domingo, 23 de fevereiro de 2014


Autor:  Luiz Augusto Martins Peruch, engenheiro agrônomo, Dr., pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar  os link “Publicações” e “Boletim didático”.


A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura.
Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos.
Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da  Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
As pestes de plantas, causadas pelas diferentes classes de organismos vivos, devem ser encaradas como parte integrante de uma plantação. Todavia, cabe ao agricultor reconhecer e manejar as mais importantes na sua horta a fim de reduzir as perdas. Neste capítulo serão abordadas questões sobre a natureza das pestes –doenças e pragas de plantas, sintomas causados por elas, bem como métodos de controle aplicáveis no cultivo orgânico.

Razões do ataque das pragas e doenças
As hortaliças estão sujeitas a uma série de  doenças e pragas que causam danos às plantas. Os  microrganismos patogênicos (bactérias, fungos, nematoides e vírus) que causam doenças, quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor).
Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos microrganismos patogênicos e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pestes causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com nutrientes altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis a pragas e doenças. Excesso de  nitrogênio ou carência de  potássio e  cálcio diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas.

Formas de manejar as doenças e pragas de forma integrada

O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:
É impossível controlar totalmente as pestes; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados.
O manejo integrado é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica) para  evitar danos econômicos às culturas.
No manejo integrado de pestes, a manipulação das condições ambientais, adubações equilibradas, plantas resistentes e tratos culturais são alternativas ao controle químico convencional. A seguir, são discutidas formas de controle para pestes da parte aérea e do solo que podem ser usadas na agricultura orgânica.

