quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Mito: é impossível produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos
     A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas forma um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria. As sementes ditas melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem. A utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. E se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos,  inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção.
     A agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.

Razões do ataque das pragas e doenças

     As hortaliças estão sujeitas a uma série de micróbios e insetos que causam danos às plantas. Os micróbios (bactérias, fungos, nematóides e vírus), quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor). Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos micróbios e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem  substâncias mais complexas (proteínas), as  pragas causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com fertilizantes químicos altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
     O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle (ver matérias postadas neste blog  em 01, 16 e 27/09/2011; 21 e 26/10/2011, os principais métodos de manejo e o reconhecimento dos principais insetos-pragas das hortaliças).  O sistema não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido. 
 Verdade: “não fazer nada” é, às vezes, a melhor solução para o manejo das pragas e doenças na agricultura orgânica
     O inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada.  Um exemplo prático, entre muitos outros,  da situação em que “não fazer nada”  é, às vezes, melhor,  quando ocorre o ataque de pulgões; as joaninhas, inimigos naturais destas pragas, se tiverem farto alimento e não utilizando-se inseticidas, reproduzem-se abundantemente e podem dominar os pulgões que atacam as plantas cultivadas e não serem mais problema na horta.
 Figura  1. Joaninha: a mais conhecida e eficiente inimiga natural dos pulgões
  
Preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras para servir como abrigo e alimento aos inimigos naturais dos insetos-pragas

     A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, também contribuem para favorecer os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas. Os inimigos naturais são insetos, fungos, bactérias, vírus, nematóides, répteis, aves e mamíferos pequenos. Todas as pragas das culturas  têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos através da rotação, sucessão e consorciação de culturas, bem
como preservar refúgios naturais para manter a diversidade natural da fauna.Todos fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do equilíbrio na natureza.
     Entre as espécies de plantas que servem de refúgio para os inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum conyzoides), a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor favorecem o abrigo e a reprodução de insetos como percevejo (Orius insidiosus), que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há, no entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos naturais das pragas, como mamona, capim, grama-seda, capim-amargoso, guanxuma, tiririca, picão-branco e carrapicho-carneiro.Entre os insetos, os inimigos naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura 1) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e lagartas.
Outros exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
percevejos –  atacam lagartas e seus ovos; moscas – lagartas, seus ovos e outras pragas; coleópteros lagartas e percevejos; louva-a-deus, joaninha e vespinhas pulgões; peixes – larvas de pernilongos; fungos – larvas e nematóides; garças – moluscos e insetos; pica-pau – insetos; tamanduá – formigas e cupins; outros animais que se alimentam de insetos – galinha d’angola,morcegos, lagartas, sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, anus, bem-te- vis, corruíras, beija-flores e tesouras).

Princípios básicos para o manejo natural das pragas
     É preciso entender que o estado normal da natureza é a harmonia; numa floresta todos os seres vivos estão em equilíbrio. Nenhuma praga ou doença deveria ameaçar o equilíbrio do sistema em que vive. Foi o homem que ignorando as mais elementares das suas leis e mecanismos, terminou por criar as condições para o aparecimento de pragas e doenças. Foi muito bom para as indústrias, mas foi um péssimo negócio para o homem e demais seres vivos. Se pudéssemos contar com plantas desenvolvidas naturalmente, meio ambiente natural e equilibrado e solo fértil, não existiriam pragas e doenças.
     A observação de alguns princípios básicos poderá contribuir para o manejo natural das pragas em sua horta. Os principais são:
. Aumente a matéria orgânica e crie um microclima favorável à vida no solo;
. Cultive basicamente as espécies mais adaptadas para a sua região e para cada época de plantio;
. Dentro de cada espécie procure utilizar sempre as cultivares mais resistentes e recomendadas para cada época de plantio;
. Produza suas próprias sementes, se for possível, deixando frutificar as plantas mais vigorosas e produtivas;
. Procure diversificar, plantando o maior número de espécies possíveis na horta; o plantio de plantas repelentes e atraentes de pragas, muitas vezes, contribuem para o manejo natural; 
.Preserve alguns espaços sem cultivar e deixe a vegetação espontânea desenvolver-se, pois assim os inimigos naturais das pragas poderão se reproduzirem e se alimentarem;
. Evite, sempre que possível, o uso de inseticidas e fungicidas caseiros, pois embora não sejam tão agressivos ao meio ambiente, poderão afetar também os inimigos naturais. Recomenda-se, sempre que possível, que se aguarde o “surgimento” do controle natural.

