Trabalho publicado na
Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS): v.3, n.1, p.11-24, Julho
2013
Autores:
Jacimar Luis de Souza, Pesquisador
do INCAPER - Centro Serrano, BR 262, Km 94, CEP: 29375-000, Venda Nova do
Imigrante - ES. Bolsista de produtividade do CNPq. E-mail: jacimarsouza@incaper.es.gov.br
Rogério Dela Costa Garcia, Professor
interventor da FUNPAC - Av. Lorenzo Zondonadi, S/N, Bairro Vila Betânea, CEP:
29375-000, Venda Nova do Imigrante - ES. E-mail: rogeriodellacosta@hotmail.com
RESUMO – O objetivo deste trabalho foi realizar uma
avaliação comparativa dos indicadores físicos e financeiros dos dois sistemas
de cultivo de dez espécies de hortaliças, analisando-se a participação relativa
dos diversos componentes nos respectivos custos de produção. Utilizou-se uma base
de dados de 20 anos, de 1990 a 2009, da Unidade de Referência em Agroecologia
do INCAPER, localizada no município de Domingos Martins-ES.
O sistema
orgânico de produção confirmou grande viabilidade econômica, com média de custo
de produção por hectare 8% menor que a média das hortaliças convencionais. O
gasto com mão-de-obra foi ligeiramente menor no sistema orgânico e confirmou
ser o componente de maior participação nos custos de ambos sistemas de
produção. Os sistemas orgânicos de abóbora, morango, repolho e tomate
apresentaram custo de produção menor que os sistemas convencionais. Os sistemas
convencionais de produção de alho, batata e quiabo apresentaram custo de
produção menor que os sistemas orgânicos. As culturas de cenoura, pimentão e
taro apresentam custos de produção semelhantes nos sistemas orgânicos e
convencionais. Todas as culturas olerícolas no cultivo orgânico revelaram
receitas líquidas superiores ao cultivo convencional, com razões variando de
1,1 para o morango até 28,4 para o repolho.
Palavras-chave: agricultura orgânica, agroecologia,
eficiência econômica.
COSTS AND PROFITABILITIES
IN THE ORGANIC AND CONVENTIONAL
PRODUCTION VEGETABLES IN
ESPÍRITO SANTO STATE
ABSTRACT
– The aim of this study was
to perform a comparative evaluation of the physical and financial indicators of
the two cropping systems of ten species of vegetables by analyzing the relative
share of thevarious components of their costs of production. We used a database
of 20 years, from 1990 to 2009, ofthe Reference Area in Agroecology in the
INCAPER, located in the Domingos Martins City, Espírito Santo
State. The organic system confirmed large economic
viability, with average production cost per hectare 8% lower than the average
conventional vegetables. Spending on hand labor was slightly lower in the organic
system and proved to be the component of greater participation in the costs of
both production systems. The organic squash, strawberries, cabbage and tomato
showed lower costs than conventional systems.
Conventional systems produce garlic, potatoes and
okra showed lower costs than organic systems. Cropsof carrots, peppers and yam
have similar costs in organic and conventional systems. All vegetable crops in
organic farming showed higher net revenues to the conventional, with ratios
ranging from 1.1 for strawberry until 28.4 for cabbage.
Keywords:
agroecology, economic efficiency, organic agriculture.
1.
INTRODUÇÃO
A análise dos custos de produção permite a
avaliação das condições econômicas do processo de produção, inferindo sobre
vários aspectos como rentabilidade dos recursos empregados, condições de
recuperação destes recursos e perspectivas de decisões futuras sobre o
empreendimento como expansão, retração e extinção. A composição dos custos, ao
ser analisada e comparada com padrões ou casos semelhantes, oferece subsídios à
tomada de decisões sobre como melhorar as atividades produtivas para obter
resultados mais satisfatórios (Reis & Guimarães, 1986).
