sábado, 10 de dezembro de 2016

Autores:  Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.

De que modo a compostagem ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
     A compostagem é uma maneira mais eficiente de se utilizar os estercos e o material volumoso (capins, resíduos vegetais). É um processo de decomposição “forçada” da matéria orgânica em ambiente aeróbico (na presença de ar). O material é empilhado, geralmente na proporção de três pilhas de volumoso para uma pilha de esterco, e é revirado de 15 em 15 dias, quando é também umedecido. Como resultado, obtém-se, após um período aproximado de 90 dias, um produto parcialmente mineralizado, ou seja, mais eficiente como fonte de nutrientes para as culturas e, além disso, higienizado. O composto também apresenta outra vantagem em relação ao esterco não compostado: por ter um volumoso em sua formação, geralmente palhada e capim, permanece mais tempo no solo, funcionando também como um condicionador físico e melhorando sua estrutura.

De que modo a adubação verde ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
     A adubação verde é uma prática excelente em quantidade e qualidade de matéria orgânica. Em quantidade, porque os adubos verdes produzem muita massa vegetal e, em qualidade, porque essa massa é muito rica em nutrientes. Além disso, como se decompõe mais lentamente no solo, em comparação com os estercos e composto, a matéria orgânica proveniente dos adubos verdes é um ótimo condicionador físico de solo.
     Os adubos verdes podem ser utilizados em esquemas de rotação, sucessão ou consórcio com as hortaliças. Muitos produtores não utilizam essa prática porque não querem ou não podem deixar a área “parada” por um tempo (enquanto os adubos verdes crescem e chegam ao ponto ideal de corte). O consórcio, porém, é uma boa alternativa para esses casos. Algumas hortaliças podem ser consorciadas sem problema com os adubos verdes, mas é preciso saber qual a melhor época de plantio do adubo verde em relação à da cultura, para não haver competição.

Como é feito o manejo dos adubos verdes?
     O manejo dos adubos verdes depende do objetivo de sua utilização. Sua massa vegetal pode ser tanto incorporada ao solo quanto mantida na superfície. No primeiro caso, os processos de decomposição e mineralização acontecem mais rápido e, conseqüentemente, os efeitos positivos na melhoria da fertilidade e no condicionamento do solo aparecem mais cedo. Essa é a melhor alternativa de manejo dos adubos verdes quando se objetiva o fornecimento de nutrientes para a cultura sucessora. No segundo caso, a massa vegetal fica disposta sobre o solo após seu corte e, por isso, se decompõe mais devagar. Essa é uma boa alternativa quando o objetivo principal é proteger o solo contra a erosão e contra o surgimento de plantas espontâneas problemáticas. Nesse caso, os adubos verdes são utilizados como cobertura vegetal. Se essa cobertura vegetal for realizada visando à produção de palhada para o sistema de plantio direto ou para o cultivo mínimo, dará origem ao que se chama de cobertura morta.

Qual a situação ideal para manter ou repor a matéria orgânica num sistema orgânico de produção de hortaliças?
     Uma situação ideal seria aquela em que o produtor orgânico pudesse aliar um esterco curtido e de boa qualidade, ou um composto bem produzido, com a prática da adubação verde ou da cobertura vegetal. Assim, consegue-se manter os teores de matéria orgânica e propiciar a manutenção, e mesmo a melhoria, da qualidade do solo ao longo do tempo. Além disso, deve-se adotar o preparo conservacionista do terreno, evitando-se o revolvimento excessivo.

Como é feito o preparo do solo no cultivo orgânico de hortaliças?
     O preparo do solo no cultivo orgânico de hortaliças procura ser conservacionista, priorizando a movimentação mínima do terreno. Recomenda-se fazer as operações de aração e gradagem apenas no primeiro ano e utilizar, nos anos seguintes, mecanização reduzida, mantendo o solo coberto, e fazer o novo plantio sem fazer novo preparo.

Pode-se utilizar o sistema de plantio direto no cultivo orgânico de hortaliças?
     Sim. Esse é um sistema de plantio conservacionista que pode ser utilizado no cultivo orgânico de hortaliças. Entretanto, o que ocorre é que muitas pessoas acreditam que o plantio direto está necessariamente vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Da mesma forma que se faz capinas manuais ou com enxadas em sistemas orgânicos com revolvimento de solo, também se faz o mesmo em sistemas orgânicos com plantio direto. É importante que a área apresente baixa ocorrência de plantas espontâneas problemáticas, como tiririca, losna ou trapoeraba. Outro ponto importante é o entendimento de que é essencial trabalhar para a construção da fertilidade, utilizando rotação de culturas adequada, pensando em longo prazo e não somente na safra corrente.

Qual a definição de sistema de plantio direto e qual a diferença entre plantio direto e cultivo mínimo?
     No meio técnico, ainda não há consenso em relação a conceitos e definições. Entretanto, a maioria dos profissionais concorda com a seguinte terminologia:

a)Plantio direto: é um sistema de plantio que visa maximizar a produção em longo prazo, considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, baseado em três princípios básicos:       
• Revolvimento mínimo do solo, restrito à cova ou sulco de plantio.
• Rotação de culturas.
• Cobertura do solo.

b) Cultivo mínimo: é um sistema intermediário de plantio, entre o convencional e o direto, que visa maximizar a produção em longo prazo, considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, mas que não atende a um dos três princípios básicos do plantio direto. Como exemplo de cultivo mínimo pode-se citar o cultivo de cebola em área cultivada com milho, passando-se a grade niveladora fechada sobre a palhada para homogeneizar a área e facilitar o plantio ou transplantio da cebola, mantendo a palhada em cobertura e revolvendo o solo em área total apenas superficialmente. É importante mencionar que o plantio diretamente no local definitivo após o preparo de solo em vez da tradicional formação de mudas, como ocorre no plantio de cebola e beterraba, é chamado por vezes de plantio direto, no setor de hortaliças. Entretanto, tratase, na verdade, de um método de cultivo – o de semeadura direta – distinto do sistema de plantio direto.

Que hortaliças podem ser cultivadas no sistema de plantio direto e no cultivo mínimo?
     Há diversas espécies que se adaptam facilmente ao sistema de plantio direto, como couve, repolho, couve-flor, brócolis, berinjela, jiló, abobrinha, abóboras, tomate, pimentão, entre outras. Basicamente, podem ser cultivadas nesse sistema todas as espécies plantadas em espaçamento relativamente aberto, o suficiente para permitir fáceis capinas depois do transplantio. Culturas como cebola, beterraba, alho, alface, entre outras, apresentam dificuldades em relação à manutenção da população de plantas espontâneas em níveis abaixo do competitivo com a cultura. Entretanto, para pequenas áreas e quando se dispõe de mão-de-obra, é possível seu plantio, especialmente em cultivo mínimo, desde que se tenha mais cuidado na fase de formação de palhada.
     Algumas culturas apresentam verdadeira limitação ao cultivo em sistemas de plantio direto, como cenoura, mandioquinha-salsa, batata-doce e batata. A cenoura necessita de solo extremamente solto em virtude da frágil dominância apical de suas raízes, o que leva à formação de raízes tortuosas ou bifurcadas em caso de qualquer impedimento físico, por mínimo que seja. A mandioquinha-salsa e a batata-doce necessitam de leiras para a formação de raízes e para evitar o acúmulo de água no pé das plantas, no caso da mandioquinha-salsa. A batata necessita de amontoa para a formação dos tubérculos, e o aspargo, para a formação dos brotos. Entretanto, há casos de cultivo mínimo de batata em que o plantio é feito em sulcos sobre a palhada, quebrando-se o sistema por ocasião da amontoa, de 25 a 30 dias após o plantio.

O que é cobertura morta?
     É a palhada disposta sobre o solo para a realização do plantio direto ou do cultivo mínimo. A obtenção da cobertura morta pode ser feita de duas maneiras: pela importação de palhada de outra área, como se faz tradicionalmente na cultura do alho comum, e pelo cultivo de plantas de cobertura, fornecedoras de palhada, e seu manejo (corte) no próprio local. Produzindo a palhada no próprio local, o agricultor está respeitando o princípio da sustentabilidade, preconizado pelos sistemas orgânicos de produção, reduzindo a importação de insumos.
     A busca de palhada em outro local garante a cobertura do solo, mas não o efeito de estruturação do solo promovido pela “aração biológica”, que consiste na decomposição do sistema radicular das culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor de matéria orgânica. Que materiais podem ser utilizados como cobertura morta? Há inúmeras espécies que podem ser utilizadas para produção de cobertura morta, tanto em cultivo “solteiro” como no consorciado. Espécies de adubos verdes, sejam leguminosas, gramíneas ou plantas de outras famílias, podem ser utilizadas como plantas de cobertura. Plantas de interesse econômico, como milho, especialmente milho verde, soja hortaliça, ervilha, etc., também podem ser utilizadas na produção de palhada. Para todas essas plantas de cobertura existe a possibilidade de produção de sementes na própria propriedade, sendo inclusive difícil encontrar fornecedores de sementes de algumas delas.

De que depende a escolha da planta de cobertura?
     A escolha da planta de cobertura depende de diversos fatores, como:
 • Clima.
 • Esquema de rotação de culturas, devendo-se considerar o tempo disponível para a formação de palhada.
• Capacidade das plantas de hospedarem pragas e patógenos.
• Características físicas do solo, como camadas compactadas.
• Características químicas do solo, como necessidade de reciclagem de nutrientes e velocidade na disponibilização de nutrientes pela cobertura morta.
• Utilidade comercial das plantas de cobertura.
     Como regra geral, se o desejado é a obtenção de cobertura morta duradoura, deve-se optar pelo plantio de gramíneas, de plantas com alta relação carbono/nitrogênio (C/N), como milho, milheto, sorgo, aveias, entre outras.
     Se, por sua vez, deseja-se obter cobertura morta de degradação mais rápida para liberação de nutrientes para a cultura sucessora, utilizam-se plantas de cobertura com relação C/N mais baixa, do grupo das brássicas, como nabo forrageiro, e das nabiças, das amarantáceas, como o amaranto, ou das leguminosas, como as mucunas, as crotalárias, o lab-lab, as sojas, o guandu, o feijão-de-porco, entre outras.

A vegetação espontânea pode ser utilizada como cobertura?
     Sim. O uso de vegetação espontânea pode ser viável. Normalmente, há predominância de gramíneas, especialmente no verão. Entretanto, é preciso observar se estão ocorrendo plantas espontâneas problemáticas, que podem competir por água e nutrientes durante o ciclo da cultura principal, inviabilizando-a.

Podem ser utilizados consórcios de plantas de cobertura?
     Sim. O uso de consórcios com plantas de diferentes famílias é muito interessante e recomendado. Um exemplo é o consórcio de milho (gramínea) e mucuna (leguminosa), tirando-se proveito do milho como fornecedor de palhada duradoura e da mucuna, como fornecedora de nutrientes, especialmente nitrogênio. Outro consórcio muito utilizado em regiões de clima ameno, e que merece destaque, é o de aveia-preta, nabo forrageiro e ervilhaca, em que a aveia-preta atua como fornecedora de palhada, a ervilhaca, como fornecedora de nutrientes, especialmente nitrogênio, e o nabo forrageiro, como descompactador. 131 132 93 É preciso lembrar que, em sistemas orgânicos de produção, deve-se optar por plantas com baixa capacidade de rebrota ou, preferencialmente, sem essa capacidade, levando em conta tanto a espécie quanto a época de corte.


Como manejar as plantas de cobertura no sistema orgânico?
     A formação de palhada deve ser feita com roçadeira ou rolofaca. No cultivo mínimo, pode-se usar grade niveladora que, aliás, só deve ser usada em casos de grande massa vegetal, e fechada, a fim de não aprofundar no solo e não incorporar a cobertura morta, que deve ficar na superfície. O corte deve ser feito antes da formação de sementes viáveis.
     O plantio em linha de espécies de cobertura para formação de palhada com alguma capacidade de rebrota pode facilitar as capinas posteriormente, fazendo-se o semeio ou o transplantio de mudas da cultura principal nas entrelinhas das plantas de cobertura.

Quais as vantagens do sistema de plantio direto?
     Alguns dos principais benefícios da adoção do plantio direto são:
• Minimização da erosão, pelo amortecimento do impacto das gotas da chuva, e minimização dos efeitos das pesadas enxurradas, tanto pela palhada quanto pela integridade da estrutura do solo, não submetido a revolvimento, mas apenas à “aração biológica”, do que resulta significativo aumento da infiltração de água e da capacidade de retenção de água no solo.
• Aumento da eficiência de uso de água e energia, pela maior infiltração da água no solo, menor escorrimento superficial e menor e vaporação, resultando em redução de até 20 % na necessidade de irrigação.
• Redução da mecanização, superior a 50 % em relação a sistemas convencionais de produção. • Elevação dos teores de matéria orgânica do solo, pela reduzida movimentação e pelo aporte de resíduos.
• Redução da infestação por plantas espontâneas, tanto por ação física, que atua como barreira, quanto por ação química, a exemplo do efeito alelopático de algumas espécies como sorgo, mucunas e outras.
• Aumento da diversidade da biota do solo, em virtude da elevação dos teores de matéria orgânica. • Redução da dispersão de doenças de solo, em conseqüência da diminuição dos respingos de água da chuva e do escorrimento superficial.
• Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas mais quentes do dia com redução de até 9 o C na palhada de superfície do solo, próximo ao coleto da planta, em relação ao solo desprotegido, e retenção do calor residual nas horas mais frias do dia.

