Normalmente, quando se considera o solo como "organismo vivo", realizando-se práticas ecologicamente corretas associadas ao uso de cultivares resistentes e ao manejo preventivo, não ocorrem maiores problemas com pragas. Em solos desequilibrados nos aspectos químico, físico e biológico podem ocorrer, eventualmente, durante o ciclo das hortaliças (desde a emergência até à colheita), pragas que prejudicam o crescimento das plantas e a qualidade das hortaliças.
Além dos grilos, paquinhas, lagarta rosca, vaquinhas, pulgões, lesmas, curuquerê-da-couve, broca das cucurbitáceas e do tomateiro, traça-do-tomateiro, traça-das-crucíferas e lagarta-do-cartucho, pragas tratadas anteriormente (ver matérias postadas neste blog – partes III e IV), também a mosca-branca, tripes, mosca minadora, ácaros e formigas cortadeiras, quando em ambiente desequilibrados, podem reduzirem a produtividade e a qualidade das hortaliças, causando prejuízos aos produtores.
• Mosca-branca (Bemisia tabaci e Bemisia argentifolii): as ninfas são bem distintas dos adultos e são recobertas por secreção pulverulenta. Os adultos são alados com asas e o restante do corpo recoberto por secreções pulverulenta branca, de onde vem o nome mosca branca que podem sobreviver até seis semanas. Esta denominação é imprópria, pois não se trata de uma mosca. Apresentam aproximadamente 40 plantas hospedeiras, destacando-se o melão de São Caetano. O potencial de postura da fêmea é de 400 ovos, sendo que 2/3 são fêmeas. Danos: tanto as ninfas como os adultos, são sugadores de seiva. Entretanto os maiores prejuízos às culturas são causados pela transmissão de vírus. As dejeções das moscas brancas possibilitam aparecimento da fumagina (fungo de coloração escuro nas folhas) que dificulta a fotossíntese. Manejo: o controle preventivo através de aquisição de mudas sadias, erradicação rápida de plantas doentes e de restos culturais evitam a infestação da praga; também o uso de barreiras utilizando milho, sorgo ou cana; utilizar armadilhas de cor amarela com cola adesiva; rotação de culturas com plantas não susceptíveis ao ataque; uso de variedades resistentes. É importante também a diversificação de espécies através de cultivos consorciados ou manter refúgios ao redor da lavoura para abrigar e servir de alimentos aos inúmeros inimigos naturais da praga, destacando-se os percevejos, besouros e vespas.
• Tripes (Thrips tabaci): são insetos com asas franjadas e de coloração preta. Vivem na face inferior das folhas, onde sugam a seiva e são responsáveis por transmitirem doenças viróticas, além de favorecer a entrada de outras doenças. Apresenta tamanho reduzido de 1 mm e, dificilmente, são percebidos a olho nu. Estes insetos são facilmente encontrados nas principais culturas como alface, tomate, batata, pimentão e, especialmente, cebola e alho e também em outras plantas hospedeiras como: beldroega, caruru, maria-pretinha e outras. Danos: em cebola e alho , o ataque deixa as folhas raspadas com aspecto prateado ou esbranquiçado, alojando-se em locais mais escondidos (entre as folhas). Quando a temperatura aumenta e ocorrem estiagens, os tripes podem causar sérios danos por meio da raspagem e sucção da seiva das plantas. Com o aumento do ataque ocorre o amarelecimento e a retorção das folhas, a seca dos ponteiros das plantas e, como conseqüência, a diminuição do tamanho dos bulbos de cebola e alho, favorecendo a entrada de doenças, especialmente a mancha-púrpura (Alternaria porri). Manejo: o uso de armadilhas serve para monitorar a sua presença na lavoura. As armadilhas são bandejas plásticas ou de metal, pintados de branco no seu interior; coloca-se 1 L de água e 5 gotas de detergente, instalando-a sobre suporte de madeira com cerca de 0,5m de altura. Para cada 2,5 ha, devem ser instaladas 2 armadilhas, sendo uma colocada na parte mais alta e outra na mais baixa da lavoura na direção de predominância dos ventos. Folhas de papelão de coloração azul contendo cola, também atrai e prende os insetos. A irrigação por aspersão também reduz a infestação da praga. O preparado com alho também pode ser utilizado para o manejo de tripes. Modo de preparar: dissolver 50g de sabão em 4 L de água, juntar 2 cabeças picadas de alho e 4 colheres (sopa) de pimenta vermelha picada. Coar com pano fino e pulverizar as plantas atacadas. O uso de calda sulfocálcica na concentração de 0,5% (fase inicial) e 3% (plantas adultas) também é eficiente no manejo desta praga.
