras. Porém, diversas técnicas utilizadas para minimizar os danos ocasionados por esses problemas fitossanitários contaminam o ambiente. Neste trabalho são discutidos os problemas do controle fitossanitário convencional; a complexidade dos sistemas naturais e dos agroecossistemas; as novas tecnologias de proteção de plantas desenvolvidas; e as possíveis alterações dos sistemas de cultivo, visando à sustentabilidade agrícola. As discussões demonstram a necessidade da interdisciplinaridade dos projetos de pesquisa, pois somente estudos que incluem o monitoramento de sistemas de produção nas diversas áreas do conhecimento fornecerão informações suficientes para o entendimento das diferentes interações.

Palavras-chave: sistemas de cultivo, agricultura alternativa, impactos ambientais.

CROP PROTECTION IN SUSTAINABLE AGRICULTURE ABSTRACT
Agriculture sustainability undergoes the solution of problems related to control of diseases, pests and weeds. Nevertheless, several techniques applied to crop protection by them selves can  cause pollution to the environment. In this work some approaches are discussed: problems of conventional crop protection management, the complexity of natural systems and agroecosystems, new technologies of crop protection, and possible alterations in crop management pursuing agriculture sustainability. Results show the necessity of interdisciplinary research projects. Only studies that are able to include the monitoring of different farming systems in several fields of knowledge are able to contribute to an understanding of the multiple interactions.

Key words: farming systems, alternative agriculture, environmental impacts.


INTRODUÇÃO
A proteção de plantas, que inclui o controle de doenças, pragas e plantas invasoras, é realizada com o objetivo de reduzir os danos causados por esses problemas fitossanitários às culturas, que são estimados em, aproximadamente, 30% da produção agrícola. Os métodos utilizados para a proteção de plantas podem ser classificados como métodos genéticos, físicos, químicos, culturais e biológicos; nas últimas décadas, os químicos assumiram uma posição de destaque. Entretanto, ultimamente, a preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com pesticidas vem alterando esse cenário, expressando-se pela presença de segmentos de mercado ávidos por produtos agrícolas diferenciados, tanto aqueles produzidos sem uso de pesticidas como por aqueles portadores de selos informando de que os pesticidas foram utilizados adequadamente. Essas pressões têm levado ao desenvolvimento de sistemas de cultivo mais sustentáveis e, portanto, menos dependentes do uso de pesticidas. A seguir, serão discutidas diferentes abordagens desse novo enfoque da proteção de plantas na agricultura sustentável .


AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
O conceito de agricultura sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. Esse enfoque altera as prioridades dos sistemas convencionais de agricultura em relação ao uso de fontes não renováveis, principalmente de energia, e muda a visão sobre os níveis adequados do balanço entre a produção de alimentos e os impactos no ambiente. As alterações implicam a redução da dependência de produtos químicos e outros insumos energéticos e o maior uso de processos biológicos nos sistemas agrícolas. A proteção de plantas nos métodos convencionais, por meio do uso de pesticidas, apresenta características extremamente atraentes, como a simplicidade, a previsibilidade e a necessidade de pouquíssimo entendimento dos processos básicos do agroecossistema para a sua aplicação. Por exemplo, para obter-se sucesso com a aplicação de um herbicida de amplo espectro é importante o conhecimento de como aplicar o produto, sendo necessária pouca informação sobre a ecologia e a fisiologia de espécies. Muitos estudos de controle biológico adotam uma abordagem semelhante, onde é enfatizado o encontro entre patógeno-antagonista ou presa-predador. Tal estratégia é apropriada para predadores relativamente agressivos e específicos, mas tem menor valor em situações mais complexas. Nesses casos, após a introdução, por exemplo, de um agente microbiano de controle biológico, haverá o seu estabelecimento em um nicho, seguido da interação com o organismo alvo e outras espécies de organismos. Essas complexas interações são fundamentais para o sucesso do controle, devendo ser analisadas de modo holístico e consideradas a longo prazo, e não a curto prazo. Assim sendo, há a necessidade de um amplo conhecimento da ecologia do sistema (Athinson & McKinlay, 1995). O uso da informação, por meio de ferramentas como modelos matemáticos, é fundamental para a tomada de decisão em todos os tipos de sistemas. A reduzida capacidade de processar informações, no passado, restringiu a nossa habilidade em redesenhar sistemas alternativos. Estudos epidemiológicos são fundamentais para maior compreensão da estrutura e do funcionamento dos sistemas de produção em relação ao comportamento das doenças e pragas no campo e a otimização de seu controle. Com o conhecimento da estrutura e do funcionamento dos sistemas de produção, poderemos entender melhor a saúde das plantas e não somente os fatores relacionados às pragas e doenças de cada cultura.

CONTROLE FITOSSANITÁRIO CONVENCIONAL
Atualmente, sabe-se que é impossível erradicar patógenos ou insetos no campo e que, além de tudo, isso é desnecessário. O balanço entre os riscos e os benefícios indica o momento exato da adoção de medidas de controle. Tanto a falta como o excesso de medidas de controle podem causar prejuízos. Porém, a tomada de decisão depende de informações seguras, como já foi mencionado.
Boa parte dos pesticidas aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos pesticidas aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação. Em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema. O uso de uma significativa quantidade de produtos químicos seria evitado se fossem tomadas medidas de controle somente quando atingidos os níveis de dano econômico. Gravena et al. (1998), realizando o manejo ecológico de pragas e doenças do tomateiro envarado, demonstraram a possibilidade de reduzir de 31 aplicações de inseticidas e 31 de fungicidas, no manejo convencional, para 10 e 21 aplicações, respectivamente, no manejo ecológico de tripes, pulgão, mosca branca, traça, broca pequena, requeima, pinta preta e vira-cabeça, sem alterar a produtividade. A ocorrência de pragas ou patógenos resistentes a determinados pesticidas nem sempre é diagnosticada. Assim, esses produtos continuam a ser aplicados, mesmo tendo sua eficiência comprometida pela ocorrência de resistência no organismo alvo. Quanto à tecnologia de aplicação, a maior parte dos equipamentos apresenta uma baixa eficiência com relação à quantidade de produto que atinge o alvo e a quantidade total aplicada.

SISTEMAS NATURAIS versus AGROECOSSISTEMAS
As doenças de plantas ocorrem na natureza com o objetivo, em parte, de manter o equilíbrio biológico e a ciclagem de nutrientes, sendo, desse ponto de vista, benéficas. O que se observa é que as doenças e as pragas ocorrem na forma endêmica. Não ocorrem epidemias que poderiam destruir as espécies vegetais, haja vista que colocaria em risco a sobrevivência dos patógenos e das pragas. As epidemias, porém, são frequentes em ecossistemas agrícolas. A interferência humana, alterando o equilíbrio da natureza, resulta na ocorrência de epidemias. Uma das condições que favorecem o aumento da população de patógenos e pragas de forma epidêmica é o cultivo de plantas geneticamente homogêneas, o que é contrário à diversidade de variedades (Bergamin et al.,1995). O resgate dos princípios e mecanismos que operam nos sistemas da natureza pode auxiliar a obtenção de sistemas agrícolas mais sustentáveis (Colegio..., 1996; Reijntjes et al.,1992). Os sistemas de cultivo caracterizados pela mistura de culturas (policulturas ou consórcios – Figura 1) apresentam diversas vantagens na proteção de plantas. A frequência de insetos-praga é menos abundante nas policulturas do que nas monoculturas. Vários mecanismos que diminuem a ocorrência de doenças operam favoravelmente na proteção de plantas das policulturas, por exemplo, as espécies suscetíveis podem ser cultivadas em menores densidades, já que o espaço entre elas será ocupado por plantas resistentes que interessam ao produtor. A menor densidade de plantas suscetíveis e a barreira oferecida pelas plantas resistentes dificultam a disseminação do patógeno, reduzindo a quantidade de inóculo no campo (Liebman, 1989). Efeito semelhante é obtido com o uso de multilinhas, isto é, a mistura de linhagens agronomicamente semelhantes, mas que diferem entre si por apresentarem diferentes genes de resistência vertical. Além do aumento da diversidade no espaço, o aumento da diversidade no tempo, por meio da rotação de culturas, também faz com que os processos biológicos auxiliem a proteção de plantas. Uma outra forma de aumentar a diversidade, consequentemente a complexidade do sistema (sistemas mais complexos são mais estáveis), é o cultivo em faixas. As culturas devem ser de famílias diferentes, assim, os patógenos e as pragas de uma não atingem a outra e há uma redução da ocorrência dos problemas relacionados com a proteção de plantas. Essa sequência pode ser usada nos cultivos de inverno, verão e, no ciclo seguinte, as áreas são invertidas para funcionar como rotação de cultura no tempo e no espaço. No caso de plantas perenes, esse conceito pode ser mais amplo, cultivando diferentes espécies florestais e formando uma agrofloresta. Além das vantagens da redução do uso de pesticidas, há menor risco econômico, pois há maior diversificação da renda. Nesse caso, precisa também ser trabalhado o uso adequado de plantas invasoras, selecionando as que poderão ser benéficas do ponto de vista nutricional e de equilíbrio biológico. As entrelinhas devem sempre estar cobertas por vegetação. O melhor exemplo desse manejo é o cultivo de seringueira na Amazônia consorciado com espécies nativas. Nesse sistema, a principal doença da seringueira, o mal-das-folhas, é controlada com a aplicação do manejo integrado, isto é, controle genético, cultural e biológico. O componente genético é empregado em diversos clones de seringueira; o cultural, pelo plantio de espécies diferentes, como dendê, mogno, etc.; e o biológico, pela multiplicação e/ou aplicação de microrganismos antagônicos (Hansfordia pulvinata) ao Microcyclus ulei, agente causal da doença. A diversificação de culturas nas propriedades rurais, além dos benefícios agronômicos e econômicos, traz benefícios sociais, pois estende a estação de trabalho dos empregados rurais, sendo esse aspecto parte integrante da sustentabilidade. Entretanto, a indiscriminada diversificação da vegetação dentro de um agroecossistema pode não resultar na redução do risco de ocorrência de pragas e doenças. O efeito de combinações planejadas de plantas deve ser estudado criteriosamente antes da aplicação em programas de manejo.




