sábado, 23 de fevereiro de 2013



Fé, fraternidade, juventude e meio ambiente: Uma aliança sustentável 


     Neste ano, a campanha da fraternidade propõe um tema de reflexão no período da quaresma, para ser um instrumento de ajuda para cada cristão(a) se preparar melhor para páscoa: : “A Fraternidade e Juventude”. Um dos objetivos da Campanha de 2013 é sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum. Sem jovens é impossível conseguir sustentabilidade para as atividades, levando a um “envelhecimento” da população rural, que tem dificuldades em assumir as tarefas pesadas do campo. Segundo especialistas, a dificuldade de mudar o comportamento em relação ao meio ambiente não é partilhada uniformemente pela sociedade. As crianças e os jovens são mais sensíveis a essa virada de atitude, porque seus hábitos ainda não estão consolidados. Por isso, é muito importante investir na educação e qualificação das crianças e jovens para melhorar a vida de nosso planeta e termos o tão desejado desenvolvimento sustentável. 




A fé, os jovens e o meio ambiente 

     Crer também é cuidar da flora, fauna e recursos naturais! A fé no Deus criador e na criação de Deus deveria, ao natural, nos levar ao engajamento concreto e prático em defesa da vida. Deveríamos ser ecológicos como é o Deus da nossa fé, o criador e defensor da vida! A Terra é a nossa casa comum e o único lugar que temos para habitar. Mas ela não é somente nossa; é o espaço de muitos povos de hoje e do futuro e, de uma infinidade de outras formas de vida. O cuidado com o meio ambiente é responsabilidade de todo cristão(a), mas especialmente nos jovens é que depositamos nossa maior esperança de um mundo melhor para nossos filhos e netos. A Bíblia nos apresenta várias passagens nas quais encontramos Deus se reportando à respeito do cuidado com a natureza. Quando desrespeitamos a natureza, não utilizamos de forma sustentável os rios, as florestas, o solo, o ar e tudo aquilo que é necessário para a vida do planeta, demonstramos que não estamos pensando nas futuras gerações e transmitimos a ideia de que precisamos extrair tudo agora e que todos os recursos naturais são infinitos. Essa é uma visão completamente fora do propósito de Deus na relação do homem com a natureza. O desenvolvimento sustentável, tão falado atualmente em todos os setores, é um modelo econômico capaz de satisfazer as necessidades das gerações atuais, levando em consideração as necessidades e interesses das futuras gerações. Isto é, promove o desenvolvimento sem deteriorar ou prejudicar a base de recursos que lhe dá sustentação. Em outras palavras, sustentabilidade é “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. 

     Atualmente, o problema da poluição ambiental não está somente nas periferias das grandes cidades, mas também nos que vivem longe delas. O ar tóxico desprendido pelas fábricas entra nas casas de todos, independente de onde foi originada a emissão. A água e o solo contaminados por chorume e agroquímicos (adubos químicos e agrotóxicos), contaminam as fontes de água e os alimentos. A erosão e degradação dos solos é outro problema causado pela agricultura dita “moderna”, pois ao incentivar o uso exagerado da mecanização, provoca o assoreamento dos rios, lagos e outras fontes de água, contaminando-as e contribuindo para aumentar as catástrofes (enchentes e desmoronamento de morros). São visíveis os graves problemas ambientais causado pela agricultura “moderna”, colocando em risco a vida do planeta, a saúde das atuais e futuras gerações, além dos problemas sociais e econômicos. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos, registradas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, indicam que entre 1984 e 2011 ocorreram 285 mortes e um total de 12.245 pessoas intoxicadas, somente em Santa Catarina. No Brasil, 280 mil trabalhadores se intoxicam por ano. No mundo estima-se que são 3 milhões de pessoas intoxicadas por ano (OMS) com 220 mil mortes. Estima-se que para cada registro oficial, ocorre pelo menos 10 casos não registrados (dificuldade no diagnóstico dos efeitos crônicos). Ao pesquisar a evolução das intoxicações por agrotóxicos em Santa Catarina, na década de 1991 a 2000, verificou-se, em média, que 350 pessoas foram intoxicadas por ano, enquanto que na última década (2001 a 2010), foram 600 pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 75% de pessoas intoxicadas (fonte: www.cit.sc.gov.br). 