• Minadores (Liriomyza huidobrensis): os insetos adultos são pequenas moscas, com aproximadamente 2 mm de comprimento, escuros e raramente percebidos na lavoura. Os ovos são introduzidos no interior das folhas e a larva de cor amarela à marrom, mede cerca de 1-2mm. O ciclo biológico é de 17 a 29 dias. Danos: as larvas fazem galerias (minas) nas folhas, entre a epiderme superior e inferior da folha, alimentando-se do tecido parenquemático (Figura 1). São pequenas larvas de diversas espécies de insetos. Os adultos são pequenas moscas (1 mm de comprimento).
Figura 1.
Danos causados pelos minadores em folha de feijão-de-vagem
• Formigas cortadeiras (Atta spp e Acromymex spp): embora existam mais de 400 espécies de formigas, a maior parte delas é inofensiva para a agricultura. As formigas-cortadeiras, especialmente as saúvas, podem causar prejuízos em pomares, hortas e lavouras. Elas cortam as folhas para levá-las ao formigueiro, onde servem de nutrição para os fungos, os verdadeiros alimentos das formigas.
Danos: embora tenham preferência por determinadas espécies de plantas, quase todas as culturas são atacadas e danificadas pelas formigas que cortam as folhas e os ramos tenros, podendo destruir totalmente as plantas. Os prejuízos causados pelas formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex, especialmente a primeira, são consideráveis.
Manejo das formigas cortadeiras
Controle físico: ao ser localizado o ninho (panela) é feito a destruição através da escavação e aplicação de cal virgem sobre o fungo que serve de alimento às formigas. Outra forma de destruí-las é aplicar manipueira (água da raiz da mandioca brava) sobre o ninho, ou ainda, água quente, carvão vegetal moído ou cinza de madeira.
Controle biológico: é a aplicação de uma calda microbiológica utilizando laranjas ou limões; essas frutas mofadas possuem os fungos Penicilium digitatum e Penicilium italicum que causam os mofos verde e azul, respectivamente, os quais destroem o fungo criado pelas formigas para se alimentar. Modo de preparar a calda: utilizar 2 a 4 laranjas ou limões mofados, moídos, deixando-os fermentar 4 a 5 dias em água com um pouco de melado ou açúcar. Diluir a 10% em água e aplicar em todos os olheiros. Depois de uma semana, repetir a aplicação.
Cultivo de plantas atrativas tóxicas: o gergelim é a melhor opção, pois suas folhas contêm uma substância chamada sesamina que é fungicida. Geralmente as formigas só carregam folhas inofensivas ao formigueiro, mas o gergelim é uma exceção, pois é uma das folhas preferidas pelas saúvas, mas mata o fungo que serviria de alimento à rainha e às larvas. Modo de usar: deve-se cortar e distribuir as folhas de gergelim em locais de passagem das cortadeiras, próximos aos olheiros do formigueiro. As formigas carregam essas folhas para o formigueiro e, em 4 a 5 dias cessam suas atividades, envenenadas pela substância tóxica. Recomenda-se fazer uso contínuo dessa prática até o fim da infestação das cortadeiras. O uso de iscas com sementes de gergelim e com raízes de mandioca-brava raladas colocadas ao redor do formigueiro intoxicam as formigas pelo ácido cianídrico. O uso de sementes de gergelim, como iscas para ninhos pequenos, na base de 30 a 50g, ao redor do olheiro é útil no combate a formigas que irão carregá-las para dentro para alimentar os fungos; estes, ao se alimentarem, morrem e, com isso, deixam as formigas sem alimento. Um bom método natural para espantar as formigas é espalhar sementes de gergelim em torno dos canteiros ou da área a ser protegida.