 Figura 1. O consórcio couve-coentro, além de diversificar a renda e proteger o solo contra a erosão e plantas espontâneas,  reduz o ataque de pulgões que atacam a couve. O coentro é uma planta que atrai as joaninhas (inimigo natural dos pulgões), serve como abrigo e alimento e, ainda favorece a reprodução das joaninhas.

NOVAS TECNOLOGIAS E SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento tecnológico tem colaborado para a adoção de sistemas mais sustentáveis, pois muitas dessas tecnologias foram desenvolvidas considerando prioritária a sustentabilidade e a preservação do ambiente. O uso de feromônios sexuais sintéticos de insetos pragas vem permitindo uma considerável redução do uso de inseticidas, minimizando o impacto ambiental. O controle de Carpocapsa pomonella da macieira já é realizado exclusivamente com feromônios em diversas localidades dos Estados Unidos e Europa. As tecnologias de agricultura de precisão permitem o emprego de pesticidas apenas nas reboleiras onde ocorre a doença, a praga ou a planta invasora e não em toda a área, reduzindo sensivelmente o uso de pesticidas. Tal tecnologia aumenta a eficiência, minimiza os impactos ambientais e aumenta a competitividade. Técnicas, como o controle biológico e físico, também estão sendo desenvolvidas, e muitas estão em uso, como: termo terapia de órgãos de propagação e frutos; a energia solar para controle de fito patógenos do solo (solarização); a radiação ultravioleta para o controle de patógenos em pós colheita; o emprego de plásticos que filtram determinados comprimentos de onda com consequente controle de doenças e pragas; a premunização de plantas cítricas contra a tristeza dos citros; o Baculovirus anticarsia para o controle da lagarta da soja; o nematóide Delademus siricidicola para o controle da vespa-da-madeira; o Bacillus thuringiensis para o controle de larvas de lepidópteras;  o Cotesia flavipes para o controle da broca da cana-de-açúcar; o Trichoderma para o controle de patógenos do solo causadores do tombamento do fumo, e outros. Também as técnicas de manejo integrado e manejo ecológico de pragas e doenças conduzem a sensíveis reduções de uso de pesticidas, com vantagens econômicas e ambientais. Essas tecnologias conduzem a um maior equilíbrio do agroecossistema, mas para serem empregadas exigem um melhor nível tecnológico dos agricultores. Outro aspecto importante é o equilíbrio nutricional das plantas. Normalmente, a adubação é baseada nas necessidades de NPK, não considerando os micronutrientes e outros elementos que podem ser benéficos para as plantas. Diversos trabalhos mostram os efeitos dos nutrientes sobre doenças de plantas e a redução da necessidade de controle com uma equilibrada nutrição de plantas. Esses efeitos são amplamente discutidos no livro “Soilborne plant pathogens: management of diseases with macro - and microelements” (Engelhard, 1989).
O reconhecimento de que as propriedades físicas e químicas do solo afetam diretamente a proteção de plantas está tornando-se evidente com o aumento de publicações sobre o assunto e com o uso desses conhecimentos no manejo integrado de culturas. Determinadas doenças de plantas podem ser controladas com adequado manejo do solo. Quanto às plantas invasoras, Forcella & Burnside (1994) fizeram uma análise de como foi o controle desde o advento da agricultura até os dias de hoje, e tentam prever como será no futuro o uso dos métodos químicos, físicos, biológicos e culturais. Os métodos físicos (capina manual ou mecânica) predominaram sobre os demais métodos durante muito tempo. Nesse período, provavelmente, os métodos culturais e biológicos ocorreram por obra do acaso, e não intencionalmente. Com o desenvolvimento dos herbicidas, o controle químico rapidamente dominou os demais métodos de manejo. Em razão disso, todas as outras alternativas decresceram em importância, embora o controle físico ainda continue sendo, hoje, mais importante do que o cultural e o biológico. Esses autores esperam que, nos próximos 10 ou 20 anos, haja um decréscimo na importância do controle químico, devido principalmente a motivos sociais e ambientais. Os métodos físicos devem ressurgir por causa da sua facilidade em substituir o controle químico. Assim, o manejo sustentável das plantas invasoras no futuro terá uma distribuição mais equilibrada ou integrada entre as categorias de controle. Os produtos químicos continuarão constituindo-se em uma alternativa rápida para a solução dos problemas, porém os novos produtos serão mais seguros e serão usados com mais critério, em um verdadeiro programa de manejo integrado. Os implementos mecânicos tradicionais ou novos serão de grande utilidade no futuro, mas seu uso estará acoplado ao conhecimento da ecologia das plantas invasoras. Os métodos culturais que serão mais explorados no futuro incluem: época e densidade de plantio, seleção da variedade, escolha do método de cultivo, rotação de culturas e culturas de cobertura (usadas para impedir a proliferação de plantas daninhas entre os ciclos das culturas principais). Os métodos físicos incluem o cultivo mínimo, queima, descargas elétricas e solarização; sendo que nos métodos biológicos estão incluídos insetos fitófagos e fitopatógenos.

ALTERANDO O SISTEMA
A compreensão da natureza somente é possível num enfoque holístico, observando ciclos, trabalhando com sistemas e respeitando as inter-relações e proporções. Tudo é interdependente. Com o enfoque temático-analítico que vem predominando na agricultura, perdeu-se a visão geral do sistema e, assim, aumentaram os problemas relacionados com a proteção de plantas, devido ao manejo inadequado dos solos, da natureza e do próprio controle desses problemas. O surgimento de doenças iatrogênicas (as que ocorrem por causa do uso de pesticidas) é um exemplo de problemas que podem ocorrer devido à visão reducionista do sistema. Vários aspectos do surgimento de pragas e doenças em decorrência do uso de pesticidas são discutidos por Chaboussou (1987).O processo evolutivo para a conversão dos agroecossistemas em sistemas agrícolas de alto grau de sustentabilidade possui duas fases distintas: 1) melhorada eficiência do sistema convencional, com a substituição dos insumos e das práticas agrícolas; 2) redesenho dos sistemas agrícolas. A primeira fase vem sendo trabalhada de forma relativamente organizada, com a redução do uso de insumos, controle e manejo integrado, técnicas de cultivo mínimo do solo, previsão da ocorrência de pragas e doenças, controle biológico, variedades adequadas, feromônios, integração de culturas, cultivos em faixa ou intercalados, desenvolvimento de técnicas de aplicação que visem apenas o alvo e conscientização dos consumidores, entre outros. Em relação ao redesenho dos sistemas agrícolas há a necessidade de se conhecer a estrutura e o funcionamento dos diferentes sistemas, seus principais problemas e, consequentemente, desenvolver técnicas limpas para resolvê-los. Em razão da complexidade dessa tarefa, esforços vêm sendo realizados por diferentes correntes de pesquisa, mas todas considerando a mínima dependência externa de insumos, a biodiversidade, o aproveitamento dos ciclos de nutrientes, a exploração das atividades biológicas, o uso de técnicas não poluentes, o reaproveitamento de todos os subprodutos e a integração do homem no processo. Essa forma de agricultura vem sendo denominada agricultura alternativa, onde diferentes correntes se destacam: agricultura orgânica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura biodinâmica, etc. Em relação à sustentabilidade, pode-se afirmar que tanto os sistemas encontrados na primeira fase quanto na segunda apresentam maior grau de sustentabilidade que o convencional, mas não a autosustentabilidade.  O cultivo de dendê pela empresa Agropalma, localizada no sul de Belém/ PA, é um excelente exemplo das duas primeiras fases do processo evolutivo. Como o Elaeidobios (bicho nanico), polinizador da cultura, é essencial para a produção, não poderia ser eliminado devido ao uso de pesticidas para o controle de desfolhadores e de doenças. Assim, é realizado um monitoramento constante sobre a ocorrência de doenças, pragas e seus inimigos naturais. O controle é realizado de forma biológica, isto é, nos focos são aplicados agentes de controle biológico ou é feito o monitorado para verificar a presença de inimigos naturais no local. Quando se verifica a presença desses organismos, é aguardada a morte dos insetos, é feita a coleta e, após a trituração, o produto resultante é pulverizado sobre as plantas. Quando necessário, lança-se mão do Bacillus thuringiensis. A adubação nitrogenada é realizada pelo cultivo de uma leguminosa (puerária) que deposita no solo entre 300 e 400 kg de N por hectare/ano. Essa leguminosa, além do fornecimento do N, protege o solo e impede o desenvolvimento de outras invasoras. Outra praga, a broca-do-coqueiro, transmissora do anel-vermelho, é controlada exclusivamente com o uso de feromônios. Assim, o sistema tem se mantido estável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da proteção de plantas em sistemas de cultivo de maior grau de sustentabilidade necessita que se estude a estrutura e o funcionamento dos agroecossistemas, com atenção especial às condições nutricionais, à estrutura e à biota do solo, à biodiversidade funcional, à elevação dos teores de matéria orgânica do solo e outros fatores que permitam um adequado manejo dos sistemas de cultivo. O conceito absoluto de agricultura sustentável pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função da pesquisa e da extensão oferecer opções para que sistemas mais sustentáveis sejam adotados. Para tanto, os projetos de pesquisa pontuais e de curta duração são de pouca utilidade. Somente estudos que incluem o monitoramento de sistemas de produção nas diferentes áreas do conhecimento fornecerão informações suficientes para o entendimento das diferentes interações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATKINSON, D.; McKINLAY, R.G. Crop protection in sustainable farming systems. In: McKINLAY, R.G.; ATKINSON, D. Integrated crop protection: towards sustainability. Farnham: British Crop Protection Council, 1995. p.483-488. (BCPC Symposium Proceedings, 63).

