quarta-feira, 13 de novembro de 2013

     A prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga, normalmente era o cultivo de uma leguminosa para ser incorporada ao solo na véspera do cultivo principal. No Brasil, esta prática também foi muito utilizada até a década de 70, quando houve uma redução devido ao aumento do uso da adubação química. Porém, logo se verificou que foi um erro acreditar que a adubação química pudesse substituir a adubação orgânica e a adubação verde. Felizmente houve um retorno a estas práticas e hoje elas são consideradas fundamentais para a implantação de uma agricultura sustentável. Com as práticas do plantio direto e cultivo mínimo, o conceito de adubação verde evoluiu, pois ao invés destas plantas serem incorporadas ao solo, elas permanecem sobre o solo, como cobertura morta ou viva, protegendo-o no cultivo seguinte e também são utilizadas outras espécies (aveia, azevém, centeio, nabo forrageiro e outras) além das leguminosas. Onde há pouco esterco de animais é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica.
     Os efeitos dos adubos verdes também chamados de “plantas condicionadoras” de solo estão inicialmente associados à capacidade de cobertura do terreno e à adição de matéria orgânica. É preciso ter em mente que as culturas, especialmente as hortaliças, exportam grandes quantidades de nutrientes por meio dos produtos das colheitas (algumas não deixam nada na lavoura), por isso, a adubação orgânica e adubação verde, são essenciais para repor os nutrientes, caso contrário, ocorrerá um processo gradual de empobrecimento do solo. Dentre os principais benefícios dos adubos verdes, destacam-se:

         ● Proteção contra a erosão;
         Melhoria da estrutura, com aumento na infiltração e retenção de água no solo;
         ● Ciclagem de nutrientes;
         ● Redução da população de plantas espontâneas;
       Contribuição para o equilíbrio biológico do solo, podendo favorecer a população de organismos benéficos e reduzir problemas ligados a patógenos do solo, entre outros.

     O uso dos adubos verdes pode ser feito tanto em áreas em que se fez o preparo do solo como em áreas cobertas por palhadas ou restos culturais. A forma de manejo depende da finalidade da adubação verde.

Incorporados ao solo:  esta é a forma antiga de manejo dos adubos verdes, quando o objetivo principal é o fornecimento de nutrientes para a cultura seguinte, devido a decomposição rápida.
Mantidos na superfície do solo: esta é a forma moderna de manejo de adubos verdes, visando-se a proteção do solo contra erosão e plantas espontâneas (decomposição lenta), a produção de palhada (cobertura morta ou viva) para o plantio direto ou cultivo mínimo, a reciclagem de nutrientes, o aumento da infiltração e retenção de água no solo e, favorecimento da população de organismos benéficos e inimigos naturais dos insetos-pragas.
Acamamento: é a prática mais recomendada para realização de plantio direto e cultivo mínimo de hortaliças ou grãos e também nos pomares. O acamamento pode ser feito com equipamentos simples como o rolo-faca e outros;
Roçada: Esta prática é usada quando não se consegue fazer o acamamento ou então quando os adubos verdes em consorciação estão competindo especialmente por luz. Quando é preciso fazer canteiros e a produção de massa verde é muito grande deve-se roçar para ficar mais fácil para incorporar a adubação verde. Para cultivo de cenoura, por exemplo, deve-se incorporar a adubação verde superficial (10 a 15 cm de profundidade) com antecedência de 3 semanas antes da semeadura ou transplante (outras hortaliças) para dar tempo para a decomposição do material. Quando for feito o preparo do solo é muito importante tomar cuidado com o uso de enxadas rotativas, especialmente microtratores, pois movimenta excessivamente o solo, desestruturando-o e compactando-o. Por isso, sempre que possível deve-se dar preferência para o plantio direto e cultivo mínimo, tanto para culturas anuais como perenes.
Os adubos verdes também chamadas de “plantas de cobertura” exercem importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura afetam diretamente a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir o número de plantas espontâneas em até 75%.
As plantas de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do solo e suprimento de nitrogênio através das leguminosas. Atualmente, essas plantas têm despertado interesse também no manejo de plantas espontâneas. Áreas infestadas por tiririca ou junca (Cyperus rotundus), planta indicadora de solo ácido, compactado e com carência em magnésio (Mg) podem ser melhoradas com o cultivo de plantas de cobertura, tais como feijão-de-porco e mucuna-preta. Especificamente para o manejo de plantas espontâneas, não existe uma espécie ideal. Cada espécie se adapta a determinado sistema de manejo. No entanto, existem alguns critérios básicos, relacionados a seguir, que devem ser levados em consideração quando da escolha da espécie.

