O cultivo orgânico de cebola, também importante
hortaliça-bulbo, já foi postada neste blog em 13/04/2011.
Embora não haja unanimidade, tudo
indica que a Ásia é o continente de origem do alho (Allium sativum L.). Desde os tempos bíblicos já era cultivado no
Oriente, de onde ganhou a Europa, tendo sido introduzido nas Américas pelos
colonizadores portugueses e espanhóis. Apresenta folhas
lanceoladas que diferem dependendo da localização na planta e possui
pseudocaule formado pelas bainhas das folhas. Em condições climáticas
favoráveis as gemas do caule se desenvolvem formando cada uma um bulbilho
(dente), que em conjunto forma o bulbo (cabeça). O alho, pertencente à
família botânica das Liliaceae (a mesma da cebola, alho-porró e aspargo), é uma
planta assexuada que se propaga através do plantio dos bulbilhos ou dentes.
Caracteriza-se por um bulbo arredondado, conhecido como cabeça, composto dentes
ou bulbilhos (Figura 1), envoltos
por uma casca que pode ser branca, rosada ou roxa. O número de bulbilhos é
muito variável, sendo esta uma característica usada para diferenciar as
cultivares. Cada bulbilho possui uma gema, capaz de originar uma nova planta, sendo
assim, dente de alho é a muda utilizada
no plantio. A característica mais marcante do alho é o seu cheiro e este se
deve à presença da alicina (óleo volátil sulfuroso). Quando as células do alho
são quebradas, libera-se uma enzima chamada aliniase que modifica quimicamente
a substância alinia em alicina, que resulta no cheiro do alho. Por muitos anos
o alho foi desprezado na cultura de países do Ocidente, como Inglaterra e EUA,
por causa do mau hálito que provoca. Para todas as culturas mundiais, o alho
era um item na alimentação quase tão importante quanto o sal. A diferença de
importância foi dada pela rejeição das classes mais altas, em razão do seu
cheiro; para anular os odores do alho no hálito, recomenda-se mastigar ramos de
salsa fresca. O alho foi reintroduzido na cozinha norte-americana graças aos
imigrantes que chegaram a partir de meados do século XIX. O reconhecimento do alho como um superalimento saudável tem crescido nas
últimas décadas, tanto que hoje são comuns os suplementos de alho, embora quase
todos concordem que o alho consumido fresco é melhor.
Figura 1. Bulbo e bulbilhos de alho
Uso culinário, propriedades
nutricionais e terapêuticas:
o alho tem sido empregado por milênios, numa variedade de funções. A
arqueologia tem descoberto esculturas de barro e pinturas em tumbas egípcias,
que têm o alho como tema, que datam de 3.200 anos antes de Cristo. Um papiro
egípcio de 1500 anos, recentemente descoberto recomenda o alho como tratamento
para a cura de 22 doenças comuns. Embora algumas vezes malvisto no decorrer dos
séculos, o alho tem sido adotado num amplo conjunto de aplicações nutricionais
e medicinais através da história e até os dias de hoje continua melhorando
nossa saúde. É importante ressaltar que diminuiu o preconceito no emprego do alho na culinária. Os dentes de alho podem ser usados
inteiros, amassados ou em lâminas, dependendo da intensidade de aroma e sabor
que se queira dar ao prato.. O
alho destaca-se quanto ao valor nutricional, pelo seu conteúdo em calorias,
proteínas, carboidratos, fósforo, tiamina (B1) e vitaminas A, B2 e B6. Com
relação às propriedades medicinais a Dra. Eloísa C. Pimentel, médica
fitoterapeuta e homeopata da Prefeitura de Campinas destaca as seguintes
propriedades medicinais: analgésico, anti-inflamatório, anti-séptico,
antibacteriano, antimicótico, antiviral; protege o fígado, é diurético,
antioxidante, estimula o sistema imunológico; também é indicado no controle da
hipertensão, na redução do colesterol, para gripes e resfriados e ainda como vermífugo
(contra amebas); é anticoagulante mas não deve ser usado concomitante com
outros anticoagulantes; lactentes não devem usá-lo, pois pode causar cólicas no
bebê. O alho atua com eficácia na prisão de ventre e é um ótimo
estomáquico, aumentando a secreção dos sucos digestivos, facilitando a digestão.