BERGAMIN, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de fitopatologia. Piracicaba: Agronômica Ceres, 1995. v.1, 919p.

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos (a teoria da trofobiose). Porto Alegre: L&PM, 1987. 256p.

COLEGIO OFICIAL DE INGENIEROS AGRONOMOS DE CENTRO Y CANARIAS. Manual de prácticas y actuaciones agroambientales. Madrid: Editorial Agricola Española / Ediciones Mundi-Prensa, 1996. 310p.

ENGELHARD, A.W. Soilborne plant pathogens: management of diseases with macro- and microelements. St. Paul: APS, 1989. 217p.

FORCELLA, F.; BURNSIDE, O.C. Pest management-weeds. In: HATFIELD, J.L.; KARLEN, D.L. Sustainable agriculture systems. Boca Raton: Lewis, 1994. p.157-197.

GRAVENA, S.; BENVENGA, S.; ABREU JR., H.; GROPPO, G.A.; ZANDER, R.; KLEIN-GUNNWIEK, R. Manejo ecológico de pragas e doenças do tomate envarado. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SUSTAINABLE AGRICULTURE IN TROPICAL AND SUBTROPICAL HIGHLANS WITH SPECIAL REFERENCE TO LATIN AMERICA, 1998, Rio de Janeiro. Abstracts... [S.l.: s.n], 1998. Não paginado.

LIEBMAN, M. Sistemas de policulturas. In: ALTIERI, M.A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PTA / FASE, 1989. 240p.


REIJNTJES, C.; HAVERKORT, B.; WATERS-BAYER, A. Farming for the future: an introduction to low-external-input and sustainable agriculture. Leusden: Ileia, 1992. 250p. 
Ferreira On 6/23/2013 02:57:00 PM Comentarios LEIA MAIS

sexta-feira, 14 de junho de 2013



Fragilidades da “Agricultura Moderna”

     A “modernização” da agricultura, ocorrido especialmente a partir dos anos 50, priorizou a mecanização, os adubos químicos e os agrotóxicos, e desvalorizou os processos naturais e biológicos. O modelo tradicional de cultivo intensivo muito simplificado, como no caso das monoculturas, traz grandes custos ambientais e sociais. Os principais problemas ambientais causados pela “agricultura moderna” são: 

. Declínio da produtividade das culturas pela degradação do solo, erosão (Figura 1), compactação, salinização, desertificação e perda de matéria orgânica;

. Degradação dos recursos naturais e contaminação do meio ambiente pelo uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos;

. Contaminação de alimentos e trabalhadores rurais;

. Aumento da resistência de pragas, doenças e plantas espontâneas;

. Perda da biodiversidade, responsável pelo equilíbrio ecológico;

. Aumento no custo de produção dos cultivos;

. Perda de autonomia do produtor rural, tornando-se dependente dos insumos que são a maioria importados e produzidos por empresas multinacionais.




Figura 1. A “agricultura moderna” tem causado através da erosão, a redução da capacidade produtiva do solo e a contaminação dos rios, lagos e águas subterrâneas





Contaminação do meio ambiente por resíduos químicos 

     Meio ambiente é o conjunto de condições e componentes físicos, químicos e biológicos que possibilitam, regem e abrigam a vida em todas as suas formas, garantindo a sobrevivência da espécie humana. Portanto, meio ambiente é toda a natureza que nos cerca, nos envolve, inclusive nós mesmos e nossa relação com o mundo em que vivemos. Tudo está interligado – pessoas, animais, florestas, rios, lagos, mares, oceanos, cidades, além do ar que respiramos, por isso dependemos do meio ambiente para sobreviver.

     A utilização, na agricultura, de produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, conhecidos como pesticidas, praguicidas, formicidas, herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematicidas, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento ou ainda agrotóxicos, iniciou-se na década de 1920 e já durante a 2ª Guerra Mundial, foram utilizados como arma química. No Brasil, a utilização intensiva de agrotóxicos originou-se do Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado em 1975, que forçava os agricultores a comprar os venenos através do crédito rural. Como consequência das políticas adotadas, o Brasil atingiu recentemente uma liderança da qual não podemos nos orgulhar. Desde 2008, somos o país que mais consome agrotóxicos no planeta. Entre 2000 e 2010, o comércio de agrotóxicos no Brasil cresceu 190%, enquanto que a média mundial foi de 93%. A tendência é que esta desproporção aumente ainda mais pois, enquanto os países mais desenvolvidos estão reduzindo o uso, o nosso país está aumentando. Existe a enorme pressão comercial das empresas produtoras de agrotóxicos, que sem qualquer compromisso com o meio ambiente e, com a saúde da população, visam apenas o aumento dos lucros. Mais de um bilhão de litros de venenos são jogados nas lavouras por ano (50% na cultura da soja). Se fizermos um cálculo simples, dividindo a quantidade de agrotóxicos utilizados nas lavouras, anualmente, pela população brasileira, chega-se a marca de 5,2 litros consumidos por habitante. E, o que é pior, o Brasil é o principal destino de agrotóxicos proibidos em vários países. 

     As principais consequências do uso dos agrotóxicos são: contaminação do meio ambiente, dos alimentos, produtores e consumidores, redução da biodiversidade, morte dos insetos polinizadores (abelha e outros) e dos inimigos naturais das pragas, surgimento de novas pragas e resistência dos insetos, patógenos que causam doenças e plantas espontâneas (inços) aos agrotóxicos e, o uso cada vez maior de misturas de produtos mais potentes e mais perigosos (ex.: uso do herbicida glifosato em lavouras de soja transgênica), além do aumento do custo de produção e dependência dos produtores.

     Quem mais tem sofrido com problemas de contaminação por agrotóxicos são os agricultores. Os principais sinais e sintomas de envenenamento por agrotóxicos são: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia; tremores no corpo; indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais; alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar; queimaduras e alterações da pele; dores pelo corpo inteiro; irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques, desmaios, perda de consciência e até o coma. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos, registradas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, indicam que no período de 1984 até 2012, o CIT detectou 12.423 intoxicações de agricultores e 303 mortes em Santa Catarina. No Brasil, 280 mil trabalhadores se intoxicam por ano. No mundo estima-se que são 3 milhões de pessoas intoxicadas por ano (OMS) com 220 mil mortes. Estima-se que para cada registro oficial, ocorre pelo menos 10 casos não registrados (dificuldade no diagnóstico dos efeitos crônicos). Ao pesquisar a evolução das intoxicações por agrotóxicos em Santa Catarina, na década de 1991 a 2000, verificou-se, em média, que 350 pessoas foram intoxicadas por ano, enquanto que na última década (2001 a 2010), foram 600 pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 75% de pessoas intoxicadas (fonte: www.cit.sc.gov.br). A falta de proteção na aplicação dos agrotóxicos (não uso dos EPI’s – equipamento de proteção individual) é a principal causa das intoxicações (Figura 2).



Figura 2. O desconhecimento sobre os riscos no uso dos agrotóxicos e a falta de proteção na aplicação agrava ainda mais a contaminação dos trabalhadores rurais


     Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), realizada em 26 estados do Brasil desde 2001, revela: Em 2010, praticamente todas as espécies pesquisadas apresentaram amostras com resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, com produtos químicos não registrados para as culturas e, ainda com alguns já proibidos em diversos países da Europa e Estados Unidos (endossulfan, acefato e metamidofós). As culturas com mais amostras contaminadas por agrotóxicos (12 a 92%) foram: pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve, mamão, tomate e laranja. É importante ressaltar, que resultados semelhantes foram encontrados no relatório de 2009.


     A adubação química também contribui para a degradação dos solos, contamina o meio ambiente, torna as plantas cultivadas mais sensíveis às pragas e doenças, aumenta o custo de produção e, ainda prejudica a saúde das pessoas. Um dos motivos pelos quais os adubos químicos podem poluir o meio ambiente, é porque alguns deles são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água, fato que acarreta três consequências:

1) uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas, aumentando muito seu teor de água, o que torna as plantas mais suscetíveis à pragas e doenças, além de produzirem alimentos menos saborosos e mais pobres nutricionalmente;


2) outra parte (muitas vezes a maior parte) é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos, causando juntamente com os despejos de esgotos, a eutrofização (morte de um rio ou lago por asfixia) dos corpos aquáticos, pois os excessivos nutrientes além de estimularem um crescimento excessivo das algas, roubam para se degradarem, o oxigênio da água (Figura 3)


3) há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a ureia e o sulfato de amônio) que sob a forma de óxido nitroso pode destruir a camada de ozônio da atmosfera e, assim contribuir para o aquecimento global. 



Figura 3 . A “agricultura moderna”, através da erosão dos solos, tem provocado a eutrofização (morte de um rio ou lago por asfixia)



     Além de contaminar o meio ambiente, os adubos químicos, especialmente quando aplicados em excesso, prejudicam a saúde das pessoas. O uso de adubos nitrogenados (ex.:uréia), provoca o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas. Resultados de pesquisa do teor de nitrato em alface revelaram que no cultivo orgânico, cultivo convencional e cultivo hidropônico são acumulados 565,4; 2782,1 e 3.093,4 mg/kg, respectivamente. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o índice máximo de ingestão diária admissível de nitratos é de 5 mg/kg de peso vivo e 0,2 mg/kg para nitritos. Ou seja: uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica, por 1 dia, já estará atingindo a dose máxima de nitratos permitida. Já no sistema orgânico esta mesma pessoa poderia comer mais de 50 folhas.


Consciência do consumidor

     No mundo inteiro as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e com o consumo de alimentos mais saudáveis. A sociedade, na busca de uma alimentação mais sadia e natural, mudou o conceito de qualidade e passou a exigir produtos cada vez mais “limpos”, isto é, livres de produtos químicos, principalmente resíduos de agrotóxicos. Os produtos orgânicos, por não utilizarem agrotóxicos e adubos químicos solúveis e por serem produzidos com técnicas ambientalmente corretas, são os alimentos ideais para toda a família.