Quais as desvantagens do sistema de plantio direto?
Os principais problemas que podem ocorrer no sistema de plantio direto são:
• Em regiões muito úmidas, o plantio direto pode favorecer o desenvolvimento de alguns fungos fitopatogênicos que sobrevivem na palhada, aumentando o inóculo inicial de doenças, mas a dispersão das doenças é mais lenta.
• Aumento da população de “corós”, de besouros consumidores de matéria orgânica que, em elevadas populações, podem atacar as raízes das plantas para alimentar-se – fenômeno já relatado em áreas de plantio direto de grãos.
• Aumento da população de cupins, consumidores de celulose, que podem atacar as raízes em caso de desequilíbrio na população e se a disponibilidade de palhada 135 95 for insuficiente em alguns períodos do ano.
• Compactação do solo, caso não ocorra o pleno estabelecimento das plantas de cobertura, em geral, em decorrência da escolha inadequada da rotação de culturas ou de seu manejo inadequado, a exemplo do excesso de pisoteio ou de trânsito de máquinas na área.
• Indisponibilização da área pelo cultivo de plantas de cobertura que muitas vezes não tem valor comercial direto. Quanto a este último item cabe citar a importância de se entender que o solo deve ser tratado e não somente explorado. Hoje, deve-se pensar em “adubar o solo” e não em adubar a planta, e a obtenção de produções satisfatórias é conseqüência do equilíbrio do solo.

Quais as conseqüências do manejo inadequado do solo?
     O manejo inadequado do solo, no sistema orgânico de produção ou no convencional, pode levar a graves conseqüências. Problemas freqüentes estão relacionados com a fertilidade do solo. Se a fertilidade do solo não for acompanhada com análises periódicas, corre-se o risco de errar na fertilização tanto para menos como para mais.
     Quando se erra para menos, ocorre deficiência, ou a falta de um, ou mais, dos nutrientes da planta. Mesmo a falta de apenas um nutriente prejudica o desenvolvimento da cultura e a produção é comprometida.
     Quando se erra para mais, ocorre toxidez, além de maior gasto com adubo. O uso de fertilizantes em doses maiores que as necessárias para a cultura pode levar ao excesso de um ou mais nutrientes, o que também acarreta desequilíbrio nutricional e redução da produção.
     A deficiência é relativamente mais fácil de resolver. Dependendo do nutriente e do estágio da cultura, é possível aplicar um fertilizante e reverter o quadro de deficiência. Para o excesso, 136 96 porém, não há solução em curto prazo.
     O revolvimento excessivo provoca a destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da matéria orgânica. Além disso, pode levar ao endurecimento da camada superior do solo, que fica então compactada e difícil de trabalhar. A desagregação do solo, provocada pelo revolvimento excessivo, também pode ocorrer quando o solo está desprotegido, isto é, sujeito à ação do vento e da água das chuvas, que são os principais causadores da erosão.
     Uma prática inadequada ainda utilizada por alguns produtores de hortaliças é a formação de canteiros “morro abaixo”, ou seja, no sentido da declividade do terreno. Essa prática é uma porta aberta para a erosão, pois facilita grandemente a formação de sulcos no terreno causados pelo escorrimento da enxurrada.

O que é compactação?
     A compactação não é um fenômeno natural. Isso significa que é um processo exclusivamente causado pelo manejo incorreto do solo. Ocorre quando o solo é comprimido, ou seja, quando sofre compressão por máquinas ou pelo pisoteio animal ou humano. A compressão causa o adensamento do solo, o que dificulta o desenvolvimento das raízes das plantas e reduz o número de poros do solo, por onde circulam água e ar, levando à redução do movimento de água no perfil.

O que é erosão?
     Erosão é o processo de transporte do solo para outro local pela ação de agentes erosivos como a água e o vento. Pode ocorrer naturalmente, sem a ação do homem. No entanto, em áreas agrícolas é causada principalmente pela  falta de proteção do terreno, pois o solo desprotegido fica vulnerável à ação da água da chuva e do vento.
     No Brasil, o principal agente erosivo é a chuva. Quando as gotas batem sobre o solo desprotegido, a força do impacto provoca o desagregamento das partículas do solo que são arrastadas pela água da chuva. Com a perda do solo, perdem-se também nutrientes e matéria orgânica. Com o passar do tempo, o processo vai se tornando mais intenso e perigoso, a erosão vai formando sulcos no terreno e pode evoluir para grandes voçorocas. Além disso, a terra vai parar nos cursos d’água, provocando o assoreamento de rios e lagos, tornando a água suja e de má qualidade.
     Para se ter uma idéia, em solos com declividade mediana cultivados convencionalmente e sem práticas conservacionistas, é comum a perda de 20 t/ha de solo a cada ano. Esse material é proveniente justamente da camada arável, ou seja, da fração mais fértil do solo e mais rica em matéria orgânica.

Como o manejo “orgânico” contribui para a qualidade do solo?
      O manejo do solo no sistema orgânico de cultivo contribui para sua qualidade na medida em que prioriza seu uso sustentável. Na agricultura orgânica, o solo é valorizado como um recurso-chave e assim é desde seu surgimento, nos anos 1920. O revolvimento mínimo e a adição/reposição da matéria orgânica, priorizados pelo sistema orgânico, muito contribuem para a manutenção e melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo, e, conseqüentemente, para sua qualidade. Além disso, como o manejo “orgânico” preconiza o preparo conservacionista, as possibilidades de compactação e erosão são muito reduzidas.

O manejo do solo no sistema orgânico garante seu uso sustentável?
     Não se pode fazer essa afirmação porque o manejo do solo tanto no sistema orgânico como no convencional precisa ser bem feito. O que se pode dizer é que o manejo do solo no sistema orgânico tem maiores chances de ser bem-sucedido e garantir o uso sustentável desse recurso porque a preocupação com a qualidade do solo é maior. Entretanto, é preciso considerar que o manejo do solo envolve todas as práticas relacionadas com o solo, desde o preparo do solo até a adubação, sendo necessário que o produtor, orgânico ou convencional, cuide de todos os aspectos da operação ‘manejo’.


Ferreira On 12/10/2016 04:10:00 PM Comentarios LEIA MAIS

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br; 
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     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.


Capítulo 5: Manejo do Solo

Autores:  Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.

O que é manejo do solo?
     O solo é a “pele” do Planeta Terra, pois é o resultado da ação do clima, do relevo e dos organismos sobre as rochas expostas na superfície do planeta. Essas rochas vão sofrendo transformações com o tempo (muito tempo!) e o solo vai sendo formado aos poucos. Para se ter uma ideia, são necessários cerca de 400 anos para que 1 cm de solo seja formado. O processo de formação do solo ocorre de baixo para cima, ou seja, à medida que o material de origem vai sendo desintegrado e transformado, vão sendo depositadas camadas, que também vão se transformando com o tempo e dando origem a novas camadas. Já os solos localizados na parte mais baixa dos vales, nas margens dos rios e lagos , podem ser formados pela deposição de materiais , muitas vezes já transformados, que vêm das partes mais altas.
     Na atividade agrícola, trabalha-se com uma pequena porção do solo, a mais superficial, chamada de camada arável. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Dessa forma, tudo que acontece com o solo tem algum reflexo, positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte.

O que é manejo do solo?
     Manejo do solo é o conjunto de todas as práticas aplicadas a determinado solo visando à produção agrícola. Inclui operações de cultivo, práticas culturais, práticas de correção e fertilização, entre outras. É a forma de cultivar e tratar o solo.

Como é feito o manejo do solo nos sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
     De forma geral, práticas tradicionais de conservação do solo, como o plantio em curva de nível, a formação de faixas de retenção e cordões, são utilizadas também na agricultura orgânica. No entanto, a agricultura orgânica vê o solo como o centro de todo o processo produtivo, valorizando-o como recurso-chave. Por isso, o manejo orgânico prioriza práticas que proporcionem a manutenção e a melhoria da qualidade do solo, por meio do revolvimento mínimo e do aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade biológica. Desse modo, o manejo orgânico recomenda a manutenção de cobertura vegetal sobre o solo, a adubação verde, o cultivo mínimo, o plantio direto, entre outras práticas conservacionistas. Além disso, o manejo do solo no sistema orgânico prioriza as fontes orgânicas de nutrientes e não utiliza fertilizantes químicos de alta solubilidade. Para finalizar, é uma forma de manejar o solo “pensando em longo prazo”, ou seja, objetivando a construção da qualidade do solo com o tempo.

Quais as principais diferenças entre o manejo do solo na produção orgânica de hortaliças e na convencional?
     No caso específico da produção de hortaliças, o manejo do solo costuma ser bastante intensivo no sistema convencional. Muitas vezes são utilizadas quantidades excessivas de fertilizantes, o que pode causar desequilíbrios químicos no solo e nutricionais na cultura. Além disso, as glebas são, em geral, utilizadas continuamente, ciclo após ciclo, e, em alguns casos, com revolvimento excessivo da camada arável.
     O sistema orgânico de produção de hortaliças, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura do solo e o revolvimento mínimo. Mas a preocupação com a conservação do solo está crescendo na produção convencional e, por isso, a utilização de práticas conservacionistas, como a adubação verde e a cobertura vegetal, está ganhando cada vez mais espaço também no cultivo convencional.

O que é matéria orgânica do solo?
     De maneira bem simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria orgânica é constituída de resíduos de origem vegetal ou animal como:
. Estercos.
. Restos de cultura que ficam no campo.
. Palhadas.
. Folhas, cascas e galhos de árvores.
. Raízes das plantas.
. Animais que vivem no solo, como cupins, formigas, besouros, fungos, bactérias e outros microrganismos.
     Esses componentes da matéria orgânica podem estar vivos (como os pequenos animais) ou já em decomposição (como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura). Como tudo que foi um dia vivo é constituído de carbono orgânico, muitas vezes encontra-se o termo “carbono orgânico” como sinônimo de matéria orgânica.
     Na realidade, o carbono é o principal constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros elementos importantes, como o nitrogênio. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. Em solo muito claro, aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo.

O que é decomposição e mineralização da matéria orgânica?
     A decomposição é o processo de quebra da matéria orgânica em partes menores, feita por microrganismos decompositores presentes no solo. Esses microrganismos utilizam a matéria orgânica como alimento para sua sobrevivência e, para isso, precisam quebrá-la em pequenas partes.
     A mineralização é o resultado do processo de decomposição microbiana. Durante a decomposição,  elementos químicos que antes se encontravam na forma orgânica são convertidos para a forma mineral. Os nutrientes, elementos químicos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das culturas, só são absorvidos pelas raízes das plantas quando se encontram na forma mineral. Dos processos de decomposição e mineralização é que surgem jos principais efeitos benéficos da matéria orgânica sobre a fertilidade do solo.

Quais os benefícios da matéria orgânica para o solo?
     São vários. A matéria orgânica atua tanto na fertilidade do solo quanto em seu condicionamento físico, além de manter a vida no solo. Assim, pode-se dividir os benefícios da matéria orgânica em três categorias:
    a)    Benefícios para a fertilidade do solo (para os atributos químicos e físico-químicos do solo):
. Fornecimento de nutrientes para as cultuas (macro e micronutrientes): quando decomposta e mineralizada, a matéria orgânica torna-se fonte de nutrientes.
. Aumento da capacidade de troca de cátions (CTC) do solo: tem a capacidade de adsorver (reter) cátions (muitos nutrientes estão na forma de cátions) presentes no solo, que depois podem ser disponibilizados para as culturas.
. Aumento da superfície específica do solo: quanto maior a superfície específica, maior a capacidade de retenção de nutrientes.
. Aumento da disponibilidade de nutrientes para as culturas: por causa dos efeitos na capacidade de troca de cátions e na superfície específica.
. Complexação de substâncias tóxicas: a matéria orgânica em estágios avançados de decomposição tem a capacidade de controlar a toxidez causada por certos elementos presentes no solo em teores acima do normal e, por isso, tóxicos.
b    b)    Benefícios para o condicionamento físico do solo:
. Melhoria da estrutura do solo: tem a capacidade de agregar as partículas do solo, formando “grumos”. Esse efeito agregador desencadeia benefícios nas outras características físicas do   solo.
      . Densidade do solo: redução da densidade aparente do solo, tornando-o mais “leve” e solto.
      . Porosidade do solo: melhoria da circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo.
   . Capacidade de retenção e infiltração de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
c      c)     Benefícios para a biota do solo:
. Atua como uma fonte de alimento para microrganismos decompositores, que a utilizam como substrato e são responsáveis pela decomposição e mineralização da matéria orgânica no solo.
      . Aumenta a população de minhocas, besouros, fungos, bactérias e outros organismos benéficos para a manutenção da vida no solo.

Quando é preciso adicionar ou repor matéria orgânica?
     Existe uma pequena fração da matéria orgânica, já bem decomposta, que pode durar muito tempo no solo (até mais de 1.000 anos). Isso ocorre porque os microrganismos decompõem primeiro as moléculas menores, ou seja, a parte mais fácil de ser quebrada e, nesse processo, a parte mais “ura”, mais difícil de decompor, vai “sobrando” no solo. Porém, a maior parte da matéria orgânica adicionada ao solo é decomposta de forma relativamente rápida (de alguns meses até alguns anos), principalmente em regiões onde a temperatura e a precipitação pluvial são altas. O preparo intensivo do solo por meio do revolvimento também acelera a decomposição da matéria orgânica, pois favorece a ruptura dos agregados do solo, expondo-os mais ao ataque dos microrganismos.
     É muito mais fácil e rápido “perder” matéria orgânica do que “ganhar”. Portanto, para se manter o solo produtivo ao longo do tempo é necessário que se adicione ou reponha a matéria orgânica com certa frequência. O ideal é que a cada cultivo se adicione matéria orgânica ao solo. No entanto, a frequência da adição ou da reposição depende do ciclo da cultura em questão e do sistema de cultivo. Mas, como existem várias maneiras de se manter e aumentar o teor de matéria orgânica do solo, uma delas, com certeza, será adequada para cada caso.