Pragas e doenças  radiculares
As doenças e pragas  radiculares causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas podem ser facilmente reconhecidas pelo fato de provocar os seguintes sintomas: amarelecimento, murcha, galhas, podridões de colo, de semente e de raiz, entre outras. Dificilmente são observadas em cultivos orgânicos de hortaliças, mas, se ocorrerem, podem ser manejadas com as práticas relacionadas a seguir.
Rotação de culturas: Esta é considerada a prática mais antiga no manejo de doenças e de pragas e continua sendo uma das mais eficientes entre os métodos culturais de controle. Os princípios de controle envolvido na rotação de culturas são:  redução ou destruição do meio que serve para multiplicação do  microrganismos patogênicos; e a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
No caso da horticultura orgânica, este método é normalmente usado e mantém as pestes do solo sob controle. Contudo, em áreas pequenas se faz somente a rotação de canteiros em períodos muito curtos, nem sempre dando tempo suficiente para eliminação das pestes. Nesses casos, deve-se aumentar o período de rotação plantando gramíneas, como aveia-preta ou milho.
Preparo do solo: Em casos de ataques anteriores e frequentes de doenças e pragas deve-se adotar o preparo adequado do solo para instalação da cultura como medida preventiva. Deve-se revolver muito bem o solo através de uma aração profunda, deixando-o exposto ao sol por uns dias. Repetir essa operação duas a três vezes e só depois realizar a gradagem. Essa prática destrói os micróbios por deixá-los expostos à radiação solar. Essa é uma prática válida para os fungos, bactérias e nematóides que atacam as hortaliças. Um bom preparo do solo pode reduzir o ataque de pragas, como a lagarta rosca e paquinhas, em várias hortaliças. Isso se deve ao fato de que esses insetos fazem ninhos no solo e o seu revolvimento mata a praga e destrói os seus ovos. Um bom preparo do solo no cultivo da batata e uma amontoa adequada terra (amontoa) evitam ataques de larvas-alfinete que perfuram os tubérculos.
Profundidade de plantio: A maior profundidade de plantio das sementes pode afetar negativamente algumas plantas. Apesar de favorecer o processo de germinação, o plantio profundo de sementes aumenta a suscetibilidade das plântulas.
Destruição dos restos culturais: Deve-se sempre, antes de iniciar o preparo do solo, retirar da lavoura os restos do cultivo anterior (ramos, folhas e frutos) e fazer compostagem com eles para evitar possíveis focos de doenças, especialmente se foram verificados focos de plantas murchas ou amarelecidas. Além desse tratamento dos restos culturais, recomenda-se destruir plantas que apresentam esses sintomas durante o cultivo. Essa é uma prática válida, especialmente para as espécies das famílias botânicas das solanáceas, cucurbitáceas e brássicas, que apresentam maior incidência de doenças e pragas.
Irrigação: Em algumas situações a irrigação pode ser benéfica para a planta e ruim para o  microrganismo patogênico, criando condições de menor estresse para a primeira e destruindo as estruturas do segundo. Contudo, quando em excesso, pode beneficiar o  microrganismo patogênico por incentivar alguma de suas fases de desenvolvimento, sendo maléfica para o hospedeiro. Em lavouras de tomate e pimentão deve-se evitar regar à tarde para que a superfície do solo esteja enxuta durante a noite. A água de irrigação, tanto na sementeira como no plantio definitivo, deve ser de boa qualidade e não contaminada por solo infestado microrganismos patogênicos ou por restos de culturas doentes. Ocorrendo doenças bacterianas (murchadeira e canela preta), é recomendável a suspensão da irrigação e também a retirada das plantas doentes. Muitas vezes, importantes doenças e pragas parte aérea são beneficiadas pela aspersão. O gotejamento é o mais favorável no aspecto de manejo de doenças. Para o manejo de pulgões e trips que atacam várias hortaliças, muitas vezes uma chuva ou mesmo uma irrigação por aspersão pode reduzir a infestação dessas pragas. Assim, o produtor deve reconhecer qual problema  é o  mais importante para adotar o sistema de irrigação que trará mais benefícios para o cultivo.
Cobertura morta e adição de matéria orgânica ao solo: Além dos efeitos favoráveis em relação à diminuição da erosão, manutenção da umidade do solo e outros, a cobertura do solo também pode influir na sobrevivência e disseminação dos microrganismos patogênicos e insetos-pragas. A cobertura do solo proporciona condições físicas, químicas e biológicas mais equilibradas, favorecendo o hospedeiro e os microrganismos benéficos do solo, reduzindo, assim, a incidência das doenças radiculares. Reduções das perdas de umidade, maior infiltração e absorção de água, menores temperaturas do solo e proteção contra o efeito do impacto das gotas de chuva são alguns dos outros efeitos positivos da cobertura de solo. A disseminação dos propágulos de microrganismos patogênicos também pode ser dificultada quando há cobertura do solo devida à redução do poder de respingo. Dessa maneira, esporos de fungos e células bacterianas não são depositados na parte aérea das plantas. A incorporação de material orgânico fornece energia e nutrientes ao solo, alterando drasticamente as condições ambientais para o crescimento e a sobrevivência das plantas e microrganismos. Essa prática também influencia o desenvolvimento das doenças de plantas, diminuindo ou aumentando a sua intensidade. Quando ocorre uma redução da doença, normalmente, estão envolvidas algumas das seguintes alterações: aumento das populações de microrganismos  benéficos que influenciam o desenvolvimento ou sobrevivência dos microrganismos patogênicos , alterações das propriedades físico-químicas dos solos e produção de substâncias tóxicas.
Na Figura 1 há uma representação de dois solos manejados de forma convencional e orgânica. O solo manejado organicamente tem mais vida, ou seja, uma grande quantidade de macro e microrganismos benéficos que impedem ou limitam o desenvolvimento das pragas e doenças.


 Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita)   
Fonte: Chaboussou (1995).