Para efeito de estimativa de custo de
produção, considera-se o processo de produção dentro de certo prazo, suficiente para que se obtenham os resultados
em forma do produto final. É preciso estabelecer um ciclo que parta da entrada
de recursos e finaliza-se com saída de produtos. A soma de todos esses recursos
(insumos) e operações (serviços) utilizados no processo produtivo é contemplada
para a análise do custo de produção (Ferguson, 1976; Lefwich, 1973; Reis, 1990;
Matsunaga & Bemelmans, 1976).
A receita da produção depende basicamente
da produtividade do cultivo e do preço de mercado, sendo constituída pelo valor
das vendas do produto final, dos produtos secundários e dos estocados e, em
alguns casos, do auto-consumo da exploração agropecuária.
A receita média da produção dada como a
relação entre a receita da produção e a quantidade produzida (valor / quantidade), quando comparada aos custos
médios, constitui-se na análise econômica ou de rentabilidade da atividade, por
unidade do produto (Garcia, 2005).
Luz et al. (2007), compararam
aspectos agronômicos e econômicos da produção orgânica e convencional do
tomateiro, utilizando-se dados coletados de um sistema orgânico em
Araraquara-SP e de um sistema convencional em Uberlândia-MG. Concluíram que o
sistema orgânico apresentou-se agronomicamente viável, com produtividades
ligeiramente inferiores, mas com um custo de produção 17,1% mais baixo que o
convencional, de forma que a lucratividade foi até 113,6% maior. Gonçalves et al. (2007), avaliando a
cultura da batata orgânica em dois sub-sistemas de produção, em Pelotas-RS
(Sistema 1: Manejo orgânico baseado no padrão do agricultor da rede de
referência em agroecologia e Sistema 2: Manejo orgânico baseado em tecnologias recomendadas pelo órgão de
pesquisa), demonstrou que a mão-de-obra representou 24,1% e 18,6% do total de
custos, respectivamente. De forma similar, Miguel et al. (2010), verificam um
custo relativo de 30,6% com a mão-de-obra no cultivo orgânico da alface em
Bebedouro-SP. Estes índices de participação são
semelhantes aos relatados nos sistemas convencionais de hortaliças, indicando,
portanto, que este componente pode não ser limitante na produção orgânica de
algumas culturas.
Em um estudo de caso comparativo entre o
custo de produção de morango orgânico e convencional no estado de São Paulo,
Donadelli et al. (2012) verificaram comportamento econômico semelhante entre os
dois sistemas. O custo total do morango convencional foi 16% superior ao
orgânico, com índices de lucratividade de 60,7% e 49,5%, respectivamente. A
mão-de-obra se confirmou-se como o componente de maior participação nos custos
em ambos sistemas, representando 49,6% no cultivo orgânico e 29,3% no
convencional.
Pelinski & Guerreiro (2004), numa
análise mercadológica, evidenciaram maior viabilidade econômica para os
produtos orgânicos, porém o preço pago no mercado pode alterar este
comportamento. Verificaram que a soja e o fumo orgânicos continuaram a ter
maior viabilidade econômica que no sistema convencional, ainda que fossem
vendidos ao mesmo preço no mercado. Porém, a batata orgânica demonstra maior
viabilidade econômica apenas se houver sobrevalorização de seus preços de
venda.
Os sistemas de cultivo convencional em uso
no Espírito Santo e no Brasil caracterizam-se pela elevada importação de
insumos sintéticos que provocam aumento expressivo nos custos de produção, além
da dependência do agricultor dos diversos fatores do mercado. Como exemplo,
estudo realizado no estado de São Paulo, por Faria & Oliveira (2005),
revelaram que tanto os adubos/insumos quanto os pesticidas tiveram uma
participação relativa maior que a mão-de-obra na safra das águas, representando
24% e 23%, contra 19%, respectivamente.
De modo geral, existe o preconceito de que
sistemas orgânicos são onerosos e de alta demanda de mão-de-obra. Diante disso,
objetivou-se com este trabalho realizar uma avaliação comparativa pormenorizada
dos indicadores físicos e financeiros dos sistemas orgânico e convencional de
cultivo de hortaliças, analisando se a participação relativa dos diversos componentes
nos respectivos custos de produção.