     Felizmente, o interesse pelas questões ambientais cresceu entre os jovens nos últimos anos; quase três em cada quatro jovens brasileiros (74%) disseram estar preocupados com a questão ambiental, em uma pesquisa realizada em 14 países. A poluição ambiental ganhou mais destaque do que problemas como pobreza e conflitos políticos, entre os cerca de 200 jovens de oito a 24 anos de idade entrevistados em cada um dos países. Para os jovens, não se trata mais de uma questão de conscientização! A hora é de ação! O surgimento de organizações de juventude dos movimentos rurais do Brasil é um fenômeno que tem impressionado. Em todos os movimentos sociais rurais, a juventude está organizada. A nova juventude rural tem entre suas bandeiras de luta, não só o acesso à terra, saúde, cultura, educação e renda, mas também a promoção do desenvolvimento sustentável e a preservação do ambiente. Os jovens, organizados em seus estados, perceberam a necessidade de conexão para a ampliação de seus trabalhos e criaram, por exemplo, a REJUMA – Rede de Juventude pelo Meio Ambiente. Essa Rede interliga jovens de todos os 26 estados e do Distrito Federal, criando uma grande força de renovação, mobilização e ação. A todo o momento, vimos pela internet e publicações, novas ações dos jovens espalhados por todo o país visando a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Esta conscientização aumenta a cada ano e este processo, não tem mais como reverter; ou os jovens e outras camadas da população e, especialmente os governantes e o setor privado de produção melhoram a participação visando a preservação do meio ambiente, ou então vão ficar fora do processo. Para maiores informações e conhecimento sobre as principais ações dos jovens no país, sugere-se acessar a publicação “O jovem e o meio ambiente” no seguinte endereço: http://www.institutovotorantim.org.br/pt-br/saladeimprensa/publicacoes/ed07OndaJovemMeioAmbiente.pdf



O êxodo rural dos jovens e os incentivos para permanecer no campo 

     Podemos definir êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades) e ocorre quando os habitantes do campo visam obter condições de vida melhor. Desde 1970, o Brasil registra um processo de encolhimento da população rural, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); em 2010 havia 29.830.007 residentes na região rural, contra 31.835.143 em 2000. Esse processo, presente há mais de 40 anos no Brasil, preocupa muito os governos e, o que é pior, provoca o “envelhecimento” do campo, devido à migração de inúmeros jovens para as cidades. Entre os anos de 2000 e 2010, o êxodo rural atingiu mais de 835 mil jovens de 15 a 24 anos em todo o país, revela o IBGE. Ao chegar aos centros urbanos, muitos ficam vulneráveis e não raro são tentados ao mundo do crime. Segundo dados do IBGE, entre 1996 e 2006 o número de jovens com até 29 anos que deixaram o campo chegou a três milhões. Segundo especialistas, o principal problema da migração dos jovens para o campo é a falta de acesso à bens culturais e a falta de autonomia no campo. Os jovens rurais também querem ter acesso aos bens das demais juventudes e, na sua atividade no campo, não são autônomos e precisam dividir a renda com o pai, dono da propriedade. Além disso, especialmente a partir dos anos 80, o país começou uma intensa mecanização da agricultura e uso de insumos modernos, favorecendo novos sistemas de plantio, tratos culturais e colheita e predomínio da monocultura. Em consequência, a produção agrícola necessita, cada vez menos, mão-de-obra e, é justamente a falta de oportunidades para os jovens que os faz sair das áreas rurais e migrar para áreas urbanas. Centros urbanos ainda são atrativos para jovens que buscam alternativas econômicas e educativas diferentes daquelas encontradas no meio rural. Com a elevação da oferta de emprego, principalmente no setor industrial e de serviços, além de encontrar condições mais acessíveis de estudos nas cidades, como escolas técnicas e faculdades, os centros urbanos tornam-se o rumo natural dos jovens nascidos no campo. Portanto, os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com boa remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc), qualidade de ensino e necessidade de infra estrutura e serviços (hospitais, transportes, educação, lazer e etc). 