É um antibiótico natural (contém alicina) e previne as tromboses, purifica as
mucosas e evita a formação de catarro. Também tem efeito contra o excesso de
ácido úrico, o reumatismo e a arteriosclerose. O alho é altamente indicado para
diabetes, sinusite, nevralgia, garganta inflamada, bronquites e asma. Os
efeitos benéficos do alho são obtidos com o consumo diário de 2 a 3 dentes. Segundo
pesquisa do instituto norte-americano,
homens que habitualmente consomem alho têm menor risco de desenvolver
câncer de próstata, devido ao composto à base de sulfeto presente no alimento. Embora não fosse sabido nos tempos remotos, a
ciência hoje confirma que os poderes curativos do alho vêm dos compostos
voláteis de sulfa encontrados no alho, incluindo allicin (responsável pelo odor forte), alliin, cyroalliin e
diallyldisulphide. O allicin do alho cru é capaz de eliminar
23 tipos de bactérias, incluindo a salmonela
e a staphylococcus. Outro composto do alimento, diallyldisulphide-oxide, foi provado ser eficaz contra o mau
colesterol, prevenindo que as artérias venham a se entupir. As vitaminas
encontradas no alho estimulam o corpo a limpar as toxinas e até mesmo ajudam a
prevenir outros tipos de câncer, como o de estômago. Além do uso culinário, valor nutricional e
terapêutico, o alho é uma ótima matéria-prima para fazer caldas, fertilizantes
e preparados para o manejo de pragas e doenças das hortaliças. O alho é
repelente contra pulgões e lagartas que atacam a lavoura de alho e de outras
culturas, além de proteger o alho-semente de nematoides.
Cultivo:
O alho é uma cultura de clima frio, suportando bem baixas temperaturas,
sendo inclusive, resistente à geadas. A planta exige pouco frio no início do
desenvolvimento, muito no meio do ciclo e dias longos no final. Portanto,
temperatura e fotoperiodo são fatores climáticos extremamente importantes à
cultura do alho, influindo na fase vegetativa, no bom desenvolvimento e na
produtividade. O comprimento do dia ou fotoperiodo, determina em que região e
em que época cada variedade deve ser plantada. Cultivares: Existem diferentes tipos de alho e quase todos
diferem em relação a tamanho, cor, forma, sabor, número de dentes por bulbo,
acidez e capacidade de armazenamento. Acredita-se que exista mais de 600
variedades de alho no mundo e isto ocorre porque as características individuais
do alho são modificadas de acordo com as condições de cultivo, do solo, da
temperatura, do período de chuvas e da altitude de cada lugar. Dentre os
diversos tipos de alho, há os chamados alhos nobres que possuem sempre menos de
20 dentes ou bulbilhos por cabeça, formando um bulbo com diâmetro por volta de
6 cm. Já os alhos comuns podem apresentar mais de 20 dentes por bulbo. As
cultivares são também chamadas de clones, porque as mudas são pedaços da
planta-mãe. Atualmente, as cultivares que produzem bulbilhos de maior tamanho e
em menor número, são os preferidos dos
consumidores. Como exemplos temos as cultivares Amarante, Gigante de Lavínia, Gigante Roxão, Gigante Curitibanos, Chonan, Roxo Pérola
Caçador, Quitéria e Caçapava. É muito importante consultar o técnico de seu
município para saber as variedades que mais se adaptam à região de cultivo. Solo: o alho prefere solos leves,
soltos, ricos em matéria orgânica e bem drenados. Não suporta terrenos úmidos.