2. MATERIAL
E MÉTODOS
Este trabalho foi executado no período de
1990 a 2009, na área experimental de agricultura orgânica do INCAPER, hoje,
denominada Unidade de Referência em Agroecologia, localizada no município de
Domingos Martins-ES, a uma altitude de 950 m, ocupando uma área de 2,5 ha,
dividida em 15 talhões de solo para possibilitar a prática da rotação cultural.
O manejo orgânico dos solos tem sido
realizado por intermédio da reciclagem de biomassa e restos culturais,
compostagem orgânica, práticas como cobertura morta, adubação verde, rotação de
culturas, aplicações de biofertilizantes via solo e foliar, entre outras. Neste
período de 20 anos foram definidos todos os coeficientes técnicos no manejo
orgânico de produção de hortaliças, utilizados neste estudo comparativo ao
sistema convencional.
Para o sistema convencional, caracterizado
neste trabalho como o sistema regional predominante entre os agricultores,
adotaram-se os coeficientes técnicos médios dos sistemas de produção de cada
cultura, conforme indicações de órgãos ligados à Secretaria de Agricultura do
Espírito Santo.
O custo de produção foi calculado por meio
de planilhas de coeficientes técnicos e exigência física de fatores de produção
obedecendo à seguinte estrutura:
a)
operações agrícolas: para cada operação levantou-se o número de horas de trabalho gastos por categoria de mão-de-obra,
trator, e/ou equipamentos envolvidos na operação.
b)
materiais de consumo: materiais utilizados no processo de produção, próprios ou
adquiridos pelo produtor (sementes, agroquímicos, adubos e outros).
Os indicadores físicos e financeiros
contemplaram toda a cadeia produtiva, envolvendo os custos relativos ao campo
de produção, além dos custos com transporte, embalagem e frete para a entrega
do produto no mercado.
Os preços utilizados neste estudo foram
baseados em reais (R$), relativos aos preços médios do mês de outubro de 2010,
realizando-se as avaliações econômicas por meio de planilhas informatizadas
próprias, com auxílio do programa Excel 2007.
Para os componentes não disponíveis
comercialmente como composto orgânico e biofertilizante enriquecido preparados
localmente, foram realizados cálculos específicos de custos de acordo com o
processo adotado, que conferiu um custo unitário de R$ 58,69 por tonelada de
composto e de R$ 0,06 por litro de biofertilizante.
Para a composição dos custos dos sistemas orgânicos,
consideraram-se as produtividades médias acumuladas em vinte anos de manejo
orgânico na unidade de Referência em Agroecologia do INCAPER, considerando os
padrões de embalagens mais usuais em bandejas de isopor. Para avaliação
comparativa, a totalização de custos nos sistemas convencionais considerou os
rendimentos médios destes cultivos na
região produtora, que empregam a tecnologia recomendada, contabilizando-se
padrões de embalagens em caixas tipo ‘K’ e sacos telados, conforme detalhado na
a prática mais usual dos agricultores da região, na utilização do formulado
18-00-36 e do superfosfato simples, variando-se apenas a quantidade dependendo das
exigências e cada cultura.
Para as sementes disponíveis no mercado, utilizou-se
o preço corrente em lojas da região. Para as espécies de propagação vegetativa,
em que a ‘semente’ é a reserva de parte da produção comercializável, como alho,
batata e taro, aplicou-se a metodologia de custo de oportunidade, sendo os
propágulos valorados com o preço de mercado do produto orgânico.
O Kit túnel baixo para cobertura de 500 m2
de canteiros de morango, composto por lona
leitosa, arco PVC e fitilho, teve um custo total de R$ 1.695,00 cada. Portanto,
para uma vida útil de três anos, o custo anual considerado foi de R$ 565,00.
