A
prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga,
normalmente era o cultivo de uma leguminosa para ser incorporada ao solo na
véspera do cultivo principal. No Brasil, esta prática também foi muito
utilizada até a década de 70, quando houve uma redução devido ao aumento do uso
da adubação química. Porém, logo se verificou que foi um erro acreditar que a
adubação química pudesse substituir a adubação orgânica e a adubação verde.
Felizmente houve um retorno a estas práticas e hoje elas são consideradas
fundamentais para a implantação de uma agricultura sustentável. Com as práticas
do plantio direto e cultivo mínimo, o conceito de adubação verde evoluiu, pois
ao invés destas plantas serem incorporadas ao solo, elas permanecem sobre o
solo, como cobertura morta ou viva, protegendo-o no cultivo seguinte e também
são utilizadas outras espécies (aveia, azevém, centeio, nabo forrageiro e
outras) além das leguminosas. Onde
há pouco esterco de animais é a principal e mais barata fonte de matéria
orgânica.
Os efeitos dos adubos verdes também
chamados de “plantas condicionadoras” de solo estão inicialmente associados à
capacidade de cobertura do terreno e à adição de matéria orgânica. É preciso
ter em mente que as culturas, especialmente as hortaliças, exportam grandes
quantidades de nutrientes por meio dos produtos das colheitas (algumas não
deixam nada na lavoura), por isso, a adubação orgânica e adubação verde, são
essenciais para repor os nutrientes, caso contrário, ocorrerá um processo
gradual de empobrecimento do solo. Dentre os principais benefícios dos adubos
verdes, destacam-se:
● Proteção contra a
erosão;
●
Melhoria da estrutura, com aumento na infiltração e retenção de água no
solo;
● Ciclagem de
nutrientes;
● Redução da população de plantas
espontâneas;
●
Contribuição para o equilíbrio biológico do solo, podendo favorecer a
população de organismos benéficos e reduzir problemas ligados a patógenos do
solo, entre outros.
O uso dos adubos
verdes pode ser feito tanto em áreas em que se fez o preparo do solo como em áreas
cobertas por palhadas ou restos culturais. A forma de manejo depende da
finalidade da adubação verde.
Incorporados
ao solo: esta é a forma antiga de manejo dos adubos
verdes, quando o objetivo principal é o fornecimento de nutrientes para a
cultura seguinte, devido a decomposição rápida.
Mantidos
na superfície do solo:
esta é a forma moderna de manejo de adubos verdes, visando-se a proteção do
solo contra erosão e plantas espontâneas (decomposição lenta), a produção de palhada (cobertura morta ou viva) para
o plantio direto ou cultivo mínimo, a reciclagem de nutrientes, o aumento da
infiltração e retenção de água no solo e, favorecimento da população de
organismos benéficos e inimigos naturais dos insetos-pragas.
Acamamento: é
a prática mais recomendada para realização de plantio direto e cultivo mínimo
de hortaliças ou grãos e também nos pomares. O acamamento pode ser feito com
equipamentos simples como o rolo-faca e outros;
Roçada:
Esta prática é usada quando não se consegue fazer o acamamento ou então quando
os adubos verdes em consorciação estão competindo especialmente por luz. Quando
é preciso fazer canteiros e a produção de massa verde é muito grande deve-se roçar
para ficar mais fácil para incorporar a adubação verde. Para cultivo de
cenoura, por exemplo, deve-se incorporar a adubação verde superficial (10 a 15
cm de profundidade) com antecedência de 3 semanas antes da semeadura ou
transplante (outras hortaliças) para dar tempo para a decomposição do material.
Quando for feito o preparo do solo é muito importante tomar cuidado com o uso
de enxadas rotativas, especialmente microtratores, pois movimenta
excessivamente o solo, desestruturando-o e compactando-o. Por isso, sempre que
possível deve-se dar preferência para o plantio direto e cultivo mínimo, tanto
para culturas anuais como perenes.
Os
adubos verdes também chamadas de “plantas de cobertura” exercem importante
papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no
equilíbrio das propriedades do solo e no manejo de plantas espontâneas. As
plantas de cobertura afetam diretamente a germinação das sementes e o
crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo
estiver acima de 90%, reduzir o número de plantas espontâneas em até 75%.
