sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012



Verdade: a agricultura orgânica procura imitar a floresta, enquanto que a convencional ou "moderna" prioriza a monocultura, o uso de adubos químicos e agrotóxicos e o revolvimento do solo

   O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica, principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas. O sistema orgânico de produção de alimentos, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura e o revolvimento mínimo do solo.
A importância da floresta para o meio ambiente
  As florestas podem serem consideradas os termostatos naturais: A planta transpira, perdendo água para o ar em forma de vapor; na passagem da fase líquida à gasosa refrigera a superfície da folha e ao mesmo tempo transforma a floresta no maior termostato que possuímos. Quando a temperatura sobe, a água transpirada aumenta igualmente, retirando calor do ar. Por isso, não existem os extremos de temperaturas conhecidos nos desertos, onde durante o dia chega até 50ºC e a noite baixa até -1ºC. A explicação para este fato é a falta de água que pudesse ser transpirada e, mais exatamente, a falta de florestas ou represas ou lagos que atuassem como termostatos. Portanto, onde as florestas ainda permanecem intatas, as temperaturas são muito mais amenas. A Amazônia equatorial possui uma temperatura média de 24ºC, oscilando entre 21 e 28ºC. No Brasil 87% da população vivem em centros urbanos. O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. As cidades distanciam-se cada vez mais da natureza, utilizando materiais como ferro, aço, amianto, vidro, piche, entre outros. Estes materiais geralmente são refletores e contribuem para a criação de ilhas ou bolsões de calor nas cidades. Em função disso, o clima é semelhante ao do deserto, quente e seco durante o dia e frio durante a noite. A impermeabilização dos solos causa grandes problemas também na medida que evitam ou impedem a infiltração da água, forçando-a para a calha dos rios, muitas vezes causando enchentes, já que os rios não conseguem absorver um volume tão grande de água num curto espaço de tempo.
 
 Figura 1. As florestas são essenciais para o meio ambiente, especialmente por funcionar como termostatos naturais
Benefícios da arborização
    Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da árvore para se obter sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona à população proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população, valorização da propriedade pela beleza, higienização mental e reorientação do vento. A floresta, quando em equilíbrio, reduz ao mínimo a saída de nutrientes do ecossistema. O solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. A floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que visa à produção de biomassa com intenção de obter algum lucro. Assim, além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime de vazão e a saúde do ecossistema aquático. Possibilita também uma visão mais abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e qualquer alteração antrópica na paisagem e a conservação dos recursos hídricos.
   Pelos resultados das pesquisas percebe-se que as florestas são importantes por vários fatores, mas principalmente em relação aos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.
  O organismo humano está bem mais protegido da poluição quando perto de árvores localizadas em parques do que ao lado daquelas que ficam foram deles. É o que diz a tese de doutorado defendida no Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O estudo mostra que a concentração de metais pesados e gases poluentes no ar é maior nos trechos de áreas verdes próximos a avenidas do que no meio dos parques. O que provoca isso é uma espécies de "filtro antipoluição", que é formado pelas árvores que ficam em volta dos parques. É como se elas sequestrassem e absorvessem nas cascas os poluentes, impedindo-os de avançar para o interior dessas áreas. A constatação foi feita pela engenheira florestal Ana Paula Martins, que estudou por quatro anos amostras de cascas de árvores de cinco parques de São Paulo. De acordo com o trabalho, nenhum dos locais está imune a pelo menos 11 metais, mas a concentração varia conforme a localização. Para chegar aos índices, a pesquisadora coletou amostras de cascas da camada externa das árvores retiradas a 1,5 m de distância do solo. A pesquisadora diz que escapamento, freada e arranque de veículos, que soltam pedaços de pneu, são responsáveis por liberar partículas de metais: "zinco, chumbo e cobre são provenientes da poluição veicular". Embora não haja um padrão dos níveis saudáveis desses elementos, especialistas afirmam que inalar metais pesados como bário, bromo e cobalto, entre outros, pode trazer, a longo prazo, problemas à saúde. "Encapar as avenidas com cobertura vegetal pode diminuir o impacto da poluição na saúde, além de aumentar a qualidade do ar", explica Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição da USP e orientador da tese.
. Organização da propriedade visando o sucesso na agricultura orgânica
    Na agricultura orgânica, a propriedade rural é considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseado na biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclos biológicos das espécies vegetais e animais e da atividade biológica do solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e do manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilíbrio ente os recursos naturais, as plantas cultivadas, a criação de animais e o próprio homem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura é tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistema orgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos à propriedade.
. Como é feita a diversificação do sistema na produção orgânica de alimentos?
   A produção orgânica exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que no caso das hortaliças, não deve ultrapassar 1.000 m2, visando facilitar a administração e as atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, tendo em vista que na produção de hortaliças é intenso a utilização de insumos e mão-de-obra.
    As condições climáticas interferem sobremaneira na produção de hortaliças. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produção da maioria das hortaliças. Por isso, os talhões de cultivo através de cordões de contorno ou cercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramíneas e/ou leguminosas e até plantas espontâneas, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados, utilizando espécies de retorno econômico e também adubos verdes são muito importantes. A cerca viva que pode ser plantas ornamentais e, especialmente de capim elefante, funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças dentro e fora da propriedade. Além disso, a cerca viva, serve para sombrear um pouco a área, especialmente no verão; no inverno, especialmente se for capim elefante, pode servir para fazer a compostagem e, desse modo, evitando o problema de sombreamento na área cultivada.
Os cordões de contorno ou faixas de vegetação, além de servir para dividir os talhões de cultivo, são úteis para circundar a propriedade e permitir o isolamento das áreas de cultivo convencional de propriedades vizinhas. Em propriedades integradas com produção animal, o que é muito interessante devido principalmente a produção de esterco, essas áreas podem contribuir para a produção de alimentos para os animais e, ainda, favorecer a rotação de culturas com as gramíneas, espécies muito recomendadas devido a resistência às pragas e doenças. Outra possibilidade é a utilização nos cordões de contorno, os adubos verdes para produzir biomassa visando à obtenção de composto orgânicos, pois estas espécies tem boa capacidade de extração de nutrientes e/ou fixação de nitrogênio que podem ser incorporados no solo ou como cobertura morta, ao serem roçados, e até como coberturas vivas nas áreas de cultivo. Portanto, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e são essenciais para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica; também são importantes para fazer o histórico das áreas, especialmente ao adotar a prática da rotação de culturas, princípio fundamental para o sucesso da agricultura orgânica. No esquema de rotação é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes; espécies de hortaliças pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (batata, tomate, pimentão, pimenta e berinjela) brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis) e cucurbitáceas (melancia, melão, abóbora, abobrinha, moranga e pepino) possuem as mesmas pragas e doenças.
    Outra preocupação que o produtor deve ter na organização de sua propriedade visando o cultivo orgânico de alimentos é a preservação de áreas de refúgio. O que são áreas de refúgio? são áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam acabar com a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos ou com plantas espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.
    É importante também o produtor ter em mente as áreas de pousio. O que são áreas de pousio? Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o "descanso" do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo.
    O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, ornamentais e até plantas espontâneas.
Ferreira On 2/17/2012 09:36:00 AM Comentarios