Para a contabilização do frete, utilizou-se
do preço médio praticado no mercado para transporte de embalagens padrões, como
sacos de 30 a 50 kg (R$ 1,50); caixas de madeira tipo ‘K’ (R$ 1,50); sacos de 20
kg (R$ 1,00) e sacos de 10 kg (R$ 0,50). Por equivalência volumétrica,
valorou-se o frete das embalagens de morango a R$ 0,38 por caixa de 1,2 kg de
morango (convencional e orgânico) e a R$ 0,10 as demais embalagens orgânicas,
como bandejas de isopor e produtos individuais em filme plástico para a abóbora
e o repolho.
Os coeficientes técnicos detalhados para
cada cultura, utilizados para a globalização dos custos e estimativas de
receitas dos dois sistemas de produção, estão apresentados individualmente para
cada uma das dez espécies analisadas (Tabela 1).
3.
RESULTADOS
Abóbora (Cucurbita
moschata):
Independente da forma de cultivo, a
cultura da abóbora foi a que mostrou menor custo de produção. No sistema orgânico,
o total de despesas foi inferior ao sistema convencional em torno de 27%.
Verificou-se que esse adicional de custo do sistema convencional é basicamente atribuído
às despesas com adubos e corretivos que atingiu o montante de R$ 1.639,80,
representando 33,35% do total de custos. A adubação com composto orgânico, insumo
utilizado na agricultura orgânica em substituição aos adubos e corretivos,
somou R$ 880,35, equivalendo a 24,48% do total de custos. Os gastos de
mão-de-obra nos sistemas orgânico e convencional foram semelhantes, somando 50
D/H e 58 DH, respectivamente (Tabela 2).
Em ordem decrescente, observa-se que os componentes
com maior participação nos custos do sistema orgânico foram a mão-de-obra e
composto (42% e 24%, respectivamente), enquanto no sistema convencional foram a
mão-de-obra e os adubos/ corretivos (36% e 33%, respectivamente).
Tabela 1 - Padrões
de embalagens e produtividades médias das 10 culturas em dois sistemas de
produção, visando à totalização de custos. INCAPER, Domingos Martins-ES, 2012.
Culturas
|
Embalagem
padrão
|
Orgânico1
Produtividade (kg/ha)
|
Embalagem
padrão
|
Convencional2
Produtividade
(kg/ha)
|
Abóbora
|
Filme plástico/2 kg
|
7.323
|
Sacos 38 kg
|
8.500
|
Alho
|
Bandeja/0,5 kg
|
6.646
|
Sacos 10 kg
|
6.350
|
Batata
|
Bandeja/1,0 kg
|
17.201
|
Sacos 50 kg
|
17.411
|
Cenoura
|
Bandeja/0,5 kg
|
23.547
|
Caixa 20 kg
|
28.000
|
Morango
|
Caixeta 300 g
|
26.251
|
Caixa 1,2 kg
|
36.000
|
Pimentão
|
Bandeja/0,3 kg
|
22.209
|
Caixa 10 kg
|
30.000
|
Quiabo
|
Bandeja/0,3 kg
|
13.282
|
Caixa 14 kg
|
15.000
|
Repolho
|
Filme plástico/2 kg
|
56.553
|
Saco 25 kg
|
47.102
|
Taro
|
Bandeja/1,0 kg
|
24.569
|
Caixa 22 kg
|
25.000
|
Tomate
|
Bandeja/0,5 kg
|
38.518
|
Caixa 22 kg
|
68.200
|
1 Média obtida na área experimental de agricultura
orgânica do INCAPER.
2 Estimativa ajustada pela equipe técnica do
INCAPER, da média de sistemas convencionais, com emprego da tecnologia
recomendada.
