quarta-feira, 10 de abril de 2013


     A data escolhida foi para homenagear o nascimento do americano Hugh Hammond Bennett (15/04/1881), considerado o pai da conservação dos solos nos Estados Unidos. Suas experiências estudando solos e agricultura, nacional e internacionalmente, fizeram dele um conservacionista dedicado, além da capacidade de comunicação de seus textos que muito conquistou para a causa mundial da conservação do solo. No Brasil, o Dia Nacional da Conservação do Solo foi oficializado pela Lei Federal 7876, de 13 de novembro de 1989. 


      O solo, também chamado de terra, tem grande importância na vida de todos os seres vivos do nosso planeta, assim como o ar, a água, o fogo e o vento. É do solo que retiramos parte dos nossos alimentos, além de servir como suporte à água e ao ar e sobre ele ainda construímos as nossas moradias. 

       Qualquer uso da terra provoca uma mudança na dinâmica natural dos solos e, entre essas alterações, destaca-se a erosão (Figura 1), que pode resultar da ação da água, dos ventos e, principalmente, causado pelo homem, através da devastação das florestas e queimadas e, também pelo manejo inadequado do solo. As estatísticas sobre perdas físicas de solo em todo o mundo revelam que, a cada ano, bilhões de toneladas de terra fértil são erodidas e transportadas para os rios. Segundo o Programa de Qualidade Ambiental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as perdas no Brasil já atingem 840 milhões de toneladas anuais e, o que é pior, estão aumentando com a abertura de novas frentes agropecuárias no Centro-Oeste e na Amazônia (Fonte: http://www.ecoltec.com.br/pub4.htm). 

     A perda de solo pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é mais grave, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição, além de contaminar o meio ambiente devido ao uso exagerado e indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas lavouras. Daí vem a importância de se ter um dia voltado para a reflexão sobre a conservação dos solos. Boa parte dessa perda de solo poderia ser evitada pelo manejo adequado dos solos, através de inúmeras práticas de conservação, tais como: a distribuição racional dos caminhos em uma propriedade, o cultivo respeitando as curvas de nível, a utilização de culturas mais apropriadas de acordo com a declividade do terreno, a implantação de faixas de vegetação nas lavouras, o terraceamento e a implantação de quebra ventos (erosão eólica), entre outras. Estas práticas reduzem a velocidade de escoamento da água, diminuindo o poder de enxurradas e aumentando a infiltração de água no solo. Outras ações ainda mais simples, como evitar o plantio de culturas anuais em solos com declínio acentuado, revolver o mínimo possível o solo e, especialmente, deixar a matéria orgânica sobre o solo, ao invés de queimá-la e, ainda procurar manter cobertura do solo nos cultivos, especialmente no início do desenvolvimento das culturas (entrelinhas) e, sempre que possível, utilizar a prática de rotação e consorciação de culturas com outros cultivos e com adubos verdes, são práticas bastante efetivas e fáceis de serem implantadas. 



Figura 1. Erosão: uma das principais causas da degradação do solo 



O que é o solo e como é formado?

     O solo é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais. Ela vem se formando há milhões de anos, com o acúmulo de pequeníssimas partículas, formadas pelo desgaste das rochas, que foram se misturando com os restos de animais e plantas. Portanto, o solo é o resultado de mudanças ocorridas nas rochas – denominadas intemperismo (conjunto de fenômenos físicos e químicos que levam à degradação e enfraquecimento das rochas). Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos (processos físicos, químicos e biológicos) são os responsáveis por este lento processo; calcula-se que cada centímetro do solo se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. Logo que a rocha é alterada e é formado o material mais ou menos solto e macio, os seres vivos, animais e vegetais, assim como o próprio homem, passam a ajudar no desenvolvimento do solo. Eles atuam misturando a matéria orgânica (restos de vegetais e de animais mortos) com o material solto e macio em que se transformou a rocha. Esta mistura faz com que o material que veio do desgaste das rochas forneça alimentos a todas as plantas que vivem no nosso planeta. Além disso, os seres vivos quando morrem também vão sendo misturados com o material macio e solto, formando o verdadeiro solo (Figura 2). As condições climáticas existentes são a principal influência das características de cada solo. Muitos solos podem ser formados pelo transporte de sedimentos levados pelo vento, chuva ou pelas águas dos rios, como as dunas e as terras de aluvião. Logo abaixo do solo, aparece uma camada mais profunda e espessa, que é o subsolo. 