     Como fazer para segurar, por exemplo, um adolescente que vai estudar na cidade e lá se depara com celular e internet, normalmente ausentes no campo? Precisamos de políticas voltadas para o campo para que eles não queiram ir para as cidades. Nos jovens rurais está depositada a continuidade da atividade agrícola das famílias do campo, que são responsáveis pela capacidade produtiva do país e, em manter a soberania alimentar do Brasil. A agricultura familiar, presente no mercado brasileiro, explorando o ambiente sem degradar a natureza, pode proporcionar a permanência do homem no campo e a geração de renda ambientalmente correta, gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. O desenvolvimento sustentável passa pela agricultura familiar, que tem grande potencial de trabalho para a juventude. Na cidade ou no campo, um desenvolvimento que assegure o futuro das novas gerações exige repensar todos os nossos modos de viver, desde hábitos cotidianos que degradam o ambiente e desperdiçam recursos, até a forma econômica de gerar trabalho e renda. Especialistas concordam que uma das melhores possibilidades do Brasil nesse caminho, está no campo com a agricultura familiar. Com 80% dos 4,8 milhões de estabelecimentos rurais nas mãos de pequenos produtores, o setor emprega 70% da mão-de-obra rural e responde por 10% do PIB nacional e 40% do PIB da agropecuária. Além de responder pela maior parte dos alimentos na mesa dos brasileiros, ela permite o uso de métodos menos prejudiciais ao ambiente e emprega mais pessoas, criando alternativas especialmente para os jovens em busca de construir um futuro. A agricultura familiar se faz em pequenas áreas e privilegia a diversificação de atividades (biodiversidade) e não a monocultura (agronegócio típico de latifúndio), favorecendo a sustentabilidade ambiental, social e cultural desse modelo. Para especialistas, a agricultura familiar brasileira ainda não tem sido contemplada como deveria e continua com dificuldades para a geração de renda e inserção nos mercados, devido a falta de acesso à bens de serviço e infra estrutura. Os jovens, que acabam empurrados para as grandes metrópoles em busca de oportunidades de trabalho e estudo, são os que mais sentem a falta de investimentos e políticas para o setor. O Ministério do Meio Ambiente e, os governos estaduais, estão preocupados com o desenvolvimento de políticas integradas, controle social, desenvolvimento sustentável e fortalecimento da política ambiental que contemple os vários segmentos da sociedade. Muitas iniciativas no sentido de auxiliar os jovens a permanecerem no campo, estão sendo tomadas, mas é preciso avançar muito mais para que eles fiquem “por opção” e não “como única opção”. 

     As soluções para reverter o êxodo rural dos jovens passa pela qualificação dos mesmos (Figura 1). O jovem agricultor deve receber uma educação integral destinada a conhecer e compreender a realidade em que vive. Tudo ocorre de forma global e integrada, o que faz com que a transferência de conhecimentos esteja direcionado para a agricultura. Qualificar significa, não apenas prepará-lo para lidar com as novas tecnologias, mas, educá-lo, ensinando-o a aprender e a buscar o conhecimento, a fim de melhorar sua atuação na atividade e no meio em que vive. Qualificação constitui um processo permanente, principalmente para aqueles que formam uma cadeia produtiva, como é o caso da agricultura.

Figura 1. A qualificação dos jovens é uma das formas de mantê-los no campo: A foto ilustra a formação de 29 jovens rurais iniciada no dia 15 de fevereiro de 2013 no Alto Vale do Rio do Peixe, no Centro de Treinamento da Epagri (Cetrevi) em Videira. 

     É importante destacar que a qualificação dos jovens visando o desenvolvimento sustentável através da aplicação dos princípios da agroecologia, é fundamental para a permanência dos mesmos no campo. Mas o que é agroecologia? É a ciência que nos ajuda a articular diferentes conhecimentos(sociologia, antropologia, física, economia ecológica.....) e saberes populares para a busca de mais sustentabilidade na agricultura. E o que é agricultura mais sustentável: Agricultura ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa e humana; o conceito inclui ainda segurança alimentar, produtividade e qualidade de vida; é uma produção agrícola que não comprometa nossa capacidade futura de praticar agricultura com sucesso, mantendo a qualidade do meio ambiente. Princípios tais como o manejo agroecológico do solo, considerando-o como um organismo “vivo” (adubação orgânica, compostagem, plantio direto e mínimo), práticas culturais que conservem e aumentem a biodiversidade (rotação e consorciação de culturas, incluindo adubos verdes) e promovam a cobertura do solo (cobertura morta e viva), considerando as plantas espontâneas como “amigas” dos cultivos, e, o uso somente quando necessário, de produtos alternativos que prejudiquem, o menos possível, o meio ambiente, são essenciais quando se visa a produção de alimentos de forma mais sustentável. Quando se adota os princípios da agroecologia e não os “pacotes tecnológicos” oriundos da agricultura “moderna”, fica evidente que é impossível alcançar um desenvolvimento sustentável utilizando-se tecnologias degradadoras do meio ambiente. Outro atrativo para os jovens aplicarem os princípios da agroecologia na produção de alimentos é o menor custo de produção, pois neste sistema não dependem do uso de insumos caros (a maioria são importados e reajustados anualmente) e, o mais importante, agregam maior valor aos produtos por serem alimentos sem contaminação por agrotóxicos e fertilizantes químicos. Portanto, o desenvolvimento de sistemas produtivos mais sustentáveis, só tem vantagens para os jovens agricultores! 


