Reportagem publicada em “VIDA RURAL” na Revista
Agropecuária catarinense, Florianópolis, v.27, n.2, jul. 2013
Receber
alimentos frescos e orgânicos entregues em casa todas as semanas, comprados a
preços justos, é o sonho de muitas famílias pelo mundo afora. Em Florianópolis
esse sonho se tornou realidade graças ao empenho de um engenheiro-agrônomo que
estava decidido a viver exclusivamente do que plantava e colhia na sua
propriedade de 11 hectares.
Pedro
Faria Gonçalves trabalha com agroecologia há mais de dez anos. Há quatro optou
por tornar a propriedade de sua família, o Sítio Flor de Ouro, viável
economicamente. Hoje ele entrega produtos orgânicos diretamente ao consumidor,
disseminando conceitos de uma agricultura desenvolvida em harmonia com a
natureza e de consumo consciente.
Dos 11ha
do sítio Flor de Ouro, um é reservado para o cultivo. Nesse espaço ele produz
no sistema orgânico hortaliças, chás, temperos, legumes, frutas e raízes. Seu
diferencial está no modo como resolveu abordar o mercado, eliminando
intermediários e mantendo uma relação estreita com o consumidor. Seus produtos
são entregues, semanalmente, em 30 residências de Florianópolis, em cestas com conteúdos
variados.
O projeto
das cestas nasceu há um ano e meio. Nessa época, Pedro começou a entregar
semanalmente na casa de amigos cestas de produtos orgânicos colhidos em seu
sítio. Graças à divulgação boca a boca, ele hoje já conta com lista de espera
de clientes e projeta entregar 50 cestas por semana até o final de 2014.
A cada
semana Pedro coloca nas cestas o que há de disponível no sítio Flor de Ouro. A
entrega pode conter surpresas para os clientes. Além das folhas clássicas
(alface, rúcula, etc.), a cesta pode contar com outras não convencionais, como
o caruru, ou amaranto-da-américa-do--sul, a bertalha, ou espinafre-indiano, e a
beldroega. São todas plantas espontâneas, que nascem sem cultivo, como mato.
Atualmente
Pedro maneja cerca de 100 plantas, o que lhe permite variar o conteúdo das
cestas, planejar o plantio sem risco de grandes perdas e, ainda, o que ele
considera mais interessante, oferecer condições para o consumidor diversificar seu
cardápio, descobrindo novos sabores. As cestas trazem folhetos que nomeiam os
produtos não convencionais, bem como indicam as formas mais adequadas de
preparo.
Logística
A
logística de entrega também permite a Pedro manter uma relação estreita com quem
compra seus produtos. Assim, ele pode informá-los pessoalmente da sazonalidade
da produção, a estética de alguns produtos e as plantas não convencionais que
disponibiliza. Agindo assim, ele acredita que estabelece uma relação de
confiança e forma consumidores mais conscientes.
A
proposta de cestas entregues diretamente nas casas também elimina
intermediários, o que permite a Pedro vender produtos orgânicos de qualidade a
preços mais acessíveis.
Cada
cesta semanal custa em torno de R$35,00. Quando ampliar o número de entregas,
ele pretende criar uma mensalidade. Dessa forma, conquistará maior
comprometimento por parte do cliente e ainda tornará mais fácil o planejamento
econômico da sua produção.
Os
produtos são colhidos às terças-feiras, armazenados em câmaras frias ou
mantidos de molho, o que garante que cheguem fresquinhos ao consumidor. Na
quarta de madrugada começa a montagem das cestas, que serão entregues durante o
dia. Algumas são entregues em domicílio e outras deixadas em pontos de
distribuição, que são casas onde os vizinhos vão buscar suas encomendas. Há
também casos específicos em que Pedro tem as chaves das casas e deixa os
produtos já armazenados na geladeira. “Mas a ideia principal não é oferecer
conforto ao consumidor, e sim consciência do que ele está colocando em sua
mesa”, explica. Tudo é entregue num Fiorino que ele comprou com financiamento
do Pronaf.
Agora que
o negócio está consolidado, Pedro enfrenta novos desafios. Ele busca a
autonomia da sua propriedade, com produção de sementes, mudas e esterco, entre
outros. Para tanto, vem investindo em irrigação, em galinhas caipiras,
viveiros, compostagem e mão de obra. “Mas o maior investimento é na saúde do
solo”, pondera.
O sítio Flor
de Ouro desempenha outra função importante na natureza.
Ao longo
dos últimos anos Pedro vem se empenhando na conservação de sementes crioulas,
como o milho ancestral guarani, chamado de Avati, que tem uma surpreendente cor
azul.
Início
em 1980
Apesar de
ser pioneira em Florianópolis, a proposta de estabelecer uma relação direta
entre produtor agrícola e consumidor já é praticada há décadas em várias partes
do mundo. O movimento, conhecido como community-sup-ported agriculture (CSA),
ou agricultura apoiada pela comunidade, teve início em 1980, nos Estados
Unidos. Membros dessas comunidades pagam antecipadamente safras a agricultores
e, uma vez que a colheita começa, eles recebem cotas semanais de legumes e
frutas.
Pedro
recebe grupos de visitantes para difundir sua ideia. São agricultores e
estudantes, do nível fundamental até o universitário, que visitam regularmente
sua propriedade para conhecer seu sistema de produção e distribuição. Ele
repassa sem temor seu conhecimento, na expectativa de que sua experiência
exitosa seja amplamente reproduzida.
Para
agendar visitas ou ter mais informações sobre a distribuição de cestas de
produtos orgânicos, basta entrar em contato: www.flordeouro.com, contato@flordeouro.com,
ou facebook.com/sitio.flordeouro.
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