 Figura 2. Cada centímetro de solo, leva 100 a 400 anos para se formar 


A composição e organização do solo

     Constituído essencialmente por matéria mineral e orgânica (fração sólida), água (fração líquida) e ar (fração gasosa) o solo é, por este motivo, considerado um sistema trifásico. As proporções de cada constituinte variam, principalmente, de acordo com a natureza deste. Os quatro componentes do solo se encontram misturados uns aos outros. A matéria orgânica está misturada com a parte mineral e com a água. Dentro do solo existem pequenos furinhos, que chamamos de poros do solo, onde ficam guardados a água e o ar que as raízes das plantas e os outros organismos necessitam para beber e respirar. 


     O solo é estudado nas pesquisas dividindo a parte mineral em três frações principais, de acordo com o seu tamanho: areia (a parte mais grosseira); silte (uma parte um pouco mais fina, ou seja o limo que faz escorregar) e argila (uma parte muito pequena que para ser visualizada necessita de microscópios, ou seja, a mesma que gruda no sapato). Assim como o nosso corpo, o solo também tem uma organização, ou seja, possui camadas que são chamadas de horizontes do solo. A agricultura de bases ecológicas considera o solo um "ser vivo" cheio de vitalidade e complexidades, a ser observado e estudado em três aspectos: 1) físico (drenagem, capacidade de reter água, textura e porosidade, por exemplo); 2) químico (quantidade de matéria orgânica, pH, nutrientes, substâncias prejudiciais e húmus - matéria orgânica depositada no solo, que resulta da decomposição de animais e plantas mortas, ou de seus subprodutos, liberando através de um processo natural, diversos nutrientes, em especial o nitrogênio) e 3) biológico (micro e macro-organismos que o habitam, como fungos, bactérias, minhocas, insetos, formigas, dentre outros). Todos os três são igualmente importantes para que os processos naturais possam ocorrer. 

     As grandes diferenças na vegetação e nas plantações são em grande parte decorrentes dos diversos tipos de solos que ocorrem na natureza. Essa diversidade de solos reflete as variações dos fatores de formação que ocorrem na natureza. Esses solos se apresentam com diferentes cores: amarela, vermelha, marrom, preta, cinza, azulada, esverdeada e branca. Além de possuir cor diferente, um determinado horizonte pode ser mais duro que outro, filtrar a água mais rápido e/ou deixar que as raízes cresçam mais ou menos depressa. 



Degradação dos solos
Um solo se degrada quando são modificadas as suas características físicas, químicas e biológicas, sendo a erosão (Figura 1), uma das principais causas, além do desmatamento (Figura 3), esgotamento, salinização, compactação (Figura 4 e 5) e desertificação. A expansão das culturas de subsistência e a criação de animais para utilização pelos homens, os cultivos da cana-de-açúcar e do café e, mais recentemente, a da soja, têm sido realizados com rotinas inadequadas (isso desde a descoberta do Brasil pelos europeus), resultando em agressões aos elementos naturais, especialmente, ao solo e à água. 


Por falta de conhecimento, não só muitos agricultores e pecuaristas estão degradando intensamente os nossos recursos naturais, mas também madeireiros, garimpeiros e carvoeiros. Quem mais utiliza tem ainda pouca consciência de que o solo, a água e as florestas são recursos naturais finitos e que, após a sua degradação, a recuperação pode ser irreversível. É fundamental a disseminação da ideia de que "é mais econômico manter do que recuperar recursos naturais". 

A ação da água da chuva sobre os terrenos continua sendo um dos principais agentes da degradação dos solos brasileiros. Derrubada a vegetação e queimados os restos culturais (Figura 3), os terrenos ficam sujeitos à ação direta da água da chuva, que provoca a erosão hídrica do solo, carregando os seus nutrientes. As terras transportadas dos terrenos pelas enxurradas são, em grande quantidade, depositadas nas calhas dos cursos d'água, reduzindo a sua capacidade de armazenamento da água da chuva, ocasionando inundações, com graves consequências socioeconômicas. Em poucos anos, a terra torna-se empobrecida, diminuindo a produção agrícola e dos pastos. Agricultores e pecuaristas acabam deslocando-se para outras zonas, deixando para trás as áreas degradadas Há prejuízos diretos e indiretos e os efeitos são sentidos agora e no futuro. 