Considerações finais 

     No início de 2013, renovamos a nossa esperança e a nossa fé em um mundo melhor, com paz, harmonia e amor construídos por pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, fraternidade e consciência ecológica. O mundo não podemos mudar, mas podemos mudar a nós mesmos. Fazer a sua parte e alertar, esclarecer e orientar é compromisso de todos! Todos deveriam aprender que o cuidado do meio ambiente não é responsabilidade só dos ambientalistas e dos governantes, mas de todo cristão(a). 

     O homem não é o soberano senhor, mas o responsável diante de Deus pelo emprego correto dos recursos naturais e pela preservação das demais espécies. Nossa tarefa é contribuir para que a criação seja protegida e, a nossa postura em relação à poluição ambiental, ao uso de agroquímicos, o desflorestamento, o aquecimento global e muito mais, deve ser para agradar a Deus e honrar Ele como criador de todas as coisas. Tudo o que existe foi criado por Deus e entregue ao homem e à mulher. Mas o que a humanidade vem fazendo com a criação de Deus? 

     E você o que tem feito de concreto para contribuir com a preservação do meio ambiente? 


Ferreira On 2/23/2013 10:39:00 AM 2 comments

2 comentários:

  1. Entretanto, para a realização da vinda da JMJ, aterraram 1,8 milhões de metros quadrados de uma área de preservação permanente (APP). Circulam rumores e surgem indícios que o material utilizado no aterro (escória de alto forno e lixo hospitalar) vai causar impactos nocivos. Quem é o responsável pelo aterro?

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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Fé, fraternidade, juventude e meio ambiente: Uma aliança sustentável



Fé, fraternidade, juventude e meio ambiente: Uma aliança sustentável 


     Neste ano, a campanha da fraternidade propõe um tema de reflexão no período da quaresma, para ser um instrumento de ajuda para cada cristão(a) se preparar melhor para páscoa: : “A Fraternidade e Juventude”. Um dos objetivos da Campanha de 2013 é sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum. Sem jovens é impossível conseguir sustentabilidade para as atividades, levando a um “envelhecimento” da população rural, que tem dificuldades em assumir as tarefas pesadas do campo. Segundo especialistas, a dificuldade de mudar o comportamento em relação ao meio ambiente não é partilhada uniformemente pela sociedade. As crianças e os jovens são mais sensíveis a essa virada de atitude, porque seus hábitos ainda não estão consolidados. Por isso, é muito importante investir na educação e qualificação das crianças e jovens para melhorar a vida de nosso planeta e termos o tão desejado desenvolvimento sustentável. 




A fé, os jovens e o meio ambiente 

     Crer também é cuidar da flora, fauna e recursos naturais! A fé no Deus criador e na criação de Deus deveria, ao natural, nos levar ao engajamento concreto e prático em defesa da vida. Deveríamos ser ecológicos como é o Deus da nossa fé, o criador e defensor da vida! A Terra é a nossa casa comum e o único lugar que temos para habitar. Mas ela não é somente nossa; é o espaço de muitos povos de hoje e do futuro e, de uma infinidade de outras formas de vida. O cuidado com o meio ambiente é responsabilidade de todo cristão(a), mas especialmente nos jovens é que depositamos nossa maior esperança de um mundo melhor para nossos filhos e netos. A Bíblia nos apresenta várias passagens nas quais encontramos Deus se reportando à respeito do cuidado com a natureza. Quando desrespeitamos a natureza, não utilizamos de forma sustentável os rios, as florestas, o solo, o ar e tudo aquilo que é necessário para a vida do planeta, demonstramos que não estamos pensando nas futuras gerações e transmitimos a ideia de que precisamos extrair tudo agora e que todos os recursos naturais são infinitos. Essa é uma visão completamente fora do propósito de Deus na relação do homem com a natureza. O desenvolvimento sustentável, tão falado atualmente em todos os setores, é um modelo econômico capaz de satisfazer as necessidades das gerações atuais, levando em consideração as necessidades e interesses das futuras gerações. Isto é, promove o desenvolvimento sem deteriorar ou prejudicar a base de recursos que lhe dá sustentação. Em outras palavras, sustentabilidade é “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. 