     Pesquisa realizada em todo o Brasil em 1998, com cerca de 2 mil entrevistados, com o objetivo de verificar a consciência dos consumidores, revela que procuram consumir alimentos mais saudáveis, por três motivos: 

-Saúde: uma alimentação mais saudável, natural e equilibrada;

-Sabor e frescor nos alimentos: o gosto autêntico dos alimentos, o sabor das frutas e hortaliças. 

-Meio ambiente: a preocupação com a preservação do planeta e as futuras gerações.




Qualidade superior dos alimentos orgânicos

     Em comparação com os produtos convencionais, ou seja, que utilizam agroquímicos, os produtos orgânicos possuem maior teor de vitaminas e sais minerais, bem como maiores teores de proteínas, aminoácidos, carboidratos, matéria seca e ainda melhor sabor e conservação. Resultados de pesquisa que comparou o valor nutritivo de hortaliças cultivadas com adubação orgânica (esterco de animais compostado) e com adubação química, revelou a superioridade do cultivo orgânico em percentagens que variaram de 10 até 77%. Os adubos químicos, ao serem rapidamente absorvidos pelas raízes das plantas, aumentam muito o teor de água e, as plantas ficam mais susceptíveis às pragas e doenças e, os alimentos produzidos, menos nutritivos (aguados). Trabalho de pesquisa que avaliou a qualidade nutritiva e sensorial de cenoura e repolho, oriundas de lavouras orgânicas e convencionais, revelou que as hortaliças orgânicas tinham menor teor de nitratos e um melhor sabor e perfume, além de maior teor de vitamina C e mais potássio. Os autores ainda concluíram que os vegetais orgânicos foram melhores do que os convencionais de acordo com as exigências alimentares para crianças e deveriam ser recomendados para a alimentação de bebês.



       















































Ferreira On 6/14/2013 04:40:00 AM 1 comment LEIA MAIS

terça-feira, 4 de junho de 2013



     No dia 05/06 comemora-se, anualmente, o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Este dia começou a ser comemorado em 1972 com o objetivo de promover atividades de proteção e preservação do meio ambiente e alertar o público mundial e governos de cada país para os perigos de negligenciarmos a tarefa de cuidar do meio ambiente. Foi em Estocolmo, no dia 5 de junho de 1972, que teve início a primeira das Conferências das Nações Unidas sobre o ambiente humano e por esse motivo foi a data escolhida como Dia Mundial do Meio Ambiente. 

     Meio ambiente é o conjunto de condições e componentes físicos, químicos e biológicos que possibilitam, regem e abrigam a vida em todas as suas formas. A preservação deste meio garante a sobrevivência da espécie humana. Portanto, meio ambiente é toda a natureza que nos cerca, nos envolve, inclusive nós mesmos e nossa relação com o mundo em que vivemos. Tudo está interligado – pessoas, animais, florestas, rios, lagos, mares, oceanos, cidades, além do ar que respiramos. Todos nós dependemos do meio ambiente para sobreviver, por isso precisamos cuidar do nosso planeta, começando a respeitar as leis ambientais e preparando-as para as gerações futuras, a fim de possibilitar um planeta sadio para nossos sucessores.


     O termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado pela primeira vez, em 1983, por ocasião da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU. Na oportunidade, essa comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse integrado à questão ambiental, estabelecendo-se, assim, o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Nos tempos atuais a palavra “sustentabilidade” está em destaque e, tem sido cada vez mais uma preocupação mundial, felizmente. Não se trata de modismo, pois diariamente novos exemplos de busca da sustentabilidade, são relatados, praticamente, em todos os setores da produção.



     Desenvolvimento sustentável tem sido definido como “modelo econômico capaz de satisfazer as necessidades das gerações atuais, levando em consideração as necessidades e interesses das futuras gerações”. Isso quer dizer: usar os recursos naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente, preservando os bens naturais e a dignidade humana. É o desenvolvimento que não esgota os recursos, conciliando crescimento econômico e preservação da natureza. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro, promovendo o desenvolvimento sem deteriorar ou prejudicar a base de recursos que lhe dá sustentação. O conceito de desenvolvimento sustentável contém dois elementos essenciais:

I. O conceito de "necessidade", sobretudo as necessidades fundamentais dos seres humanos, que devem receber a máxima prioridade;

II. A noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

     Quando falamos em sustentabilidade temos que levar em conta três fatores: o meio ambiente, as pessoas e as finanças. Ser sustentável é usar somente o necessário e promover o melhor tanto para as pessoas como para o meio ambiente. Em outras palavras é a busca pelo desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo a busca pela preservação do meio ambiente. Ser sustentável é explorar a natureza de maneira correta, usando os recursos naturais, racionalmente. Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. O desenvolvimento sustentável prioriza a qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.

     O desenvolvimento é necessário, porém, o ser humano precisa respeitar o meio ambiente, pois dependemos dele para sobreviver neste planeta. Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social. Projetos de desenvolvimento que não levem em conta a sustentabilidade ambiental devem ser desconsiderados, pois na realidade não são projetos de desenvolvimento, pois não se comprometem com o futuro. Podem ser no máximo considerados ações de curto prazo, que podem resultar em pobreza, dano ambiental e eliminação de espécies a médio ou a longo prazos. A falta de sustentabilidade pode levar a sucessos imediatos, mas fatalmente comprometerá o futuro. Qualquer país que provoque a exaustão de seus recursos naturais em nome da riqueza a curto prazo, causará dano à sua população. 

O que é uma agricultura sustentável?

     Na agricultura a busca da sustentabilidade deve ser ainda maior pois, além da preocupação com os recursos naturais que são finitos, está em jogo a saúde das pessoas nas atuais e, principalmente, das futuras gerações. Um exemplo típico de sustentabilidade é o que ocorre numa floresta ou mata virgem; o solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada pelo homem, apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. É um sistema que se mantém com seus próprios nutrientes num ciclo permanente, onde os organismos vivos vivem em equilíbrio. Na agricultura e, nos demais setores de produção é impossível alcançar a sustentabilidade por completo, por isso, o mais correto é acrescentar a palavra “mais” antes da palavra sustentável. 

Agricultura mais sustentável: é uma produção agrícola que não comprometa nossa capacidade futura de praticar agricultura com sucesso, mantendo a qualidade do meio ambiente. É uma agricultura ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa e humana; o conceito inclui ainda segurança alimentar, produtividade e qualidade de vida. O conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. Ações voltadas para o uso racional e manejo dos recursos naturais, principalmente do solo, da água e da biodiversidade visam a promover agricultura sustentável, aumentar a oferta de alimentos e melhorar os níveis de emprego e renda no meio rural.

     Uma forma de tornar a agricultura mais sustentável é através do uso de sistemas agroflorestais (SAF’s). Os sistemas agroflorestais podem serem definidos como técnicas alternativas de uso da terra, que implicam na combinação de espécies florestais com culturas agrícolas, atividades pecuárias ou ambas, resultantes da prática de estudo de agrossilvicultura (ciência que estuda sistemas racionais e eficiente do uso da terra), a prática de estudo e a arte de cultivar árvores em conjunto com culturas agrícolas ou em conjunto com a criação de animais). Trata-se de um sistema dinâmico baseado no manejo de recursos naturais, que por meio da integração nas propriedades rurais de árvores, cultivos agrícolas e animais, diversifica e contribui para a sustentabilidade da produção, promovendo o aumento significativo dos benefícios ambientais econômicos e sociais para as propriedades rurais. Os sistemas agroflorestais ou agroflorestas apresentam como principais vantagens, em relação à agricultura convencional, a fácil recuperação da fertilidade e conservação dos solos, auxilia na conservação das microbacias e área florestais, fornecimento de adubos verdes, o controle de plantas espontâneas (“mato”), aumento da biodiversidade (abrigo de inimigos naturais de pragas), redução do risco de perda de produção e, ainda ter mais fontes de renda (diversifica a produção proporcionando uma oferta mais estável de produtos ao longo do ano), através da venda de madeira e/ou frutos das árvores. A combinação destes fatores torna o sistema agroflorestal um modelo de agricultura sustentável. O sistema agroflorestal é o mais integrador, pois consegue conservar os recursos naturais, permitir a infiltração da água, polinização, controle biológico, retenção do solo, preservação da biodiversidade, aumenta a produtividade agrícola e pecuária e, ainda fixa o homem no campo e traz melhoria na qualidade de vida.
Há quatro tipos de sistemas agroflorestais:

1. Sistemas agrossilviculturais (Figura 1) - combinam árvores com cultivos anuais;

2. Sistemas agrossilvipastoris - combinam árvores com cultivos agrícolas e animais;

3. Sistemas silvipastoris (Figura 2) - combinam árvores e pastagens (animais);

4. Sistemas de enriquecimento de capoeiras com espécies de importância econômica.
   


Figura 1. Sistema Agrossilvicultural: exemplo de agricultura mais sustentável



Figura 2. Sistema Silvipastoril: exemplo de agricultura mais sustentável



Vantagens do Sistema Silvipastoril: a primeira delas é o bem estar animal; a sombra das árvores proporciona conforto ao gado, sendo comum aglomerações de animais sob a copa das árvores nas horas mais quentes do dia. Sabe-se também que o gado leiteiro apresenta queda de 10% a 20% de produção quando falta sombra no pasto. Também é bastante significativo o enriquecimento do solo, pois as árvores possuem raízes bem profundas que conseguem captar água e nutrientes em outras camadas do solo onde o capim não consegue chegar; com a queda de folhas, frutos, parte desses nutrientes se depositam no solo (reciclagem), aumentando a fertilidade e diminuindo a lixiviação. 



