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Agricultura orgânica X agricultura convencional: Mitos e verdades Parte X



Verdade: a agricultura orgânica procura imitar a floresta, enquanto que a convencional ou "moderna" prioriza a monocultura, o uso de adubos químicos e agrotóxicos e o revolvimento do solo

   O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica, principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas. O sistema orgânico de produção de alimentos, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura e o revolvimento mínimo do solo.
A importância da floresta para o meio ambiente
  As florestas podem serem consideradas os termostatos naturais: A planta transpira, perdendo água para o ar em forma de vapor; na passagem da fase líquida à gasosa refrigera a superfície da folha e ao mesmo tempo transforma a floresta no maior termostato que possuímos. Quando a temperatura sobe, a água transpirada aumenta igualmente, retirando calor do ar. Por isso, não existem os extremos de temperaturas conhecidos nos desertos, onde durante o dia chega até 50ºC e a noite baixa até -1ºC. A explicação para este fato é a falta de água que pudesse ser transpirada e, mais exatamente, a falta de florestas ou represas ou lagos que atuassem como termostatos. Portanto, onde as florestas ainda permanecem intatas, as temperaturas são muito mais amenas. A Amazônia equatorial possui uma temperatura média de 24ºC, oscilando entre 21 e 28ºC. No Brasil 87% da população vivem em centros urbanos. O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. As cidades distanciam-se cada vez mais da natureza, utilizando materiais como ferro, aço, amianto, vidro, piche, entre outros. Estes materiais geralmente são refletores e contribuem para a criação de ilhas ou bolsões de calor nas cidades. Em função disso, o clima é semelhante ao do deserto, quente e seco durante o dia e frio durante a noite. A impermeabilização dos solos causa grandes problemas também na medida que evitam ou impedem a infiltração da água, forçando-a para a calha dos rios, muitas vezes causando enchentes, já que os rios não conseguem absorver um volume tão grande de água num curto espaço de tempo.
 