Critérios na escolha de plantas para adubação verde
     Todas as espécies apresentam vantagens e desvantagens, desenvolvendo-se bem dentro de certas condições climáticas e práticas de cultivo e de manejo, por isso, alguns critérios devem ser observados na escolha da espécie de adubação verde e cobertura do solo.

● Apresentação de rápido crescimento inicial e eficiente cobertura do solo;
● Sistema radicular profundo e diferenciado das culturas;   
● Produção de elevada quantidade de massa verde e massa seca, proporcionando adequada cobertura do solo pela palha;                                                                                                        ● Apresentação de lenta decomposição da palha;
● Facilidade de implantação e condução no campo;
● Resistência às pragas e doenças, não se comportando como planta hospedeira;
Fácil manejo (acamamento) das espécies para implantação dos cultivos de sucessão;
     ● Ausência de comportamento como invasoras, dificultando o cultivo de culturas de sucessão
● Rusticidade: desenvolvimento mesmo em situações de estresse (pouca água, frio e calor).
● Promoção de associações com fungos e bactérias na fixação de nitrogênio e liberação de fósforo;
● Possibilidade de ser multiplicadas por sementes;
● Plantas que permitam outros usos além da adubação verde, como para alimentação humana, animal, artesanato e outros.
● Plantas que são facilmente manejadas mecanicamente, por meio de roçada ou rolo-faca.
Cabe ressaltar que a importância de cada uma das características desejáveis relacionadas anteriormente, depende do sistema de cultivo a ser adotado (rotação de culturas, consórcio, etc.) e da cultura de interesse econômico.

Rotação e consórcio de adubos verdes
Com o objetivo de melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de nutrientes, a rotação e a mistura de espécies feita por meio do consórcio de adubos verdes é prática de grande utilidade para o cultivo de qualquer cultura. Seguramente um dos maiores ganhos dessa técnica é a maior produção de massa, podendo em alguns casos ser quatro vezes maior do que o cultivo solteiro.
No cultivo de hortaliças também a prática da adubação verde através da rotação e consorciação é importante e perfeitamente possível de ser adotada anualmente. Independentemente da espécie de hortaliça, a adubação verde quase sempre proporciona algum tipo de benefício no manejo orgânico, seja diretamente para a cultura econômica ou, indiretamente, por meio da melhoria das condições de solo. O uso de adubos verdes através da rotação de culturas é favorável para qualquer espécie de hortaliça, enquanto  que no cultivo consorciado (hortaliças + adubos verdes) as espécies com maior espaçamento de plantio entre linhas (ex.: tomate, pimentão, milho-verde, aipim, repolho, couve-flor, brócolis, couve e outras) são as mais beneficiadas.
No cultivo em rotação, o adubo verde pode ser incorporado ao solo após a roçada para posterior plantio da hortaliça, ou mantido em cobertura sobre a superfície do terreno, fazendo-se o plantio direto da hortaliça na palhada. A manutenção da palhada na superfície retarda a germinação das sementes de plantas espontâneas, ao passo que a sua incorporação ao solo tende a fornecer os nutrientes mais rapidamente para a cultura em sucessão. Quando os adubos verdes são cultivados em rotação com hortaliças recomenda-se a roçada no momento de seu máximo desenvolvimento, ou seja, quando ocorre alta acumulação de nutrientes na massa vegetal; para as leguminosas a roçada pode ser feita na ocasião do florescimento, enquanto que para as gramíneas, a roçada deve ser feita na fase de grão leitoso.
Existem várias sugestões de consórcios de adubos verdes com hortaliças que podem ser adotadas, mas todas precisam ser ajustadas na propriedade. No consórcio, o adubo verde pode ser semeado nas  entrelinhas ou formando faixas intercalares com as hortaliças, quando as espécies de adubos verdes apresentam porte arbustivo ou arbóreo. Quando a adubação verde é utilizada em consórcio com hortaliças, é importante que a roçada ou a poda sejam feitas no momento em que o adubo verde tenha criado condições desfavoráveis ao bom desenvolvimento da cultura econômica, em decorrência da competição por água e luz.
  