Solos pesados e mal drenados não permitem o bom desenvolvimento das raízes, prejudicando
a nutrição das plantas, além de dificultar a colheita. Por outro lado, os solos
arenosos não tem capacidade para reter a umidade e os nutrientes necessários
para o bom desenvolvimento. As combinações de solos areno-argilosos são os mais
favoráveis, bem como os solos turfosos. Adubação:
A adubação orgânica deve ser equilibrada, baseada na análise do solo e do adubo
a ser incorporado. O pH ideal do solo deve estar em torno de 6,0 a 6,5. O
excesso de nitrogênio pode provocar o superbrotamento, produzindo bulbilhos sem
nenhum valor comercial. O alho é muito sensível à falta do micronutriente boro,
causando o encurvamento anormal das folhas. O excesso de boro também pode ser
prejudicial, causando fitotoxicidade nas plantas. Preparo do alho-semente: após a seleção dos bulbos, deve-se
selecionar os bulbilhos ou dentes, de acordo com seu tamanho em grandes, médios
e pequenos. Os chamados de “palitos” (dentes pequenos e finos que ficam no
miolo do bulbo) também podem serem aproveitados, pois além de baratear o custo
da “semente”, produzem bulbos normais. Se os bulbilhos, não classificados,
forem plantados misturados, a lavoura terá plantas mais ou menos vigorosas,
interferindo diretamente nos tratos culturais e na época de maturação. Época
de plantio e preparo do solo: para as regiões Sul, Sudeste, Nordeste e
Centro-Oeste, recomenda-se o plantio em maio à junho; março à abril; maio e
março à abril, respectivamente. Havendo necessidade de corrigir a acidez do
solo, recomenda-se a aplicação da metade da dose de calcário e, posteriormente
uma aração profunda para incorporar os restos culturais e o calcário,
três meses antes do plantio. Em seguida faz-se a incorporação da segunda metade
da dose de calcário, com uma gradeação. A segunda gradagem deve ser feita
próximo ao plantio, incorporando-se, se necessário, adubação orgânica. O uso de
canteiros é recomendado no caso do terreno for sujeito ao encharcamento, devido
principalmente às chuvas frequentes e intensas. Plantio e espaçamento: tanto no plantio direto como em canteiros,
pode-se utilizar o espaçamento de 0,25 a 0,30m entrelinhas por 0,10m entre
plantas. Os sulcos de plantio devem ter cerca de 10 cm de profundidade. Após a
distribuição nos sulcos, os bulbilhos devem ser cobertos com uma camada de 2 a
3 cm de terra. Cobertura morta: havendo material disponível, recomenda-se ,
por exemplo, a cobertura morta que pode ser com palha de arroz, milho, feijão,
capim sem sementes (7 a 10 cm), e outros, logo após o plantio, pois favorece a retenção
da umidade do solo, diminui a necessidade das irrigações, diminui a temperatura
do solo e, especialmente, retarda o surgimento das plantas espontâneas. Irrigação: especialmente, nas fases de crescimento da
planta e de enchimento dos bulbos é muito importante manter o solo úmido, mas
sem encharcar. A irrigação dos alhos de ciclo precoce e ciclo médio ou tardio,
deve ser suspensa 10 dias e 15 a 25 dias antes da colheita, respectivamente. Capinas: a cobertura morta reduz
bastante as capinas necessárias para o bom desenvolvimento das plantas. Quando
cultivado em canteiros, recomenda-se deixar entre eles, a vegetação nativa para
servir de refúgio, alimento e multiplicação de predadores do ácaro do
chochamento e do tripes que atacam o alho. Adubação
de cobertura: 30 dias após o
plantio, normalmente, é necessário fornecer
o nitrogênio que as plantas necessitam, através de composto orgânico (5
t/ha) ou chorume de composto (1 parte de composto orgânico peneirado e 2 a 5
partes de água) ou ainda biofertilizantes
(400 ml/m2), aplicando junto a linha de plantio. Manejo de doenças e pragas:
Dentre as doenças, a que mais preocupa no cultivo orgânico do alho,
especialmente no início do desenvolvimento, é a mancha púrpura ou queima das
folhas, causada pelo fungo Alternaria
porri e favorecida pelas
temperaturas em torno dos 25ºC. Os
sintomas iniciais são manchas brancas, pequenas, alongadas ou irregulares, que
se tornam púrpuras, posteriormente, favorecida por condições de umidade e
temperaturas elevadas. Aplicações semanais, a partir dos 60 dias após o
plantio, com calda bordalesa a 1%, são eficientes no manejo desta doença.