Figura 3. Devastação de florestas: além de causar a erosão do solo, reduz a biodiversidade, essencial, para o equilíbrio ecológico 

Figura 4. Compactação: uma das causas da degradação do sol, pois impede o desenvolvimento normal das raízes das plantas 




Figura 5. Pé-de-arado ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo da camada, devido à aração e gradeação anual 




O que é conservacionismo?

     O conservacionismo é a gestão, pelo ser humano, da utilização dos elementos da biosfera (conjunto dos seres vivos da Terra e seus habitats, formado pelos diferentes ecossistemas), de modo a produzir o maior benefício sustentado para a população atual, mantendo as potencialidades e o equilíbrio necessários às gerações futuras. O conservacionismo compreende as seguintes atividades: Manutenção - para serem utilizados, os recursos naturais sofrem modificações, mas são mantidas as suas peculiaridades e corrigidas as deficiências, se ocorrerem, sem lhes afetar a potencialidade - é a utilização conservacionista); Preservação - quando os ecossistemas não devem sofrer qualquer alteração. Uma área pode ser destinada à preservação, não só para que o solo não sofra a ação da erosão, como para a conservação dos componentes da biosfera local e, a Restauração ou Recuperação -quando um elemento natural necessita de processos que o capacitem a exercer suas funções primitivas, eliminando-se os fatores que concorrem para sua degradação. 


     A conservação do solo é um dos princípios da agroecologia. Solos degradados exigem o uso intensivo de fertilizantes e, mesmo assim, podem não suprir as necessidades fisiológicas das plantas, o que muitas vezes resulta num uso intensivo de agrotóxicos. Com um bom manejo do solo, que conserva a fertilidade, a utilização desse tipo de insumo pode ser grandemente reduzida ou até mesmo evitada. 




Manejo do solo

     O solo, a água e as florestas são recursos naturais finitos e, após a sua degradação, a recuperação pode ser irreversível, por isso, é mais econômico manter do que recuperar recursos naturais. O uso intensivo da mecanização, agroquímicos e monocultura, estão entre os principais fatores que determinam a degradação de um solo (solo doente), reduzindo sua vida (pobre em matéria orgânica) e aumentando os distúrbios nutricionais e doenças e pragas. Por outro lado, um solo sadio (rico em matéria orgânica) produz plantas, animais e homens sadios. 

Figura 6. Solo degradado (doente);       Solo orgânico (sadio)

A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas. A vida do solo depende da matéria orgânica: Composto orgânico, adubação verde/plantas de cobertura, biofertilizantes e estercos de animais curtido. A ciência da agroecologia é centrada no ser humano e sua base de sustentação é a fertilidade do solo. Tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já antigamente, era visto como “organismo vivo”. A matéria orgânica (M.O.) influencia nos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo e aumenta a resistência dos cultivos às pragas e doenças. 


Efeitos químicos da M.O. no solo: Fornece todos os nutrientes parceladamente, melhora a absorção de vários nutrientes, aumenta a retenção de nutrientes, reduz a toxidez de alumínio e corrige a acidez do solo, regula e equilibra a disponibilidade e absorção dos nutrientes e, ainda possui fitohormônios que favorecem às plantas. 

Efeitos físicos da M.O. no solo: Melhora a porosidade, aumenta a infiltração e retenção de água, reduz o encharcamento, diminui a compactação ou adensamento, aumenta a resistência à erosão e reduz as variações de temperatura. 

Efeitos biológicos da M.O. no solo: Aumenta a vida do solo, modifica a composição das plantas espontâneas (inços),e aumenta o poder de competição das culturas com as plantas espontâneas e, ainda melhora o valor nutricional e o sabor dos alimentos.



Como regenerar o solo degradado?

