Adubação orgânica
O sucesso da agricultura orgânica depende da maneira como tratamos o solo. O uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo (cultivo da mesma espécie sempre na mesma área) e a erosão (perda do solo), conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna a um processo de auto-degradação e, o que é pior, à contaminação do meio ambiente. Por sua vez, a agricultura orgânica promove a regeneração do solo através de diversas práticas associadas tais como, plantio direto, cultivo mínimo, manejo de restos culturais, plantas de cobertura e plantas espontâneas, adubação verde, rotação e consorciação de culturas e, especialmente a adubação orgânica, que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas.
A prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um “organismo vivo”. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo (Figura 1). A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem vegetal ou animal tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus (resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais).
Além de melhorar a resistência das plantas às doenças, pragas e ao climas adverso(secas, chuvas intensas) e, especialmente a vida no solo, a adubação orgânica só tem vantagens:
- aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. O solo com bom teor de matéria orgânica funciona como uma esponja, sendo que 1g de matéria orgânica retém 4 a 6g de água no solo. Graças à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica diminui as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
· promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, resultando em maior capacidade de retenção de água. Os solos argilosos tornam-se mais soltos e arejados; além disso, a adubação orgânica auxilia no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e diminui a compactação do solo;
- aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas;
- a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);
- a adubação orgânica possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
As vantagens da adubação orgânica não param por aí: ela melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita.
Principais fontes de matéria orgânica: a fonte ideal de matéria orgânica para ser utilizada na agricultura orgânica é o composto orgânico que é o resultado da transformação, por meio da fermentação, dos resíduos orgânicos (camadas de 3 a 5 partes de restos vegetais e uma de esterco de animais) em adubo natural.
Composto orgânico: o composto é rico em microrganismos ativos e seus metabólitos que estimulam a saúde natural das plantas. Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais (B, Mo, Mn, Zn, Cu e Cl) para o desenvolvimento das plantas e reduz a acidez do solo. Ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar o solo e contaminar rios e córregos, o composto orgânico não prejudica o meio ambiente. Mas as vantagens não param por aí: devido a temperatura alta (até 65ºC) em função da fermentação durante o processo da compostagem, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas (inços) não sobrevivem. A próxima matéria tratará, passo a passo, como fazer, e os cuidados no preparo do composto orgânico na propriedade. Estercos de animais: em função da maior disponibilidade, os estercos curtidos de aves e de gado ou a cama-de-aviário são os mais comumente utilizados na adubação orgânica. O uso de esterco ainda em fase de fermentação (frescos) por ocasião da semeadura/plantio, pode causar uma série de problemas tais como: danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das águas dos rios e córregos, além de acidificar o solo. Além disso, os estercos frescos podem contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas. O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é muito importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode prejudicar as plantas cultivadas, além do que os estercos podem serem fontes de plantas espontâneas (inços). Os estercos de animais, para serem utilizados, devem ser curtidos (“envelhecidos” em locais protegidos por cerca de 90 dias) e bem incorporados na cova ou sulco de plantio, em dosagens conforme o teor de nutrientes e com base na análise do solo. Não recomenda-se mais que 2kg/m2 de esterco curtido de aves, anualmente.
Figura 1. Representação de um solo cultivado no sistema convencional (com revolvimento excessivo, compactado e com alto grau de erosão) e um solo orgânico (solo tratado como “organismo vivo”).
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