Doenças e pragas da parte aérea
As doenças e pragas da parte aérea são causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas que causam os seguintes sintomas: manchas foliares, ferrugens, cancros, mosaicos, distorções das folhas, perfurações e morte de ramos e galhos.
Destruição dos restos culturais:  Com o advento da agricultura moderna, várias antigas práticas de controle de doenças caíram em desuso em face de praticidade e economicidade do controle químico. Práticas como a destruição de restos culturais são raramente executadas em várias culturas. Na cultura da cebola, por exemplo, a destruição dos restos culturais doentes por meio da compostagem pode reduzir a queima das pontas em até 50%. O enterrio fora da lavoura de folhas doentes de repolho, couve-flor e brócolis também contribui para manejar algumas de suas doenças mais importantes, pois na superfície do solo os microrganismos patogênicos  podem sobreviver por 2 meses ou mais. Outra opção é fazer a compostagem utilizando os restos vegetais dessas culturas.
Nutrição equilibrada: A adubação correta, com base em análise de solo, é fundamental, pois as plantas bem nutridas possuem maior resistência às doenças. O excesso de nitrogênio resulta na produção de tecidos jovens e suculentos, atrasando a maturidade da planta. Por outro lado, plantas mal supridas com esse elemento têm um fraco crescimento e amadurecimento precoce dos tecidos. Em ambos os casos a planta se torna mais susceptível ao ataque de doenças. Assim como o nitrogênio, o fósforo apresenta respostas variadas em relação às suas adubações e à severidade das doenças. Adubos fosforados solúveis, por exemplo, reduzem a severidade da sarna da batata, mas podem aumentar as perdas causadas por viroses em espinafre. Em relação ao potássio, geralmente, tem-se demonstrado seu efeito benéfico na redução da severidade de inúmeras doenças. Todavia, o excesso dele causa desequilíbrio nutricional e aumenta a severidade de outras doenças. O potássio atua diretamente em vários estágios do relacionamento microrganismos patogênicos  com a planta. O cálcio, por sua vez, está normalmente relacionado ao controle de doenças. A sarna da batata é um exemplo de doenças favorecidas por altos níveis de cálcio. Tratamentos no campo e na pós-colheita com compostos à base de cálcio são utilizados em diversas culturas por causa dos efeitos favoráveis na fisiologia dos frutos e na redução das perdas pós-colheita provocadas por doenças.
Densidade de plantas: Geralmente, quanto maior a densidade de plantas, maior a severidade da doença em virtude da maior proximidade das plantas, microferimentos causados por ocasião dos tratos culturais e alterações nas condições climáticas, aumentando a umidade próxima às folhas. Em plantios mais adensados existe a possibilidade de transmissão do microrganismos patogênicos devido aos microferimentos causados pelo contato de partes da planta.
Práticas culturais: Algumas práticas inadequadas podem favorecer o desenvolvimento de algumas doenças. A amontoa em pimentão e pepino não deve ser feita para evitar uma das principais doenças que ocorre na região do colo da planta. As desbrotas e capações realizadas no tomateiro devem ser feitas a mão, arrancando-se a parte a eliminar, sem esmagamento, para que a mão não fique  contaminada pelo suco da planta, que pode transportar  microrganismos patogênicos de uma planta para outra.
Época de plantio: A maior ou menor susceptibilidade das plantas em relação às doenças pode variar conforme a época de plantio. Em função disso, pode-se alterar a data de plantio de uma determinada cultura para fugir da época mais favorável ao desenvolvimento de doenças e pragas, assim como de seus vetores. O cultivo do tomateiro no outono, por exemplo, é considerado problemático nas regiões litorâneas de Santa Catarina em razão do ataque de vaquinhas, trips, vírus do vira-cabeça e da requeima. Já o cultivo de primavera é mais favorável para o tomateiro devido à menor ocorrência de doenças e pragas.
Material de propagação sadio e cultivares resistentes: A escolha de um material de propagação sadio é fundamental para o sucesso de uma cultura. Sendo assim, é importante, sempre que possível, utilizar cultivares resistentes ou materiais propagativos livres de pragas e doenças.
A seguir, são citados alguns exemplos de cultivares resistentes às doenças. O tomate do tipo cerejinha e do tipo italiano são considerados mais resistentes às pragas e doenças que os tomates de mesa tipo Santa Cruz e tipo Salada. No caso do repolho, os híbridos Fuyutoyo e Emblem são considerados resistentes à doença podridão-negra. O híbrido de couve-flor Júlia F1 é resistente à alternariose das brássicas.  Os cultivares de batata Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota são resistentes à requeima e à pinta preta. Para prevenir viroses em alface, devem ser plantados os cultivares Regina, Verônica e Vera. O cultivar de batata-doce Princesa é resistente ao “mal-do-pé”, enquanto a Brazlândia Roxa é tolerante aos insetos que causam perfurações nas raízes. O cultivar de vagem Preferido é tolerante à ferrugem e à antracnose, e o Favorito tolera a ferrugem e o oídio. Por fim, as cenouras do grupo Brasília são resistentes ao sapeco. A outra opção, não menos importante, é o plantio de materiais sadios. Os microrganismos patogênicos  são transmitidos por sementes e outros materiais de propagação. O plantio de ramas de batata-doce sadias é uma opção para evitar a doença “mal do pé”, por exemplo.                                                                   Pulverização de fungicidas e inseticidas: Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (calda bordalesa, calda sulfocálica, biofertilizantes, extratos vegetais e agentes de controle biológicos) devem ser utilizados somente quando necessário e de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças  e brocas do tomateiro e ainda as brocas das cucurbitáceas.


