quinta-feira, 1 de setembro de 2011


   Quando o homem surgiu na face da terra, os insetos já habitavam a terra há cerca de milhões de anos. Em geral, os insetos causam prejuízos ao homem e animais, sejam através dos danos às plantações, ou através da transmissão de doenças. Outros são benéficos, como o bicho-da-seda, abelhas e demais polinizadores e insetos que se alimentam de outros insetos. O grande desafio da agricultura deste novo milênio é manter a produtividade dos cultivos e ao mesmo tempo melhorar a qualidade nutricional e sanidade dos alimentos, conservando os recursos naturais de produção (solo, água, ar e organismos) para gerações futuras.
   A agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina. Segundo os técnicos,esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
   O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle. O sistema não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido. O inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada.
   Antes de iniciar um controle o produtor deve primeiro reconhecer qual a praga que costuma sempre causar danos a sua lavoura. Inspeção periódica, deve ser realizada pelo produtor procurando detectar e conhecer os hábitos das possíveis pragas existentes, época de maior ocorrência, fase do desenvolvimento que causa maiores danos (larva, ninfa ou adulto), e plantas hospedeiras que se encontram próximas da lavoura. As próximas matérias a serem postadas neste blog (parte III e IV) vão tratar das principais pragas que atacam as hortaliças, como reconhecê-las e o manejo recomendado utilizando-se produtos alternativos.
Razões do ataque das pragas
   As hortaliças estão sujeitas a uma série de insetos que causam danos às plantas e que quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles.O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as pragas. Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou em 1987. A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelas pragas, ocorre maior ataque. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pragas causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com nutrientes altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento. A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis a pragas. Excesso de N ou carência de K e Ca diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas.
Principais métodos para o manejo ecológico de pragas
O manejo eficiente das pragas é baseado em dois princípios fundamentais:
É impossível controlar totalmente as pragas; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;
O manejo é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica), suficiente para evitar danos econômicos às culturas.
No manejo integrado de pragas, a manipulação das condições ambientais, adubações equilibradas, plantas resistentes e tratos culturais são alternativas ao controle químico convencional. As principais práticas que devem e podem ser utilizadas visando proporcionar condições ótimas para a cultura e condições adversas para o desenvolvimento das pragas, impedindo o aumento da população de insetos e evitando que atinjam a condição de praga são:
Rotação de culturas
   Esta é considerada a prática mais antiga no manejo de doenças e de pragas e continua sendo uma das mais eficientes entre os métodos culturais de controle. Os princípios de controle envolvido na rotação de culturas são a redução ou destruição do meio que serve para multiplicação da doença e pragas e a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. No caso da horticultura orgânica, este método é normalmente usado e mantém, especialmente, as pragas do solo sob controle.
As espécies pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (Figura 1), cucurbitáceas (Figura 2) e brássicas (Figura 3) são, entre as hortaliças, as mais atacadas por doenças e pragas. Por isso, recomenda-se dividir as áreas de plantio de tal forma que as espécies da mesma família não sejam plantadas seguidamente na mesma área. A explicação é que estas famílias de plantas possuem as mesmas doenças e pragas. Por exemplo, o tomate, uma das hortaliças que possuem o maior número de pragas e doenças vai disseminar estas para o cultivo seguinte de batata, pimentão ou berinjela, espécies da mesma família botânica. É importante ressaltar também que a cultura do fumo, bastante plantada no Sul do Brasil, também pertence à família das solanáceas, portanto, onde se cultiva fumo, não deve-se plantar batata, tomate, pimentão e berinjela ou vice-versa.
 Figura 1. Família das solanáceas: estas hortaliças e a cultura do fumo não podem serem plantadas na mesma área de cultivo, pois possuem doenças e pragas comuns, disseminando-as rapidamente para estes cultivos
 Figura 2. Família das brássicas: estas espécies não podem serem plantadas na mesma área de cultivo
 Figura 3. Família das cucurbitáceas: estas espécies não podem serem plantadas na mesma área de cultivo
Destruição dos restos culturais
   Deve-se sempre, antes de iniciar o preparo do solo, retirar da lavoura os restos do cultivo anterior (ramos, folhas e frutos) e fazer compostagem (adubo orgânico) com eles para eliminar insetos que permanecem em diapausa (repouso) e doenças dentro dos restos culturais. Essa é uma prática válida, especialmente para as espécies das famílias botânicas das solanáceas (tomate, batata, pimentão e fumo), cucurbitáceas (pepino, abóbora, abobrinha, moranga, melancia e melão) e brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis), que apresentam maior incidência de doenças e pragas. Especialmente no cultivo de tomate, é muito comum encontrarmos lavouras velhas e abandonadas ao lado de lavouras recém implantadas, facilitando sobremaneira a disseminação de doenças e pragas.
Na próxima matéria (parte II) a ser postada neste blog, trataremos das demais práticas culturais que juntas com a rotação de culturas e destruição dos restos culturais, contribuem para o manejo ecológico de pragas.
Ferreira On 9/01/2011 04:57:00 AM 1 comment