Ferreira On 6/04/2013 10:35:00 AM 3 comments LEIA MAIS

domingo, 23 de junho de 2013

Proteção de plantas na agricultura sustentável



Artigo publicado em Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.1, p.61-70, jan./abr. 2000


Autores:
Raquel Ghini,  eng. agron., Ph.D., Embrapa Meio Ambiente, C. Postal 69, CEP 13820-000
                       Jaguariúna, SP.E-mail: raquel@cnpma.embrapa.br
Wagner Bettiol, eng. agron., Ph.D., Embrapa Meio Ambiente, C. Postal 69, CEP 13820-000
                       Jaguariúna, SP.E-mail: bettiol@cnpma.embrapa.br


RESUMO
A sustentabilidade agrícola implica necessariamente na resolução dos problemas relacionados com o controle de doenças, pragas e plantas invasoras. Porém, diversas técnicas utilizadas para minimizar os danos ocasionados por esses problemas fitossanitários contaminam o ambiente. Neste trabalho são discutidos os problemas do controle fitossanitário convencional; a complexidade dos sistemas naturais e dos agroecossistemas; as novas tecnologias de proteção de plantas desenvolvidas; e as possíveis alterações dos sistemas de cultivo, visando à sustentabilidade agrícola. As discussões demonstram a necessidade da interdisciplinaridade dos projetos de pesquisa, pois somente estudos que incluem o monitoramento de sistemas de produção nas diversas áreas do conhecimento fornecerão informações suficientes para o entendimento das diferentes interações.

Palavras-chave: sistemas de cultivo, agricultura alternativa, impactos ambientais.

CROP PROTECTION IN SUSTAINABLE AGRICULTURE ABSTRACT
Agriculture sustainability undergoes the solution of problems related to control of diseases, pests and weeds. Nevertheless, several techniques applied to crop protection by them selves can  cause pollution to the environment. In this work some approaches are discussed: problems of conventional crop protection management, the complexity of natural systems and agroecosystems, new technologies of crop protection, and possible alterations in crop management pursuing agriculture sustainability. Results show the necessity of interdisciplinary research projects. Only studies that are able to include the monitoring of different farming systems in several fields of knowledge are able to contribute to an understanding of the multiple interactions.

Key words: farming systems, alternative agriculture, environmental impacts.


INTRODUÇÃO
A proteção de plantas, que inclui o controle de doenças, pragas e plantas invasoras, é realizada com o objetivo de reduzir os danos causados por esses problemas fitossanitários às culturas, que são estimados em, aproximadamente, 30% da produção agrícola. Os métodos utilizados para a proteção de plantas podem ser classificados como métodos genéticos, físicos, químicos, culturais e biológicos; nas últimas décadas, os químicos assumiram uma posição de destaque. Entretanto, ultimamente, a preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com pesticidas vem alterando esse cenário, expressando-se pela presença de segmentos de mercado ávidos por produtos agrícolas diferenciados, tanto aqueles produzidos sem uso de pesticidas como por aqueles portadores de selos informando de que os pesticidas foram utilizados adequadamente. Essas pressões têm levado ao desenvolvimento de sistemas de cultivo mais sustentáveis e, portanto, menos dependentes do uso de pesticidas. A seguir, serão discutidas diferentes abordagens desse novo enfoque da proteção de plantas na agricultura sustentável .


AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
O conceito de agricultura sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. Esse enfoque altera as prioridades dos sistemas convencionais de agricultura em relação ao uso de fontes não renováveis, principalmente de energia, e muda a visão sobre os níveis adequados do balanço entre a produção de alimentos e os impactos no ambiente. As alterações implicam a redução da dependência de produtos químicos e outros insumos energéticos e o maior uso de processos biológicos nos sistemas agrícolas. A proteção de plantas nos métodos convencionais, por meio do uso de pesticidas, apresenta características extremamente atraentes, como a simplicidade, a previsibilidade e a necessidade de pouquíssimo entendimento dos processos básicos do agroecossistema para a sua aplicação. Por exemplo, para obter-se sucesso com a aplicação de um herbicida de amplo espectro é importante o conhecimento de como aplicar o produto, sendo necessária pouca informação sobre a ecologia e a fisiologia de espécies. Muitos estudos de controle biológico adotam uma abordagem semelhante, onde é enfatizado o encontro entre patógeno-antagonista ou presa-predador. Tal estratégia é apropriada para predadores relativamente agressivos e específicos, mas tem menor valor em situações mais complexas. Nesses casos, após a introdução, por exemplo, de um agente microbiano de controle biológico, haverá o seu estabelecimento em um nicho, seguido da interação com o organismo alvo e outras espécies de organismos. Essas complexas interações são fundamentais para o sucesso do controle, devendo ser analisadas de modo holístico e consideradas a longo prazo, e não a curto prazo. Assim sendo, há a necessidade de um amplo conhecimento da ecologia do sistema (Athinson & McKinlay, 1995). O uso da informação, por meio de ferramentas como modelos matemáticos, é fundamental para a tomada de decisão em todos os tipos de sistemas. A reduzida capacidade de processar informações, no passado, restringiu a nossa habilidade em redesenhar sistemas alternativos. Estudos epidemiológicos são fundamentais para maior compreensão da estrutura e do funcionamento dos sistemas de produção em relação ao comportamento das doenças e pragas no campo e a otimização de seu controle. Com o conhecimento da estrutura e do funcionamento dos sistemas de produção, poderemos entender melhor a saúde das plantas e não somente os fatores relacionados às pragas e doenças de cada cultura.

CONTROLE FITOSSANITÁRIO CONVENCIONAL
Atualmente, sabe-se que é impossível erradicar patógenos ou insetos no campo e que, além de tudo, isso é desnecessário. O balanço entre os riscos e os benefícios indica o momento exato da adoção de medidas de controle. Tanto a falta como o excesso de medidas de controle podem causar prejuízos. Porém, a tomada de decisão depende de informações seguras, como já foi mencionado.
Boa parte dos pesticidas aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos pesticidas aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação. Em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema. O uso de uma significativa quantidade de produtos químicos seria evitado se fossem tomadas medidas de controle somente quando atingidos os níveis de dano econômico. Gravena et al. (1998), realizando o manejo ecológico de pragas e doenças do tomateiro envarado, demonstraram a possibilidade de reduzir de 31 aplicações de inseticidas e 31 de fungicidas, no manejo convencional, para 10 e 21 aplicações, respectivamente, no manejo ecológico de tripes, pulgão, mosca branca, traça, broca pequena, requeima, pinta preta e vira-cabeça, sem alterar a produtividade. A ocorrência de pragas ou patógenos resistentes a determinados pesticidas nem sempre é diagnosticada. Assim, esses produtos continuam a ser aplicados, mesmo tendo sua eficiência comprometida pela ocorrência de resistência no organismo alvo. Quanto à tecnologia de aplicação, a maior parte dos equipamentos apresenta uma baixa eficiência com relação à quantidade de produto que atinge o alvo e a quantidade total aplicada.

SISTEMAS NATURAIS versus AGROECOSSISTEMAS
As doenças de plantas ocorrem na natureza com o objetivo, em parte, de manter o equilíbrio biológico e a ciclagem de nutrientes, sendo, desse ponto de vista, benéficas. O que se observa é que as doenças e as pragas ocorrem na forma endêmica. Não ocorrem epidemias que poderiam destruir as espécies vegetais, haja vista que colocaria em risco a sobrevivência dos patógenos e das pragas. As epidemias, porém, são frequentes em ecossistemas agrícolas. A interferência humana, alterando o equilíbrio da natureza, resulta na ocorrência de epidemias. Uma das condições que favorecem o aumento da população de patógenos e pragas de forma epidêmica é o cultivo de plantas geneticamente homogêneas, o que é contrário à diversidade de variedades (Bergamin et al.,1995). O resgate dos princípios e mecanismos que operam nos sistemas da natureza pode auxiliar a obtenção de sistemas agrícolas mais sustentáveis (Colegio..., 1996; Reijntjes et al.,1992). Os sistemas de cultivo caracterizados pela mistura de culturas (policulturas ou consórcios – Figura 1) apresentam diversas vantagens na proteção de plantas. A frequência de insetos-praga é menos abundante nas policulturas do que nas monoculturas. Vários mecanismos que diminuem a ocorrência de doenças operam favoravelmente na proteção de plantas das policulturas, por exemplo, as espécies suscetíveis podem ser cultivadas em menores densidades, já que o espaço entre elas será ocupado por plantas resistentes que interessam ao produtor. A menor densidade de plantas suscetíveis e a barreira oferecida pelas plantas resistentes dificultam a disseminação do patógeno, reduzindo a quantidade de inóculo no campo (Liebman, 1989). Efeito semelhante é obtido com o uso de multilinhas, isto é, a mistura de linhagens agronomicamente semelhantes, mas que diferem entre si por apresentarem diferentes genes de resistência vertical. Além do aumento da diversidade no espaço, o aumento da diversidade no tempo, por meio da rotação de culturas, também faz com que os processos biológicos auxiliem a proteção de plantas. Uma outra forma de aumentar a diversidade, consequentemente a complexidade do sistema (sistemas mais complexos são mais estáveis), é o cultivo em faixas. As culturas devem ser de famílias diferentes, assim, os patógenos e as pragas de uma não atingem a outra e há uma redução da ocorrência dos problemas relacionados com a proteção de plantas. Essa sequência pode ser usada nos cultivos de inverno, verão e, no ciclo seguinte, as áreas são invertidas para funcionar como rotação de cultura no tempo e no espaço. No caso de plantas perenes, esse conceito pode ser mais amplo, cultivando diferentes espécies florestais e formando uma agrofloresta. Além das vantagens da redução do uso de pesticidas, há menor risco econômico, pois há maior diversificação da renda. Nesse caso, precisa também ser trabalhado o uso adequado de plantas invasoras, selecionando as que poderão ser benéficas do ponto de vista nutricional e de equilíbrio biológico. As entrelinhas devem sempre estar cobertas por vegetação. O melhor exemplo desse manejo é o cultivo de seringueira na Amazônia consorciado com espécies nativas. Nesse sistema, a principal doença da seringueira, o mal-das-folhas, é controlada com a aplicação do manejo integrado, isto é, controle genético, cultural e biológico. O componente genético é empregado em diversos clones de seringueira; o cultural, pelo plantio de espécies diferentes, como dendê, mogno, etc.; e o biológico, pela multiplicação e/ou aplicação de microrganismos antagônicos (Hansfordia pulvinata) ao Microcyclus ulei, agente causal da doença. A diversificação de culturas nas propriedades rurais, além dos benefícios agronômicos e econômicos, traz benefícios sociais, pois estende a estação de trabalho dos empregados rurais, sendo esse aspecto parte integrante da sustentabilidade. Entretanto, a indiscriminada diversificação da vegetação dentro de um agroecossistema pode não resultar na redução do risco de ocorrência de pragas e doenças. O efeito de combinações planejadas de plantas deve ser estudado criteriosamente antes da aplicação em programas de manejo.