     As principais práticas para regenerar o solo degradado são: 


Cobertura permanente do solo; num solo descoberto, a cada 9º C de aumento da temperatura do solo, dobra a velocidade de degradação da matéria orgânica. O uso de plantas para cobertura do solo (adubação verde, uso de outras plantas e até plantas espontâneas) é uma prática muito importante para a regeneração do solo. A adubação verde é o cultivo de algumas espécies de plantas (gramíneas e leguminosas) que, ao serem incorporadas (conceito antigo) ou derrubadas no solo possibilitam o cultivo mínimo/plantio direto de culturas econômicas, ou ainda consorciadas com os cultivos, fornecendo matéria orgânica, protegendo o solo e reduzindo a incidências de plantas espontâneas (Figura 7). As principais vantagens da cobertura do solo, especialmente da adubação verde, são: Aumento da atividade de microorganismos úteis do solo, proteção do solo contra as adversidades climáticas e erosão, fixação do nitrogênio do ar no solo (leguminosas –mucuna e outras), reciclagem dos nutrientes das camadas não exploradas pelos cultivos para a superfície, auxilio no manejo de plantas espontâneas e na descompactação do solo através das raízes, melhora a estrutura do solo tornando-o mais solto e arejado, aumenta a capacidade de retenção de água ( até 10x) e infiltração e, ainda reduz a variação de temperatura no solo. Onde há pouco esterco, a adubação verde é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica. 


Figura 7. A rotação de culturas com adubos verde e/ou consórcio (ex.:milho/mucuna): ótima opção para aumentar a matéria orgânica, melhorar a fertilidade do solo, cobrir o solo protegendo-o da erosão e, ainda reduzir a incidência de plantas espontâneas e compactação do solo, além de promover a reciclagem de nutrientes, devido ao sistema radicular vigoroso e profundo 

Adubação orgânica: uso de estercos de animais curtidos e, principalmente composto orgânico (resultado da transformação dos restos vegetais pelos microrganismos, em adubo natural de ótima qualidade). 

Mecanização cautelosa e com equipamentos adequados

Manejo de restos de culturas/cobertura morta com os materiais mais disponíveis na região (Figuras 8 e 9) 


Figura 8. Cultivo de repolho em cobertura morta (palha de milho) 



Figura 9. Cultivo de couve-flor em cobertura morta (palha de arroz) 



     Outras práticas importantes para regenerar o solo degradado, são: Manejo das plantas espontâneas, diversificação de plantas e cultivos, uso de quebra-ventos, uso de pó-de-rochas, uso de produtos que fortalecem a resistência das plantas e, ainda a integração de cultivos com árvores e com a produção animal.
Ferreira On 4/10/2013 03:49:00 AM Comentarios

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

15 de Abril: Dia Nacional da Conservação do Solo


     A data escolhida foi para homenagear o nascimento do americano Hugh Hammond Bennett (15/04/1881), considerado o pai da conservação dos solos nos Estados Unidos. Suas experiências estudando solos e agricultura, nacional e internacionalmente, fizeram dele um conservacionista dedicado, além da capacidade de comunicação de seus textos que muito conquistou para a causa mundial da conservação do solo. No Brasil, o Dia Nacional da Conservação do Solo foi oficializado pela Lei Federal 7876, de 13 de novembro de 1989. 


      O solo, também chamado de terra, tem grande importância na vida de todos os seres vivos do nosso planeta, assim como o ar, a água, o fogo e o vento. É do solo que retiramos parte dos nossos alimentos, além de servir como suporte à água e ao ar e sobre ele ainda construímos as nossas moradias. 

       Qualquer uso da terra provoca uma mudança na dinâmica natural dos solos e, entre essas alterações, destaca-se a erosão (Figura 1), que pode resultar da ação da água, dos ventos e, principalmente, causado pelo homem, através da devastação das florestas e queimadas e, também pelo manejo inadequado do solo. As estatísticas sobre perdas físicas de solo em todo o mundo revelam que, a cada ano, bilhões de toneladas de terra fértil são erodidas e transportadas para os rios. Segundo o Programa de Qualidade Ambiental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as perdas no Brasil já atingem 840 milhões de toneladas anuais e, o que é pior, estão aumentando com a abertura de novas frentes agropecuárias no Centro-Oeste e na Amazônia (Fonte: http://www.ecoltec.com.br/pub4.htm). 