 Figura 1. As florestas são essenciais para o meio ambiente, especialmente por funcionar como termostatos naturais
Benefícios da arborização
    Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da árvore para se obter sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona à população proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população, valorização da propriedade pela beleza, higienização mental e reorientação do vento. A floresta, quando em equilíbrio, reduz ao mínimo a saída de nutrientes do ecossistema. O solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. A floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que visa à produção de biomassa com intenção de obter algum lucro. Assim, além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime de vazão e a saúde do ecossistema aquático. Possibilita também uma visão mais abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e qualquer alteração antrópica na paisagem e a conservação dos recursos hídricos.
   Pelos resultados das pesquisas percebe-se que as florestas são importantes por vários fatores, mas principalmente em relação aos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.
  O organismo humano está bem mais protegido da poluição quando perto de árvores localizadas em parques do que ao lado daquelas que ficam foram deles. É o que diz a tese de doutorado defendida no Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O estudo mostra que a concentração de metais pesados e gases poluentes no ar é maior nos trechos de áreas verdes próximos a avenidas do que no meio dos parques. O que provoca isso é uma espécies de "filtro antipoluição", que é formado pelas árvores que ficam em volta dos parques. É como se elas sequestrassem e absorvessem nas cascas os poluentes, impedindo-os de avançar para o interior dessas áreas. A constatação foi feita pela engenheira florestal Ana Paula Martins, que estudou por quatro anos amostras de cascas de árvores de cinco parques de São Paulo. De acordo com o trabalho, nenhum dos locais está imune a pelo menos 11 metais, mas a concentração varia conforme a localização. Para chegar aos índices, a pesquisadora coletou amostras de cascas da camada externa das árvores retiradas a 1,5 m de distância do solo. A pesquisadora diz que escapamento, freada e arranque de veículos, que soltam pedaços de pneu, são responsáveis por liberar partículas de metais: "zinco, chumbo e cobre são provenientes da poluição veicular". Embora não haja um padrão dos níveis saudáveis desses elementos, especialistas afirmam que inalar metais pesados como bário, bromo e cobalto, entre outros, pode trazer, a longo prazo, problemas à saúde. "Encapar as avenidas com cobertura vegetal pode diminuir o impacto da poluição na saúde, além de aumentar a qualidade do ar", explica Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição da USP e orientador da tese.
. Organização da propriedade visando o sucesso na agricultura orgânica
    Na agricultura orgânica, a propriedade rural é considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseado na biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclos biológicos das espécies vegetais e animais e da atividade biológica do solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e do manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilíbrio ente os recursos naturais, as plantas cultivadas, a criação de animais e o próprio homem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura é tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistema orgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos à propriedade.
. Como é feita a diversificação do sistema na produção orgânica de alimentos?
   A produção orgânica exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que no caso das hortaliças, não deve ultrapassar 1.000 m2, visando facilitar a administração e as atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, tendo em vista que na produção de hortaliças é intenso a utilização de insumos e mão-de-obra.
    As condições climáticas interferem sobremaneira na produção de hortaliças. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produção da maioria das hortaliças. Por isso, os talhões de cultivo através de cordões de contorno ou cercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramíneas e/ou leguminosas e até plantas espontâneas, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados, utilizando espécies de retorno econômico e também adubos verdes são muito importantes. A cerca viva que pode ser plantas ornamentais e, especialmente de capim elefante, funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças dentro e fora da propriedade. Além disso, a cerca viva, serve para sombrear um pouco a área, especialmente no verão; no inverno, especialmente se for capim elefante, pode servir para fazer a compostagem e, desse modo, evitando o problema de sombreamento na área cultivada.
Os cordões de contorno ou faixas de vegetação, além de servir para dividir os talhões de cultivo, são úteis para circundar a propriedade e permitir o isolamento das áreas de cultivo convencional de propriedades vizinhas. Em propriedades integradas com produção animal, o que é muito interessante devido principalmente a produção de esterco, essas áreas podem contribuir para a produção de alimentos para os animais e, ainda, favorecer a rotação de culturas com as gramíneas, espécies muito recomendadas devido a resistência às pragas e doenças. Outra possibilidade é a utilização nos cordões de contorno, os adubos verdes para produzir biomassa visando à obtenção de composto orgânicos, pois estas espécies tem boa capacidade de extração de nutrientes e/ou fixação de nitrogênio que podem ser incorporados no solo ou como cobertura morta, ao serem roçados, e até como coberturas vivas nas áreas de cultivo. Portanto, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e são essenciais para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica; também são importantes para fazer o histórico das áreas, especialmente ao adotar a prática da rotação de culturas, princípio fundamental para o sucesso da agricultura orgânica. No esquema de rotação é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes; espécies de hortaliças pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (batata, tomate, pimentão, pimenta e berinjela) brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis) e cucurbitáceas (melancia, melão, abóbora, abobrinha, moranga e pepino) possuem as mesmas pragas e doenças.
    Outra preocupação que o produtor deve ter na organização de sua propriedade visando o cultivo orgânico de alimentos é a preservação de áreas de refúgio. O que são áreas de refúgio? são áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam acabar com a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos ou com plantas espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.
    É importante também o produtor ter em mente as áreas de pousio. O que são áreas de pousio? Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o "descanso" do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo.
    O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, ornamentais e até plantas espontâneas.

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