     Atualmente, o problema da poluição ambiental não está somente nas periferias das grandes cidades, mas também nos que vivem longe delas. O ar tóxico desprendido pelas fábricas entra nas casas de todos, independente de onde foi originada a emissão. A água e o solo contaminados por chorume e agroquímicos (adubos químicos e agrotóxicos), contaminam as fontes de água e os alimentos. A erosão e degradação dos solos é outro problema causado pela agricultura dita “moderna”, pois ao incentivar o uso exagerado da mecanização, provoca o assoreamento dos rios, lagos e outras fontes de água, contaminando-as e contribuindo para aumentar as catástrofes (enchentes e desmoronamento de morros). São visíveis os graves problemas ambientais causado pela agricultura “moderna”, colocando em risco a vida do planeta, a saúde das atuais e futuras gerações, além dos problemas sociais e econômicos. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos, registradas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, indicam que entre 1984 e 2011 ocorreram 285 mortes e um total de 12.245 pessoas intoxicadas, somente em Santa Catarina. No Brasil, 280 mil trabalhadores se intoxicam por ano. No mundo estima-se que são 3 milhões de pessoas intoxicadas por ano (OMS) com 220 mil mortes. Estima-se que para cada registro oficial, ocorre pelo menos 10 casos não registrados (dificuldade no diagnóstico dos efeitos crônicos). Ao pesquisar a evolução das intoxicações por agrotóxicos em Santa Catarina, na década de 1991 a 2000, verificou-se, em média, que 350 pessoas foram intoxicadas por ano, enquanto que na última década (2001 a 2010), foram 600 pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 75% de pessoas intoxicadas (fonte: www.cit.sc.gov.br). 

     Felizmente, o interesse pelas questões ambientais cresceu entre os jovens nos últimos anos; quase três em cada quatro jovens brasileiros (74%) disseram estar preocupados com a questão ambiental, em uma pesquisa realizada em 14 países. A poluição ambiental ganhou mais destaque do que problemas como pobreza e conflitos políticos, entre os cerca de 200 jovens de oito a 24 anos de idade entrevistados em cada um dos países. Para os jovens, não se trata mais de uma questão de conscientização! A hora é de ação! O surgimento de organizações de juventude dos movimentos rurais do Brasil é um fenômeno que tem impressionado. Em todos os movimentos sociais rurais, a juventude está organizada. A nova juventude rural tem entre suas bandeiras de luta, não só o acesso à terra, saúde, cultura, educação e renda, mas também a promoção do desenvolvimento sustentável e a preservação do ambiente. Os jovens, organizados em seus estados, perceberam a necessidade de conexão para a ampliação de seus trabalhos e criaram, por exemplo, a REJUMA – Rede de Juventude pelo Meio Ambiente. Essa Rede interliga jovens de todos os 26 estados e do Distrito Federal, criando uma grande força de renovação, mobilização e ação. A todo o momento, vimos pela internet e publicações, novas ações dos jovens espalhados por todo o país visando a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Esta conscientização aumenta a cada ano e este processo, não tem mais como reverter; ou os jovens e outras camadas da população e, especialmente os governantes e o setor privado de produção melhoram a participação visando a preservação do meio ambiente, ou então vão ficar fora do processo. Para maiores informações e conhecimento sobre as principais ações dos jovens no país, sugere-se acessar a publicação “O jovem e o meio ambiente” no seguinte endereço: http://www.institutovotorantim.org.br/pt-br/saladeimprensa/publicacoes/ed07OndaJovemMeioAmbiente.pdf