 Figura 1. O consórcio couve-coentro, além de diversificar a renda e proteger o solo contra a erosão e plantas espontâneas,  reduz o ataque de pulgões que atacam a couve. O coentro é uma planta que atrai as joaninhas (inimigo natural dos pulgões), serve como abrigo e alimento e, ainda favorece a reprodução das joaninhas.

NOVAS TECNOLOGIAS E SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento tecnológico tem colaborado para a adoção de sistemas mais sustentáveis, pois muitas dessas tecnologias foram desenvolvidas considerando prioritária a sustentabilidade e a preservação do ambiente. O uso de feromônios sexuais sintéticos de insetos pragas vem permitindo uma considerável redução do uso de inseticidas, minimizando o impacto ambiental. O controle de Carpocapsa pomonella da macieira já é realizado exclusivamente com feromônios em diversas localidades dos Estados Unidos e Europa. As tecnologias de agricultura de precisão permitem o emprego de pesticidas apenas nas reboleiras onde ocorre a doença, a praga ou a planta invasora e não em toda a área, reduzindo sensivelmente o uso de pesticidas. Tal tecnologia aumenta a eficiência, minimiza os impactos ambientais e aumenta a competitividade. Técnicas, como o controle biológico e físico, também estão sendo desenvolvidas, e muitas estão em uso, como: termo terapia de órgãos de propagação e frutos; a energia solar para controle de fito patógenos do solo (solarização); a radiação ultravioleta para o controle de patógenos em pós colheita; o emprego de plásticos que filtram determinados comprimentos de onda com consequente controle de doenças e pragas; a premunização de plantas cítricas contra a tristeza dos citros; o Baculovirus anticarsia para o controle da lagarta da soja; o nematóide Delademus siricidicola para o controle da vespa-da-madeira; o Bacillus thuringiensis para o controle de larvas de lepidópteras;  o Cotesia flavipes para o controle da broca da cana-de-açúcar; o Trichoderma para o controle de patógenos do solo causadores do tombamento do fumo, e outros. Também as técnicas de manejo integrado e manejo ecológico de pragas e doenças conduzem a sensíveis reduções de uso de pesticidas, com vantagens econômicas e ambientais. Essas tecnologias conduzem a um maior equilíbrio do agroecossistema, mas para serem empregadas exigem um melhor nível tecnológico dos agricultores. Outro aspecto importante é o equilíbrio nutricional das plantas. Normalmente, a adubação é baseada nas necessidades de NPK, não considerando os micronutrientes e outros elementos que podem ser benéficos para as plantas. Diversos trabalhos mostram os efeitos dos nutrientes sobre doenças de plantas e a redução da necessidade de controle com uma equilibrada nutrição de plantas. Esses efeitos são amplamente discutidos no livro “Soilborne plant pathogens: management of diseases with macro - and microelements” (Engelhard, 1989).
O reconhecimento de que as propriedades físicas e químicas do solo afetam diretamente a proteção de plantas está tornando-se evidente com o aumento de publicações sobre o assunto e com o uso desses conhecimentos no manejo integrado de culturas. Determinadas doenças de plantas podem ser controladas com adequado manejo do solo. Quanto às plantas invasoras, Forcella & Burnside (1994) fizeram uma análise de como foi o controle desde o advento da agricultura até os dias de hoje, e tentam prever como será no futuro o uso dos métodos químicos, físicos, biológicos e culturais. Os métodos físicos (capina manual ou mecânica) predominaram sobre os demais métodos durante muito tempo. Nesse período, provavelmente, os métodos culturais e biológicos ocorreram por obra do acaso, e não intencionalmente. Com o desenvolvimento dos herbicidas, o controle químico rapidamente dominou os demais métodos de manejo. Em razão disso, todas as outras alternativas decresceram em importância, embora o controle físico ainda continue sendo, hoje, mais importante do que o cultural e o biológico. Esses autores esperam que, nos próximos 10 ou 20 anos, haja um decréscimo na importância do controle químico, devido principalmente a motivos sociais e ambientais. Os métodos físicos devem ressurgir por causa da sua facilidade em substituir o controle químico. Assim, o manejo sustentável das plantas invasoras no futuro terá uma distribuição mais equilibrada ou integrada entre as categorias de controle. Os produtos químicos continuarão constituindo-se em uma alternativa rápida para a solução dos problemas, porém os novos produtos serão mais seguros e serão usados com mais critério, em um verdadeiro programa de manejo integrado. Os implementos mecânicos tradicionais ou novos serão de grande utilidade no futuro, mas seu uso estará acoplado ao conhecimento da ecologia das plantas invasoras. Os métodos culturais que serão mais explorados no futuro incluem: época e densidade de plantio, seleção da variedade, escolha do método de cultivo, rotação de culturas e culturas de cobertura (usadas para impedir a proliferação de plantas daninhas entre os ciclos das culturas principais). Os métodos físicos incluem o cultivo mínimo, queima, descargas elétricas e solarização; sendo que nos métodos biológicos estão incluídos insetos fitófagos e fitopatógenos.

ALTERANDO O SISTEMA
A compreensão da natureza somente é possível num enfoque holístico, observando ciclos, trabalhando com sistemas e respeitando as inter-relações e proporções. Tudo é interdependente. Com o enfoque temático-analítico que vem predominando na agricultura, perdeu-se a visão geral do sistema e, assim, aumentaram os problemas relacionados com a proteção de plantas, devido ao manejo inadequado dos solos, da natureza e do próprio controle desses problemas. O surgimento de doenças iatrogênicas (as que ocorrem por causa do uso de pesticidas) é um exemplo de problemas que podem ocorrer devido à visão reducionista do sistema. Vários aspectos do surgimento de pragas e doenças em decorrência do uso de pesticidas são discutidos por Chaboussou (1987).O processo evolutivo para a conversão dos agroecossistemas em sistemas agrícolas de alto grau de sustentabilidade possui duas fases distintas: 1) melhorada eficiência do sistema convencional, com a substituição dos insumos e das práticas agrícolas; 2) redesenho dos sistemas agrícolas. A primeira fase vem sendo trabalhada de forma relativamente organizada, com a redução do uso de insumos, controle e manejo integrado, técnicas de cultivo mínimo do solo, previsão da ocorrência de pragas e doenças, controle biológico, variedades adequadas, feromônios, integração de culturas, cultivos em faixa ou intercalados, desenvolvimento de técnicas de aplicação que visem apenas o alvo e conscientização dos consumidores, entre outros. Em relação ao redesenho dos sistemas agrícolas há a necessidade de se conhecer a estrutura e o funcionamento dos diferentes sistemas, seus principais problemas e, consequentemente, desenvolver técnicas limpas para resolvê-los. Em razão da complexidade dessa tarefa, esforços vêm sendo realizados por diferentes correntes de pesquisa, mas todas considerando a mínima dependência externa de insumos, a biodiversidade, o aproveitamento dos ciclos de nutrientes, a exploração das atividades biológicas, o uso de técnicas não poluentes, o reaproveitamento de todos os subprodutos e a integração do homem no processo. Essa forma de agricultura vem sendo denominada agricultura alternativa, onde diferentes correntes se destacam: agricultura orgânica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura biodinâmica, etc. Em relação à sustentabilidade, pode-se afirmar que tanto os sistemas encontrados na primeira fase quanto na segunda apresentam maior grau de sustentabilidade que o convencional, mas não a autosustentabilidade.  O cultivo de dendê pela empresa Agropalma, localizada no sul de Belém/ PA, é um excelente exemplo das duas primeiras fases do processo evolutivo. Como o Elaeidobios (bicho nanico), polinizador da cultura, é essencial para a produção, não poderia ser eliminado devido ao uso de pesticidas para o controle de desfolhadores e de doenças. Assim, é realizado um monitoramento constante sobre a ocorrência de doenças, pragas e seus inimigos naturais. O controle é realizado de forma biológica, isto é, nos focos são aplicados agentes de controle biológico ou é feito o monitorado para verificar a presença de inimigos naturais no local. Quando se verifica a presença desses organismos, é aguardada a morte dos insetos, é feita a coleta e, após a trituração, o produto resultante é pulverizado sobre as plantas. Quando necessário, lança-se mão do Bacillus thuringiensis. A adubação nitrogenada é realizada pelo cultivo de uma leguminosa (puerária) que deposita no solo entre 300 e 400 kg de N por hectare/ano. Essa leguminosa, além do fornecimento do N, protege o solo e impede o desenvolvimento de outras invasoras. Outra praga, a broca-do-coqueiro, transmissora do anel-vermelho, é controlada exclusivamente com o uso de feromônios. Assim, o sistema tem se mantido estável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da proteção de plantas em sistemas de cultivo de maior grau de sustentabilidade necessita que se estude a estrutura e o funcionamento dos agroecossistemas, com atenção especial às condições nutricionais, à estrutura e à biota do solo, à biodiversidade funcional, à elevação dos teores de matéria orgânica do solo e outros fatores que permitam um adequado manejo dos sistemas de cultivo. O conceito absoluto de agricultura sustentável pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função da pesquisa e da extensão oferecer opções para que sistemas mais sustentáveis sejam adotados. Para tanto, os projetos de pesquisa pontuais e de curta duração são de pouca utilidade. Somente estudos que incluem o monitoramento de sistemas de produção nas diferentes áreas do conhecimento fornecerão informações suficientes para o entendimento das diferentes interações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BERGAMIN, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de fitopatologia. Piracicaba: Agronômica Ceres, 1995. v.1, 919p.