Uso de adubos verdes (coquetel e consórcios) na produção orgânica de hortaliças:  O “coquetel” consiste no cultivo consorciado de diferentes espécies de adubos verdes que, de maneira geral, apresentam portes e hábitos de crescimento distintos e são cultivados em rotação e em consórcio com as culturas econômicas. Sempre que possível, sugere-se o consórcio de leguminosas (ex.: ervilhaca, feijão-de-porco e mucuna) e gramíneas (ex.: aveia, milho) e outras como o nabo forrageiro. Esta estratégia permite que as gramíneas que possuem decomposição mais lenta, forneçam uma cobertura residual mais estável, desfavorecendo as plantas espontâneas, enquanto que as leguminosas contribuem com um aporte maior de N e decomposição mais rápida. Por outro lado o nabo forrageiro, devido ao sistema radicular pivotante, contribui com uma melhor descompactação do solo. A combinação de mais de uma espécie de adubo verde pode trazer outros benefícios para o cultivo das culturas, tais como:

. Exploração de camadas diferenciadas do solo pelas raízes, melhorando a estrutura do solo e acumulando diferentes nutrientes;
. Velocidade distinta de decomposição dos resíduos com impacto na proteção do solo, manejo de plantas espontâneas e liberação de nutrientes;
. Aumento da diversidade biológica, tão importante para o equilíbrio ecológico, proporcionando impacto sobre a população de insetos benéficos pela oferta variada de abrigo, de néctar e de pólen.

Que hortaliças e adubos verdes podem ser consorciados? a maioria das hortaliças pode ser cultivada com adubos verdes. Existem diferentes estratégias que podem ser adotadas, sendo algumas já conhecidas e outras que precisam ser testadas e ajustadas na propriedade. O manejo dos adubos verdes através da rotação é favorável para qualquer tipo de hortaliças, enquanto que no consorciado são favorecidas as hortaliças de maior espaçamento entre linhas (Figuras 1,2 e 3), tais como as hortaliças-frutos (tomate, pimentão, berinjela e milho-verde) e as espécies da família botânica das brássicas (repolho, couve-flor, brócolis e couve). Dentre os adubos verdes, podem ser utilizados as crotalárias, feijão-de-porco, amendoim forrageiro, aveia, ervilhaca, nabo forrageiro e mucuna anã, em consorciação com as hortaliças. Outra estratégia de adubação verde consiste no plantio do adubo verde quando o ciclo da cultura principal está se completando; um exemplo consiste de hortaliças folhosas, como alface, consorciada com Crotalaria juncea semeada no terço final do ciclo desta espécie. Trabalhos de pesquisa comprovam que o plantio da mucuna em consórcio com o milho após 75 dias do plantio deste, não interferem na produtividade do milho e nem atrapalham a sua colheita podendo esta ser mecanizada. Por outro lado, o plantio do milho visando a colheita de milho-verde, pode ser feito simultaneamente com o plantio de mucuna na linha de plantio do milho.
Figura 1. Cultivo mínimo de tomate e milho-verde no final do inverno  em solo coberto com adubos verdes (aveia – 60 kg/ha + ervilhaca – 18 kg/ha + nabo forrageiro –  4 kg/ha), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.




Figura 2. Cultivo mínimo de brássicas (repolho, couve-flor e brócolis) no final de inverno, plantados sobre cobertura de adubos verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.


Figura 3. Cultivo mínimo de repolho no final de inverno, plantado sobre cobertura de adubos verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC. 
Ferreira On 11/13/2013 01:13:00 AM 4 comments

4 comentários:

  1. Voce sabe onde posso procurar em Brasil a tiririca (cyperus esculentus, chufa, "tiger nuts" ou "yellow nut sedge") para comer ou os sementes para plantar? Obrigado!

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  2. Sugiro entrar em contato com o colega Welington Pereira da Embrapa que é especialista no assunto e publicou o trabalho: Manejo da tiririca no sistema de produção orgânico de hortaliças.
    E-mail: welington.pereira@embrapa.br

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  3. Olá, gostaria de saber quem é o autor deste artigo, para que eu possa referencia-lo. Obrigada!

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    1. Este artigo que postei no blog é de minha autoria (Eng. agr. Antônio Carlos Ferreira da Silva, pesquisador aposentado da Epagri), com base em trabalhos encontrados na literatura e na minha experiência profissional na Estação Experimental de Urussanga, SC.