Tabela 2 - Indicadores
financeiros e consumo de mão-de-obra na cultura da abóbora (1 ha) em dois
sistemas de produção. INCAPER, Domingos Martins-ES, 20101
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Sementes/mudas
|
377,50
|
10,50
|
377,50
|
7,68
|
Adubo orgânico (composto)
|
880,35
|
24,48
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
1.639,80
|
33,35
|
Caldas e produtos biológicos
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
206,6
|
4,20
|
Outros Insumos e materiais
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
10,01
|
360,00
|
7,32
|
Mão de Obra (D/H)
|
(50) 1.500,00
|
41,71
|
(58) 1.740,00
|
35,38
|
Embalagens
|
112,00
|
3,11
|
257,60
|
5,24
|
Frete
|
366,00
|
10,18
|
336,00
|
6,83
|
Total
|
3.595,85
|
100,00
|
4.917,50
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
Com produtividade média de 7.323 kg/ha, no sistema orgânico, o
custo de produção por kg do produto foi de R$ 0,49. Apesar da maior
produtividade no sistema convencional (8.500 kg), o custo unitário do kg de
abóbora foi maior (R$ 0,58). A receita bruta obtida no sistema orgânico foi
20,6% maior, em função do sobrepreço pago pelo produto orgânico no mercado
(Tabelas 13 e 14).
Alho (Allium
sativum L.):
Verificou-se uma diferença de custos
totais entre os sistemas, sendo o cultivo orgânico 23,8% mais oneroso que o
convencional (Tabela 3). Esta diferença é atribuída aos maiores custos com
alho-semente orgânico, embalagens e frete no sistema orgânico.
As participações percentuais dos
componentes nos custos totais do sistema orgânico e convencional do alho
indicaram que os custos com maiores relevâncias foram os de mão-de-obra e do
alho-semente que representaram, respectivamente, 48,35% e 27,24% no sistema
orgânico, enquanto que no sistema convencional esta participação foi de 60,09%
e 19,11%.
O sistema orgânico revelou uma receita
bruta 85,0% maior que o convencional, devido ao sobrepreço conseguido na
comercialização do alho no mercado orgânico diferenciado, o que pode compensar
os maiores custos deste sistema de cultivo (Tabela 14).
Tabela 3 - Indicadores
financeiros e consumo de mão-de-obra na cultura do alho (1 ha) em dois sistemas
de produção. INCAPER, Domingos Martins-ES, 20101.
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Alho-semente
|
6.000,00
|
27,24
|
3.416,00
|
19,11
|
Adubo orgânico (composto)
|
1.760,70
|
7,99
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
1.996,00
|
11,17
|
Caldas e produtos biológicos
|
103,50
|
0,47
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
868,60
|
4,86
|
Outros Insumos e materiais
|
672,00
|
3,05
|
-
|
-
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
1,63
|
360,00
|
2,01
|
Mão de Obra (D/H)
|
(355) 10.650,00
|
48,35
|
(358) 10.740,00
|
60,09
|
Embalagens
|
1.309,28
|
5,94
|
216,45
|
1,21
|
Frete
|
1.169,20
|
5,31
|
277,50
|
1,55
|
Total
|
22.024,68
|
100,00
|
17.874,55
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
Batata (Solanum
tuberosum L.):
As análises indicaram uma totalização de
custos semelhantes entre os sistemas de produção de batata. A explicação se
baseia na compensação entre os maiores gastos com alho-semente, frete e
embalagens no sistema orgânico, com os maiores gastos com pesticidas e adubos/ corretivos
no convencional, uma vez que os gastos de mão-de-obra foram similares entre
ambos (Tabela 4).
As participações percentuais dos
componentes nos custos totais do sistema orgânico e convencional da batata, m
ordem decrescente, foram a mão-de-obra e o alho-semente (36% e 25%,
respectivamente), enquanto que no sistema convencional foram a mão-de-obra, os
adubos/corretivos e os pesticidas (41%, 20% e 18%, respectivamente).
Com produtividades e custos semelhantes,
devido ao sobrepreço pago à batata orgânica (preço de mercado 116% a mais do
que no convencional), houve uma receita bruta expressivamente maior na produção
orgânica, na ordem de 113%, (Tabelas 13 e 14).