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos (a teoria da trofobiose). Porto Alegre: L&PM, 1987. 256p.

COLEGIO OFICIAL DE INGENIEROS AGRONOMOS DE CENTRO Y CANARIAS. Manual de prácticas y actuaciones agroambientales. Madrid: Editorial Agricola Española / Ediciones Mundi-Prensa, 1996. 310p.

ENGELHARD, A.W. Soilborne plant pathogens: management of diseases with macro- and microelements. St. Paul: APS, 1989. 217p.

FORCELLA, F.; BURNSIDE, O.C. Pest management-weeds. In: HATFIELD, J.L.; KARLEN, D.L. Sustainable agriculture systems. Boca Raton: Lewis, 1994. p.157-197.

GRAVENA, S.; BENVENGA, S.; ABREU JR., H.; GROPPO, G.A.; ZANDER, R.; KLEIN-GUNNWIEK, R. Manejo ecológico de pragas e doenças do tomate envarado. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SUSTAINABLE AGRICULTURE IN TROPICAL AND SUBTROPICAL HIGHLANS WITH SPECIAL REFERENCE TO LATIN AMERICA, 1998, Rio de Janeiro. Abstracts... [S.l.: s.n], 1998. Não paginado.

LIEBMAN, M. Sistemas de policulturas. In: ALTIERI, M.A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PTA / FASE, 1989. 240p.


REIJNTJES, C.; HAVERKORT, B.; WATERS-BAYER, A. Farming for the future: an introduction to low-external-input and sustainable agriculture. Leusden: Ileia, 1992. 250p. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quais os motivos e incentivos para buscar o desenvolvimento mais sustentável da agricultura?



Fragilidades da “Agricultura Moderna”

     A “modernização” da agricultura, ocorrido especialmente a partir dos anos 50, priorizou a mecanização, os adubos químicos e os agrotóxicos, e desvalorizou os processos naturais e biológicos. O modelo tradicional de cultivo intensivo muito simplificado, como no caso das monoculturas, traz grandes custos ambientais e sociais. Os principais problemas ambientais causados pela “agricultura moderna” são: 

. Declínio da produtividade das culturas pela degradação do solo, erosão (Figura 1), compactação, salinização, desertificação e perda de matéria orgânica;

. Degradação dos recursos naturais e contaminação do meio ambiente pelo uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos;

. Contaminação de alimentos e trabalhadores rurais;

. Aumento da resistência de pragas, doenças e plantas espontâneas;

. Perda da biodiversidade, responsável pelo equilíbrio ecológico;

. Aumento no custo de produção dos cultivos;

. Perda de autonomia do produtor rural, tornando-se dependente dos insumos que são a maioria importados e produzidos por empresas multinacionais.




Figura 1. A “agricultura moderna” tem causado através da erosão, a redução da capacidade produtiva do solo e a contaminação dos rios, lagos e águas subterrâneas





Contaminação do meio ambiente por resíduos químicos 

     Meio ambiente é o conjunto de condições e componentes físicos, químicos e biológicos que possibilitam, regem e abrigam a vida em todas as suas formas, garantindo a sobrevivência da espécie humana. Portanto, meio ambiente é toda a natureza que nos cerca, nos envolve, inclusive nós mesmos e nossa relação com o mundo em que vivemos. Tudo está interligado – pessoas, animais, florestas, rios, lagos, mares, oceanos, cidades, além do ar que respiramos, por isso dependemos do meio ambiente para sobreviver.

     A utilização, na agricultura, de produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, conhecidos como pesticidas, praguicidas, formicidas, herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematicidas, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento ou ainda agrotóxicos, iniciou-se na década de 1920 e já durante a 2ª Guerra Mundial, foram utilizados como arma química. No Brasil, a utilização intensiva de agrotóxicos originou-se do Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado em 1975, que forçava os agricultores a comprar os venenos através do crédito rural. Como consequência das políticas adotadas, o Brasil atingiu recentemente uma liderança da qual não podemos nos orgulhar. Desde 2008, somos o país que mais consome agrotóxicos no planeta. Entre 2000 e 2010, o comércio de agrotóxicos no Brasil cresceu 190%, enquanto que a média mundial foi de 93%. A tendência é que esta desproporção aumente ainda mais pois, enquanto os países mais desenvolvidos estão reduzindo o uso, o nosso país está aumentando. Existe a enorme pressão comercial das empresas produtoras de agrotóxicos, que sem qualquer compromisso com o meio ambiente e, com a saúde da população, visam apenas o aumento dos lucros. Mais de um bilhão de litros de venenos são jogados nas lavouras por ano (50% na cultura da soja). Se fizermos um cálculo simples, dividindo a quantidade de agrotóxicos utilizados nas lavouras, anualmente, pela população brasileira, chega-se a marca de 5,2 litros consumidos por habitante. E, o que é pior, o Brasil é o principal destino de agrotóxicos proibidos em vários países. 

     As principais consequências do uso dos agrotóxicos são: contaminação do meio ambiente, dos alimentos, produtores e consumidores, redução da biodiversidade, morte dos insetos polinizadores (abelha e outros) e dos inimigos naturais das pragas, surgimento de novas pragas e resistência dos insetos, patógenos que causam doenças e plantas espontâneas (inços) aos agrotóxicos e, o uso cada vez maior de misturas de produtos mais potentes e mais perigosos (ex.: uso do herbicida glifosato em lavouras de soja transgênica), além do aumento do custo de produção e dependência dos produtores.

     Quem mais tem sofrido com problemas de contaminação por agrotóxicos são os agricultores. Os principais sinais e sintomas de envenenamento por agrotóxicos são: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia; tremores no corpo; indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais; alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar; queimaduras e alterações da pele; dores pelo corpo inteiro; irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques, desmaios, perda de consciência e até o coma. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos, registradas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, indicam que no período de 1984 até 2012, o CIT detectou 12.423 intoxicações de agricultores e 303 mortes em Santa Catarina. No Brasil, 280 mil trabalhadores se intoxicam por ano. No mundo estima-se que são 3 milhões de pessoas intoxicadas por ano (OMS) com 220 mil mortes. Estima-se que para cada registro oficial, ocorre pelo menos 10 casos não registrados (dificuldade no diagnóstico dos efeitos crônicos). Ao pesquisar a evolução das intoxicações por agrotóxicos em Santa Catarina, na década de 1991 a 2000, verificou-se, em média, que 350 pessoas foram intoxicadas por ano, enquanto que na última década (2001 a 2010), foram 600 pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 75% de pessoas intoxicadas (fonte: www.cit.sc.gov.br). A falta de proteção na aplicação dos agrotóxicos (não uso dos EPI’s – equipamento de proteção individual) é a principal causa das intoxicações (Figura 2).



Figura 2. O desconhecimento sobre os riscos no uso dos agrotóxicos e a falta de proteção na aplicação agrava ainda mais a contaminação dos trabalhadores rurais


     Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), realizada em 26 estados do Brasil desde 2001, revela: Em 2010, praticamente todas as espécies pesquisadas apresentaram amostras com resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, com produtos químicos não registrados para as culturas e, ainda com alguns já proibidos em diversos países da Europa e Estados Unidos (endossulfan, acefato e metamidofós). As culturas com mais amostras contaminadas por agrotóxicos (12 a 92%) foram: pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve, mamão, tomate e laranja. É importante ressaltar, que resultados semelhantes foram encontrados no relatório de 2009.


     A adubação química também contribui para a degradação dos solos, contamina o meio ambiente, torna as plantas cultivadas mais sensíveis às pragas e doenças, aumenta o custo de produção e, ainda prejudica a saúde das pessoas. Um dos motivos pelos quais os adubos químicos podem poluir o meio ambiente, é porque alguns deles são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água, fato que acarreta três consequências:

1) uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas, aumentando muito seu teor de água, o que torna as plantas mais suscetíveis à pragas e doenças, além de produzirem alimentos menos saborosos e mais pobres nutricionalmente;


2) outra parte (muitas vezes a maior parte) é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos, causando juntamente com os despejos de esgotos, a eutrofização (morte de um rio ou lago por asfixia) dos corpos aquáticos, pois os excessivos nutrientes além de estimularem um crescimento excessivo das algas, roubam para se degradarem, o oxigênio da água (Figura 3)


3) há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a ureia e o sulfato de amônio) que sob a forma de óxido nitroso pode destruir a camada de ozônio da atmosfera e, assim contribuir para o aquecimento global. 



Figura 3 . A “agricultura moderna”, através da erosão dos solos, tem provocado a eutrofização (morte de um rio ou lago por asfixia)



     Além de contaminar o meio ambiente, os adubos químicos, especialmente quando aplicados em excesso, prejudicam a saúde das pessoas. O uso de adubos nitrogenados (ex.:uréia), provoca o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas. Resultados de pesquisa do teor de nitrato em alface revelaram que no cultivo orgânico, cultivo convencional e cultivo hidropônico são acumulados 565,4; 2782,1 e 3.093,4 mg/kg, respectivamente. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o índice máximo de ingestão diária admissível de nitratos é de 5 mg/kg de peso vivo e 0,2 mg/kg para nitritos. Ou seja: uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica, por 1 dia, já estará atingindo a dose máxima de nitratos permitida. Já no sistema orgânico esta mesma pessoa poderia comer mais de 50 folhas.