Quais as maneiras de se repor ou adicionar matéria orgânica ao solo?
     Uma das maneiras de se repor ou adicionar matéria orgânica ao solo é a utilização de estercos animais. Na produção de hortaliças, são utilizados estercos de aves, de bovinos, equinos e caprinos. É preciso lembrar que não se deve utilizar esterco de suínos na produção de hortaliças, pois algumas doenças que acometem os porcos podem ser transmitidas ao homem pela ingestão de alimentos contaminados.
     Os estercos animais são material orgânico de fácil decomposição e, por isso, são decompostos rapidamente, principalmente o esterco de aves. Assim, seu principal benefício é o suprimento de nutrientes ás culturas, pois, como não “duram” muito, não são bons condicionadores físicos do solo.
     Outros materiais, provenientes da própria fazenda ou de agroindústrias, também podem ser boas fontes de matéria orgânica, sendo utilizados puros ou junto com os estercos em compostagem.
     Dentre esses materiais podem-se citar alguns exemplos como:
. Palhas de milho, de aveia, arroz, feijão e café.
. Capim-gordura, capim-guiné, capim-meloso, entre outros capins.
. Serragem de madeira.
. Bagaço de cana.
. Tortas de algodão e de mamona.
     É importante ressaltar que o produto deve priorizar resíduos produzidos na propriedade ou resíduos agroindustriais da região, a fim de facilitar e baratear custos. Uma alternativa prática e eficaz para se adicionar matéria orgânica ao solo é a adubação verde que proporciona ao produtor a produção de matéria orgânica diretamente na área de cultivo.




Ferreira On 11/10/2016 02:09:00 PM Comentarios LEIA MAIS

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
    
     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.

Capítulo 3: Organização da Propriedade

Autores: Francisco Vilela Resende e Mariane Carvalho Vidal.

Por que o sistema orgânico de produção se contrapõe à monocultura?
     O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas peculiares para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica. Essa diversidade é o principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas.
     Nos cultivos especializados, onde prevalece apenas uma cultura de interesse econômico, deve-se estabelecer algum grau de diversificação, que é conseguido com a inserção de áreas de refúgio e/ou cordões de contorno com espécies variadas, consórcios com adubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com o manejo das plantas espontâneas.

Como é feita diversificação do sistema?
     O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do estabelecimento do equilíbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espécies de interesse econômico, arbóreas, atrativas e ornamentais. Deve-se atentar também para o papel fundamental das espécies espontâneas no processo de diversificação. Dessa forma, procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço pela incorporação de características de ecossistemas naturais, como:
- Reciclagem de nutrientes.
- Uso de fontes renováveis de energia.
- Manutenção das relações biológicas que ocorrem naturalmente.
- Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos de fora do sistema.
- Estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas agrícolas e animais adaptados às condições ecológicas da propriedade.
- Ênfase na conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

Como deve ser dividida a área de cultivo em um sistema orgânico de produção de hortaliças?
     A produção orgânica de hortaliças exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que, preferencialmente, não ultrapassem 1.000 m2 , com elementos que promovam o condicionamento climático das culturas e a preservação da biodiversidade.
O uso intensivo das áreas associado a ciclos sucessivos de cultivo exige maior atenção dos produtores de hortaliças na construção e proteção dos talhões. O talhão possui papel fundamental na administração da propriedade e gerenciamento das atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, pois na produção de hortaliças há grande movimentação de mão-de-obra e insumos, o que exige eficiência no funcionamento do sistema, visando facilitar a administração e reduzir os custos da atividade.
A delimitação dos espaços físicos da horta é feita por carreadores principais e secundários. O dimensionamento dos carreadores deve ser realizado de forma a perder o mínimo possível de área produtiva. Os caminhos secundários devem apresentar dimensões de 30 cm de largura, no máximo, para permitir apenas o trânsito de pessoas e carrinhos de mão. Os carreadores principais devem ser dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entrada de máquinas e equipamentos para transporte de insumos e escoamento da produção.

O que são cordões de contorno?
     São faixas de vegetação que circundam a propriedade, permitindo isolamento das áreas de cultivo convencional circunvizinhas, e utilizados também para divisão dos talhões de cultivo. É um componente fundamental na organização de uma propriedade orgânica voltada para a produção de hortaliças. Apresentam múltiplas finalidades como o funcionamento como barreiras fitossanitárias, dificultando a livre circulação de pragas e doenças entre propriedades vizinhas e entre os talhões de cultivo; a criação de microclimas mais propícios ao cultivo de hortaliças; a formação de áreas de refúgio e abrigo para inimigos naturais de pragas e outros pequenos animais úteis. Resumindo, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e é fundamental para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica.

Como são formados e que espécies podem ser usadas nos cordões de contorno?
     Essas faixas podem ser formadas por uma ou várias espécies, incluindo a própria vegetação natural. Espécies que podem servir como fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena, hibiscos, flor do mel (girassol mexicano), espécies fixadoras de nitrogênio, como os adubos verdes, espécies atrativas para insetos e pequenos animais, e plantas de interesse econômico, visando à complementação de renda da atividade principal também podem ser utilizadas. É importante preocupar-se com a diversidade dos cordões de contorno para garantir que se tornem abrigos de biodiversidade, procurando combinar espécies que atendam aos requisitos descritos.

Podem-se usar espécies de interesse econômico nos cordões de contorno?
     Alguns produtores orgânicos não aceitam ou não podem dispor dentro da propriedade de áreas de cultivo com espécies que não tenham interesse econômico. Dessa forma, aproveitam as áreas dos cordões para a introdução de espécies que, além de formarem cordões, possam prover-lhes algum retorno econômico e não causem prejuízos à cultura ou às culturas principais. Podem-se destacar, como exemplo, a banana, o café, o mamão, outras espécies frutíferas, plantas melíferas, condimentares, medicinais e ornamentais ou uma combinação dessas espécies.

O que são áreas de refúgio?
     São áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos e as comunidades de plantas invasoras ou espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.

O que são áreas de pousio?
     Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o descanso do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo. O agricultor deve prever esse período no planejamento da horta, pois para produção de hortaliças, que utiliza intensamente os recursos do solo, essa prática é fundamental.

Qual a importância da rotação de culturas para sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
     Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemas orgânicos de produção é a exploração equilibrada do solo, por meio do emprego de práticas como a alternância de culturas e a sucessão vegetal, levando ã prática da rotação de culturas nas diversas unidades de solo de uma propriedade agrícola.
  Deve-se estabelecer uma escala de exigência em adubação e manter o terreno permanentemente coberto. Essas práticas conjugadas permitem explorar os nutrientes do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rústicas), que exploram profundidades diferentes do solo pela diferença na estrutura radicular.
     Outro aspecto igualmente importante da rotação, e também do consórcio de hortaliças, é evitar a proliferação e acúmulo de doenças e pragas, que em um sistema intensivo de cultivo pode ocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a rotação de culturas é uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e o controle de pragas e doenças.

Como deve ser o manejo das rotações dentro dos talhões ou das áreas de produção de hortaliças?
     A divisão dos talhões em faixas de cultivo auxilia na implantação de esquemas de rotação. Nessas faixas, alterna-se o cultivo de adubos verdes com diferentes famílias de hortaliças. Nesse esquema, é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes. No caso das hortaliças que se adaptam melhor aos cultivos de inverno, época em que o olericultor obtém maiores rendimentos, deve-se evitar a prática de rotação com adubos verdes, permitindo que a área fique integralmente ocupada pelas culturas de interesse econômico. No verão, reserva-se uma área maior para o plantio de espécies de adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estação. Dessa frma, pratica-se a recuperação anual das áreas de produção.
Outra estratégia importante de manejo é evitar o acúmulo de inóculos de organismos patogênicos, uma vez que as sucessões provocam uma quebra do ciclo biológico desses organismos pela alternância de espécies. Exemplificando, o plantio sucessivo de espécies de solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.) na mesma área pode elevar a incidência de patógenos foliares e de solo nessas culturas.

Qual a regra geral para a boa rotação de culturas?
     Na rotação, o produtor pode utilizar um esquema seguindo as diferentes características de cada grupo de hortaliças: folhosas, raízes/tubérculos e flores/frutos. Como cada espécie se desenvolve de uma forma e tem um sistema radicular próprio e diferenciado, também explora o solo e retira os nutrientes de forma diferenciada. Logo após o preparo e a adubação inicial do solo, deve-se cultivar hortaliças mais exigentes, seguindo-se com espécies cada vez menos exigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando o esquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre um intervalo entre um ciclo para descanso e recuperação do solo (pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilização dos adubos verdes para recomposição e manutenção do solo.

O que é consorciação/associação de culturas?
     O sistema de consórcio caracteriza-se pelo plantio simultâneo de duas ou mais culturas na mesma área. É uma das práticas mais importantes para o cultivo de hortaliças no sistema orgânico, pois abrange aspectos tanto ambientais quanto econômicos.
     A consorciação permite otimizar a produção pelo melhor aproveitamento da área explorando a combinação de espécies eficientes na utilização dos recursos de produção como espaço, nutrientes, água e luz. O consórcio entre espécies de hortaliças está sendo adotado amplamente em áreas de cultivo orgânico em todo o país, principalmente por pequenos agricultores orgânicos que buscam nessa técnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seus escassos recursos de produção. Assim procuram maximizar seus lucros, aproveitando melhor a área, os insumos e a mão-de-obra.

Quais as vantagens da consorciação de culturas?
     A eficiência e as  vantagens de um sistema consorciado estão na complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa complementariedade é maior à medida que se consegue minimizar os efeitos negativos de uma cultura sobre a outra. O consórcio, além de permitir o uso mais intensivo da área de plantio, confere maior diversidade biológica e produção por unidade de área, garante renda extra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental em relação à monocultura. Para evitar a manutenção de áreas com plantio de espécies que não tragam retorno econômico, os produtores podem utilizar o consórcio entre a cultura de interesse comercial e outra espécie que apresente funções importantes, como atração de inimigos naturais, repelente de insetos, adubos verdes, etc. Um exemplo clássico dessa associação ocorre entre milho e mucuna. O plantio sincronizado dessas espécies permite que a floração da leguminosa coincida com a seca da planta de milho, originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode ser utilizada no cultivo de várias hortaliças. O olericultor obtém ainda retorno econômico com a comercialização das espigas de milho ainda verdes.

Que tipos de consórcio podem ser utilizados para hortaliças?
     Embora existam muitas possibilidades de combinação de hortaliças em consórcio, são mais comuns os consórcios em faixas e em linhas.
     No consórcio em linha, são intercaladas linhas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Pode-se consorciar alface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimentão e feijão guandu anão, tomate e crotalária, entre outras.
     No consórcio em faixas, são intercaladas faixas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Em alguns casos, essas faixas podem se confundir com os próprios canteiros. Pode-se agrupar as hortaliças companheiras, como cenoura e tomate, batata e repolho, tomate e cebola, cebola e pepino, alface e rúcula, abóbora e chicória, repolho e arruda, entre outras.

Qual o objetivo de se associar plantas repelentes e/ou atrativas à cultura principal no sistema orgânico?
     As plantas com sabor e cheiro forte são chamadas atrativas ou repelentes, pois possuem substâncias que afastam ou inibem a ação de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturas pode proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratégia de manejo agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feito isoladamente, e sim, em conjunto com outras técnicas de controle, sempre buscando a promoção do equilíbrio ecológico em toda a propriedade agrícola.

Quais as plantas atrativas e repelentes mais comuns e para que servem?
     As plantas atrativas e repelentes mais comuns são:
. Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre (Tagetes sp.) – Repelente de insetos e nematóides, principalmente no florescimento. Atua tanto por ação direta contra as pragas quanto por “disfarce”das culturas por seu forte odor.
. Cinamomo (Melia azedorach L.) – Ação inseticida. Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos armazenados.
. Saboneteira (Sapindus saponaria L.) – Ação inseticida. Para se ter uma ideia de seu poder de ação, apenas seis frutos bastam para preservar 60 kg de grãos armazenados.
. Quássia ou pau-amargo (Quassia amara) – Ação inseticida, especialmente contra moscas e mosquits, pelo alto teor de substâncias amargas na casca e na madeira.
. Mucuna (Mucuna spp.) e crotalária (Crotalaria spp.) – Ação nematicida.
. Coentro (Coriandrum sativum) – Ação repelente. Tem-se observado redução significativa de frutos de tomateiro perfurados por insetos quando seu plantio é associado ao de coentro.
. Arruda (Ruta graveolens) – Ação repelente. Evita a lagarta em folhosas, como o repolho.
. Manjericão (Oncimum basilicum) – Por causa do forte odor e compostos que exala, é um repelente de insetos.
Gergelim (Sesamum indicum) – Cordões de contorno com gergelim oferecem excelente proteção contra saúvas e outras formigas cortadeiras.
. Purungo ou cabaça (Lagenaria vulgaris) – Atrativo para o besourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-se utilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura.
. Tajujá (Cayaponia tayuya) – Atrativa para as vaquinhas.
     Geralmente, plantas aromáticas, medicinais e condimentares são menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, uma boa opção para compor  canteiros na horta, próximo às culturas. Outros exemplos dessas plantas são artemísia, alecrim, menta, tomilho, losna , funcho, hortelã, etc.