     A perda de solo pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é mais grave, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição, além de contaminar o meio ambiente devido ao uso exagerado e indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas lavouras. Daí vem a importância de se ter um dia voltado para a reflexão sobre a conservação dos solos. Boa parte dessa perda de solo poderia ser evitada pelo manejo adequado dos solos, através de inúmeras práticas de conservação, tais como: a distribuição racional dos caminhos em uma propriedade, o cultivo respeitando as curvas de nível, a utilização de culturas mais apropriadas de acordo com a declividade do terreno, a implantação de faixas de vegetação nas lavouras, o terraceamento e a implantação de quebra ventos (erosão eólica), entre outras. Estas práticas reduzem a velocidade de escoamento da água, diminuindo o poder de enxurradas e aumentando a infiltração de água no solo. Outras ações ainda mais simples, como evitar o plantio de culturas anuais em solos com declínio acentuado, revolver o mínimo possível o solo e, especialmente, deixar a matéria orgânica sobre o solo, ao invés de queimá-la e, ainda procurar manter cobertura do solo nos cultivos, especialmente no início do desenvolvimento das culturas (entrelinhas) e, sempre que possível, utilizar a prática de rotação e consorciação de culturas com outros cultivos e com adubos verdes, são práticas bastante efetivas e fáceis de serem implantadas. 



Figura 1. Erosão: uma das principais causas da degradação do solo 



O que é o solo e como é formado?

     O solo é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais. Ela vem se formando há milhões de anos, com o acúmulo de pequeníssimas partículas, formadas pelo desgaste das rochas, que foram se misturando com os restos de animais e plantas. Portanto, o solo é o resultado de mudanças ocorridas nas rochas – denominadas intemperismo (conjunto de fenômenos físicos e químicos que levam à degradação e enfraquecimento das rochas). Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos (processos físicos, químicos e biológicos) são os responsáveis por este lento processo; calcula-se que cada centímetro do solo se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. Logo que a rocha é alterada e é formado o material mais ou menos solto e macio, os seres vivos, animais e vegetais, assim como o próprio homem, passam a ajudar no desenvolvimento do solo. Eles atuam misturando a matéria orgânica (restos de vegetais e de animais mortos) com o material solto e macio em que se transformou a rocha. Esta mistura faz com que o material que veio do desgaste das rochas forneça alimentos a todas as plantas que vivem no nosso planeta. Além disso, os seres vivos quando morrem também vão sendo misturados com o material macio e solto, formando o verdadeiro solo (Figura 2). As condições climáticas existentes são a principal influência das características de cada solo. Muitos solos podem ser formados pelo transporte de sedimentos levados pelo vento, chuva ou pelas águas dos rios, como as dunas e as terras de aluvião. Logo abaixo do solo, aparece uma camada mais profunda e espessa, que é o subsolo. 





 Figura 2. Cada centímetro de solo, leva 100 a 400 anos para se formar 


A composição e organização do solo

     Constituído essencialmente por matéria mineral e orgânica (fração sólida), água (fração líquida) e ar (fração gasosa) o solo é, por este motivo, considerado um sistema trifásico. As proporções de cada constituinte variam, principalmente, de acordo com a natureza deste. Os quatro componentes do solo se encontram misturados uns aos outros. A matéria orgânica está misturada com a parte mineral e com a água. Dentro do solo existem pequenos furinhos, que chamamos de poros do solo, onde ficam guardados a água e o ar que as raízes das plantas e os outros organismos necessitam para beber e respirar. 


     O solo é estudado nas pesquisas dividindo a parte mineral em três frações principais, de acordo com o seu tamanho: areia (a parte mais grosseira); silte (uma parte um pouco mais fina, ou seja o limo que faz escorregar) e argila (uma parte muito pequena que para ser visualizada necessita de microscópios, ou seja, a mesma que gruda no sapato). Assim como o nosso corpo, o solo também tem uma organização, ou seja, possui camadas que são chamadas de horizontes do solo. A agricultura de bases ecológicas considera o solo um "ser vivo" cheio de vitalidade e complexidades, a ser observado e estudado em três aspectos: 1) físico (drenagem, capacidade de reter água, textura e porosidade, por exemplo); 2) químico (quantidade de matéria orgânica, pH, nutrientes, substâncias prejudiciais e húmus - matéria orgânica depositada no solo, que resulta da decomposição de animais e plantas mortas, ou de seus subprodutos, liberando através de um processo natural, diversos nutrientes, em especial o nitrogênio) e 3) biológico (micro e macro-organismos que o habitam, como fungos, bactérias, minhocas, insetos, formigas, dentre outros). Todos os três são igualmente importantes para que os processos naturais possam ocorrer. 

