O conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. O conceito absoluto de agricultura sustentável pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função das empresas de pesquisa e extensão rural de todo o Brasil, oferecer opções para que sistemas “mais sustentáveis” sejam adotados na agricultura.
Revolvimento e uso inadequado do solo
Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, a utilização intensiva e exagerada de máquinas e equipamentos pesados (trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa), contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo (Figuras 1 e 2), causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos e, especialmente o preparo do solo “morro abaixo”, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano.
Figura 2. Pé-de-arado ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo da camada superficial, devido às frequentes arações, gradeações e uso de enxadas rotativas.
Outro problema é o uso incorreto do solo para o cultivo de determinadas espécies. Em solos com declividade acentuada não recomenda-se o plantio de espécies anuais. Havendo alguma declividade, deve-se utilizar práticas que visem a conservação do solo, tais como o plantio em curva de nível, plantio direto, construção de terraços e outras. Para mais informações sobre as práticas de conservação dos solos, sugiro acessar o seguinte endereço: http://catuaba.cpafac.embrapa.br/pdf/doc90.pdf
No cultivo orgânico o solo é tratado como um “organismo vivo”, ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas (Figura 3). O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). A vida do solo depende da matéria orgânica (solo sadio). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, a compactação do solo (Figuras 1, 2 e 3), o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de consumidores, agricultores e da fauna (solo doente). A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas.
Figura 3.Solo degradado (doente); Solo orgânico (sadio)
Uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos
Boa parte dos agrotóxicos aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos agrotóxicos aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação; em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema.
A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Os adubos químicos solúveis, especialmente os nitrogenados como a ureia e, os agrotóxicos, através do estímulo a um processo chamado proteólise, promovem a formação de substância orgânicas simples na seiva das plantas, tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para eliminar os agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois deixam resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos.
Além dos agrotóxicos serem perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, as medidas para o uso seguro destas substâncias, não são seguidas (Figura 4). Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura, devido aos seguintes fatores:
O receituário não funciona. Pode-se chegar numa agropecuária e comprar um veneno e usar conforme as instruções; Há pouquíssimos laboratórios para análises (contaminação da água e pessoas); 450 ingredientes ativos de agrotóxicos registrados no Brasil em mais de 5.000 municípios; Assistência técnica deficiente: 5 milhões de estabelecimentos agrícolas (16 milhões de trabalhadores rurais, inclusive crianças com escolaridade baixa), conforme censo; maior assistência é feita em propriedades maiores de 200 ha; Fiscalização deficiente: Como fiscalizar a forma correta de aplicar, o uso de EPI, a carência dos agrotóxicos e, o que é pior, aqueles não registrados e proibidos num país continental?
A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas, além de tornar os agricultores dependentes destes insumos, aumentando ainda mais o custo de produção (grande parte são importados), forma um círculo vicioso e insustentável, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria que visam o lucro, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. As sementes melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem; a utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças e, por isso, se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos, inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção. Os problemas causados pelos adubos químicos não param por aí: acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos, aumentando ainda mais o custo de produção dos alimentos.
As queimadas das matas, bosques, capoeiras e restos culturais e as capinas químicas
Estas práticas, comuns na agricultura “moderna” com o objetivo de limpar o terreno e facilitar o preparo do solo e o plantio (Figura 5), são totalmente contrárias ao desenvolvimento sustentável, pois além de contaminar o meio ambiente e retirar a cobertura do solo, favorecendo a erosão, ainda desperdiça a matéria orgânica, essencial para a nutrição das plantas e reduz a biodiversidade (nº de espécies), que pode servir de abrigo e alimento aos inimigos das pragas dos cultivos. Em consequência, o produtor terá que gastar mais para a aquisição de insumos visando manter a produtividade dos cultivos.
É importante ressaltar que ao mesmo tempo que uma planta espontânea (“mato”) indica um problema, também ajuda a solucioná-lo, pois estas plantas indesejáveis ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais, clima predominante no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes, as quais paralisam esta atividade quando o solo atinge temperaturas acima de 32ºC. As plantas espontâneas aumentam a densidade e a diversidade radicular, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e podem servir de alimento preferencial para pragas das culturas. Por isso, as plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e sim, ser consideradas, como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo.
Na agricultura orgânica as plantas espontâneas (“mato”) são consideradas “amigas” das plantas cultivadas e, por isso, não devem ser totalmente eliminadas. Ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade dos inimigos naturais das pragas.
Redução da biodiversidade através do monocultivo e da extinção de matas, bosques, capoeiras e faixas de contorno
A diversificação da paisagem geral da propriedade é muito importante, pois restabelece o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, plantas medicinais, ornamentais e até plantas espontâneas. A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Recomenda-se incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, pois favorecem os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas.
O cultivo de apenas uma espécie de planta (monocultivo) na mesma área, além de reduzir a biodiversidade, favorece o desequilíbrio nutricional do solo(esgotamento e excesso de alguns nutrientes) e aumenta o número e intensidade das pragas e doenças.
Parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirConteúdo muito bom e de fácil entendimento!
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