As plantas espontâneas podem contribuir para o manejo do sistema orgânico ou devem ser sempre eliminadas?
     As plantas que crescem junto com as espécies cultivadas são consideradas invasoras ou espontâneas e não plantas daninhas. Assim, como outros vegetais, as plantas invasoras contribuem para:
. Cobertura e proteção do solo.
. Reciclagem mais eficiente de nutrientes.
. Melhoria das condições físicas do solo pelo aumento dos teores de matéria orgânica.
. Rompimento de camadas compactadas.
. Diversificação do ambiente.
     Essas espécies devem ser manejadas adequadamente para que permitam o convívio sem prejuízos para a cultura de interesse econômico. Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar a presença das ervas próximo à cultura de interesse comercial, deixando-se uma estreita faixa de vegetação nas entrelinhas de plantio. Em culturas omo berinjela, jiló, abóbora, quiabo e outras, deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roçadas leves no restante da área.
     No caso de hortaliças de canteiro, recomenda-se capinas nos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetação dos careadores ou apenas roçando-a quando estiver dificultando os tratos culturais. O controle de invasoras tem sido feito com o emprego de práticas mecânicas, como aração, gradagem, cultivos, roçadas, amontoas e capinas manuais, conforme a necessidade de redução das invasoras e, ainda, com o uso de plantas com efeitos alelopáticos, adubação verde, cobertura morta, cobertura viva, rotação e a consorciação de culturas.

Existe alguma forma de se plantar hortaliças sem canteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo?
     Para algumas hortaliças é possível evitar o uso de canteiros fazendo o plantio em covas ou sulcos e até mesmo o plantio direto sobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais a decomposição da matéria orgânica pode ser acelerada com o excesso de revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo do solo deve ser evitado ou minimizado sempre que possível. Recomenda-se o uso de canteiros semidefinitivos, restringindo ao máximo a entrada de máquinas nas áreas de cultivo. Dessa forma, seguindo os princípios já mencionados da rotação de culturas, após o preparo, e da adubação inicial do solo, cultiva-se uma sucessão de hortaliças progressivamente menos exigentes em nutrientes, sem que haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessário, pode-se complementar a adubação inicial com aplicações em cobertura, fazendo-se apenas uma leve incorporação superficial.




Ferreira On 10/10/2016 01:27:00 PM 1 comment LEIA MAIS

sábado, 10 de setembro de 2016

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do e-mail: vendas@sct.embrapa.br; 
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf

     
     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.

Capítulo 2: Legislação e Certificação

Autores: Tereza Cristina de Oliveira Saminêz; Rogério Pereira Dias; Roberto Guimarães Habib Mattar; Fabiana Cóes de Almeida Nobre e Jorge Ricardo de Almeida Gonçalves.

Por que é importante uma legislação sobre a agricultura orgânica?
Porque a legislação estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos e observados por todos que integram a rede de produção orgânica. Além disso, estabelece legalmente conceitos, definições e princípios relacionados à agricultura orgânica.

Qual a legislação brasileira vigente sobre agricultura orgânica?
A Lei no 10.831 de 23/12/2003, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007 dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras providências. O acesso a essa legislação está disponível no site: http://www.cidasc.sc.gov.br/fiscalizacao/files/2012/08/DECRETO_N_6323.pdf

A Lei no 10.831, do Ministério da Agricultura, dispõe sobre o quê?
Esta lei é o principal marco legal da agricultura orgânica brasileira, que estabelece critérios para a comercialização de produtos, define responsabilidades pela qualidade orgânica, pelos procedimentos relativos à fiscalização, à aplicação de sanções, ao registro de insumos e à adoção de medidas sanitárias e fitossanitárias que não comprometam a qualidade orgânica dos produtos.

O que é a avaliação da conformidade orgânica?
É o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processo está adequado às exigências específicas da produção orgânica. A avaliação da conformidade orgânica é feita pela certificação por auditoria e pelos mecanismos de organização com controle social.

Quais os mecanismos de organização com controle social utilizados na avaliação, garantia e informação da qualidade orgânica?
Os mecanismos de organização com controle social são os próprios produtores organizados localmente, garantindo e informando diretamente aos consumidores a qualidade orgânica de seus produtos, e os sistemas participativos de avaliação da conformidade orgânica.

Como ocorre a verificação, garantia e informação da qualidade orgânica no processo de relação direta entre produtores e consumidores?
A garantia está na relação direta entre produtores e consumidores, que permite a estes últimos conhecerem e confiarem nos produtores e nos processos produtivos, tendo os produtores o mecanismo de organização com controle social, formalizado ou não. Na organização social há co-responsabilidade entre os produtores envolvidos no processo, podendo a veracidade da qualidade da produção de um produtor ser verificada e garantida por outro produtor, e ocorrer, também, a reafirmação da idoneidade quando do envolvimento de empresas de assistência técnica de caráter público ou privado.

Como ocorre a verificação, garantia e informação da qualidade orgânica nos sistemas participativos de avaliação da conformidade orgânica?
São sistemas socioparticipativos de organização com controle social, normalmente em forma de rede, de abrangência regional, com o envolvimento de produtores, técnicos e consumidores. A rede é organizada em núcleos que reúnem grupos de produtores, consumidores e entidades de uma região com características semelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca de informações e a participação. Assim, há a participação efetiva de todos os envolvidos no processo e, na maioria das vezes, os consumidores também fazem visitas de inspeção às propriedades, onde todos assumem a co-responsabilidade pela qualidade dos produtos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, é um sistema solidário de geração de credibilidade. Como exemplos, podem-se citar a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, com abrangência de atuação na Região Sul do País, a Associação de Certificação Sócio-Participativa (ACS), na Região Norte, a Certificação Participativa da Rede Cerrado, na Região Centro-Oeste, e a Rede Xique-Xique de Certificação Participativa, na Região Nordeste.

A Lei n. 10.831, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007, reconhece os mecanismos de organização com controle social utilizados na avaliação da conformidade orgânica?
Os mecanismos de organização com controles sociais utilizados na avaliação da conformidade orgânica foram reconhecidos e garantidos no texto da lei 10.831, que garante a isenção de certificação para a comercialização direta de produtos orgânicos por produtores familiares, inseridos em processo de organização com controle social e cadastrados em órgão fiscalizador conveniado. Para produtos comercializados de forma indireta ou por produtores não familiares, os produtores terão que certificar seu processo produtivo, pelo sistema participativo de avaliação da conformidade ou pela certificação por auditoria. A regulamentação da Lei 10.831 prevê também a fiscalização pelos órgãos competentes dos mecanismos de organização com controle social utiliados para a avaliação da conformidade orgânica.

O que é certificação por auditoria?
É a avaliação da conformidade orgânica pela qual a garantia da qualidade orgânica do produto, obtida em determinada unidade de produção, é dada por uma terceira parte, a certificadora, não envolvida no processo produtivo, que é uma instituição que inspeciona as condições técnicas, sociais e ambientais e verifica se estão de acordo com as exigências dos regulamentos específicos da produção orgânica. A certificação é concretizada com a assinatura de contrato entre certificadora e representante legal da unidade de produção, com consequente autorização para utilização da marca da certificadora. A unidade certificada passa a receber inspeções no mínimo duas vezes ao ano, para verificação da conformidade, e o inspetor produz um relatório onde os critérios de conformidade são listados e avaliados. As certificadoras possuem normas próprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei 10.831 prevê que as certificadoras devem se credenciar no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O que é um produto orgânico certificado?
É o produto que possui as características de conformidade orgânica, podendo usar um selo de qualidade, autorizado pela certificadora ou pelo sistema socioparticipativo de avaliação da conformidade orgânica.  

O que é o selo de qualidade orgânica de um produto certificado?
É um selo que identifica os produtos e insumos orgânicos com essa qualidade específica. Após passar por todas as etapas de avaliação da conformidade orgânica, uma unidade de produção está apta a usar esse selo em seus produtos. Cada organismo de avaliação da qualidade orgânica e/ou certificadora possui selo próprio. A lei 10.831 prevê a criação de um selo para o sistema brasileiro de avaliação da conformidade orgânica, que será o selo oficial do governo brasileiro para os produtos avaliados por entidades (certificadoras e outros organismos de avaliação da conformidade orgânica) credenciadas nos órgãos competentes. O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidade quanto o oficial, sendo este último de uso obrigatório.

Como solicitar a certificação de produtos orgânicos?
Depois de adotar as práticas de manejo exigidas pelos regulamentos da produção orgânica, a unidade de produção está apta a solicitar a certificação, feita por uma entidade que avalia a conformidade orgânica, isto é, que analise todo o processo produtivo e socioambiental da área. É aconselhado solicitar que a certificadora escolhida faça uma visita de pré-certificação, quando será definido o período de conversão da unidade produtiva, com base num plano de manejo com a forma de implantação das exigências específicas da produção orgânica.

O que as certificadoras exigem?
As certificadoras e os demais organismos de avaliação da conformidade orgânica exigem que os processos e produtos utilizados no sistema de produção orgânico estejam de acordo com as normas específicas da produção orgânica. O sistema de controle da produção orgânica exige ainda que haja rastreabilidade, isto é, o produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificado de maneira que se possa chegar à sua origem.

Todas as certificadoras usam os mesmos critérios para certificar a produção orgânica?
Não. As certificadoras e os organismos de avaliação da conformidade orgânica podem exigir particularidades no sistema de produção da unidade, de acordo com suas normas específicas. Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinada entidade, o produtor deve cumprir as exigências previstas, mas as normas devem obrigatoriamente atender às exigências contidas nos regulamentos oficiais. Por exemplo: algumas entidades não permitem uso de estercos de animais na adubação, ao passo que outras exigem o uso de insumos específicos para que o produto receba uma classificação diferenciada. As normas podem ser solicitadas diretamente às certificadoras, ou acessadas pela internet, em seus respectivos sítios.

Quais as vantagens de se ter um produto orgânico certificado?
Ao colocar no mercado um produto com selo orgânico, o produtor pode obter vantagens em relação ao produto convencional, pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferência a um produto cuja qualidade envolva atributos relacionados à saúde, à justiça social, à conservação e preservação ambientais, como é o caso do produto orgânico, especialmente quando há preços competitivos. Outra vantagem para o produtor é o aumento da preferência pela aquisição do produto orgânico pelos mercados institucionais, como as escolas, os hospitais e o programa de Aquisições do Governo Federal (AGF), em que o produto orgânico alcança valorização de cerca de 30% em relação ao convencional.

O que é conversão?
Conversão é o período de tempo mínimo necessário para uma unidade de produção ser considerada apta a receber a classificação de “orgânica”, após ter cumprido todas as exigências específicas para a produção orgânica.

Como fazer a conversão da área?
Para fazer a conversão, a unidade de produção deve adotar as técnicas agropecuárias preconizadas nos regulamentos oficiais para a produção orgânica e procurar se adequar às especificidades das normas de produção da certificadora que pretende contratar. Na conversão, não são considerados apenas os aspectos normativos, mas também os biológicos e educativos.  

Qual o tempo necessário para fazer a conversão da área pelas leis atuais?
O período de conversão, previsto na regulamentação da Lei 10.831, será variável de acordo com o tipo de exploração e a utilização anterior da unidade de produção. Para a produção vegetal, esses períodos serão definidos de acordo com as seguintes condições:
- Mínimo de 12 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas anuais, para que a produção do ciclo subsequente seja considerada orgânica.
- Mínimo de 18 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas perenes, para que a colheita subsequente seja considerada orgânica.
- Mínimo de 12 meses de manejo orgânico ou pousio na produção vegetal de pastagens perenes.

Qual o tempo necessário para fazer a conversão da área pelas certificadoras?
As normas de produção da certificadora ou de outros organismos de avaliação da conformidade orgânica prevêem períodos diferentes para o tempo de conversão, dependendo de alguns fatores, como uso anterior da área, produtos químicos sintéticos utilizados no sistema convencional antes da conversão, a situação ecológica e social atual (adequação às exigências ambientais e cumprimento da legislação trabalhista) e o tempo necessário para o treinamento dos colaboradores nas práticas ecológicas.

Como saber se a área já pode ser considerada orgânica?
Após implementar o plano de manejo da unidade de produção, cumprir os prazos exigidos para o período de conversão, receber a visita do organismo de avaliação da conformidade orgânica, a certificadora ou outro organismo de avaliação da conformidade orgânica avaliará o pedido de certificação com base no relatório de inspeção (visita à unidade produtiva). A avaliação da solicitação de certificação é realizada por um conselho de certificação, que aprova as condições técnicas, ambientais e sociais da unidade de produção.

Quais os impactos do período de conversão nos aspectos econômicos e ecológicos da propriedade?
Na dimensão econômica, os maiores riscos de abandonar a atividade, em curto prazo, ocorrem na fase de conversão, daí a necessidade de financiamento e incentivos específicos a esse período, para que os produtores permaneçam na atividade, até que a fase de conversão termine e haja condições de o agricultor comercializar sua produção como orgânica. No período de conversão também ocorrem deficiências na integração de atividades como lavoura, pecuária e floresta, acarretando maior dependência de insumos externos, o que dificulta o equilíbrio dos fatores econômicos por causa do aumento de custos com insumos.
Na dimensão ecológica, analisando os aspectos internos do sistema, percebe-se que as unidades com maior dificuldade no processo de conversão são as que apresentam os recursos naturais mais degradados, pouca diversificação e falta de integração das atividades. Diversos estudos têm demonstrado que a agricultura orgânica é uma alternativa sustentável, demonstrando que, à medida que ocorre a consolidação do sistema orgânico de produção, existe a tendência de equilíbrio entre as diferentes dimensões da sustentabilidade. Além disso, a conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica, apesar de ser uma etapa delicada nos primeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo um impacto favorável ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente.






Ferreira On 9/10/2016 01:16:00 PM Comentarios LEIA MAIS

sábado, 10 de dezembro de 2016

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 5: Manejo do Solo

Autores:  Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.