Tabela 4 - Indicadores financeiros e consumo de
mão-de-obra na cultura da batata (1 ha) em dois sistemas de produção. INCAPER,
Domingos Martins-ES, 20101
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Sementes/ mudas
|
3.888,00
|
24,51
|
1.800,00
|
12,85
|
Adubo orgânico (composto)
|
1.760,70
|
11,10
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
2.742,80
|
19,58
|
Caldas e produtos biológicos
|
540,80
|
3,41
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
2.581,60
|
18,43
|
Outros Insumos e materiais
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
2,27
|
360,00
|
2,57
|
Mão de Obra (D/H)
|
(189) 5.670,00
|
35,75
|
(190) 5.700,00
|
40,68
|
Embalagens
|
2.102,10
|
13,25
|
358,80
|
2,56
|
Frete
|
1.540,10
|
9,71
|
468,00
|
3,34
|
Total
|
15.861,70
|
100,00
|
14.011,20
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
Cenoura (Daucus
carota L.):
Os custos de produção de cenoura não se diferenciaram
entre os sistemas, situando-se em torno de R$20.000,00, variando apenas a
participação dos componentes (Tabela 5).
A participação da mão-de-obra nos custos
de produção dos sistemas também foi semelhante, representando 40% (272 D/H) e
44% (292 D/H), no total de despesas dos sistemas orgânico e convencional,
respectivamente.
O cultivo da cenoura em sistema
convencional se mostrou mais produtivo que o sistema orgânico com 28.000 kg ha-1
e 23.547 kg ha-1, respectivamente. Devido à pequena diferença de
preço entre as cenouras no mercado, com sobrepreço de apenas R$0,04 por quilo
do produto orgânico, a receita bruta do cultivo convencional também superou em
13% o mercado dos orgânicos (Tabela 14).
Tabela 5 - Indicadores financeiros e consumo de
mão-de-obra na cultura da cenoura (1 ha) em dois sistemas de produção. INCAPER,
Domingos Martins-ES, 20101.
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Sementes/mudas
|
216,00
|
1,05
|
216,00
|
1,08
|
Adubo orgânico (composto)
|
1.760,70
|
8,60
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
3.158,72
|
15,78
|
Caldas e produtos biológicos
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
1.307,00
|
6,53
|
Outros Insumos e materiais
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
1,76
|
360,00
|
1,80
|
Mão de Obra (D/H)
|
(272) 8.160,00
|
39,84
|
(292) 8.770,00
|
43,82
|
Embalagens
|
5.274,08
|
25,75
|
3.500,00
|
17,49
|
Frete
|
4.709,40
|
22,99
|
2.700,00
|
13,49
|
Total
|
20.480,18
|
100,00
|
20.011,72
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
Morango (Fragaria
vesca L.):
O morango, em ambos sistemas de produção, mostrou-se
altamente rentável, mesmo com os custos de produção relativamente elevados
quando comparado às outras culturas. Os maiores custos se devem ao elevado
consumo de mão-de-obra para o cultivo do morangueiro com gastos totais de 526 e
617 D/H por hectare no sistema orgânico e convencional, respectivamente. Esta
diferença resulta da mão-de-obra demandada para as atividades de colheita/embalagem
e pulverizações, que no convencional somam 400 D/H e no orgânico somam 313 D/H.
Isto se deve ao maior volume de produção e ao maior número de pulverizações com
pesticidas no sistema convencional (Tabela 6).
O comportamento financeiro do morango
neste estudo corroboram os resultados obtidos por Donadelli et al. (2012), que
relataram comportamento econômico semelhante entre os dois sistemas. Porém, os
índices de lucratividade de 60,7% e 49,5% e participação da mão-de-obra com
49,6% e 29,3% no cultivo orgânico e convencional, respectivamente, diferiram
dos dados deste trabalho, que revelaram índices de lucratividade de 159% e 112%
e participações da mão-de-obra com 23,3% e 21,9%, respectivamente.