Consciência do consumidor

     No mundo inteiro as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e com o consumo de alimentos mais saudáveis. A sociedade, na busca de uma alimentação mais sadia e natural, mudou o conceito de qualidade e passou a exigir produtos cada vez mais “limpos”, isto é, livres de produtos químicos, principalmente resíduos de agrotóxicos. Os produtos orgânicos, por não utilizarem agrotóxicos e adubos químicos solúveis e por serem produzidos com técnicas ambientalmente corretas, são os alimentos ideais para toda a família.

     Pesquisa realizada em todo o Brasil em 1998, com cerca de 2 mil entrevistados, com o objetivo de verificar a consciência dos consumidores, revela que procuram consumir alimentos mais saudáveis, por três motivos: 

-Saúde: uma alimentação mais saudável, natural e equilibrada;

-Sabor e frescor nos alimentos: o gosto autêntico dos alimentos, o sabor das frutas e hortaliças. 

-Meio ambiente: a preocupação com a preservação do planeta e as futuras gerações.




Qualidade superior dos alimentos orgânicos

     Em comparação com os produtos convencionais, ou seja, que utilizam agroquímicos, os produtos orgânicos possuem maior teor de vitaminas e sais minerais, bem como maiores teores de proteínas, aminoácidos, carboidratos, matéria seca e ainda melhor sabor e conservação. Resultados de pesquisa que comparou o valor nutritivo de hortaliças cultivadas com adubação orgânica (esterco de animais compostado) e com adubação química, revelou a superioridade do cultivo orgânico em percentagens que variaram de 10 até 77%. Os adubos químicos, ao serem rapidamente absorvidos pelas raízes das plantas, aumentam muito o teor de água e, as plantas ficam mais susceptíveis às pragas e doenças e, os alimentos produzidos, menos nutritivos (aguados). Trabalho de pesquisa que avaliou a qualidade nutritiva e sensorial de cenoura e repolho, oriundas de lavouras orgânicas e convencionais, revelou que as hortaliças orgânicas tinham menor teor de nitratos e um melhor sabor e perfume, além de maior teor de vitamina C e mais potássio. Os autores ainda concluíram que os vegetais orgânicos foram melhores do que os convencionais de acordo com as exigências alimentares para crianças e deveriam ser recomendados para a alimentação de bebês.



       















































terça-feira, 4 de junho de 2013

O Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável



     No dia 05/06 comemora-se, anualmente, o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Este dia começou a ser comemorado em 1972 com o objetivo de promover atividades de proteção e preservação do meio ambiente e alertar o público mundial e governos de cada país para os perigos de negligenciarmos a tarefa de cuidar do meio ambiente. Foi em Estocolmo, no dia 5 de junho de 1972, que teve início a primeira das Conferências das Nações Unidas sobre o ambiente humano e por esse motivo foi a data escolhida como Dia Mundial do Meio Ambiente. 

     Meio ambiente é o conjunto de condições e componentes físicos, químicos e biológicos que possibilitam, regem e abrigam a vida em todas as suas formas. A preservação deste meio garante a sobrevivência da espécie humana. Portanto, meio ambiente é toda a natureza que nos cerca, nos envolve, inclusive nós mesmos e nossa relação com o mundo em que vivemos. Tudo está interligado – pessoas, animais, florestas, rios, lagos, mares, oceanos, cidades, além do ar que respiramos. Todos nós dependemos do meio ambiente para sobreviver, por isso precisamos cuidar do nosso planeta, começando a respeitar as leis ambientais e preparando-as para as gerações futuras, a fim de possibilitar um planeta sadio para nossos sucessores.


     O termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado pela primeira vez, em 1983, por ocasião da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU. Na oportunidade, essa comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse integrado à questão ambiental, estabelecendo-se, assim, o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Nos tempos atuais a palavra “sustentabilidade” está em destaque e, tem sido cada vez mais uma preocupação mundial, felizmente. Não se trata de modismo, pois diariamente novos exemplos de busca da sustentabilidade, são relatados, praticamente, em todos os setores da produção.



     Desenvolvimento sustentável tem sido definido como “modelo econômico capaz de satisfazer as necessidades das gerações atuais, levando em consideração as necessidades e interesses das futuras gerações”. Isso quer dizer: usar os recursos naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente, preservando os bens naturais e a dignidade humana. É o desenvolvimento que não esgota os recursos, conciliando crescimento econômico e preservação da natureza. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro, promovendo o desenvolvimento sem deteriorar ou prejudicar a base de recursos que lhe dá sustentação. O conceito de desenvolvimento sustentável contém dois elementos essenciais:

I. O conceito de "necessidade", sobretudo as necessidades fundamentais dos seres humanos, que devem receber a máxima prioridade;

II. A noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

     Quando falamos em sustentabilidade temos que levar em conta três fatores: o meio ambiente, as pessoas e as finanças. Ser sustentável é usar somente o necessário e promover o melhor tanto para as pessoas como para o meio ambiente. Em outras palavras é a busca pelo desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo a busca pela preservação do meio ambiente. Ser sustentável é explorar a natureza de maneira correta, usando os recursos naturais, racionalmente. Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. O desenvolvimento sustentável prioriza a qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.

     O desenvolvimento é necessário, porém, o ser humano precisa respeitar o meio ambiente, pois dependemos dele para sobreviver neste planeta. Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social. Projetos de desenvolvimento que não levem em conta a sustentabilidade ambiental devem ser desconsiderados, pois na realidade não são projetos de desenvolvimento, pois não se comprometem com o futuro. Podem ser no máximo considerados ações de curto prazo, que podem resultar em pobreza, dano ambiental e eliminação de espécies a médio ou a longo prazos. A falta de sustentabilidade pode levar a sucessos imediatos, mas fatalmente comprometerá o futuro. Qualquer país que provoque a exaustão de seus recursos naturais em nome da riqueza a curto prazo, causará dano à sua população. 

O que é uma agricultura sustentável?

     Na agricultura a busca da sustentabilidade deve ser ainda maior pois, além da preocupação com os recursos naturais que são finitos, está em jogo a saúde das pessoas nas atuais e, principalmente, das futuras gerações. Um exemplo típico de sustentabilidade é o que ocorre numa floresta ou mata virgem; o solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada pelo homem, apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. É um sistema que se mantém com seus próprios nutrientes num ciclo permanente, onde os organismos vivos vivem em equilíbrio. Na agricultura e, nos demais setores de produção é impossível alcançar a sustentabilidade por completo, por isso, o mais correto é acrescentar a palavra “mais” antes da palavra sustentável. 

Agricultura mais sustentável: é uma produção agrícola que não comprometa nossa capacidade futura de praticar agricultura com sucesso, mantendo a qualidade do meio ambiente. É uma agricultura ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa e humana; o conceito inclui ainda segurança alimentar, produtividade e qualidade de vida. O conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. Ações voltadas para o uso racional e manejo dos recursos naturais, principalmente do solo, da água e da biodiversidade visam a promover agricultura sustentável, aumentar a oferta de alimentos e melhorar os níveis de emprego e renda no meio rural.

     Uma forma de tornar a agricultura mais sustentável é através do uso de sistemas agroflorestais (SAF’s). Os sistemas agroflorestais podem serem definidos como técnicas alternativas de uso da terra, que implicam na combinação de espécies florestais com culturas agrícolas, atividades pecuárias ou ambas, resultantes da prática de estudo de agrossilvicultura (ciência que estuda sistemas racionais e eficiente do uso da terra), a prática de estudo e a arte de cultivar árvores em conjunto com culturas agrícolas ou em conjunto com a criação de animais). Trata-se de um sistema dinâmico baseado no manejo de recursos naturais, que por meio da integração nas propriedades rurais de árvores, cultivos agrícolas e animais, diversifica e contribui para a sustentabilidade da produção, promovendo o aumento significativo dos benefícios ambientais econômicos e sociais para as propriedades rurais. Os sistemas agroflorestais ou agroflorestas apresentam como principais vantagens, em relação à agricultura convencional, a fácil recuperação da fertilidade e conservação dos solos, auxilia na conservação das microbacias e área florestais, fornecimento de adubos verdes, o controle de plantas espontâneas (“mato”), aumento da biodiversidade (abrigo de inimigos naturais de pragas), redução do risco de perda de produção e, ainda ter mais fontes de renda (diversifica a produção proporcionando uma oferta mais estável de produtos ao longo do ano), através da venda de madeira e/ou frutos das árvores. A combinação destes fatores torna o sistema agroflorestal um modelo de agricultura sustentável. O sistema agroflorestal é o mais integrador, pois consegue conservar os recursos naturais, permitir a infiltração da água, polinização, controle biológico, retenção do solo, preservação da biodiversidade, aumenta a produtividade agrícola e pecuária e, ainda fixa o homem no campo e traz melhoria na qualidade de vida.
Há quatro tipos de sistemas agroflorestais:

1. Sistemas agrossilviculturais (Figura 1) - combinam árvores com cultivos anuais;

2. Sistemas agrossilvipastoris - combinam árvores com cultivos agrícolas e animais;

3. Sistemas silvipastoris (Figura 2) - combinam árvores e pastagens (animais);

4. Sistemas de enriquecimento de capoeiras com espécies de importância econômica.
   


Figura 1. Sistema Agrossilvicultural: exemplo de agricultura mais sustentável



Figura 2. Sistema Silvipastoril: exemplo de agricultura mais sustentável



Vantagens do Sistema Silvipastoril: a primeira delas é o bem estar animal; a sombra das árvores proporciona conforto ao gado, sendo comum aglomerações de animais sob a copa das árvores nas horas mais quentes do dia. Sabe-se também que o gado leiteiro apresenta queda de 10% a 20% de produção quando falta sombra no pasto. Também é bastante significativo o enriquecimento do solo, pois as árvores possuem raízes bem profundas que conseguem captar água e nutrientes em outras camadas do solo onde o capim não consegue chegar; com a queda de folhas, frutos, parte desses nutrientes se depositam no solo (reciclagem), aumentando a fertilidade e diminuindo a lixiviação. 



















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