As plantas
de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do
solo e suprimento de nitrogênio através das leguminosas. Atualmente, essas
plantas têm despertado interesse também no manejo de plantas espontâneas. Áreas
infestadas por tiririca ou junca (Cyperus
rotundus), planta indicadora de solo ácido, compactado e com carência em
magnésio (Mg) podem ser melhoradas com o cultivo de plantas de cobertura, tais
como feijão-de-porco e mucuna-preta. Especificamente para o manejo de plantas
espontâneas, não existe uma espécie ideal. Cada espécie se adapta a determinado
sistema de manejo. No entanto, existem alguns critérios básicos, relacionados a
seguir, que devem ser levados em consideração quando da escolha da espécie.
Critérios
na escolha de plantas para adubação verde
Todas as espécies apresentam vantagens e
desvantagens, desenvolvendo-se bem dentro de certas condições climáticas e
práticas de cultivo e de manejo, por isso, alguns critérios devem ser
observados na escolha da espécie de adubação verde e cobertura do solo.
● Apresentação de rápido crescimento inicial e
eficiente cobertura do solo;
●
Sistema radicular profundo e diferenciado das culturas;
● Produção de elevada quantidade de massa verde e
massa seca, proporcionando adequada cobertura do solo pela palha; ● Apresentação de lenta decomposição da palha;
● Facilidade de implantação e condução no campo;
● Resistência às pragas e doenças, não se
comportando como planta hospedeira;
● Fácil
manejo (acamamento) das espécies para implantação dos cultivos de sucessão;
● Ausência de
comportamento como invasoras, dificultando o cultivo de culturas de sucessão
●
Rusticidade: desenvolvimento mesmo em situações de estresse (pouca água, frio e
calor).
●
Promoção de associações com fungos e bactérias na fixação de nitrogênio e
liberação de fósforo;
●
Possibilidade de ser multiplicadas por sementes;
●
Plantas que permitam outros usos além da adubação verde, como para alimentação
humana, animal, artesanato e outros.
●
Plantas que são facilmente manejadas mecanicamente, por meio de roçada ou
rolo-faca.
Cabe ressaltar que a importância de cada uma
das características desejáveis relacionadas anteriormente, depende do sistema
de cultivo a ser adotado (rotação de culturas, consórcio, etc.) e da cultura de
interesse econômico.
Rotação
e consórcio de adubos verdes
Com
o objetivo de melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no
manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de
nutrientes, a rotação e a mistura de espécies feita por meio do consórcio de
adubos verdes é prática de grande utilidade para o cultivo de qualquer cultura.
Seguramente um dos maiores ganhos dessa técnica é a maior produção de massa,
podendo em alguns casos ser quatro vezes maior do que o cultivo solteiro.
No
cultivo de hortaliças também a prática da adubação verde através da rotação e
consorciação é importante e perfeitamente possível de ser adotada anualmente.
Independentemente da espécie de hortaliça, a adubação verde quase sempre
proporciona algum tipo de benefício no manejo orgânico, seja diretamente para a
cultura econômica ou, indiretamente, por meio da melhoria das condições de solo.
O uso de adubos verdes através da rotação de culturas é favorável para qualquer
espécie de hortaliça, enquanto que no
cultivo consorciado (hortaliças + adubos verdes) as espécies com maior
espaçamento de plantio entre linhas (ex.: tomate, pimentão, milho-verde, aipim,
repolho, couve-flor, brócolis, couve e outras) são as mais beneficiadas.
No
cultivo em rotação, o adubo verde pode ser incorporado ao solo após a roçada
para posterior plantio da hortaliça, ou mantido em cobertura sobre a superfície
do terreno, fazendo-se o plantio direto da hortaliça na palhada. A manutenção
da palhada na superfície retarda a germinação das sementes de plantas
espontâneas, ao passo que a sua incorporação ao solo tende a fornecer os
nutrientes mais rapidamente para a cultura em sucessão. Quando os adubos verdes
são cultivados em rotação com hortaliças recomenda-se a roçada no momento de
seu máximo desenvolvimento, ou seja, quando ocorre alta acumulação de
nutrientes na massa vegetal; para as leguminosas a roçada pode ser feita na
ocasião do florescimento, enquanto que para as gramíneas, a roçada deve ser
feita na fase de grão leitoso.
Existem
várias sugestões de consórcios de adubos verdes com hortaliças que podem ser
adotadas, mas todas precisam ser ajustadas na propriedade. No consórcio, o
adubo verde pode ser semeado nas
entrelinhas ou formando faixas intercalares com as hortaliças, quando as
espécies de adubos verdes apresentam porte arbustivo ou arbóreo. Quando a
adubação verde é utilizada em consórcio com hortaliças, é importante que a
roçada ou a poda sejam feitas no momento em que o adubo verde tenha criado
condições desfavoráveis ao bom desenvolvimento da cultura econômica, em
decorrência da competição por água e luz.