O custo de produção do sistema convencional
situou-se em torno de 25% a mais que o orgânico, devido principalmente aos
gastos adicionais com pesticidas e com maior quantidade de embalagens para
comportar a maior produção de frutos, semelhante aos resultados de Donadelli et
al. (2012) que verificaram um custo 16% maior para o convencional.
Tabela 6 - Indicadores financeiros e consumo de
mão-de-obra na cultura do morango (1 ha) em dois sistemas de produção. INCAPER,
Domingos Martins-ES, 20101
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Sementes/mudas
|
9.000,00
|
13,27
|
9.000,00
|
10,63
|
Adubo orgânico (composto)
|
1.760,70
|
2,60
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
2.826,80
|
3,34
|
Caldas e produtos biológicos
|
748,00
|
1,10
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
3.619,00
|
4,27
|
Outros Insumos e materiais
|
9.983,00
|
14,72
|
8.975,00
|
10,60
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
0,53
|
360,00
|
0,43
|
Mão de Obra (D/H)
|
(526) 15.780,00
|
23,27
|
(617) 18.510,00
|
21,86
|
Embalagens
|
21.875,00
|
32,25
|
30.000,00
|
35,42
|
Frete
|
8.312,50
|
12,26
|
11.400,00
|
13,46
|
Total
|
67.819,20
|
100,00
|
84.690,80
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
As participações percentuais dos
componentes nos custos totais do morangueiro indicaram uma distribuição muito
semelhante dos componentes nos dois sistemas de produção analisados. No sistema
orgânico, verificou-se uma receita bruta de R$175.881,70 com a produção de
26.251 kg ha-1. Mesmo com menor preço de mercado do morango, a
produtividade de 36.000 kg ha-1 do sistema convencional proporcionou
uma receita bruta de R$180.000,00, ligeiramente superior ao sistema orgânico
(Tabela 14).
Pimentão (Capsicum
annuum L.):
Os indicadores financeiros indicam um
custo de produção semelhante entre os dois sistemas de cultivo estudados
(Tabela 7). Os maiores gastos com embalagens e frete no sistema orgânico se equivalem
aos gastos com adubos/corretivos e pesticidas no sistema convencional. O maior
gasto de mão-de-obra verificado no cultivo convencional se deve ao consumo de
serviços adicionais para as operações de colheita, classificação e embalagem do
maior volume produzido, uma vez que o total de gastos nas demais operações
foi semelhante. As participações
percentuais dos componentes nos custos totais do sistema orgânico e
convencional do pimentão também mostraram uma distribuição similar, havendo
maior necessidade de mão-de-obra no cultivo convencional e de frete no cultivo
orgânico.
Tabela 7 - Indicadores financeiros e consumo de
mão-de-obra na cultura do pimentão (1 ha) em dois sistemas de produção.
INCAPER, Domingos Martins-ES, 20101
Despesas
|
Orgânico
|
Convencional
|
||
Valor (R$)
|
%
|
Valor (R$)
|
%
|
|
Alho-semente
|
1.500,00
|
4,59
|
1.500,00
|
4,55
|
Adubo orgânico (composto)
|
1.760,70
|
5,39
|
-
|
-
|
Adubos e corretivos
|
-
|
-
|
3.292,40
|
9,98
|
Caldas e produtos biológicos
|
110,40
|
0,34
|
-
|
-
|
Pesticidas
|
-
|
-
|
2.193,60
|
6,65
|
Outros Insumos e materiais
|
1.920,00
|
5,88
|
-
|
-
|
Serviços Mecânicos
|
360,00
|
1,10
|
360,00
|
1,09
|
Mão de Obra (D/H)
|
(382) 11.310,00
|
34,63
|
(455) 13.650,00
|
41,37
|
Embalagens
|
8.291,36
|
25,39
|
7.500,00
|
22,73
|
Frete
|
7.403,00
|
22,67
|
4.500,00
|
13,64
|
Total
|
32.655,46
|
100.00
|
32.996,00
|
100,00
|
1 Valores em R$ (atualizado em outubro de 2010).
Com a maior produtividade do sistema
convencional (30.000 kg/ha), a receita bruta foi de R$30.300,00, pouco inferior
à receita do sistema orgânico, que foi de (R$37.755,30), devido à grande diferença
no preço de venda (Tabela 14).