     As grandes diferenças na vegetação e nas plantações são em grande parte decorrentes dos diversos tipos de solos que ocorrem na natureza. Essa diversidade de solos reflete as variações dos fatores de formação que ocorrem na natureza. Esses solos se apresentam com diferentes cores: amarela, vermelha, marrom, preta, cinza, azulada, esverdeada e branca. Além de possuir cor diferente, um determinado horizonte pode ser mais duro que outro, filtrar a água mais rápido e/ou deixar que as raízes cresçam mais ou menos depressa. 



Degradação dos solos
Um solo se degrada quando são modificadas as suas características físicas, químicas e biológicas, sendo a erosão (Figura 1), uma das principais causas, além do desmatamento (Figura 3), esgotamento, salinização, compactação (Figura 4 e 5) e desertificação. A expansão das culturas de subsistência e a criação de animais para utilização pelos homens, os cultivos da cana-de-açúcar e do café e, mais recentemente, a da soja, têm sido realizados com rotinas inadequadas (isso desde a descoberta do Brasil pelos europeus), resultando em agressões aos elementos naturais, especialmente, ao solo e à água. 


Por falta de conhecimento, não só muitos agricultores e pecuaristas estão degradando intensamente os nossos recursos naturais, mas também madeireiros, garimpeiros e carvoeiros. Quem mais utiliza tem ainda pouca consciência de que o solo, a água e as florestas são recursos naturais finitos e que, após a sua degradação, a recuperação pode ser irreversível. É fundamental a disseminação da ideia de que "é mais econômico manter do que recuperar recursos naturais". 

A ação da água da chuva sobre os terrenos continua sendo um dos principais agentes da degradação dos solos brasileiros. Derrubada a vegetação e queimados os restos culturais (Figura 3), os terrenos ficam sujeitos à ação direta da água da chuva, que provoca a erosão hídrica do solo, carregando os seus nutrientes. As terras transportadas dos terrenos pelas enxurradas são, em grande quantidade, depositadas nas calhas dos cursos d'água, reduzindo a sua capacidade de armazenamento da água da chuva, ocasionando inundações, com graves consequências socioeconômicas. Em poucos anos, a terra torna-se empobrecida, diminuindo a produção agrícola e dos pastos. Agricultores e pecuaristas acabam deslocando-se para outras zonas, deixando para trás as áreas degradadas Há prejuízos diretos e indiretos e os efeitos são sentidos agora e no futuro. 


Figura 3. Devastação de florestas: além de causar a erosão do solo, reduz a biodiversidade, essencial, para o equilíbrio ecológico 

Figura 4. Compactação: uma das causas da degradação do sol, pois impede o desenvolvimento normal das raízes das plantas 




Figura 5. Pé-de-arado ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo da camada, devido à aração e gradeação anual 




O que é conservacionismo?

     O conservacionismo é a gestão, pelo ser humano, da utilização dos elementos da biosfera (conjunto dos seres vivos da Terra e seus habitats, formado pelos diferentes ecossistemas), de modo a produzir o maior benefício sustentado para a população atual, mantendo as potencialidades e o equilíbrio necessários às gerações futuras. O conservacionismo compreende as seguintes atividades: Manutenção - para serem utilizados, os recursos naturais sofrem modificações, mas são mantidas as suas peculiaridades e corrigidas as deficiências, se ocorrerem, sem lhes afetar a potencialidade - é a utilização conservacionista); Preservação - quando os ecossistemas não devem sofrer qualquer alteração. Uma área pode ser destinada à preservação, não só para que o solo não sofra a ação da erosão, como para a conservação dos componentes da biosfera local e, a Restauração ou Recuperação -quando um elemento natural necessita de processos que o capacitem a exercer suas funções primitivas, eliminando-se os fatores que concorrem para sua degradação. 


     A conservação do solo é um dos princípios da agroecologia. Solos degradados exigem o uso intensivo de fertilizantes e, mesmo assim, podem não suprir as necessidades fisiológicas das plantas, o que muitas vezes resulta num uso intensivo de agrotóxicos. Com um bom manejo do solo, que conserva a fertilidade, a utilização desse tipo de insumo pode ser grandemente reduzida ou até mesmo evitada. 