Plantas repelentes ou tóxicas: plantas como hortelã, batata-doce, salsa, cenoura e mamona funcionam como repelentes ou intoxicantes.
Uso da manipueira: é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarelo-clara que escorre das raízes da mandioca, por ocasião da sua prensagem para obtenção de fécula ou farinha de mandioca. Recomenda-se utilizar 2 L de manipueira no formigueiro para cada olheiro, repetindo a cada 5 dias. Em tratamento de canteiro, regar o canteiro usando 4 L de manipueira e uma parte de água, acrescentando 1% de açúcar ou farinha de trigo. Aplicar em intervalos de 14 dias, pulverizando ou irrigando.
• Ácaros: são pequenas "aranhas", medindo frações de milímetros que vivem na face inferior das folhas. Não são vivíveis a olho nu; para vê-los é preciso utilizar uma lente com, no mínimo, dez vezes de aumento. São pragas tipicamente causadas pelo desequilíbrio ambiental. A ocorrência de ácaro é mais comum em lavouras com uso contínuo de inseticidas e de herbicidas. O seu ataque é mais intenso em épocas quentes e secas. Danos: os ácaros introduzem os estiletes no tecido vegetal e removem o conteúdo citoplasmático das células. Os sintomas e danos dependem da espécie do ácaro e da cultura considerada. Provocam enrolamento das bordas das folhas, deixando a face inferior bronzeada (Figura 2) ou folha amarelada com pontos necróticos tomando toda a folha, provocando o secamento e queda das mesmas. Os danos indiretos são a transmissão de viroses.
Figura 2.
Danos do ácaro-rajado
Manejo: tendo em vista que existem inúmeros inimigos naturais, recomenda-se manter vegetação entre as linhas dos cultivos, permitindo assim o abrigo e alimento do inimigos naturais (ácaros predadores) para que possam se desenvolver e realizar o controle biológico dos ácaros que atacam as plantas cultivadas; a farinha de trigo, além de ser um espalhante adesivo ecológico, também serve para o manejo de ácaros. Modo de preparar: diluir 1 colher (sopa) de farinha de trigo em 1 L de água e pulverizar as plantas atacadas. Aplicar pela manhã em cobertura total nas folhas, em dias quentes, secos e com sol. Mas tarde, as folhas secando com o sol formam uma película que envolve as pragas e caem com o vento; uso de enxofre, produto natural que pode ser usado puro ou na calda sulfocálcica. Ao ser utilizado puro deve-se misturar a seco 800g de enxofre e 200g de farinha de milho bem fina. Diluir 34g em 10L de água e aplicar sobre as plantas; ao utilizar a calda sulfocálcica deve-se pulverizar as plantas na concentração de 0,3 a 0,5% na fase inicial das plantas e de 1,5 a 3,0% nas plantas adultas.
Boa tarde, Sr. Ferreira!
ResponderExcluirGostei demais do seu blog cultive horta orgânica, parabéns muito rico em informações, adorei.
Gostaria, sê possível, de ajuda.
Moro no RJ tenho 61 anos e estou tentando cultivar tomates , hortaliças e plantas.
Tenho umas mudas de tomate e uma delas que está em outro vasinho mede mais ou menos 25 cm. e envolta desta há uma revoada de mosquinhas ou mosquitinhos , não sei ao certo, de cor escura, então examinei a mudinha e reparei que existe uns caminhos brancos em uma das folhas semelhante a figura 1 que em baixo da figura diz "Danos causados pelos minadores em folha de feijão-de-vagem" na página de seu blog ". http://cultivehortaorganica.blogspot.com.br/2011/10/manejo-ecologico-de-insetos-pragas_26.html"
Gostaria de saber se há algum preparo ou solução doméstica e não inseticida para essa praga.
É a primeira vez que planto umas sementinhas e gostaria muito de salvar minha mudinha de tomate e espero que ainda esteja em tempo.
Antecipadamente te agradeço.
Tania Mara
Prezada Tania,
ResponderExcluirSe realmente for os minadores de folha, a indicação é usar o óleo de nim (planta) a 0,5% que pode ser encontrado em algumas agropecuárias. Dependendo do ataque e do tamanho e desenvolvimento da planta de tomate, pode-se retirar as folhas atacadas, destruindo-as.