A perda de solo (erosão), que no Brasil alcança pelo menos
500 milhões de toneladas por ano, pode causar grandes prejuízos aos
agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é pior,
vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e
destruição, além de poluir as águas, causando a morte de peixes e outros
animais. Boa parte dessa erosão poderia ser evitada pelo manejo adequado do
solos, através de inúmeras práticas de conservação, especialmente a cobertura
permanente do solo.
Figura 1. A
“agricultura moderna”, ao praticar o revolvimento excessivo do solo e o uso de
agrotóxicos e adubos químicos, tem
causado através da erosão, a redução da capacidade produtiva do solo e a
contaminação dos rios, lagos e águas subterrâneas.
O que é o solo, como é
formado e composição? O solo (terra) é a camada mais
superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma
grande variedade de animais; é dele que retiramos parte dos nossos alimentos,
além de servir como suporte à água, ao ar e nas construções das nossas
moradias. Essa camada vem se formando há milhões de anos, com o acúmulo de
pequenas partículas, formadas pelo desgaste das rochas, que foram se misturando
com os restos de animais e plantas. Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos
são os responsáveis por este lento processo; calcula-se que cada centímetro do
solo se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. O solo é uma mistura de ar, água, matéria orgânica
e parte mineral. Dentro do solo existem pequenos furos (poros), onde ficam
guardados a água e o ar que as raízes das plantas e os outros organismos
necessitam para beber e respirar. A parte mineral do solo se divide, de acordo
com o seu tamanho, em: areia (a parte mais grossa); silte (uma parte um pouco
mais fina, ou seja o limo que faz escorregar) e argila (uma parte muito pequena
ou seja, a mesma que gruda no sapato). O solo (considerado um “ser vivo”) é
estudado em três aspectos: 1) físico (drenagem, capacidade de reter água,
textura e porosidade); 2) químico (teor de matéria orgânica, pH, nutrientes,
substâncias prejudiciais, húmus) e, 3) biológico (micro e macro organismos que
o habitam).
Degradação e práticas de conservação do solo: A
devastação das florestas, o preparo inadequado, o tráfego de máquinas, a
erosão, a falta de cobertura e a compactação, são os fatores que mais degradam
o solo, reduzindo sua vida e aumentando os distúrbios nutricionais e doenças e
pragas. É
mais econômico manter do que recuperar recursos naturais. A vida do solo depende da matéria orgânica que, por sua vez, influencia nos aspectos químicos,
físicos e biológicos do solo e, ainda aumenta
a resistência dos cultivos às pragas e doenças. As principais
práticas para regenerar o solo degradado são: Cobertura permanente do solo,
adubação orgânica, mecanização cautelosa e com equipamentos
adequados, manejo de restos de culturas,
cobertura morta, manejo das plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas,
uso de
quebra-ventos e de sistemas de
produção integrados com árvores e com produção animal. A
cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão. Dessa
forma, a copa das árvores e arbustos, em diferentes alturas, protege o solo do
impacto direto das gotas das chuvas, enquanto as folhas mortas, galhos secos e
matéria orgânica em vários estádios de decomposição e com abundância de
organismos o mantém poroso (pela ação das raízes), com estrutura ideal para
absorver grandes quantidades de água.
A perda de solo por erosão é
considerado um dos maiores e mais alarmantes problemas ambientais, o que causa
declínio dos rendimentos das culturas, aumentando os custos de produção,
diminuindo, por conseguinte, a lucratividade da lavoura, entre outros danos,
que em conjunto influenciam a qualidade de vida na Terra. A cobertura do solo,
então, tem um papel relevante no processo de erosão, uma vez que ela pode
atenuar os impactos das gotas de chuva, diminuindo a velocidade de escoamento
da enxurrada. Experimentos realizados no Paraná, confirmam que a cobertura do
solo com plantas ou restos vegetais é o principal fator que influi
significativamente no processo de erosão, possibilitando uma redução drástica
dos danos causados pela mesma. Os argumentos para seu uso dizem respeito ao
impacto das gotas de chuva no solo, a radiação solar, evaporação, infestação de
plantas invasoras e mineralização do solo a partir da matéria orgânica.