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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Adubação verde: Manejo e importância na produção orgânica de hortaliças

     A prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga, normalmente era o cultivo de uma leguminosa para ser incorporada ao solo na véspera do cultivo principal. No Brasil, esta prática também foi muito utilizada até a década de 70, quando houve uma redução devido ao aumento do uso da adubação química. Porém, logo se verificou que foi um erro acreditar que a adubação química pudesse substituir a adubação orgânica e a adubação verde. Felizmente houve um retorno a estas práticas e hoje elas são consideradas fundamentais para a implantação de uma agricultura sustentável. Com as práticas do plantio direto e cultivo mínimo, o conceito de adubação verde evoluiu, pois ao invés destas plantas serem incorporadas ao solo, elas permanecem sobre o solo, como cobertura morta ou viva, protegendo-o no cultivo seguinte e também são utilizadas outras espécies (aveia, azevém, centeio, nabo forrageiro e outras) além das leguminosas. Onde há pouco esterco de animais é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica.
     Os efeitos dos adubos verdes também chamados de “plantas condicionadoras” de solo estão inicialmente associados à capacidade de cobertura do terreno e à adição de matéria orgânica. É preciso ter em mente que as culturas, especialmente as hortaliças, exportam grandes quantidades de nutrientes por meio dos produtos das colheitas (algumas não deixam nada na lavoura), por isso, a adubação orgânica e adubação verde, são essenciais para repor os nutrientes, caso contrário, ocorrerá um processo gradual de empobrecimento do solo. Dentre os principais benefícios dos adubos verdes, destacam-se:

         ● Proteção contra a erosão;
         Melhoria da estrutura, com aumento na infiltração e retenção de água no solo;
         ● Ciclagem de nutrientes;
         ● Redução da população de plantas espontâneas;
       Contribuição para o equilíbrio biológico do solo, podendo favorecer a população de organismos benéficos e reduzir problemas ligados a patógenos do solo, entre outros.

     O uso dos adubos verdes pode ser feito tanto em áreas em que se fez o preparo do solo como em áreas cobertas por palhadas ou restos culturais. A forma de manejo depende da finalidade da adubação verde.

Incorporados ao solo:  esta é a forma antiga de manejo dos adubos verdes, quando o objetivo principal é o fornecimento de nutrientes para a cultura seguinte, devido a decomposição rápida.
Mantidos na superfície do solo: esta é a forma moderna de manejo de adubos verdes, visando-se a proteção do solo contra erosão e plantas espontâneas (decomposição lenta), a produção de palhada (cobertura morta ou viva) para o plantio direto ou cultivo mínimo, a reciclagem de nutrientes, o aumento da infiltração e retenção de água no solo e, favorecimento da população de organismos benéficos e inimigos naturais dos insetos-pragas.
Acamamento: é a prática mais recomendada para realização de plantio direto e cultivo mínimo de hortaliças ou grãos e também nos pomares. O acamamento pode ser feito com equipamentos simples como o rolo-faca e outros;
Roçada: Esta prática é usada quando não se consegue fazer o acamamento ou então quando os adubos verdes em consorciação estão competindo especialmente por luz. Quando é preciso fazer canteiros e a produção de massa verde é muito grande deve-se roçar para ficar mais fácil para incorporar a adubação verde. Para cultivo de cenoura, por exemplo, deve-se incorporar a adubação verde superficial (10 a 15 cm de profundidade) com antecedência de 3 semanas antes da semeadura ou transplante (outras hortaliças) para dar tempo para a decomposição do material. Quando for feito o preparo do solo é muito importante tomar cuidado com o uso de enxadas rotativas, especialmente microtratores, pois movimenta excessivamente o solo, desestruturando-o e compactando-o. Por isso, sempre que possível deve-se dar preferência para o plantio direto e cultivo mínimo, tanto para culturas anuais como perenes.
Os adubos verdes também chamadas de “plantas de cobertura” exercem importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura afetam diretamente a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir o número de plantas espontâneas em até 75%.
As plantas de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do solo e suprimento de nitrogênio através das leguminosas. Atualmente, essas plantas têm despertado interesse também no manejo de plantas espontâneas. Áreas infestadas por tiririca ou junca (Cyperus rotundus), planta indicadora de solo ácido, compactado e com carência em magnésio (Mg) podem ser melhoradas com o cultivo de plantas de cobertura, tais como feijão-de-porco e mucuna-preta. Especificamente para o manejo de plantas espontâneas, não existe uma espécie ideal. Cada espécie se adapta a determinado sistema de manejo. No entanto, existem alguns critérios básicos, relacionados a seguir, que devem ser levados em consideração quando da escolha da espécie.