Uso de adubos verdes (coquetel e
consórcios) na produção orgânica de hortaliças: O “coquetel” consiste no
cultivo consorciado de diferentes espécies de adubos verdes que, de maneira
geral, apresentam portes e hábitos de crescimento distintos e são cultivados em
rotação e em consórcio com as culturas econômicas. Sempre que possível, sugere-se
o consórcio de leguminosas (ex.: ervilhaca, feijão-de-porco e mucuna) e
gramíneas (ex.: aveia, milho) e outras como o nabo forrageiro. Esta estratégia
permite que as gramíneas que possuem decomposição mais lenta, forneçam uma
cobertura residual mais estável, desfavorecendo as plantas espontâneas,
enquanto que as leguminosas contribuem com um aporte maior de N e decomposição
mais rápida. Por outro lado o nabo forrageiro, devido ao sistema radicular
pivotante, contribui com uma melhor descompactação do solo. A combinação de
mais de uma espécie de adubo verde pode trazer outros benefícios para o cultivo
das culturas, tais como:
. Exploração de camadas diferenciadas do solo pelas
raízes, melhorando a estrutura do solo e acumulando diferentes nutrientes;
. Velocidade distinta de decomposição dos resíduos com
impacto na proteção do solo, manejo de plantas espontâneas e liberação de
nutrientes;
. Aumento da diversidade biológica, tão importante para o
equilíbrio ecológico, proporcionando impacto sobre a população de insetos
benéficos pela oferta variada de abrigo, de néctar e de pólen.
Que hortaliças e adubos verdes podem ser
consorciados? a
maioria das hortaliças pode ser cultivada com adubos verdes. Existem diferentes
estratégias que podem ser adotadas, sendo algumas já conhecidas e outras que
precisam ser testadas e ajustadas na propriedade. O manejo dos adubos verdes
através da rotação é favorável para qualquer tipo de hortaliças, enquanto que
no consorciado são favorecidas as hortaliças de maior espaçamento entre linhas (Figuras 1,2 e 3), tais como as
hortaliças-frutos (tomate, pimentão, berinjela e milho-verde) e as espécies da
família botânica das brássicas (repolho, couve-flor, brócolis e couve). Dentre
os adubos verdes, podem ser utilizados as crotalárias, feijão-de-porco,
amendoim forrageiro, aveia, ervilhaca, nabo forrageiro e mucuna anã, em
consorciação com as hortaliças. Outra estratégia de adubação verde consiste no
plantio do adubo verde quando o ciclo da cultura principal está se completando;
um exemplo consiste de hortaliças folhosas, como alface, consorciada com Crotalaria juncea semeada no terço final
do ciclo desta espécie. Trabalhos de pesquisa comprovam que o plantio da mucuna
em consórcio com o milho após 75 dias do plantio deste, não interferem na
produtividade do milho e nem atrapalham a sua colheita podendo esta ser
mecanizada. Por outro lado, o plantio do milho visando a colheita de
milho-verde, pode ser feito simultaneamente com o plantio de mucuna na linha de
plantio do milho.
Figura 1. Cultivo mínimo de tomate e milho-verde
no final do inverno em solo coberto com
adubos verdes (aveia – 60 kg/ha + ervilhaca – 18 kg/ha + nabo forrageiro – 4 kg/ha), semeados no outono, na
Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.
Figura 2. Cultivo mínimo de brássicas (repolho,
couve-flor e brócolis) no final de inverno, plantados sobre cobertura de adubos
verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação
Experimental de Urussanga, SC.
Figura 3. Cultivo mínimo de repolho no final de inverno, plantado sobre cobertura de adubos verdes (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro), semeados no outono, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.
Voce sabe onde posso procurar em Brasil a tiririca (cyperus esculentus, chufa, "tiger nuts" ou "yellow nut sedge") para comer ou os sementes para plantar? Obrigado!
ResponderExcluirSugiro entrar em contato com o colega Welington Pereira da Embrapa que é especialista no assunto e publicou o trabalho: Manejo da tiririca no sistema de produção orgânico de hortaliças.
ResponderExcluirE-mail: welington.pereira@embrapa.br
Olá, gostaria de saber quem é o autor deste artigo, para que eu possa referencia-lo. Obrigada!
ResponderExcluirEste artigo que postei no blog é de minha autoria (Eng. agr. Antônio Carlos Ferreira da Silva, pesquisador aposentado da Epagri), com base em trabalhos encontrados na literatura e na minha experiência profissional na Estação Experimental de Urussanga, SC.
Excluir