De que modo a compostagem ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
     A compostagem é uma maneira mais eficiente de se utilizar os estercos e o material volumoso (capins, resíduos vegetais). É um processo de decomposição “forçada” da matéria orgânica em ambiente aeróbico (na presença de ar). O material é empilhado, geralmente na proporção de três pilhas de volumoso para uma pilha de esterco, e é revirado de 15 em 15 dias, quando é também umedecido. Como resultado, obtém-se, após um período aproximado de 90 dias, um produto parcialmente mineralizado, ou seja, mais eficiente como fonte de nutrientes para as culturas e, além disso, higienizado. O composto também apresenta outra vantagem em relação ao esterco não compostado: por ter um volumoso em sua formação, geralmente palhada e capim, permanece mais tempo no solo, funcionando também como um condicionador físico e melhorando sua estrutura.

De que modo a adubação verde ajuda a manter ou repor a matéria orgânica?
     A adubação verde é uma prática excelente em quantidade e qualidade de matéria orgânica. Em quantidade, porque os adubos verdes produzem muita massa vegetal e, em qualidade, porque essa massa é muito rica em nutrientes. Além disso, como se decompõe mais lentamente no solo, em comparação com os estercos e composto, a matéria orgânica proveniente dos adubos verdes é um ótimo condicionador físico de solo.
     Os adubos verdes podem ser utilizados em esquemas de rotação, sucessão ou consórcio com as hortaliças. Muitos produtores não utilizam essa prática porque não querem ou não podem deixar a área “parada” por um tempo (enquanto os adubos verdes crescem e chegam ao ponto ideal de corte). O consórcio, porém, é uma boa alternativa para esses casos. Algumas hortaliças podem ser consorciadas sem problema com os adubos verdes, mas é preciso saber qual a melhor época de plantio do adubo verde em relação à da cultura, para não haver competição.

Como é feito o manejo dos adubos verdes?
     O manejo dos adubos verdes depende do objetivo de sua utilização. Sua massa vegetal pode ser tanto incorporada ao solo quanto mantida na superfície. No primeiro caso, os processos de decomposição e mineralização acontecem mais rápido e, conseqüentemente, os efeitos positivos na melhoria da fertilidade e no condicionamento do solo aparecem mais cedo. Essa é a melhor alternativa de manejo dos adubos verdes quando se objetiva o fornecimento de nutrientes para a cultura sucessora. No segundo caso, a massa vegetal fica disposta sobre o solo após seu corte e, por isso, se decompõe mais devagar. Essa é uma boa alternativa quando o objetivo principal é proteger o solo contra a erosão e contra o surgimento de plantas espontâneas problemáticas. Nesse caso, os adubos verdes são utilizados como cobertura vegetal. Se essa cobertura vegetal for realizada visando à produção de palhada para o sistema de plantio direto ou para o cultivo mínimo, dará origem ao que se chama de cobertura morta.

Qual a situação ideal para manter ou repor a matéria orgânica num sistema orgânico de produção de hortaliças?
     Uma situação ideal seria aquela em que o produtor orgânico pudesse aliar um esterco curtido e de boa qualidade, ou um composto bem produzido, com a prática da adubação verde ou da cobertura vegetal. Assim, consegue-se manter os teores de matéria orgânica e propiciar a manutenção, e mesmo a melhoria, da qualidade do solo ao longo do tempo. Além disso, deve-se adotar o preparo conservacionista do terreno, evitando-se o revolvimento excessivo.

Como é feito o preparo do solo no cultivo orgânico de hortaliças?
     O preparo do solo no cultivo orgânico de hortaliças procura ser conservacionista, priorizando a movimentação mínima do terreno. Recomenda-se fazer as operações de aração e gradagem apenas no primeiro ano e utilizar, nos anos seguintes, mecanização reduzida, mantendo o solo coberto, e fazer o novo plantio sem fazer novo preparo.

Pode-se utilizar o sistema de plantio direto no cultivo orgânico de hortaliças?
     Sim. Esse é um sistema de plantio conservacionista que pode ser utilizado no cultivo orgânico de hortaliças. Entretanto, o que ocorre é que muitas pessoas acreditam que o plantio direto está necessariamente vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Da mesma forma que se faz capinas manuais ou com enxadas em sistemas orgânicos com revolvimento de solo, também se faz o mesmo em sistemas orgânicos com plantio direto. É importante que a área apresente baixa ocorrência de plantas espontâneas problemáticas, como tiririca, losna ou trapoeraba. Outro ponto importante é o entendimento de que é essencial trabalhar para a construção da fertilidade, utilizando rotação de culturas adequada, pensando em longo prazo e não somente na safra corrente.

Qual a definição de sistema de plantio direto e qual a diferença entre plantio direto e cultivo mínimo?
     No meio técnico, ainda não há consenso em relação a conceitos e definições. Entretanto, a maioria dos profissionais concorda com a seguinte terminologia:

a)Plantio direto: é um sistema de plantio que visa maximizar a produção em longo prazo, considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, baseado em três princípios básicos:       
• Revolvimento mínimo do solo, restrito à cova ou sulco de plantio.
• Rotação de culturas.
• Cobertura do solo.

b) Cultivo mínimo: é um sistema intermediário de plantio, entre o convencional e o direto, que visa maximizar a produção em longo prazo, considerando os custos indiretos advindos da atividade agrícola, mas que não atende a um dos três princípios básicos do plantio direto. Como exemplo de cultivo mínimo pode-se citar o cultivo de cebola em área cultivada com milho, passando-se a grade niveladora fechada sobre a palhada para homogeneizar a área e facilitar o plantio ou transplantio da cebola, mantendo a palhada em cobertura e revolvendo o solo em área total apenas superficialmente. É importante mencionar que o plantio diretamente no local definitivo após o preparo de solo em vez da tradicional formação de mudas, como ocorre no plantio de cebola e beterraba, é chamado por vezes de plantio direto, no setor de hortaliças. Entretanto, tratase, na verdade, de um método de cultivo – o de semeadura direta – distinto do sistema de plantio direto.

Que hortaliças podem ser cultivadas no sistema de plantio direto e no cultivo mínimo?
     Há diversas espécies que se adaptam facilmente ao sistema de plantio direto, como couve, repolho, couve-flor, brócolis, berinjela, jiló, abobrinha, abóboras, tomate, pimentão, entre outras. Basicamente, podem ser cultivadas nesse sistema todas as espécies plantadas em espaçamento relativamente aberto, o suficiente para permitir fáceis capinas depois do transplantio. Culturas como cebola, beterraba, alho, alface, entre outras, apresentam dificuldades em relação à manutenção da população de plantas espontâneas em níveis abaixo do competitivo com a cultura. Entretanto, para pequenas áreas e quando se dispõe de mão-de-obra, é possível seu plantio, especialmente em cultivo mínimo, desde que se tenha mais cuidado na fase de formação de palhada.
     Algumas culturas apresentam verdadeira limitação ao cultivo em sistemas de plantio direto, como cenoura, mandioquinha-salsa, batata-doce e batata. A cenoura necessita de solo extremamente solto em virtude da frágil dominância apical de suas raízes, o que leva à formação de raízes tortuosas ou bifurcadas em caso de qualquer impedimento físico, por mínimo que seja. A mandioquinha-salsa e a batata-doce necessitam de leiras para a formação de raízes e para evitar o acúmulo de água no pé das plantas, no caso da mandioquinha-salsa. A batata necessita de amontoa para a formação dos tubérculos, e o aspargo, para a formação dos brotos. Entretanto, há casos de cultivo mínimo de batata em que o plantio é feito em sulcos sobre a palhada, quebrando-se o sistema por ocasião da amontoa, de 25 a 30 dias após o plantio.

O que é cobertura morta?
     É a palhada disposta sobre o solo para a realização do plantio direto ou do cultivo mínimo. A obtenção da cobertura morta pode ser feita de duas maneiras: pela importação de palhada de outra área, como se faz tradicionalmente na cultura do alho comum, e pelo cultivo de plantas de cobertura, fornecedoras de palhada, e seu manejo (corte) no próprio local. Produzindo a palhada no próprio local, o agricultor está respeitando o princípio da sustentabilidade, preconizado pelos sistemas orgânicos de produção, reduzindo a importação de insumos.
     A busca de palhada em outro local garante a cobertura do solo, mas não o efeito de estruturação do solo promovido pela “aração biológica”, que consiste na decomposição do sistema radicular das culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor de matéria orgânica. Que materiais podem ser utilizados como cobertura morta? Há inúmeras espécies que podem ser utilizadas para produção de cobertura morta, tanto em cultivo “solteiro” como no consorciado. Espécies de adubos verdes, sejam leguminosas, gramíneas ou plantas de outras famílias, podem ser utilizadas como plantas de cobertura. Plantas de interesse econômico, como milho, especialmente milho verde, soja hortaliça, ervilha, etc., também podem ser utilizadas na produção de palhada. Para todas essas plantas de cobertura existe a possibilidade de produção de sementes na própria propriedade, sendo inclusive difícil encontrar fornecedores de sementes de algumas delas.

De que depende a escolha da planta de cobertura?
     A escolha da planta de cobertura depende de diversos fatores, como:
 • Clima.
 • Esquema de rotação de culturas, devendo-se considerar o tempo disponível para a formação de palhada.
• Capacidade das plantas de hospedarem pragas e patógenos.
• Características físicas do solo, como camadas compactadas.
• Características químicas do solo, como necessidade de reciclagem de nutrientes e velocidade na disponibilização de nutrientes pela cobertura morta.
• Utilidade comercial das plantas de cobertura.
     Como regra geral, se o desejado é a obtenção de cobertura morta duradoura, deve-se optar pelo plantio de gramíneas, de plantas com alta relação carbono/nitrogênio (C/N), como milho, milheto, sorgo, aveias, entre outras.
     Se, por sua vez, deseja-se obter cobertura morta de degradação mais rápida para liberação de nutrientes para a cultura sucessora, utilizam-se plantas de cobertura com relação C/N mais baixa, do grupo das brássicas, como nabo forrageiro, e das nabiças, das amarantáceas, como o amaranto, ou das leguminosas, como as mucunas, as crotalárias, o lab-lab, as sojas, o guandu, o feijão-de-porco, entre outras.

A vegetação espontânea pode ser utilizada como cobertura?
     Sim. O uso de vegetação espontânea pode ser viável. Normalmente, há predominância de gramíneas, especialmente no verão. Entretanto, é preciso observar se estão ocorrendo plantas espontâneas problemáticas, que podem competir por água e nutrientes durante o ciclo da cultura principal, inviabilizando-a.

Podem ser utilizados consórcios de plantas de cobertura?
     Sim. O uso de consórcios com plantas de diferentes famílias é muito interessante e recomendado. Um exemplo é o consórcio de milho (gramínea) e mucuna (leguminosa), tirando-se proveito do milho como fornecedor de palhada duradoura e da mucuna, como fornecedora de nutrientes, especialmente nitrogênio. Outro consórcio muito utilizado em regiões de clima ameno, e que merece destaque, é o de aveia-preta, nabo forrageiro e ervilhaca, em que a aveia-preta atua como fornecedora de palhada, a ervilhaca, como fornecedora de nutrientes, especialmente nitrogênio, e o nabo forrageiro, como descompactador. 131 132 93 É preciso lembrar que, em sistemas orgânicos de produção, deve-se optar por plantas com baixa capacidade de rebrota ou, preferencialmente, sem essa capacidade, levando em conta tanto a espécie quanto a época de corte.


Como manejar as plantas de cobertura no sistema orgânico?
     A formação de palhada deve ser feita com roçadeira ou rolofaca. No cultivo mínimo, pode-se usar grade niveladora que, aliás, só deve ser usada em casos de grande massa vegetal, e fechada, a fim de não aprofundar no solo e não incorporar a cobertura morta, que deve ficar na superfície. O corte deve ser feito antes da formação de sementes viáveis.
     O plantio em linha de espécies de cobertura para formação de palhada com alguma capacidade de rebrota pode facilitar as capinas posteriormente, fazendo-se o semeio ou o transplantio de mudas da cultura principal nas entrelinhas das plantas de cobertura.

Quais as vantagens do sistema de plantio direto?
     Alguns dos principais benefícios da adoção do plantio direto são:
• Minimização da erosão, pelo amortecimento do impacto das gotas da chuva, e minimização dos efeitos das pesadas enxurradas, tanto pela palhada quanto pela integridade da estrutura do solo, não submetido a revolvimento, mas apenas à “aração biológica”, do que resulta significativo aumento da infiltração de água e da capacidade de retenção de água no solo.
• Aumento da eficiência de uso de água e energia, pela maior infiltração da água no solo, menor escorrimento superficial e menor e vaporação, resultando em redução de até 20 % na necessidade de irrigação.
• Redução da mecanização, superior a 50 % em relação a sistemas convencionais de produção. • Elevação dos teores de matéria orgânica do solo, pela reduzida movimentação e pelo aporte de resíduos.
• Redução da infestação por plantas espontâneas, tanto por ação física, que atua como barreira, quanto por ação química, a exemplo do efeito alelopático de algumas espécies como sorgo, mucunas e outras.
• Aumento da diversidade da biota do solo, em virtude da elevação dos teores de matéria orgânica. • Redução da dispersão de doenças de solo, em conseqüência da diminuição dos respingos de água da chuva e do escorrimento superficial.
• Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas mais quentes do dia com redução de até 9 o C na palhada de superfície do solo, próximo ao coleto da planta, em relação ao solo desprotegido, e retenção do calor residual nas horas mais frias do dia.