Dentre as pragas, as que mais preocupam no cultivo orgânico são o tripes (Thrips tabaci) que provoca o amarelecimento e secamento
prematuro das folhas e o ácaro do chochamento (Eriophyes tulipae) que provoca deformações nas folhas, com
retorcimento e secamento prematuro das plantas, afetando o desenvolvimento e a
perda de peso e qualidade dos bulbos. O tripes, inseto minúsculo, ataca
formando colônias de coloração prateada em vários pontos da folha, mas principalmente
a superfície interna da bainha, raspando a folha e sugando a seiva das plantas.
O manejo destas pragas pode ser feito com a presença dos inimigos naturais,
atraídos pela vegetação nativa que cresce entre os canteiros ou nos corredores
de refúgio. A calda bordalesa (1%) e a
calda sulfocálcica também auxiliam no manejo destas pragas. Além da rotação de
culturas, os preparados com alho de
acordo com as receitas descritas a seguir, também podem auxiliar no manejo das
pragas e doenças que ocorrem no alho e em outras culturas:
-Preparado
com alho (Allium sativum)- manejo de tripes, cochonilhas, ácaros,
pulgões, lagarta do cartucho do milho e doenças (podridão negra, ferrugem e
alternária): o
alho é um antibiótico natural e pode ser usado como inibidor ou repelente de
parasitas de plantas ou animais. Receita 1: dissolver 50 g de sabão em 4 litros de água, juntar 2
cabeças picadas de alho e 4 colheres de pimenta vermelha picada. Coar e
pulverizar as plantas atacadas; Receita 2: moer 100g de alho e deixar em repouso por 24
horas em 2 colheres de óleo mineral. Dissolver, à parte, 10g de sabão em 0,5 l de água. Misturar todos
os ingredientes e filtrar. Antes de usar o preparado nas plantas atacadas,
diluí-lo em 10 litros
de água; Receita 3: 7 dentes de alho macerados em 1 litro de água. Deixa-se
essa mistura em repouso durante 10 dias. Antes de pulverizar as plantas
atacadas, diluir em 10 l
de água.
Colheita,
cura e armazenamento: a colheita deve ser feita, manualmente, com o
solo levemente úmido, para facilitar a retirada das plantas, pela manhã e em
dias ensolarados. Colhe-se quando a planta apresenta, no final do ciclo, a
secagem parcial das folhas. Algumas cultivares apresentam o estalo ou
tombamento da parte aérea, outras permanecem eretas, depois do amadurecimento.
Após a colheita, o alho deve passar pela pré-cura, ainda no campo (1 a 3 dias,
dependendo das condições de clima), organizando-se as fileiras de modo que os
bulbos de uma linha sejam cobertos pelas folhas da fileira do lado, para
proteção do sol direto. Posteriormente, o alho deve ser levado para um galpão,
bem seco e arejado, para fazer uma cura mais lenta (20 a 60 dias). O alho pode
ser conservado por 4 a 6 meses em armazéns não refrigerados. O alho pode ser
armazenado com a rama, solto ou em réstias; ou sem a rama em caixas e sacos. Quando
pendurado em réstias, facilita a
conservação do alho-semente para o próximo plantio.
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