ISSN 1414-9850
Junho, 2008
Brasília, DF
Comunicado
Técnico
63
Welington Pereira1
Werito Fernandes de Melo2
Manejo da tiririca no sistema orgânico de produção de hortaliças
O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das
culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente
eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na
olericultura (Figura 1). De cada clone
(conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados)
emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os
tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo
prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral.
Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade
primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno
de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no
estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas
plântulas são muito baixos (Figura 2).
Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.
________________
1 Eng. Agr., PhD., Embrapa Café,
Brasília, DF. E-mail: welington.pereira@embrapa.br
2 Eng. Agr., M.Sc., Embrapa
Hortaliças, Brasília, DF. E-mail: werito@cnph.embrapa.br
Fig. 2 As sementes
da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.
Disseminação da tiririca
A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa
distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:
• Utilização de equipamentos agrícolas,
como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras
aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são
disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral
(Figura 3 e 4);
• Aplicação de matéria orgânica
com tubérculos e plantas de tiririca no solo;
• Uso de substrato em bandejas e
mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas
de tiririca;
• Colheita, transporte e
comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos
de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de
tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a
hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;
• Transporte dos tubérculos,
sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais
de irrigação.
Fig. 3.
As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação
da tiririca.
Fig. 4. Os rizomas são a principal
forma de disseminação da tiririca.
Manejo da tiririca
Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução
de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle
continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método,
deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos
sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou
tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais
constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca,
ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado
através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico),
sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de
controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou
na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a
fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez
que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças
com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se
desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o
crescimento e a agressividade da tiririca.
Controle mecânico da tiririca
O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo,
capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir
o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em
regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos
através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos
varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira
brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os
cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido
ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte
realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para
reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A
manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura
com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as
medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).
Foto: Gilmar P. Henz
Fig. 5. A
exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.
Fig. 6. O
uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da
tiririca.
Controle biológico da tiririca
Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos
foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis
através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais.
Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido
à baixa especificidade na relação insetotiririca, baixo estabelecimento do
agente, e conseqüentemente incapacidade
para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de
controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da
ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de
um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo
no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte
da indústria (Figura 7). O fungo da
ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de
casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no
campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa
forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo,
causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de
tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca
com as hortaliças.
Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo
causador da ferrugem, que ataca suas folhas.
Comunicado Técnico, 63
Exemplares desta edição podem ser adquiridos
na: Embrapa Hortaliças
Endereço: BR 060 km 9 Rod. Brasília-Anápolis C. Postal 218, 70.531-970 Brasília-DF ;Fone: (61) 3385-9115 ; Fax: (61) 3385-9042. E-mail: sac@cnph.embrapa.br
0 comentários:
Postar um comentário