Manejo do solo

     O solo, a água e as florestas são recursos naturais finitos e, após a sua degradação, a recuperação pode ser irreversível, por isso, é mais econômico manter do que recuperar recursos naturais. O uso intensivo da mecanização, agroquímicos e monocultura, estão entre os principais fatores que determinam a degradação de um solo (solo doente), reduzindo sua vida (pobre em matéria orgânica) e aumentando os distúrbios nutricionais e doenças e pragas. Por outro lado, um solo sadio (rico em matéria orgânica) produz plantas, animais e homens sadios. 

Figura 6. Solo degradado (doente);       Solo orgânico (sadio)

A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas. A vida do solo depende da matéria orgânica: Composto orgânico, adubação verde/plantas de cobertura, biofertilizantes e estercos de animais curtido. A ciência da agroecologia é centrada no ser humano e sua base de sustentação é a fertilidade do solo. Tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já antigamente, era visto como “organismo vivo”. A matéria orgânica (M.O.) influencia nos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo e aumenta a resistência dos cultivos às pragas e doenças. 


Efeitos químicos da M.O. no solo: Fornece todos os nutrientes parceladamente, melhora a absorção de vários nutrientes, aumenta a retenção de nutrientes, reduz a toxidez de alumínio e corrige a acidez do solo, regula e equilibra a disponibilidade e absorção dos nutrientes e, ainda possui fitohormônios que favorecem às plantas. 

Efeitos físicos da M.O. no solo: Melhora a porosidade, aumenta a infiltração e retenção de água, reduz o encharcamento, diminui a compactação ou adensamento, aumenta a resistência à erosão e reduz as variações de temperatura. 

Efeitos biológicos da M.O. no solo: Aumenta a vida do solo, modifica a composição das plantas espontâneas (inços),e aumenta o poder de competição das culturas com as plantas espontâneas e, ainda melhora o valor nutricional e o sabor dos alimentos.



Como regenerar o solo degradado?

     As principais práticas para regenerar o solo degradado são: 


Cobertura permanente do solo; num solo descoberto, a cada 9º C de aumento da temperatura do solo, dobra a velocidade de degradação da matéria orgânica. O uso de plantas para cobertura do solo (adubação verde, uso de outras plantas e até plantas espontâneas) é uma prática muito importante para a regeneração do solo. A adubação verde é o cultivo de algumas espécies de plantas (gramíneas e leguminosas) que, ao serem incorporadas (conceito antigo) ou derrubadas no solo possibilitam o cultivo mínimo/plantio direto de culturas econômicas, ou ainda consorciadas com os cultivos, fornecendo matéria orgânica, protegendo o solo e reduzindo a incidências de plantas espontâneas (Figura 7). As principais vantagens da cobertura do solo, especialmente da adubação verde, são: Aumento da atividade de microorganismos úteis do solo, proteção do solo contra as adversidades climáticas e erosão, fixação do nitrogênio do ar no solo (leguminosas –mucuna e outras), reciclagem dos nutrientes das camadas não exploradas pelos cultivos para a superfície, auxilio no manejo de plantas espontâneas e na descompactação do solo através das raízes, melhora a estrutura do solo tornando-o mais solto e arejado, aumenta a capacidade de retenção de água ( até 10x) e infiltração e, ainda reduz a variação de temperatura no solo. Onde há pouco esterco, a adubação verde é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica. 


Figura 7. A rotação de culturas com adubos verde e/ou consórcio (ex.:milho/mucuna): ótima opção para aumentar a matéria orgânica, melhorar a fertilidade do solo, cobrir o solo protegendo-o da erosão e, ainda reduzir a incidência de plantas espontâneas e compactação do solo, além de promover a reciclagem de nutrientes, devido ao sistema radicular vigoroso e profundo 

Adubação orgânica: uso de estercos de animais curtidos e, principalmente composto orgânico (resultado da transformação dos restos vegetais pelos microrganismos, em adubo natural de ótima qualidade). 

Mecanização cautelosa e com equipamentos adequados

Manejo de restos de culturas/cobertura morta com os materiais mais disponíveis na região (Figuras 8 e 9) 


Figura 8. Cultivo de repolho em cobertura morta (palha de milho) 



Figura 9. Cultivo de couve-flor em cobertura morta (palha de arroz) 



     Outras práticas importantes para regenerar o solo degradado, são: Manejo das plantas espontâneas, diversificação de plantas e cultivos, uso de quebra-ventos, uso de pó-de-rochas, uso de produtos que fortalecem a resistência das plantas e, ainda a integração de cultivos com árvores e com a produção animal.

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