Ferreira On 2/23/2014 05:37:00 AM 3 comments

3 comentários:

  1. Uma hortaliça ou leguminosa pode absorver microorganismos pela raiz e ficar contaminada a ponto de contaminar quem as come?

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  2. O autor esclarece: que por vezes acontece de ao ingerir alimentos também "comermos" patógenos de plantas que estão infectando a verdura ou fruta. Todavia, patógenos de plantas não tem capacidade de infectar seres humanos. Eventualmente alguma substancia produzido pelo patógeno pode causar algum problema para o ser humano, que na maioria das vezes mas não deve passar de um mal passageiro ou simplesmente deixar "um gosto ruim". Deve-se ressaltar que existem alguns poucos casos conhecidos de fungos fitopatogênicos que causam graves problemas ao ser humano por contaminar o alimento. O maior caso conhecido foi ocasionado pelo Claviceps purpurea, fungo que ataca grãos de cereais e secreta uma substância tóxica, que causava uma doença conhecida como ergotismo.
    O ergotismo causou loucura, mutilações e mortes de muitas pessoas na idade média.

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  3. Minha erva-cidreira-de-arbusto (Lippia alba) está apresentando folhas com parte marrom ferrugem, talvez seja a doença ferrugem. Minha dúvida é se esta planta pode causar mal ao ser humano se ingerida. Obrigado

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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Doenças e pragas de hortaliças em cultivos orgânicos: princípios e manejo


Autor:  Luiz Augusto Martins Peruch, engenheiro agrônomo, Dr., pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar  os link “Publicações” e “Boletim didático”.


A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura.
Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos.
Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da  Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
As pestes de plantas, causadas pelas diferentes classes de organismos vivos, devem ser encaradas como parte integrante de uma plantação. Todavia, cabe ao agricultor reconhecer e manejar as mais importantes na sua horta a fim de reduzir as perdas. Neste capítulo serão abordadas questões sobre a natureza das pestes –doenças e pragas de plantas, sintomas causados por elas, bem como métodos de controle aplicáveis no cultivo orgânico.

Razões do ataque das pragas e doenças
As hortaliças estão sujeitas a uma série de  doenças e pragas que causam danos às plantas. Os  microrganismos patogênicos (bactérias, fungos, nematoides e vírus) que causam doenças, quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor).
Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos microrganismos patogênicos e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pestes causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com nutrientes altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis a pragas e doenças. Excesso de  nitrogênio ou carência de  potássio e  cálcio diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas.

Formas de manejar as doenças e pragas de forma integrada

O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:
É impossível controlar totalmente as pestes; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados.
O manejo integrado é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica) para  evitar danos econômicos às culturas.
No manejo integrado de pestes, a manipulação das condições ambientais, adubações equilibradas, plantas resistentes e tratos culturais são alternativas ao controle químico convencional. A seguir, são discutidas formas de controle para pestes da parte aérea e do solo que podem ser usadas na agricultura orgânica.