Importância e funções da cobertura do solo
Além da diminuição da erosão
do solo, da evaporação e do consumo e preservação de água, a cobertura do solo serve para:
1. Manejo de plantas espontâneas (“mato” ou “inços”)
A camada de 10 cm de cobertura morta impede que as sementes de inços germinem e se
desenvolvam. É uma forma de controle barata e que não causa prejuízo ao meio
ambiente. A cobertura do solo com adubos verdes (cobertura viva), por exemplo,
com aveia preta, além de proteger muito bem o solo, desfavorece o surgimento de plantas
espontâneas, devido ao efeito alelopático desta importante gramínea, inibindo a
germinação do papuã. A mucuna, devido ao
rápido desenvolvimento desfavorece as plantas espontâneas, suprimindo ou
abafando. O feijão de porco, outra importante leguminosa, além de proteger e
melhorar a fertilidade do solo, através
da alelopatia, inibe o desenvolvimento da tiririca ou junça, As plantas espontâneas competem com as
espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30
dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a
enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas
nas entrelinhas são consideradas “plantas amigas” pois ajudam a manter a
umidade no solo e evitam a erosão do solo.
2. Controle de temperatura e perda de água
No clima brasileiro,
predominantemente tropical e subtropical, em muitos lugares, com a temperatura chegando a mais de 40 C no verão
é preciso diminuir o calor junto ao solo. As plantas
também precisam da proteção de coberturas para evitar que a perda de água por
evaporação seja muito grande. A água potável será nos próximos anos cada vez
mais cara e escassa, por isso devemos pensar então em alternativas de plantas e
de coberturas para evitar aumentar o consumo.
A água de chuvas ou das
regas percola no perfil do solo em direção a camadas mais profundas. Uma parte
fica no solo, outra a planta usa nos seus processos biológicos e o restante é
evaporado. Em solos arenosos o calor do solo e a facilidade da água para
penetrar é maior que em solos argilosos. É, também, um solo que aumenta mais a
temperatura com o sol quando não tem nenhuma cobertura viva ou inerte sobre
ele.
As plantas ficam com pouca água, murcham durante o dia e com a noite retornam ao estado normal. Se não houver chuvas ou regas o murchamento é permanente e a planta morre. Com solo desnudo será necessária muito maior quantidade de água para atender as exigências das plantas cultivadas.
As plantas ficam com pouca água, murcham durante o dia e com a noite retornam ao estado normal. Se não houver chuvas ou regas o murchamento é permanente e a planta morre. Com solo desnudo será necessária muito maior quantidade de água para atender as exigências das plantas cultivadas.
3. Coberturas de solo – Mulch – Adiciona fertilidade ao solo
Materiais orgânicos de qualquer
natureza sofrem a ação dos microorganismos e do intemperismo. Com o passar do
tempo serão transformados em húmus.
Conforme os seus componentes, estes adicionarão ao solo nutrientes que poderão
ser aproveitados pelas plantas. Especialmente os adubos verdes (leguminosas)
atuam na “reciclagem de nutrientes” por causa de seu sistema radicular
profundo, buscando nas camadas profundas do solo, os nutrientes já perdidos
pelos cultivos comerciais e, com isso, trazendo-os para a superfície do solo,
para serem aproveitados nos cultivos subsequentes. Nos solos sem cobertura
vegetal e, especialmente com espécies de raízes superficiais, todos os nutrientes
das camadas mais profundas se perderão e, o que é pior, vão parar nos rios,
lagos e córregos, causando poluição e prejudicando os peixes. Ao ser adicionado matéria orgânica, através
das diferentes espécies, os adubos verdes atuam como “condicionadores” do solo,
promovendo melhorias nas características
químicas, físicas e biológicas do solo. Além de proteger o solo, os adubos
verdes, tais como a mucuna, crotalária e feijão de porco, tem a capacidade de
fixar nitrogênio do ar através da simbiose (até 157 kg/ha de nitrogênio),
fertilizando o solo.