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Manejo ecológico de insetos-pragas - Parte I


   Quando o homem surgiu na face da terra, os insetos já habitavam a terra há cerca de milhões de anos. Em geral, os insetos causam prejuízos ao homem e animais, sejam através dos danos às plantações, ou através da transmissão de doenças. Outros são benéficos, como o bicho-da-seda, abelhas e demais polinizadores e insetos que se alimentam de outros insetos. O grande desafio da agricultura deste novo milênio é manter a produtividade dos cultivos e ao mesmo tempo melhorar a qualidade nutricional e sanidade dos alimentos, conservando os recursos naturais de produção (solo, água, ar e organismos) para gerações futuras.
   A agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina. Segundo os técnicos,esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
   O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle. O sistema não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido. O inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada.
   Antes de iniciar um controle o produtor deve primeiro reconhecer qual a praga que costuma sempre causar danos a sua lavoura. Inspeção periódica, deve ser realizada pelo produtor procurando detectar e conhecer os hábitos das possíveis pragas existentes, época de maior ocorrência, fase do desenvolvimento que causa maiores danos (larva, ninfa ou adulto), e plantas hospedeiras que se encontram próximas da lavoura. As próximas matérias a serem postadas neste blog (parte III e IV) vão tratar das principais pragas que atacam as hortaliças, como reconhecê-las e o manejo recomendado utilizando-se produtos alternativos.
Razões do ataque das pragas
   As hortaliças estão sujeitas a uma série de insetos que causam danos às plantas e que quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles.O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as pragas. Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou em 1987. A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelas pragas, ocorre maior ataque. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pragas causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com nutrientes altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento. A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis a pragas. Excesso de N ou carência de K e Ca diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas.
Principais métodos para o manejo ecológico de pragas
O manejo eficiente das pragas é baseado em dois princípios fundamentais:
É impossível controlar totalmente as pragas; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;
O manejo é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica), suficiente para evitar danos econômicos às culturas.
No manejo integrado de pragas, a manipulação das condições ambientais, adubações equilibradas, plantas resistentes e tratos culturais são alternativas ao controle químico convencional. As principais práticas que devem e podem ser utilizadas visando proporcionar condições ótimas para a cultura e condições adversas para o desenvolvimento das pragas, impedindo o aumento da população de insetos e evitando que atinjam a condição de praga são:
Rotação de culturas
   Esta é considerada a prática mais antiga no manejo de doenças e de pragas e continua sendo uma das mais eficientes entre os métodos culturais de controle. Os princípios de controle envolvido na rotação de culturas são a redução ou destruição do meio que serve para multiplicação da doença e pragas e a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. No caso da horticultura orgânica, este método é normalmente usado e mantém, especialmente, as pragas do solo sob controle.
As espécies pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (Figura 1), cucurbitáceas (Figura 2) e brássicas (Figura 3) são, entre as hortaliças, as mais atacadas por doenças e pragas. Por isso, recomenda-se dividir as áreas de plantio de tal forma que as espécies da mesma família não sejam plantadas seguidamente na mesma área. A explicação é que estas famílias de plantas possuem as mesmas doenças e pragas. Por exemplo, o tomate, uma das hortaliças que possuem o maior número de pragas e doenças vai disseminar estas para o cultivo seguinte de batata, pimentão ou berinjela, espécies da mesma família botânica. É importante ressaltar também que a cultura do fumo, bastante plantada no Sul do Brasil, também pertence à família das solanáceas, portanto, onde se cultiva fumo, não deve-se plantar batata, tomate, pimentão e berinjela ou vice-versa.
 Figura 1. Família das solanáceas: estas hortaliças e a cultura do fumo não podem serem plantadas na mesma área de cultivo, pois possuem doenças e pragas comuns, disseminando-as rapidamente para estes cultivos
 Figura 2. Família das brássicas: estas espécies não podem serem plantadas na mesma área de cultivo
 Figura 3. Família das cucurbitáceas: estas espécies não podem serem plantadas na mesma área de cultivo
Destruição dos restos culturais
   Deve-se sempre, antes de iniciar o preparo do solo, retirar da lavoura os restos do cultivo anterior (ramos, folhas e frutos) e fazer compostagem (adubo orgânico) com eles para eliminar insetos que permanecem em diapausa (repouso) e doenças dentro dos restos culturais. Essa é uma prática válida, especialmente para as espécies das famílias botânicas das solanáceas (tomate, batata, pimentão e fumo), cucurbitáceas (pepino, abóbora, abobrinha, moranga, melancia e melão) e brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis), que apresentam maior incidência de doenças e pragas. Especialmente no cultivo de tomate, é muito comum encontrarmos lavouras velhas e abandonadas ao lado de lavouras recém implantadas, facilitando sobremaneira a disseminação de doenças e pragas.
Na próxima matéria (parte II) a ser postada neste blog, trataremos das demais práticas culturais que juntas com a rotação de culturas e destruição dos restos culturais, contribuem para o manejo ecológico de pragas.

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