Pragas e doenças  radiculares
As doenças e pragas  radiculares causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas podem ser facilmente reconhecidas pelo fato de provocar os seguintes sintomas: amarelecimento, murcha, galhas, podridões de colo, de semente e de raiz, entre outras. Dificilmente são observadas em cultivos orgânicos de hortaliças, mas, se ocorrerem, podem ser manejadas com as práticas relacionadas a seguir.
Rotação de culturas: Esta é considerada a prática mais antiga no manejo de doenças e de pragas e continua sendo uma das mais eficientes entre os métodos culturais de controle. Os princípios de controle envolvido na rotação de culturas são:  redução ou destruição do meio que serve para multiplicação do  microrganismos patogênicos; e a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
No caso da horticultura orgânica, este método é normalmente usado e mantém as pestes do solo sob controle. Contudo, em áreas pequenas se faz somente a rotação de canteiros em períodos muito curtos, nem sempre dando tempo suficiente para eliminação das pestes. Nesses casos, deve-se aumentar o período de rotação plantando gramíneas, como aveia-preta ou milho.
Preparo do solo: Em casos de ataques anteriores e frequentes de doenças e pragas deve-se adotar o preparo adequado do solo para instalação da cultura como medida preventiva. Deve-se revolver muito bem o solo através de uma aração profunda, deixando-o exposto ao sol por uns dias. Repetir essa operação duas a três vezes e só depois realizar a gradagem. Essa prática destrói os micróbios por deixá-los expostos à radiação solar. Essa é uma prática válida para os fungos, bactérias e nematóides que atacam as hortaliças. Um bom preparo do solo pode reduzir o ataque de pragas, como a lagarta rosca e paquinhas, em várias hortaliças. Isso se deve ao fato de que esses insetos fazem ninhos no solo e o seu revolvimento mata a praga e destrói os seus ovos. Um bom preparo do solo no cultivo da batata e uma amontoa adequada terra (amontoa) evitam ataques de larvas-alfinete que perfuram os tubérculos.
Profundidade de plantio: A maior profundidade de plantio das sementes pode afetar negativamente algumas plantas. Apesar de favorecer o processo de germinação, o plantio profundo de sementes aumenta a suscetibilidade das plântulas.
Destruição dos restos culturais: Deve-se sempre, antes de iniciar o preparo do solo, retirar da lavoura os restos do cultivo anterior (ramos, folhas e frutos) e fazer compostagem com eles para evitar possíveis focos de doenças, especialmente se foram verificados focos de plantas murchas ou amarelecidas. Além desse tratamento dos restos culturais, recomenda-se destruir plantas que apresentam esses sintomas durante o cultivo. Essa é uma prática válida, especialmente para as espécies das famílias botânicas das solanáceas, cucurbitáceas e brássicas, que apresentam maior incidência de doenças e pragas.
Irrigação: Em algumas situações a irrigação pode ser benéfica para a planta e ruim para o  microrganismo patogênico, criando condições de menor estresse para a primeira e destruindo as estruturas do segundo. Contudo, quando em excesso, pode beneficiar o  microrganismo patogênico por incentivar alguma de suas fases de desenvolvimento, sendo maléfica para o hospedeiro. Em lavouras de tomate e pimentão deve-se evitar regar à tarde para que a superfície do solo esteja enxuta durante a noite. A água de irrigação, tanto na sementeira como no plantio definitivo, deve ser de boa qualidade e não contaminada por solo infestado microrganismos patogênicos ou por restos de culturas doentes. Ocorrendo doenças bacterianas (murchadeira e canela preta), é recomendável a suspensão da irrigação e também a retirada das plantas doentes. Muitas vezes, importantes doenças e pragas parte aérea são beneficiadas pela aspersão. O gotejamento é o mais favorável no aspecto de manejo de doenças. Para o manejo de pulgões e trips que atacam várias hortaliças, muitas vezes uma chuva ou mesmo uma irrigação por aspersão pode reduzir a infestação dessas pragas. Assim, o produtor deve reconhecer qual problema  é o  mais importante para adotar o sistema de irrigação que trará mais benefícios para o cultivo.
Cobertura morta e adição de matéria orgânica ao solo: Além dos efeitos favoráveis em relação à diminuição da erosão, manutenção da umidade do solo e outros, a cobertura do solo também pode influir na sobrevivência e disseminação dos microrganismos patogênicos e insetos-pragas. A cobertura do solo proporciona condições físicas, químicas e biológicas mais equilibradas, favorecendo o hospedeiro e os microrganismos benéficos do solo, reduzindo, assim, a incidência das doenças radiculares. Reduções das perdas de umidade, maior infiltração e absorção de água, menores temperaturas do solo e proteção contra o efeito do impacto das gotas de chuva são alguns dos outros efeitos positivos da cobertura de solo. A disseminação dos propágulos de microrganismos patogênicos também pode ser dificultada quando há cobertura do solo devida à redução do poder de respingo. Dessa maneira, esporos de fungos e células bacterianas não são depositados na parte aérea das plantas. A incorporação de material orgânico fornece energia e nutrientes ao solo, alterando drasticamente as condições ambientais para o crescimento e a sobrevivência das plantas e microrganismos. Essa prática também influencia o desenvolvimento das doenças de plantas, diminuindo ou aumentando a sua intensidade. Quando ocorre uma redução da doença, normalmente, estão envolvidas algumas das seguintes alterações: aumento das populações de microrganismos  benéficos que influenciam o desenvolvimento ou sobrevivência dos microrganismos patogênicos , alterações das propriedades físico-químicas dos solos e produção de substâncias tóxicas.
Na Figura 1 há uma representação de dois solos manejados de forma convencional e orgânica. O solo manejado organicamente tem mais vida, ou seja, uma grande quantidade de macro e microrganismos benéficos que impedem ou limitam o desenvolvimento das pragas e doenças.


 Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita)   
Fonte: Chaboussou (1995).


Doenças e pragas da parte aérea
As doenças e pragas da parte aérea são causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas que causam os seguintes sintomas: manchas foliares, ferrugens, cancros, mosaicos, distorções das folhas, perfurações e morte de ramos e galhos.
Destruição dos restos culturais:  Com o advento da agricultura moderna, várias antigas práticas de controle de doenças caíram em desuso em face de praticidade e economicidade do controle químico. Práticas como a destruição de restos culturais são raramente executadas em várias culturas. Na cultura da cebola, por exemplo, a destruição dos restos culturais doentes por meio da compostagem pode reduzir a queima das pontas em até 50%. O enterrio fora da lavoura de folhas doentes de repolho, couve-flor e brócolis também contribui para manejar algumas de suas doenças mais importantes, pois na superfície do solo os microrganismos patogênicos  podem sobreviver por 2 meses ou mais. Outra opção é fazer a compostagem utilizando os restos vegetais dessas culturas.
Nutrição equilibrada: A adubação correta, com base em análise de solo, é fundamental, pois as plantas bem nutridas possuem maior resistência às doenças. O excesso de nitrogênio resulta na produção de tecidos jovens e suculentos, atrasando a maturidade da planta. Por outro lado, plantas mal supridas com esse elemento têm um fraco crescimento e amadurecimento precoce dos tecidos. Em ambos os casos a planta se torna mais susceptível ao ataque de doenças. Assim como o nitrogênio, o fósforo apresenta respostas variadas em relação às suas adubações e à severidade das doenças. Adubos fosforados solúveis, por exemplo, reduzem a severidade da sarna da batata, mas podem aumentar as perdas causadas por viroses em espinafre. Em relação ao potássio, geralmente, tem-se demonstrado seu efeito benéfico na redução da severidade de inúmeras doenças. Todavia, o excesso dele causa desequilíbrio nutricional e aumenta a severidade de outras doenças. O potássio atua diretamente em vários estágios do relacionamento microrganismos patogênicos  com a planta. O cálcio, por sua vez, está normalmente relacionado ao controle de doenças. A sarna da batata é um exemplo de doenças favorecidas por altos níveis de cálcio. Tratamentos no campo e na pós-colheita com compostos à base de cálcio são utilizados em diversas culturas por causa dos efeitos favoráveis na fisiologia dos frutos e na redução das perdas pós-colheita provocadas por doenças.
Densidade de plantas: Geralmente, quanto maior a densidade de plantas, maior a severidade da doença em virtude da maior proximidade das plantas, microferimentos causados por ocasião dos tratos culturais e alterações nas condições climáticas, aumentando a umidade próxima às folhas. Em plantios mais adensados existe a possibilidade de transmissão do microrganismos patogênicos devido aos microferimentos causados pelo contato de partes da planta.
Práticas culturais: Algumas práticas inadequadas podem favorecer o desenvolvimento de algumas doenças. A amontoa em pimentão e pepino não deve ser feita para evitar uma das principais doenças que ocorre na região do colo da planta. As desbrotas e capações realizadas no tomateiro devem ser feitas a mão, arrancando-se a parte a eliminar, sem esmagamento, para que a mão não fique  contaminada pelo suco da planta, que pode transportar  microrganismos patogênicos de uma planta para outra.