Quais as desvantagens do sistema de plantio direto?
Os principais problemas que podem ocorrer no sistema de plantio direto são:
• Em regiões muito úmidas, o plantio direto pode favorecer o desenvolvimento de alguns fungos fitopatogênicos que sobrevivem na palhada, aumentando o inóculo inicial de doenças, mas a dispersão das doenças é mais lenta.
• Aumento da população de “corós”, de besouros consumidores de matéria orgânica que, em elevadas populações, podem atacar as raízes das plantas para alimentar-se – fenômeno já relatado em áreas de plantio direto de grãos.
• Aumento da população de cupins, consumidores de celulose, que podem atacar as raízes em caso de desequilíbrio na população e se a disponibilidade de palhada 135 95 for insuficiente em alguns períodos do ano.
• Compactação do solo, caso não ocorra o pleno estabelecimento das plantas de cobertura, em geral, em decorrência da escolha inadequada da rotação de culturas ou de seu manejo inadequado, a exemplo do excesso de pisoteio ou de trânsito de máquinas na área.
• Indisponibilização da área pelo cultivo de plantas de cobertura que muitas vezes não tem valor comercial direto. Quanto a este último item cabe citar a importância de se entender que o solo deve ser tratado e não somente explorado. Hoje, deve-se pensar em “adubar o solo” e não em adubar a planta, e a obtenção de produções satisfatórias é conseqüência do equilíbrio do solo.

Quais as conseqüências do manejo inadequado do solo?
     O manejo inadequado do solo, no sistema orgânico de produção ou no convencional, pode levar a graves conseqüências. Problemas freqüentes estão relacionados com a fertilidade do solo. Se a fertilidade do solo não for acompanhada com análises periódicas, corre-se o risco de errar na fertilização tanto para menos como para mais.
     Quando se erra para menos, ocorre deficiência, ou a falta de um, ou mais, dos nutrientes da planta. Mesmo a falta de apenas um nutriente prejudica o desenvolvimento da cultura e a produção é comprometida.
     Quando se erra para mais, ocorre toxidez, além de maior gasto com adubo. O uso de fertilizantes em doses maiores que as necessárias para a cultura pode levar ao excesso de um ou mais nutrientes, o que também acarreta desequilíbrio nutricional e redução da produção.
     A deficiência é relativamente mais fácil de resolver. Dependendo do nutriente e do estágio da cultura, é possível aplicar um fertilizante e reverter o quadro de deficiência. Para o excesso, 136 96 porém, não há solução em curto prazo.
     O revolvimento excessivo provoca a destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da matéria orgânica. Além disso, pode levar ao endurecimento da camada superior do solo, que fica então compactada e difícil de trabalhar. A desagregação do solo, provocada pelo revolvimento excessivo, também pode ocorrer quando o solo está desprotegido, isto é, sujeito à ação do vento e da água das chuvas, que são os principais causadores da erosão.
     Uma prática inadequada ainda utilizada por alguns produtores de hortaliças é a formação de canteiros “morro abaixo”, ou seja, no sentido da declividade do terreno. Essa prática é uma porta aberta para a erosão, pois facilita grandemente a formação de sulcos no terreno causados pelo escorrimento da enxurrada.

O que é compactação?
     A compactação não é um fenômeno natural. Isso significa que é um processo exclusivamente causado pelo manejo incorreto do solo. Ocorre quando o solo é comprimido, ou seja, quando sofre compressão por máquinas ou pelo pisoteio animal ou humano. A compressão causa o adensamento do solo, o que dificulta o desenvolvimento das raízes das plantas e reduz o número de poros do solo, por onde circulam água e ar, levando à redução do movimento de água no perfil.

O que é erosão?
     Erosão é o processo de transporte do solo para outro local pela ação de agentes erosivos como a água e o vento. Pode ocorrer naturalmente, sem a ação do homem. No entanto, em áreas agrícolas é causada principalmente pela  falta de proteção do terreno, pois o solo desprotegido fica vulnerável à ação da água da chuva e do vento.
     No Brasil, o principal agente erosivo é a chuva. Quando as gotas batem sobre o solo desprotegido, a força do impacto provoca o desagregamento das partículas do solo que são arrastadas pela água da chuva. Com a perda do solo, perdem-se também nutrientes e matéria orgânica. Com o passar do tempo, o processo vai se tornando mais intenso e perigoso, a erosão vai formando sulcos no terreno e pode evoluir para grandes voçorocas. Além disso, a terra vai parar nos cursos d’água, provocando o assoreamento de rios e lagos, tornando a água suja e de má qualidade.
     Para se ter uma idéia, em solos com declividade mediana cultivados convencionalmente e sem práticas conservacionistas, é comum a perda de 20 t/ha de solo a cada ano. Esse material é proveniente justamente da camada arável, ou seja, da fração mais fértil do solo e mais rica em matéria orgânica.

Como o manejo “orgânico” contribui para a qualidade do solo?
      O manejo do solo no sistema orgânico de cultivo contribui para sua qualidade na medida em que prioriza seu uso sustentável. Na agricultura orgânica, o solo é valorizado como um recurso-chave e assim é desde seu surgimento, nos anos 1920. O revolvimento mínimo e a adição/reposição da matéria orgânica, priorizados pelo sistema orgânico, muito contribuem para a manutenção e melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo, e, conseqüentemente, para sua qualidade. Além disso, como o manejo “orgânico” preconiza o preparo conservacionista, as possibilidades de compactação e erosão são muito reduzidas.

O manejo do solo no sistema orgânico garante seu uso sustentável?
     Não se pode fazer essa afirmação porque o manejo do solo tanto no sistema orgânico como no convencional precisa ser bem feito. O que se pode dizer é que o manejo do solo no sistema orgânico tem maiores chances de ser bem-sucedido e garantir o uso sustentável desse recurso porque a preocupação com a qualidade do solo é maior. Entretanto, é preciso considerar que o manejo do solo envolve todas as práticas relacionadas com o solo, desde o preparo do solo até a adubação, sendo necessário que o produtor, orgânico ou convencional, cuide de todos os aspectos da operação ‘manejo’.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 5: Manejo do Solo

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br; 
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf

     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.


Capítulo 5: Manejo do Solo

Autores:  Flávia A. de Alcântara e Nuno R. Madeira.

O que é manejo do solo?
     O solo é a “pele” do Planeta Terra, pois é o resultado da ação do clima, do relevo e dos organismos sobre as rochas expostas na superfície do planeta. Essas rochas vão sofrendo transformações com o tempo (muito tempo!) e o solo vai sendo formado aos poucos. Para se ter uma ideia, são necessários cerca de 400 anos para que 1 cm de solo seja formado. O processo de formação do solo ocorre de baixo para cima, ou seja, à medida que o material de origem vai sendo desintegrado e transformado, vão sendo depositadas camadas, que também vão se transformando com o tempo e dando origem a novas camadas. Já os solos localizados na parte mais baixa dos vales, nas margens dos rios e lagos , podem ser formados pela deposição de materiais , muitas vezes já transformados, que vêm das partes mais altas.
     Na atividade agrícola, trabalha-se com uma pequena porção do solo, a mais superficial, chamada de camada arável. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Dessa forma, tudo que acontece com o solo tem algum reflexo, positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte.

O que é manejo do solo?
     Manejo do solo é o conjunto de todas as práticas aplicadas a determinado solo visando à produção agrícola. Inclui operações de cultivo, práticas culturais, práticas de correção e fertilização, entre outras. É a forma de cultivar e tratar o solo.

Como é feito o manejo do solo nos sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
     De forma geral, práticas tradicionais de conservação do solo, como o plantio em curva de nível, a formação de faixas de retenção e cordões, são utilizadas também na agricultura orgânica. No entanto, a agricultura orgânica vê o solo como o centro de todo o processo produtivo, valorizando-o como recurso-chave. Por isso, o manejo orgânico prioriza práticas que proporcionem a manutenção e a melhoria da qualidade do solo, por meio do revolvimento mínimo e do aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade biológica. Desse modo, o manejo orgânico recomenda a manutenção de cobertura vegetal sobre o solo, a adubação verde, o cultivo mínimo, o plantio direto, entre outras práticas conservacionistas. Além disso, o manejo do solo no sistema orgânico prioriza as fontes orgânicas de nutrientes e não utiliza fertilizantes químicos de alta solubilidade. Para finalizar, é uma forma de manejar o solo “pensando em longo prazo”, ou seja, objetivando a construção da qualidade do solo com o tempo.

Quais as principais diferenças entre o manejo do solo na produção orgânica de hortaliças e na convencional?
     No caso específico da produção de hortaliças, o manejo do solo costuma ser bastante intensivo no sistema convencional. Muitas vezes são utilizadas quantidades excessivas de fertilizantes, o que pode causar desequilíbrios químicos no solo e nutricionais na cultura. Além disso, as glebas são, em geral, utilizadas continuamente, ciclo após ciclo, e, em alguns casos, com revolvimento excessivo da camada arável.
     O sistema orgânico de produção de hortaliças, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura do solo e o revolvimento mínimo. Mas a preocupação com a conservação do solo está crescendo na produção convencional e, por isso, a utilização de práticas conservacionistas, como a adubação verde e a cobertura vegetal, está ganhando cada vez mais espaço também no cultivo convencional.

O que é matéria orgânica do solo?
     De maneira bem simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. A matéria orgânica é constituída de resíduos de origem vegetal ou animal como:
. Estercos.
. Restos de cultura que ficam no campo.
. Palhadas.
. Folhas, cascas e galhos de árvores.
. Raízes das plantas.
. Animais que vivem no solo, como cupins, formigas, besouros, fungos, bactérias e outros microrganismos.
     Esses componentes da matéria orgânica podem estar vivos (como os pequenos animais) ou já em decomposição (como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura). Como tudo que foi um dia vivo é constituído de carbono orgânico, muitas vezes encontra-se o termo “carbono orgânico” como sinônimo de matéria orgânica.
     Na realidade, o carbono é o principal constituinte da matéria orgânica, mas a ele estão ligados vários outros elementos importantes, como o nitrogênio. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. Em solo muito claro, aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo.

O que é decomposição e mineralização da matéria orgânica?
     A decomposição é o processo de quebra da matéria orgânica em partes menores, feita por microrganismos decompositores presentes no solo. Esses microrganismos utilizam a matéria orgânica como alimento para sua sobrevivência e, para isso, precisam quebrá-la em pequenas partes.
     A mineralização é o resultado do processo de decomposição microbiana. Durante a decomposição,  elementos químicos que antes se encontravam na forma orgânica são convertidos para a forma mineral. Os nutrientes, elementos químicos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das culturas, só são absorvidos pelas raízes das plantas quando se encontram na forma mineral. Dos processos de decomposição e mineralização é que surgem jos principais efeitos benéficos da matéria orgânica sobre a fertilidade do solo.

Quais os benefícios da matéria orgânica para o solo?
     São vários. A matéria orgânica atua tanto na fertilidade do solo quanto em seu condicionamento físico, além de manter a vida no solo. Assim, pode-se dividir os benefícios da matéria orgânica em três categorias:
    a)    Benefícios para a fertilidade do solo (para os atributos químicos e físico-químicos do solo):
. Fornecimento de nutrientes para as cultuas (macro e micronutrientes): quando decomposta e mineralizada, a matéria orgânica torna-se fonte de nutrientes.
. Aumento da capacidade de troca de cátions (CTC) do solo: tem a capacidade de adsorver (reter) cátions (muitos nutrientes estão na forma de cátions) presentes no solo, que depois podem ser disponibilizados para as culturas.
. Aumento da superfície específica do solo: quanto maior a superfície específica, maior a capacidade de retenção de nutrientes.
. Aumento da disponibilidade de nutrientes para as culturas: por causa dos efeitos na capacidade de troca de cátions e na superfície específica.
. Complexação de substâncias tóxicas: a matéria orgânica em estágios avançados de decomposição tem a capacidade de controlar a toxidez causada por certos elementos presentes no solo em teores acima do normal e, por isso, tóxicos.
b    b)    Benefícios para o condicionamento físico do solo:
. Melhoria da estrutura do solo: tem a capacidade de agregar as partículas do solo, formando “grumos”. Esse efeito agregador desencadeia benefícios nas outras características físicas do   solo.
      . Densidade do solo: redução da densidade aparente do solo, tornando-o mais “leve” e solto.
      . Porosidade do solo: melhoria da circulação de ar e água nos poros (espaços vazios entre as partículas) do solo.
   . Capacidade de retenção e infiltração de água: aumento da capacidade de armazenamento da água do solo.
c      c)     Benefícios para a biota do solo:
. Atua como uma fonte de alimento para microrganismos decompositores, que a utilizam como substrato e são responsáveis pela decomposição e mineralização da matéria orgânica no solo.
      . Aumenta a população de minhocas, besouros, fungos, bactérias e outros organismos benéficos para a manutenção da vida no solo.

Quando é preciso adicionar ou repor matéria orgânica?
     Existe uma pequena fração da matéria orgânica, já bem decomposta, que pode durar muito tempo no solo (até mais de 1.000 anos). Isso ocorre porque os microrganismos decompõem primeiro as moléculas menores, ou seja, a parte mais fácil de ser quebrada e, nesse processo, a parte mais “ura”, mais difícil de decompor, vai “sobrando” no solo. Porém, a maior parte da matéria orgânica adicionada ao solo é decomposta de forma relativamente rápida (de alguns meses até alguns anos), principalmente em regiões onde a temperatura e a precipitação pluvial são altas. O preparo intensivo do solo por meio do revolvimento também acelera a decomposição da matéria orgânica, pois favorece a ruptura dos agregados do solo, expondo-os mais ao ataque dos microrganismos.
     É muito mais fácil e rápido “perder” matéria orgânica do que “ganhar”. Portanto, para se manter o solo produtivo ao longo do tempo é necessário que se adicione ou reponha a matéria orgânica com certa frequência. O ideal é que a cada cultivo se adicione matéria orgânica ao solo. No entanto, a frequência da adição ou da reposição depende do ciclo da cultura em questão e do sistema de cultivo. Mas, como existem várias maneiras de se manter e aumentar o teor de matéria orgânica do solo, uma delas, com certeza, será adequada para cada caso.