Figura 2. A rotação de culturas com
adubos verde e/ou consórcio (ex.:milho/mucuna): ótima opção para aumentar a
matéria orgânica, melhorar a fertilidade do solo, cobrir o solo protegendo-o da
erosão e, ainda reduzir a incidência de plantas espontâneas e compactação do
solo, além de promover a reciclagem de nutrientes, devido ao sistema radicular
vigoroso e profundo
4. Ajuda no controle da erosão superficial
As camadas de mulch ao redor
de árvores não deve passar de 10 cm, mas em outros lugares como acabamentos de
canteiros, passagens entre pisadas ou dormentes não há restrições. A chuva leve
não causa nenhum dano à superfície desnuda do solo, a água penetra para as
camadas mais profundas. Mas as chuvas de temporais que são intensas caem com
força ao solo, e podem arrastar quantidade significativa da camada superficial
com maior teor de matéria orgânica.
5. Reduz a injúria às árvores e arbustos por instrumentos de corte
Roçadeiras e máquinas de
cortar grama de lâminas ou fio de nylon podem causar lesões na casca do tronco
de árvores e arbustos em jardins, servindo de porta de entrada para patógenos e
insetos do tipo broca que irão prejudicar a planta. Com a cobertura morta não
há necessidade do gramado chegar junto dos troncos e portanto estes estarão
protegidos.
6.
Possibilita o plantio direto e cultivo mínimo
Os princípios do sistema de plantio
direto seguem a lógica das florestas. Assim como o material orgânico caído das
árvores se transforma em rico adubo natural, a palha decomposta de safras
anteriores macro e microorganismos, transformando-se no “alimento” do
solo. As vantagens são a redução no uso de insumos químicos e controle dos
processos erosivos, uma vez que a infiltração da água se torna mais lenta pela
permanente cobertura no solo. A quantidade de matéria orgânica triplica, de uma
concentração de pouco mais de 1% para acima de 3%.
O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas
importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a
maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por
chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem
dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio,
mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a
umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma
roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as
covas ou sulcos. O plantio direto é um método que não
revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a
abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda. O cultivo mínimo é a mínima manipulação
do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma
considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que
desfavorece a erosão do solo.
Figura 3. O Sistema de Plantio Direto na Palha (SPDP) contribui para que o solo não seja levado pelas erosões e armazene mais nutrientes, fertilizantes e corretivos
7. O uso de cobertura no solo no Brasil é ecologicamente correto
O revolvimento do solo não combina com
o uso sustentável do solo no Brasil. Em
regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o trator
equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa,
contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo, causando
rápida decomposição da matéria orgânica
em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a
produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais
comum, associada aos declives dos terrenos, causam grande perdas de solo
(erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as
lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o
que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são
importados. O revolvimento do solo somente se justifica em
algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo
do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a
fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto
por neve em longos períodos do ano.
O solo é um “ser vivo” e como tal deve ser tratado. Como qualquer outro
organismo vivo, o solo necessita de alimentação em quantidade, qualidade e
regularidade adequadas. A perda de solo (erosão)
pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a
capacidade produtiva e, o que é mais grave, vão parar nos rios, córregos e
lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição.
O solo,
também chamado de terra, é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde
se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais. É do solo
que retiramos parte dos nossos alimentos. Os solos, geradores de vida e gerados pela
vida, também podem ficarem doentes. Por essa razão, o manejo dos solos deve ser
sadio, para que os organismos que vivem neles se desenvolvam todo o tempo. É importante que sejam plantadas diversas
espécies vegetais para cobrir o solo, protegendo-o do sol intenso e da força
das gotas de chuvas e, com sistemas radiculares que irão explorar volumes
diferentes do solo. Junto com as raízes dessas plantas se desenvolvem microrganismos,
que ajudam a aumentar o volume do solo explorado em busca de nutrientes.
Trabalhando juntos, plantas e organismos do solo absorvem quantidades grandes e
diversificadas de nutrientes; quando morrem, devolvem esses nutrientes
principalmente na camada superficial, possibilitando uma nutrição equilibrada
para as plantas cultivadas. Tudo se passa como um ciclo de vida: os nutrientes
presentes até grandes profundidades são absorvidos por plantas adaptadas e
organismos do solo. Esses nutrientes voltam à superfície incorporados na
matéria orgânica, protegendo e alimentando os organismos do solo que atuam na
decomposição da matéria orgânica, liberando os nutrientes nela contidos para
serem absorvidos pelas plantas e por outros organismos que se desenvolverão
junto às suas raízes.
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