Tabela 13 -
Custos unitários e custos totais para 1 ha de diversas hortaliças em
sistema orgânico e convencional. INCAPER, Domingos Martins-ES, 20101.
Culturas
|
Sistemas
|
||||
Orgânico (A)
|
Convencional (B)
|
Diferencial
Por ha (A/B)
(%)
|
|||
(R$/ha)
|
(R$/kg)
|
(R$/ha)
|
(R$/kg)
|
||
Abóbora
|
3.595,85
|
0,49
|
4.917,50
|
0,58
|
-26,9
|
Alho
|
22.024,68
|
3,31
|
17.874,55
|
2,81
|
+23,2
|
Batata
|
15.861,70
|
0,92
|
14.011,20
|
0,80
|
+13,2
|
Cenoura
|
20.480,18
|
0,87
|
20.001,72
|
0,71
|
+2,4
|
Morango
|
67.819,20
|
2,58
|
84.690,80
|
2,35
|
-19,9
|
Pimentão
|
32.655,46
|
1,47
|
32.996,00
|
1,10
|
-1,0
|
Quiabo
|
20.060,24
|
1,51
|
18.007,60
|
1,20
|
+11,4
|
Repolho
|
11.099,67
|
0,20
|
14.096,00
|
0,30
|
-21,3
|
Taro
|
13.731,50
|
0,56
|
13.072,00
|
0,52
|
+5,0
|
Tomate
|
34.797,58
|
0,90
|
43.732,40
|
0,64
|
-20,4
|
Média geral
|
24.212,61
|
1,28
|
26.339,98
|
1,10
|
-8,1
|
1 Valores em R$ (Atualizados em outubro de 2010).
Tabela 14 -
Preço unitário de venda e receita bruta obtida em 1 ha de diversas
hortaliças em sistema orgânico e convencional. INCAPER, Domingos Martins-ES,
20101.
Culturas
|
Sistemas
|
||||
Orgânico (A)
|
Convencional (B)
|
Diferencial
Por ha (A/B)
(%)
|
|||
(R$/ha)
|
(R$/kg)
|
(R$/ha)
|
(R$/kg)
|
||
Abóbora
|
0,77
|
5.638,71
|
0,55
|
4.675,00
|
+20.6
|
Alho
|
7,50
|
43.845,00
|
4,27
|
23.698,50
|
+85.0
|
Batata
|
2,16
|
33.266,16
|
1,00
|
15.611,00
|
+113.1
|
Cenoura
|
0,79
|
18.602,13
|
0,75
|
21.000,00
|
-11.4
|
Morango
|
6,70
|
175.881,70
|
5,00
|
180.000,00
|
-2.3
|
Pimentão
|
1,70
|
37.755,30
|
1,01
|
30.300,00
|
+24.6
|
Quiabo
|
1,50
|
19.923,00
|
0,93
|
13.950,00
|
+42,8
|
Repolho
|
0,45
|
25.448,85
|
0,31
|
14.601,62
|
+74,3
|
Taro
|
0,97
|
21.831,93
|
0,73
|
16.790,00
|
+30,0
|
Tomate
|
1,75
|
67.406,50
|
0,84
|
57.288,00
|
+17,7
|
Média geral
|
2,43
|
44.959,93
|
1,54
|
37.791,41
|
+19,0
|
1 Valores em R$ (Atualizados em outubro de 2010).
Numa abordagem individualizada por
cultura, verificou-se que as receitas mais elevadas dos sistemas orgânicos
variaram de 17,7% até 113,1% maior que dos convencionais. Apenas para a cenoura
e o morango as receitas dos sistemas orgânicos foram menores aos dos
convencionais, na média de -11,4% e -2,3%, respectivamente.
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