Quais as maneiras de se repor ou adicionar matéria orgânica ao solo?
     Uma das maneiras de se repor ou adicionar matéria orgânica ao solo é a utilização de estercos animais. Na produção de hortaliças, são utilizados estercos de aves, de bovinos, equinos e caprinos. É preciso lembrar que não se deve utilizar esterco de suínos na produção de hortaliças, pois algumas doenças que acometem os porcos podem ser transmitidas ao homem pela ingestão de alimentos contaminados.
     Os estercos animais são material orgânico de fácil decomposição e, por isso, são decompostos rapidamente, principalmente o esterco de aves. Assim, seu principal benefício é o suprimento de nutrientes ás culturas, pois, como não “duram” muito, não são bons condicionadores físicos do solo.
     Outros materiais, provenientes da própria fazenda ou de agroindústrias, também podem ser boas fontes de matéria orgânica, sendo utilizados puros ou junto com os estercos em compostagem.
     Dentre esses materiais podem-se citar alguns exemplos como:
. Palhas de milho, de aveia, arroz, feijão e café.
. Capim-gordura, capim-guiné, capim-meloso, entre outros capins.
. Serragem de madeira.
. Bagaço de cana.
. Tortas de algodão e de mamona.
     É importante ressaltar que o produto deve priorizar resíduos produzidos na propriedade ou resíduos agroindustriais da região, a fim de facilitar e baratear custos. Uma alternativa prática e eficaz para se adicionar matéria orgânica ao solo é a adubação verde que proporciona ao produtor a produção de matéria orgânica diretamente na área de cultivo.




segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 3: Organização da Propriedade

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do email: vendas@sct.embrapa.br;
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf
    
     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.

Capítulo 3: Organização da Propriedade

Autores: Francisco Vilela Resende e Mariane Carvalho Vidal.

Por que o sistema orgânico de produção se contrapõe à monocultura?
     O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas peculiares para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica. Essa diversidade é o principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas.
     Nos cultivos especializados, onde prevalece apenas uma cultura de interesse econômico, deve-se estabelecer algum grau de diversificação, que é conseguido com a inserção de áreas de refúgio e/ou cordões de contorno com espécies variadas, consórcios com adubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com o manejo das plantas espontâneas.

Como é feita diversificação do sistema?
     O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do estabelecimento do equilíbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espécies de interesse econômico, arbóreas, atrativas e ornamentais. Deve-se atentar também para o papel fundamental das espécies espontâneas no processo de diversificação. Dessa forma, procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço pela incorporação de características de ecossistemas naturais, como:
- Reciclagem de nutrientes.
- Uso de fontes renováveis de energia.
- Manutenção das relações biológicas que ocorrem naturalmente.
- Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos de fora do sistema.
- Estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas agrícolas e animais adaptados às condições ecológicas da propriedade.
- Ênfase na conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

Como deve ser dividida a área de cultivo em um sistema orgânico de produção de hortaliças?
     A produção orgânica de hortaliças exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que, preferencialmente, não ultrapassem 1.000 m2 , com elementos que promovam o condicionamento climático das culturas e a preservação da biodiversidade.
O uso intensivo das áreas associado a ciclos sucessivos de cultivo exige maior atenção dos produtores de hortaliças na construção e proteção dos talhões. O talhão possui papel fundamental na administração da propriedade e gerenciamento das atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, pois na produção de hortaliças há grande movimentação de mão-de-obra e insumos, o que exige eficiência no funcionamento do sistema, visando facilitar a administração e reduzir os custos da atividade.
A delimitação dos espaços físicos da horta é feita por carreadores principais e secundários. O dimensionamento dos carreadores deve ser realizado de forma a perder o mínimo possível de área produtiva. Os caminhos secundários devem apresentar dimensões de 30 cm de largura, no máximo, para permitir apenas o trânsito de pessoas e carrinhos de mão. Os carreadores principais devem ser dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entrada de máquinas e equipamentos para transporte de insumos e escoamento da produção.

O que são cordões de contorno?
     São faixas de vegetação que circundam a propriedade, permitindo isolamento das áreas de cultivo convencional circunvizinhas, e utilizados também para divisão dos talhões de cultivo. É um componente fundamental na organização de uma propriedade orgânica voltada para a produção de hortaliças. Apresentam múltiplas finalidades como o funcionamento como barreiras fitossanitárias, dificultando a livre circulação de pragas e doenças entre propriedades vizinhas e entre os talhões de cultivo; a criação de microclimas mais propícios ao cultivo de hortaliças; a formação de áreas de refúgio e abrigo para inimigos naturais de pragas e outros pequenos animais úteis. Resumindo, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e é fundamental para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica.

Como são formados e que espécies podem ser usadas nos cordões de contorno?
     Essas faixas podem ser formadas por uma ou várias espécies, incluindo a própria vegetação natural. Espécies que podem servir como fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena, hibiscos, flor do mel (girassol mexicano), espécies fixadoras de nitrogênio, como os adubos verdes, espécies atrativas para insetos e pequenos animais, e plantas de interesse econômico, visando à complementação de renda da atividade principal também podem ser utilizadas. É importante preocupar-se com a diversidade dos cordões de contorno para garantir que se tornem abrigos de biodiversidade, procurando combinar espécies que atendam aos requisitos descritos.

Podem-se usar espécies de interesse econômico nos cordões de contorno?
     Alguns produtores orgânicos não aceitam ou não podem dispor dentro da propriedade de áreas de cultivo com espécies que não tenham interesse econômico. Dessa forma, aproveitam as áreas dos cordões para a introdução de espécies que, além de formarem cordões, possam prover-lhes algum retorno econômico e não causem prejuízos à cultura ou às culturas principais. Podem-se destacar, como exemplo, a banana, o café, o mamão, outras espécies frutíferas, plantas melíferas, condimentares, medicinais e ornamentais ou uma combinação dessas espécies.

O que são áreas de refúgio?
     São áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos e as comunidades de plantas invasoras ou espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.

O que são áreas de pousio?
     Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o descanso do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo. O agricultor deve prever esse período no planejamento da horta, pois para produção de hortaliças, que utiliza intensamente os recursos do solo, essa prática é fundamental.

Qual a importância da rotação de culturas para sistemas orgânicos de produção de hortaliças?
     Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemas orgânicos de produção é a exploração equilibrada do solo, por meio do emprego de práticas como a alternância de culturas e a sucessão vegetal, levando ã prática da rotação de culturas nas diversas unidades de solo de uma propriedade agrícola.
  Deve-se estabelecer uma escala de exigência em adubação e manter o terreno permanentemente coberto. Essas práticas conjugadas permitem explorar os nutrientes do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rústicas), que exploram profundidades diferentes do solo pela diferença na estrutura radicular.
     Outro aspecto igualmente importante da rotação, e também do consórcio de hortaliças, é evitar a proliferação e acúmulo de doenças e pragas, que em um sistema intensivo de cultivo pode ocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a rotação de culturas é uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e o controle de pragas e doenças.

Como deve ser o manejo das rotações dentro dos talhões ou das áreas de produção de hortaliças?
     A divisão dos talhões em faixas de cultivo auxilia na implantação de esquemas de rotação. Nessas faixas, alterna-se o cultivo de adubos verdes com diferentes famílias de hortaliças. Nesse esquema, é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes. No caso das hortaliças que se adaptam melhor aos cultivos de inverno, época em que o olericultor obtém maiores rendimentos, deve-se evitar a prática de rotação com adubos verdes, permitindo que a área fique integralmente ocupada pelas culturas de interesse econômico. No verão, reserva-se uma área maior para o plantio de espécies de adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estação. Dessa frma, pratica-se a recuperação anual das áreas de produção.
Outra estratégia importante de manejo é evitar o acúmulo de inóculos de organismos patogênicos, uma vez que as sucessões provocam uma quebra do ciclo biológico desses organismos pela alternância de espécies. Exemplificando, o plantio sucessivo de espécies de solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.) na mesma área pode elevar a incidência de patógenos foliares e de solo nessas culturas.

Qual a regra geral para a boa rotação de culturas?
     Na rotação, o produtor pode utilizar um esquema seguindo as diferentes características de cada grupo de hortaliças: folhosas, raízes/tubérculos e flores/frutos. Como cada espécie se desenvolve de uma forma e tem um sistema radicular próprio e diferenciado, também explora o solo e retira os nutrientes de forma diferenciada. Logo após o preparo e a adubação inicial do solo, deve-se cultivar hortaliças mais exigentes, seguindo-se com espécies cada vez menos exigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando o esquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre um intervalo entre um ciclo para descanso e recuperação do solo (pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilização dos adubos verdes para recomposição e manutenção do solo.

O que é consorciação/associação de culturas?
     O sistema de consórcio caracteriza-se pelo plantio simultâneo de duas ou mais culturas na mesma área. É uma das práticas mais importantes para o cultivo de hortaliças no sistema orgânico, pois abrange aspectos tanto ambientais quanto econômicos.
     A consorciação permite otimizar a produção pelo melhor aproveitamento da área explorando a combinação de espécies eficientes na utilização dos recursos de produção como espaço, nutrientes, água e luz. O consórcio entre espécies de hortaliças está sendo adotado amplamente em áreas de cultivo orgânico em todo o país, principalmente por pequenos agricultores orgânicos que buscam nessa técnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seus escassos recursos de produção. Assim procuram maximizar seus lucros, aproveitando melhor a área, os insumos e a mão-de-obra.

Quais as vantagens da consorciação de culturas?
     A eficiência e as  vantagens de um sistema consorciado estão na complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa complementariedade é maior à medida que se consegue minimizar os efeitos negativos de uma cultura sobre a outra. O consórcio, além de permitir o uso mais intensivo da área de plantio, confere maior diversidade biológica e produção por unidade de área, garante renda extra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental em relação à monocultura. Para evitar a manutenção de áreas com plantio de espécies que não tragam retorno econômico, os produtores podem utilizar o consórcio entre a cultura de interesse comercial e outra espécie que apresente funções importantes, como atração de inimigos naturais, repelente de insetos, adubos verdes, etc. Um exemplo clássico dessa associação ocorre entre milho e mucuna. O plantio sincronizado dessas espécies permite que a floração da leguminosa coincida com a seca da planta de milho, originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode ser utilizada no cultivo de várias hortaliças. O olericultor obtém ainda retorno econômico com a comercialização das espigas de milho ainda verdes.

Que tipos de consórcio podem ser utilizados para hortaliças?
     Embora existam muitas possibilidades de combinação de hortaliças em consórcio, são mais comuns os consórcios em faixas e em linhas.
     No consórcio em linha, são intercaladas linhas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Pode-se consorciar alface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimentão e feijão guandu anão, tomate e crotalária, entre outras.
     No consórcio em faixas, são intercaladas faixas de cultivo de uma ou mais espécies com a cultura principal. Em alguns casos, essas faixas podem se confundir com os próprios canteiros. Pode-se agrupar as hortaliças companheiras, como cenoura e tomate, batata e repolho, tomate e cebola, cebola e pepino, alface e rúcula, abóbora e chicória, repolho e arruda, entre outras.

Qual o objetivo de se associar plantas repelentes e/ou atrativas à cultura principal no sistema orgânico?
     As plantas com sabor e cheiro forte são chamadas atrativas ou repelentes, pois possuem substâncias que afastam ou inibem a ação de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturas pode proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratégia de manejo agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feito isoladamente, e sim, em conjunto com outras técnicas de controle, sempre buscando a promoção do equilíbrio ecológico em toda a propriedade agrícola.

Quais as plantas atrativas e repelentes mais comuns e para que servem?
     As plantas atrativas e repelentes mais comuns são:
. Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre (Tagetes sp.) – Repelente de insetos e nematóides, principalmente no florescimento. Atua tanto por ação direta contra as pragas quanto por “disfarce”das culturas por seu forte odor.
. Cinamomo (Melia azedorach L.) – Ação inseticida. Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos armazenados.
. Saboneteira (Sapindus saponaria L.) – Ação inseticida. Para se ter uma ideia de seu poder de ação, apenas seis frutos bastam para preservar 60 kg de grãos armazenados.
. Quássia ou pau-amargo (Quassia amara) – Ação inseticida, especialmente contra moscas e mosquits, pelo alto teor de substâncias amargas na casca e na madeira.
. Mucuna (Mucuna spp.) e crotalária (Crotalaria spp.) – Ação nematicida.
. Coentro (Coriandrum sativum) – Ação repelente. Tem-se observado redução significativa de frutos de tomateiro perfurados por insetos quando seu plantio é associado ao de coentro.
. Arruda (Ruta graveolens) – Ação repelente. Evita a lagarta em folhosas, como o repolho.
. Manjericão (Oncimum basilicum) – Por causa do forte odor e compostos que exala, é um repelente de insetos.
Gergelim (Sesamum indicum) – Cordões de contorno com gergelim oferecem excelente proteção contra saúvas e outras formigas cortadeiras.
. Purungo ou cabaça (Lagenaria vulgaris) – Atrativo para o besourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-se utilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura.
. Tajujá (Cayaponia tayuya) – Atrativa para as vaquinhas.
     Geralmente, plantas aromáticas, medicinais e condimentares são menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, uma boa opção para compor  canteiros na horta, próximo às culturas. Outros exemplos dessas plantas são artemísia, alecrim, menta, tomilho, losna , funcho, hortelã, etc.