O êxodo rural dos jovens e os incentivos para permanecer no campo 

     Podemos definir êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades) e ocorre quando os habitantes do campo visam obter condições de vida melhor. Desde 1970, o Brasil registra um processo de encolhimento da população rural, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); em 2010 havia 29.830.007 residentes na região rural, contra 31.835.143 em 2000. Esse processo, presente há mais de 40 anos no Brasil, preocupa muito os governos e, o que é pior, provoca o “envelhecimento” do campo, devido à migração de inúmeros jovens para as cidades. Entre os anos de 2000 e 2010, o êxodo rural atingiu mais de 835 mil jovens de 15 a 24 anos em todo o país, revela o IBGE. Ao chegar aos centros urbanos, muitos ficam vulneráveis e não raro são tentados ao mundo do crime. Segundo dados do IBGE, entre 1996 e 2006 o número de jovens com até 29 anos que deixaram o campo chegou a três milhões. Segundo especialistas, o principal problema da migração dos jovens para o campo é a falta de acesso à bens culturais e a falta de autonomia no campo. Os jovens rurais também querem ter acesso aos bens das demais juventudes e, na sua atividade no campo, não são autônomos e precisam dividir a renda com o pai, dono da propriedade. Além disso, especialmente a partir dos anos 80, o país começou uma intensa mecanização da agricultura e uso de insumos modernos, favorecendo novos sistemas de plantio, tratos culturais e colheita e predomínio da monocultura. Em consequência, a produção agrícola necessita, cada vez menos, mão-de-obra e, é justamente a falta de oportunidades para os jovens que os faz sair das áreas rurais e migrar para áreas urbanas. Centros urbanos ainda são atrativos para jovens que buscam alternativas econômicas e educativas diferentes daquelas encontradas no meio rural. Com a elevação da oferta de emprego, principalmente no setor industrial e de serviços, além de encontrar condições mais acessíveis de estudos nas cidades, como escolas técnicas e faculdades, os centros urbanos tornam-se o rumo natural dos jovens nascidos no campo. Portanto, os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com boa remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc), qualidade de ensino e necessidade de infra estrutura e serviços (hospitais, transportes, educação, lazer e etc). 

     Como fazer para segurar, por exemplo, um adolescente que vai estudar na cidade e lá se depara com celular e internet, normalmente ausentes no campo? Precisamos de políticas voltadas para o campo para que eles não queiram ir para as cidades. Nos jovens rurais está depositada a continuidade da atividade agrícola das famílias do campo, que são responsáveis pela capacidade produtiva do país e, em manter a soberania alimentar do Brasil. A agricultura familiar, presente no mercado brasileiro, explorando o ambiente sem degradar a natureza, pode proporcionar a permanência do homem no campo e a geração de renda ambientalmente correta, gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. O desenvolvimento sustentável passa pela agricultura familiar, que tem grande potencial de trabalho para a juventude. Na cidade ou no campo, um desenvolvimento que assegure o futuro das novas gerações exige repensar todos os nossos modos de viver, desde hábitos cotidianos que degradam o ambiente e desperdiçam recursos, até a forma econômica de gerar trabalho e renda. Especialistas concordam que uma das melhores possibilidades do Brasil nesse caminho, está no campo com a agricultura familiar. Com 80% dos 4,8 milhões de estabelecimentos rurais nas mãos de pequenos produtores, o setor emprega 70% da mão-de-obra rural e responde por 10% do PIB nacional e 40% do PIB da agropecuária. Além de responder pela maior parte dos alimentos na mesa dos brasileiros, ela permite o uso de métodos menos prejudiciais ao ambiente e emprega mais pessoas, criando alternativas especialmente para os jovens em busca de construir um futuro. A agricultura familiar se faz em pequenas áreas e privilegia a diversificação de atividades (biodiversidade) e não a monocultura (agronegócio típico de latifúndio), favorecendo a sustentabilidade ambiental, social e cultural desse modelo. Para especialistas, a agricultura familiar brasileira ainda não tem sido contemplada como deveria e continua com dificuldades para a geração de renda e inserção nos mercados, devido a falta de acesso à bens de serviço e infra estrutura. Os jovens, que acabam empurrados para as grandes metrópoles em busca de oportunidades de trabalho e estudo, são os que mais sentem a falta de investimentos e políticas para o setor. O Ministério do Meio Ambiente e, os governos estaduais, estão preocupados com o desenvolvimento de políticas integradas, controle social, desenvolvimento sustentável e fortalecimento da política ambiental que contemple os vários segmentos da sociedade. Muitas iniciativas no sentido de auxiliar os jovens a permanecerem no campo, estão sendo tomadas, mas é preciso avançar muito mais para que eles fiquem “por opção” e não “como única opção”. 