Critérios na escolha de plantas para adubação verde
     Todas as espécies apresentam vantagens e desvantagens, desenvolvendo-se bem dentro de certas condições climáticas e práticas de cultivo e de manejo, por isso, alguns critérios devem ser observados na escolha da espécie de adubação verde e cobertura do solo.

● Apresentação de rápido crescimento inicial e eficiente cobertura do solo;
● Sistema radicular profundo e diferenciado das culturas;   
● Produção de elevada quantidade de massa verde e massa seca, proporcionando adequada cobertura do solo pela palha;                                                                                                        ● Apresentação de lenta decomposição da palha;
● Facilidade de implantação e condução no campo;
● Resistência às pragas e doenças, não se comportando como planta hospedeira;
Fácil manejo (acamamento) das espécies para implantação dos cultivos de sucessão;
     ● Ausência de comportamento como invasoras, dificultando o cultivo de culturas de sucessão
● Rusticidade: desenvolvimento mesmo em situações de estresse (pouca água, frio e calor).
● Promoção de associações com fungos e bactérias na fixação de nitrogênio e liberação de fósforo;
● Possibilidade de ser multiplicadas por sementes;
● Plantas que permitam outros usos além da adubação verde, como para alimentação humana, animal, artesanato e outros.
● Plantas que são facilmente manejadas mecanicamente, por meio de roçada ou rolo-faca.
Cabe ressaltar que a importância de cada uma das características desejáveis relacionadas anteriormente, depende do sistema de cultivo a ser adotado (rotação de culturas, consórcio, etc.) e da cultura de interesse econômico.

Rotação e consórcio de adubos verdes
Com o objetivo de melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de nutrientes, a rotação e a mistura de espécies feita por meio do consórcio de adubos verdes é prática de grande utilidade para o cultivo de qualquer cultura. Seguramente um dos maiores ganhos dessa técnica é a maior produção de massa, podendo em alguns casos ser quatro vezes maior do que o cultivo solteiro.
No cultivo de hortaliças também a prática da adubação verde através da rotação e consorciação é importante e perfeitamente possível de ser adotada anualmente. Independentemente da espécie de hortaliça, a adubação verde quase sempre proporciona algum tipo de benefício no manejo orgânico, seja diretamente para a cultura econômica ou, indiretamente, por meio da melhoria das condições de solo. O uso de adubos verdes através da rotação de culturas é favorável para qualquer espécie de hortaliça, enquanto  que no cultivo consorciado (hortaliças + adubos verdes) as espécies com maior espaçamento de plantio entre linhas (ex.: tomate, pimentão, milho-verde, aipim, repolho, couve-flor, brócolis, couve e outras) são as mais beneficiadas.
No cultivo em rotação, o adubo verde pode ser incorporado ao solo após a roçada para posterior plantio da hortaliça, ou mantido em cobertura sobre a superfície do terreno, fazendo-se o plantio direto da hortaliça na palhada. A manutenção da palhada na superfície retarda a germinação das sementes de plantas espontâneas, ao passo que a sua incorporação ao solo tende a fornecer os nutrientes mais rapidamente para a cultura em sucessão. Quando os adubos verdes são cultivados em rotação com hortaliças recomenda-se a roçada no momento de seu máximo desenvolvimento, ou seja, quando ocorre alta acumulação de nutrientes na massa vegetal; para as leguminosas a roçada pode ser feita na ocasião do florescimento, enquanto que para as gramíneas, a roçada deve ser feita na fase de grão leitoso.
Existem várias sugestões de consórcios de adubos verdes com hortaliças que podem ser adotadas, mas todas precisam ser ajustadas na propriedade. No consórcio, o adubo verde pode ser semeado nas  entrelinhas ou formando faixas intercalares com as hortaliças, quando as espécies de adubos verdes apresentam porte arbustivo ou arbóreo. Quando a adubação verde é utilizada em consórcio com hortaliças, é importante que a roçada ou a poda sejam feitas no momento em que o adubo verde tenha criado condições desfavoráveis ao bom desenvolvimento da cultura econômica, em decorrência da competição por água e luz.
  