As plantas espontâneas podem contribuir para o manejo do sistema orgânico ou devem ser sempre eliminadas?
     As plantas que crescem junto com as espécies cultivadas são consideradas invasoras ou espontâneas e não plantas daninhas. Assim, como outros vegetais, as plantas invasoras contribuem para:
. Cobertura e proteção do solo.
. Reciclagem mais eficiente de nutrientes.
. Melhoria das condições físicas do solo pelo aumento dos teores de matéria orgânica.
. Rompimento de camadas compactadas.
. Diversificação do ambiente.
     Essas espécies devem ser manejadas adequadamente para que permitam o convívio sem prejuízos para a cultura de interesse econômico. Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar a presença das ervas próximo à cultura de interesse comercial, deixando-se uma estreita faixa de vegetação nas entrelinhas de plantio. Em culturas omo berinjela, jiló, abóbora, quiabo e outras, deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roçadas leves no restante da área.
     No caso de hortaliças de canteiro, recomenda-se capinas nos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetação dos careadores ou apenas roçando-a quando estiver dificultando os tratos culturais. O controle de invasoras tem sido feito com o emprego de práticas mecânicas, como aração, gradagem, cultivos, roçadas, amontoas e capinas manuais, conforme a necessidade de redução das invasoras e, ainda, com o uso de plantas com efeitos alelopáticos, adubação verde, cobertura morta, cobertura viva, rotação e a consorciação de culturas.

Existe alguma forma de se plantar hortaliças sem canteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo?
     Para algumas hortaliças é possível evitar o uso de canteiros fazendo o plantio em covas ou sulcos e até mesmo o plantio direto sobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais a decomposição da matéria orgânica pode ser acelerada com o excesso de revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo do solo deve ser evitado ou minimizado sempre que possível. Recomenda-se o uso de canteiros semidefinitivos, restringindo ao máximo a entrada de máquinas nas áreas de cultivo. Dessa forma, seguindo os princípios já mencionados da rotação de culturas, após o preparo, e da adubação inicial do solo, cultiva-se uma sucessão de hortaliças progressivamente menos exigentes em nutrientes, sem que haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessário, pode-se complementar a adubação inicial com aplicações em cobertura, fazendo-se apenas uma leve incorporação superficial.




sábado, 10 de setembro de 2016

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS - Capítulo 2: Legislação e Certificação

Fonte: Livro da Embrapa Hortaliças – Brasília, DF. Interessados em adquirir o livro “PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas” devem entrar em contato através do e-mail: vendas@sct.embrapa.br; 
Para ver o livro completo, acessar: http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000021-ebook-pdf.pdf

     
     Com o objetivo de divulgar e aumentar o conhecimento sobre agricultura orgânica,  estamos transcrevendo  do livro, algumas perguntas e respostas que consideramos mais relevantes.

Capítulo 2: Legislação e Certificação

Autores: Tereza Cristina de Oliveira Saminêz; Rogério Pereira Dias; Roberto Guimarães Habib Mattar; Fabiana Cóes de Almeida Nobre e Jorge Ricardo de Almeida Gonçalves.

Por que é importante uma legislação sobre a agricultura orgânica?
Porque a legislação estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos e observados por todos que integram a rede de produção orgânica. Além disso, estabelece legalmente conceitos, definições e princípios relacionados à agricultura orgânica.

Qual a legislação brasileira vigente sobre agricultura orgânica?
A Lei no 10.831 de 23/12/2003, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007 dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras providências. O acesso a essa legislação está disponível no site: http://www.cidasc.sc.gov.br/fiscalizacao/files/2012/08/DECRETO_N_6323.pdf

A Lei no 10.831, do Ministério da Agricultura, dispõe sobre o quê?
Esta lei é o principal marco legal da agricultura orgânica brasileira, que estabelece critérios para a comercialização de produtos, define responsabilidades pela qualidade orgânica, pelos procedimentos relativos à fiscalização, à aplicação de sanções, ao registro de insumos e à adoção de medidas sanitárias e fitossanitárias que não comprometam a qualidade orgânica dos produtos.

O que é a avaliação da conformidade orgânica?
É o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processo está adequado às exigências específicas da produção orgânica. A avaliação da conformidade orgânica é feita pela certificação por auditoria e pelos mecanismos de organização com controle social.

Quais os mecanismos de organização com controle social utilizados na avaliação, garantia e informação da qualidade orgânica?
Os mecanismos de organização com controle social são os próprios produtores organizados localmente, garantindo e informando diretamente aos consumidores a qualidade orgânica de seus produtos, e os sistemas participativos de avaliação da conformidade orgânica.

Como ocorre a verificação, garantia e informação da qualidade orgânica no processo de relação direta entre produtores e consumidores?
A garantia está na relação direta entre produtores e consumidores, que permite a estes últimos conhecerem e confiarem nos produtores e nos processos produtivos, tendo os produtores o mecanismo de organização com controle social, formalizado ou não. Na organização social há co-responsabilidade entre os produtores envolvidos no processo, podendo a veracidade da qualidade da produção de um produtor ser verificada e garantida por outro produtor, e ocorrer, também, a reafirmação da idoneidade quando do envolvimento de empresas de assistência técnica de caráter público ou privado.

Como ocorre a verificação, garantia e informação da qualidade orgânica nos sistemas participativos de avaliação da conformidade orgânica?
São sistemas socioparticipativos de organização com controle social, normalmente em forma de rede, de abrangência regional, com o envolvimento de produtores, técnicos e consumidores. A rede é organizada em núcleos que reúnem grupos de produtores, consumidores e entidades de uma região com características semelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca de informações e a participação. Assim, há a participação efetiva de todos os envolvidos no processo e, na maioria das vezes, os consumidores também fazem visitas de inspeção às propriedades, onde todos assumem a co-responsabilidade pela qualidade dos produtos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, é um sistema solidário de geração de credibilidade. Como exemplos, podem-se citar a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, com abrangência de atuação na Região Sul do País, a Associação de Certificação Sócio-Participativa (ACS), na Região Norte, a Certificação Participativa da Rede Cerrado, na Região Centro-Oeste, e a Rede Xique-Xique de Certificação Participativa, na Região Nordeste.

A Lei n. 10.831, regulamentada pelo decreto Nº 6.323 de 27 de dezembro de 2007, reconhece os mecanismos de organização com controle social utilizados na avaliação da conformidade orgânica?
Os mecanismos de organização com controles sociais utilizados na avaliação da conformidade orgânica foram reconhecidos e garantidos no texto da lei 10.831, que garante a isenção de certificação para a comercialização direta de produtos orgânicos por produtores familiares, inseridos em processo de organização com controle social e cadastrados em órgão fiscalizador conveniado. Para produtos comercializados de forma indireta ou por produtores não familiares, os produtores terão que certificar seu processo produtivo, pelo sistema participativo de avaliação da conformidade ou pela certificação por auditoria. A regulamentação da Lei 10.831 prevê também a fiscalização pelos órgãos competentes dos mecanismos de organização com controle social utiliados para a avaliação da conformidade orgânica.

O que é certificação por auditoria?
É a avaliação da conformidade orgânica pela qual a garantia da qualidade orgânica do produto, obtida em determinada unidade de produção, é dada por uma terceira parte, a certificadora, não envolvida no processo produtivo, que é uma instituição que inspeciona as condições técnicas, sociais e ambientais e verifica se estão de acordo com as exigências dos regulamentos específicos da produção orgânica. A certificação é concretizada com a assinatura de contrato entre certificadora e representante legal da unidade de produção, com consequente autorização para utilização da marca da certificadora. A unidade certificada passa a receber inspeções no mínimo duas vezes ao ano, para verificação da conformidade, e o inspetor produz um relatório onde os critérios de conformidade são listados e avaliados. As certificadoras possuem normas próprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei 10.831 prevê que as certificadoras devem se credenciar no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O que é um produto orgânico certificado?
É o produto que possui as características de conformidade orgânica, podendo usar um selo de qualidade, autorizado pela certificadora ou pelo sistema socioparticipativo de avaliação da conformidade orgânica.  

O que é o selo de qualidade orgânica de um produto certificado?
É um selo que identifica os produtos e insumos orgânicos com essa qualidade específica. Após passar por todas as etapas de avaliação da conformidade orgânica, uma unidade de produção está apta a usar esse selo em seus produtos. Cada organismo de avaliação da qualidade orgânica e/ou certificadora possui selo próprio. A lei 10.831 prevê a criação de um selo para o sistema brasileiro de avaliação da conformidade orgânica, que será o selo oficial do governo brasileiro para os produtos avaliados por entidades (certificadoras e outros organismos de avaliação da conformidade orgânica) credenciadas nos órgãos competentes. O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidade quanto o oficial, sendo este último de uso obrigatório.

Como solicitar a certificação de produtos orgânicos?
Depois de adotar as práticas de manejo exigidas pelos regulamentos da produção orgânica, a unidade de produção está apta a solicitar a certificação, feita por uma entidade que avalia a conformidade orgânica, isto é, que analise todo o processo produtivo e socioambiental da área. É aconselhado solicitar que a certificadora escolhida faça uma visita de pré-certificação, quando será definido o período de conversão da unidade produtiva, com base num plano de manejo com a forma de implantação das exigências específicas da produção orgânica.

O que as certificadoras exigem?
As certificadoras e os demais organismos de avaliação da conformidade orgânica exigem que os processos e produtos utilizados no sistema de produção orgânico estejam de acordo com as normas específicas da produção orgânica. O sistema de controle da produção orgânica exige ainda que haja rastreabilidade, isto é, o produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificado de maneira que se possa chegar à sua origem.

Todas as certificadoras usam os mesmos critérios para certificar a produção orgânica?
Não. As certificadoras e os organismos de avaliação da conformidade orgânica podem exigir particularidades no sistema de produção da unidade, de acordo com suas normas específicas. Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinada entidade, o produtor deve cumprir as exigências previstas, mas as normas devem obrigatoriamente atender às exigências contidas nos regulamentos oficiais. Por exemplo: algumas entidades não permitem uso de estercos de animais na adubação, ao passo que outras exigem o uso de insumos específicos para que o produto receba uma classificação diferenciada. As normas podem ser solicitadas diretamente às certificadoras, ou acessadas pela internet, em seus respectivos sítios.

Quais as vantagens de se ter um produto orgânico certificado?
Ao colocar no mercado um produto com selo orgânico, o produtor pode obter vantagens em relação ao produto convencional, pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferência a um produto cuja qualidade envolva atributos relacionados à saúde, à justiça social, à conservação e preservação ambientais, como é o caso do produto orgânico, especialmente quando há preços competitivos. Outra vantagem para o produtor é o aumento da preferência pela aquisição do produto orgânico pelos mercados institucionais, como as escolas, os hospitais e o programa de Aquisições do Governo Federal (AGF), em que o produto orgânico alcança valorização de cerca de 30% em relação ao convencional.

O que é conversão?
Conversão é o período de tempo mínimo necessário para uma unidade de produção ser considerada apta a receber a classificação de “orgânica”, após ter cumprido todas as exigências específicas para a produção orgânica.

Como fazer a conversão da área?
Para fazer a conversão, a unidade de produção deve adotar as técnicas agropecuárias preconizadas nos regulamentos oficiais para a produção orgânica e procurar se adequar às especificidades das normas de produção da certificadora que pretende contratar. Na conversão, não são considerados apenas os aspectos normativos, mas também os biológicos e educativos.  

Qual o tempo necessário para fazer a conversão da área pelas leis atuais?
O período de conversão, previsto na regulamentação da Lei 10.831, será variável de acordo com o tipo de exploração e a utilização anterior da unidade de produção. Para a produção vegetal, esses períodos serão definidos de acordo com as seguintes condições:
- Mínimo de 12 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas anuais, para que a produção do ciclo subsequente seja considerada orgânica.
- Mínimo de 18 meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas perenes, para que a colheita subsequente seja considerada orgânica.
- Mínimo de 12 meses de manejo orgânico ou pousio na produção vegetal de pastagens perenes.

Qual o tempo necessário para fazer a conversão da área pelas certificadoras?
As normas de produção da certificadora ou de outros organismos de avaliação da conformidade orgânica prevêem períodos diferentes para o tempo de conversão, dependendo de alguns fatores, como uso anterior da área, produtos químicos sintéticos utilizados no sistema convencional antes da conversão, a situação ecológica e social atual (adequação às exigências ambientais e cumprimento da legislação trabalhista) e o tempo necessário para o treinamento dos colaboradores nas práticas ecológicas.

Como saber se a área já pode ser considerada orgânica?
Após implementar o plano de manejo da unidade de produção, cumprir os prazos exigidos para o período de conversão, receber a visita do organismo de avaliação da conformidade orgânica, a certificadora ou outro organismo de avaliação da conformidade orgânica avaliará o pedido de certificação com base no relatório de inspeção (visita à unidade produtiva). A avaliação da solicitação de certificação é realizada por um conselho de certificação, que aprova as condições técnicas, ambientais e sociais da unidade de produção.

Quais os impactos do período de conversão nos aspectos econômicos e ecológicos da propriedade?
Na dimensão econômica, os maiores riscos de abandonar a atividade, em curto prazo, ocorrem na fase de conversão, daí a necessidade de financiamento e incentivos específicos a esse período, para que os produtores permaneçam na atividade, até que a fase de conversão termine e haja condições de o agricultor comercializar sua produção como orgânica. No período de conversão também ocorrem deficiências na integração de atividades como lavoura, pecuária e floresta, acarretando maior dependência de insumos externos, o que dificulta o equilíbrio dos fatores econômicos por causa do aumento de custos com insumos.
Na dimensão ecológica, analisando os aspectos internos do sistema, percebe-se que as unidades com maior dificuldade no processo de conversão são as que apresentam os recursos naturais mais degradados, pouca diversificação e falta de integração das atividades. Diversos estudos têm demonstrado que a agricultura orgânica é uma alternativa sustentável, demonstrando que, à medida que ocorre a consolidação do sistema orgânico de produção, existe a tendência de equilíbrio entre as diferentes dimensões da sustentabilidade. Além disso, a conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica, apesar de ser uma etapa delicada nos primeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo um impacto favorável ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente.






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