     As soluções para reverter o êxodo rural dos jovens passa pela qualificação dos mesmos (Figura 1). O jovem agricultor deve receber uma educação integral destinada a conhecer e compreender a realidade em que vive. Tudo ocorre de forma global e integrada, o que faz com que a transferência de conhecimentos esteja direcionado para a agricultura. Qualificar significa, não apenas prepará-lo para lidar com as novas tecnologias, mas, educá-lo, ensinando-o a aprender e a buscar o conhecimento, a fim de melhorar sua atuação na atividade e no meio em que vive. Qualificação constitui um processo permanente, principalmente para aqueles que formam uma cadeia produtiva, como é o caso da agricultura.

Figura 1. A qualificação dos jovens é uma das formas de mantê-los no campo: A foto ilustra a formação de 29 jovens rurais iniciada no dia 15 de fevereiro de 2013 no Alto Vale do Rio do Peixe, no Centro de Treinamento da Epagri (Cetrevi) em Videira. 

     É importante destacar que a qualificação dos jovens visando o desenvolvimento sustentável através da aplicação dos princípios da agroecologia, é fundamental para a permanência dos mesmos no campo. Mas o que é agroecologia? É a ciência que nos ajuda a articular diferentes conhecimentos(sociologia, antropologia, física, economia ecológica.....) e saberes populares para a busca de mais sustentabilidade na agricultura. E o que é agricultura mais sustentável: Agricultura ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa e humana; o conceito inclui ainda segurança alimentar, produtividade e qualidade de vida; é uma produção agrícola que não comprometa nossa capacidade futura de praticar agricultura com sucesso, mantendo a qualidade do meio ambiente. Princípios tais como o manejo agroecológico do solo, considerando-o como um organismo “vivo” (adubação orgânica, compostagem, plantio direto e mínimo), práticas culturais que conservem e aumentem a biodiversidade (rotação e consorciação de culturas, incluindo adubos verdes) e promovam a cobertura do solo (cobertura morta e viva), considerando as plantas espontâneas como “amigas” dos cultivos, e, o uso somente quando necessário, de produtos alternativos que prejudiquem, o menos possível, o meio ambiente, são essenciais quando se visa a produção de alimentos de forma mais sustentável. Quando se adota os princípios da agroecologia e não os “pacotes tecnológicos” oriundos da agricultura “moderna”, fica evidente que é impossível alcançar um desenvolvimento sustentável utilizando-se tecnologias degradadoras do meio ambiente. Outro atrativo para os jovens aplicarem os princípios da agroecologia na produção de alimentos é o menor custo de produção, pois neste sistema não dependem do uso de insumos caros (a maioria são importados e reajustados anualmente) e, o mais importante, agregam maior valor aos produtos por serem alimentos sem contaminação por agrotóxicos e fertilizantes químicos. Portanto, o desenvolvimento de sistemas produtivos mais sustentáveis, só tem vantagens para os jovens agricultores! 


Considerações finais 

     No início de 2013, renovamos a nossa esperança e a nossa fé em um mundo melhor, com paz, harmonia e amor construídos por pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, fraternidade e consciência ecológica. O mundo não podemos mudar, mas podemos mudar a nós mesmos. Fazer a sua parte e alertar, esclarecer e orientar é compromisso de todos! Todos deveriam aprender que o cuidado do meio ambiente não é responsabilidade só dos ambientalistas e dos governantes, mas de todo cristão(a). 

     O homem não é o soberano senhor, mas o responsável diante de Deus pelo emprego correto dos recursos naturais e pela preservação das demais espécies. Nossa tarefa é contribuir para que a criação seja protegida e, a nossa postura em relação à poluição ambiental, ao uso de agroquímicos, o desflorestamento, o aquecimento global e muito mais, deve ser para agradar a Deus e honrar Ele como criador de todas as coisas. Tudo o que existe foi criado por Deus e entregue ao homem e à mulher. Mas o que a humanidade vem fazendo com a criação de Deus? 

     E você o que tem feito de concreto para contribuir com a preservação do meio ambiente? 


2 comentários:

  1. Entretanto, para a realização da vinda da JMJ, aterraram 1,8 milhões de metros quadrados de uma área de preservação permanente (APP). Circulam rumores e surgem indícios que o material utilizado no aterro (escória de alto forno e lixo hospitalar) vai causar impactos nocivos. Quem é o responsável pelo aterro?

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