Época de plantio: A maior ou menor susceptibilidade das plantas em relação às doenças pode variar conforme a época de plantio. Em função disso, pode-se alterar a data de plantio de uma determinada cultura para fugir da época mais favorável ao desenvolvimento de doenças e pragas, assim como de seus vetores. O cultivo do tomateiro no outono, por exemplo, é considerado problemático nas regiões litorâneas de Santa Catarina em razão do ataque de vaquinhas, trips, vírus do vira-cabeça e da requeima. Já o cultivo de primavera é mais favorável para o tomateiro devido à menor ocorrência de doenças e pragas.
Material de propagação sadio e cultivares resistentes: A escolha de um material de propagação sadio é fundamental para o sucesso de uma cultura. Sendo assim, é importante, sempre que possível, utilizar cultivares resistentes ou materiais propagativos livres de pragas e doenças.
A seguir, são citados alguns exemplos de cultivares resistentes às doenças. O tomate do tipo cerejinha e do tipo italiano são considerados mais resistentes às pragas e doenças que os tomates de mesa tipo Santa Cruz e tipo Salada. No caso do repolho, os híbridos Fuyutoyo e Emblem são considerados resistentes à doença podridão-negra. O híbrido de couve-flor Júlia F1 é resistente à alternariose das brássicas.  Os cultivares de batata Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota são resistentes à requeima e à pinta preta. Para prevenir viroses em alface, devem ser plantados os cultivares Regina, Verônica e Vera. O cultivar de batata-doce Princesa é resistente ao “mal-do-pé”, enquanto a Brazlândia Roxa é tolerante aos insetos que causam perfurações nas raízes. O cultivar de vagem Preferido é tolerante à ferrugem e à antracnose, e o Favorito tolera a ferrugem e o oídio. Por fim, as cenouras do grupo Brasília são resistentes ao sapeco. A outra opção, não menos importante, é o plantio de materiais sadios. Os microrganismos patogênicos  são transmitidos por sementes e outros materiais de propagação. O plantio de ramas de batata-doce sadias é uma opção para evitar a doença “mal do pé”, por exemplo.                                                                   Pulverização de fungicidas e inseticidas: Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (calda bordalesa, calda sulfocálica, biofertilizantes, extratos vegetais e agentes de controle biológicos) devem ser utilizados somente quando necessário e de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças  e brocas do tomateiro e ainda as brocas das cucurbitáceas.


3 comentários:

  1. Uma hortaliça ou leguminosa pode absorver microorganismos pela raiz e ficar contaminada a ponto de contaminar quem as come?

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  2. O autor esclarece: que por vezes acontece de ao ingerir alimentos também "comermos" patógenos de plantas que estão infectando a verdura ou fruta. Todavia, patógenos de plantas não tem capacidade de infectar seres humanos. Eventualmente alguma substancia produzido pelo patógeno pode causar algum problema para o ser humano, que na maioria das vezes mas não deve passar de um mal passageiro ou simplesmente deixar "um gosto ruim". Deve-se ressaltar que existem alguns poucos casos conhecidos de fungos fitopatogênicos que causam graves problemas ao ser humano por contaminar o alimento. O maior caso conhecido foi ocasionado pelo Claviceps purpurea, fungo que ataca grãos de cereais e secreta uma substância tóxica, que causava uma doença conhecida como ergotismo.
    O ergotismo causou loucura, mutilações e mortes de muitas pessoas na idade média.

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  3. Minha erva-cidreira-de-arbusto (Lippia alba) está apresentando folhas com parte marrom ferrugem, talvez seja a doença ferrugem. Minha dúvida é se esta planta pode causar mal ao ser humano se ingerida. Obrigado

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