Uso de adubos verdes (coquetel e consórcios) na produção orgânica de hortaliças:  O “coquetel” consiste no cultivo consorciado de diferentes espécies de adubos verdes que, de maneira geral, apresentam portes e hábitos de crescimento distintos e são cultivados em rotação e em consórcio com as culturas econômicas. Sempre que possível, sugere-se o consórcio de leguminosas (ex.: ervilhaca, feijão-de-porco e mucuna) e gramíneas (ex.: aveia, milho) e outras como o nabo forrageiro. Esta estratégia permite que as gramíneas que possuem decomposição mais lenta, forneçam uma cobertura residual mais estável, desfavorecendo as plantas espontâneas, enquanto que as leguminosas contribuem com um aporte maior de N e decomposição mais rápida. Por outro lado o nabo forrageiro, devido ao sistema radicular pivotante, contribui com uma melhor descompactação do solo. A combinação de mais de uma espécie de adubo verde pode trazer outros benefícios para o cultivo das culturas, tais como:

. Exploração de camadas diferenciadas do solo pelas raízes, melhorando a estrutura do solo e acumulando diferentes nutrientes;
. Velocidade distinta de decomposição dos resíduos com impacto na proteção do solo, manejo de plantas espontâneas e liberação de nutrientes;
. Aumento da diversidade biológica, tão importante para o equilíbrio ecológico, proporcionando impacto sobre a população de insetos benéficos pela oferta variada de abrigo, de néctar e de pólen.

Que hortaliças e adubos verdes podem ser consorciados? a maioria das hortaliças pode ser cultivada com adubos verdes. Existem diferentes estratégias que podem ser adotadas, sendo algumas já conhecidas e outras que precisam ser testadas e ajustadas na propriedade. O manejo dos adubos verdes através da rotação é favorável para qualquer tipo de hortaliças, enquanto que no consorciado são favorecidas as hortaliças de maior espaçamento entre linhas (Figuras 1,2 e 3), tais como as hortaliças-frutos (tomate, pimentão, berinjela e milho-verde) e as espécies da família botânica das brássicas (repolho, couve-flor, brócolis e couve). Dentre os adubos verdes, podem ser utilizados as crotalárias, feijão-de-porco, amendoim forrageiro, aveia, ervilhaca, nabo forrageiro e mucuna anã, em consorciação com as hortaliças. Outra estratégia de adubação verde consiste no plantio do adubo verde quando o ciclo da cultura principal está se completando; um exemplo consiste de hortaliças folhosas, como alface, consorciada com Crotalaria juncea semeada no terço final do ciclo desta espécie. Trabalhos de pesquisa comprovam que o plantio da mucuna em consórcio com o milho após 75 dias do plantio deste, não interferem na produtividade do milho e nem atrapalham a sua colheita podendo esta ser mecanizada. Por outro lado, o plantio do milho visando a colheita de milho-verde, pode ser feito simultaneamente com o plantio de mucuna na linha de plantio do milho.
Figura 1. Cultivo mínimo de tomate e milho-verde no final do inverno  em solo coberto com adubos verdes (aveia – 60 kg/ha + ervilhaca – 18 kg/ha + nabo forrageiro –  4 kg/ha), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.




Figura 2. Cultivo mínimo de brássicas (repolho, couve-flor e brócolis) no final de inverno, plantados sobre cobertura de adubos verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.


Figura 3. Cultivo mínimo de repolho no final de inverno, plantado sobre cobertura de adubos verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC. 

4 comentários:

  1. Voce sabe onde posso procurar em Brasil a tiririca (cyperus esculentus, chufa, "tiger nuts" ou "yellow nut sedge") para comer ou os sementes para plantar? Obrigado!

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  2. Sugiro entrar em contato com o colega Welington Pereira da Embrapa que é especialista no assunto e publicou o trabalho: Manejo da tiririca no sistema de produção orgânico de hortaliças.
    E-mail: welington.pereira@embrapa.br

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  3. Olá, gostaria de saber quem é o autor deste artigo, para que eu possa referencia-lo. Obrigada!

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    1. Este artigo que postei no blog é de minha autoria (Eng. agr. Antônio Carlos Ferreira da Silva, pesquisador aposentado da Epagri), com base em trabalhos encontrados na literatura e na minha experiência profissional na Estação Experimental de Urussanga, SC.

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