 Pulverização com produtos alternativos
     O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:

É impossível controlar totalmente as  pragas; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;

O manejo é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica). É suficiente para evitar danos econômicos às culturas.

     Plantas saudáveis produzidas em solos com vida e, em ambientes equilibrados, normalmente, não são atacadas por pragas. Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (cinzas de madeira, calda bordalesa, calda sulfocálcica,  biofertilizantes, extratos vegetais, agentes de controle biológicos e outros produtos (ver como prepará-los através de matérias postadas neste blog em 13 e 22/12/2010 e 06/01/2011),  devem ser utilizados somente, quando necessário e, de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel e outros, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças e brocas do tomateiro e, ainda as brocas das cucurbitáceas.  Os preparados de sálvia e  pimenta, plantas medicinais e condimentares (Figura 2), estão entre os produtos alternativos mais eficientes no manejo de pulgões, vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.

Figura 2. Sálvia (planta medicinal) e pimenta (hortaliça-condimento), utilizadas em preparados que podem serem feitos na propriedade, são eficientes no manejo de lagartas e pulgões, respectivamente, que atacam a couve, repolho, couve-flor e brócolis. O preparado de pimenta também é eficiente no manejo de vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.


Ferreira On 1/05/2012 03:19:00 AM 1 comment

Um comentário:

  1. interessante e aproveitavel o conteudo do blog ao meu aprendizado ,grato .

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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Agricultura orgânica X agricultura convencional: Mitos e verdades Parte VI

Mito: é impossível produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos
     A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas forma um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria. As sementes ditas melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem. A utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. E se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos,  inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção.
     A agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.

Razões do ataque das pragas e doenças

     As hortaliças estão sujeitas a uma série de micróbios e insetos que causam danos às plantas. Os micróbios (bactérias, fungos, nematóides e vírus), quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor). Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos micróbios e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem  substâncias mais complexas (proteínas), as  pragas causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com fertilizantes químicos altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
     O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle (ver matérias postadas neste blog  em 01, 16 e 27/09/2011; 21 e 26/10/2011, os principais métodos de manejo e o reconhecimento dos principais insetos-pragas das hortaliças).  O sistema não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido. 
 Verdade: “não fazer nada” é, às vezes, a melhor solução para o manejo das pragas e doenças na agricultura orgânica
     O inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada.  Um exemplo prático, entre muitos outros,  da situação em que “não fazer nada”  é, às vezes, melhor,  quando ocorre o ataque de pulgões; as joaninhas, inimigos naturais destas pragas, se tiverem farto alimento e não utilizando-se inseticidas, reproduzem-se abundantemente e podem dominar os pulgões que atacam as plantas cultivadas e não serem mais problema na horta.
 Figura  1. Joaninha: a mais conhecida e eficiente inimiga natural dos pulgões
  
Preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras para servir como abrigo e alimento aos inimigos naturais dos insetos-pragas

     A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, também contribuem para favorecer os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas. Os inimigos naturais são insetos, fungos, bactérias, vírus, nematóides, répteis, aves e mamíferos pequenos. Todas as pragas das culturas  têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos através da rotação, sucessão e consorciação de culturas, bem
como preservar refúgios naturais para manter a diversidade natural da fauna.Todos fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do equilíbrio na natureza.
     Entre as espécies de plantas que servem de refúgio para os inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum conyzoides), a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor favorecem o abrigo e a reprodução de insetos como percevejo (Orius insidiosus), que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há, no entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos naturais das pragas, como mamona, capim, grama-seda, capim-amargoso, guanxuma, tiririca, picão-branco e carrapicho-carneiro.Entre os insetos, os inimigos naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura 1) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e lagartas.
Outros exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
percevejos –  atacam lagartas e seus ovos; moscas – lagartas, seus ovos e outras pragas; coleópteros lagartas e percevejos; louva-a-deus, joaninha e vespinhas pulgões; peixes – larvas de pernilongos; fungos – larvas e nematóides; garças – moluscos e insetos; pica-pau – insetos; tamanduá – formigas e cupins; outros animais que se alimentam de insetos – galinha d’angola,morcegos, lagartas, sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, anus, bem-te- vis, corruíras, beija-flores e tesouras).

Princípios básicos para o manejo natural das pragas
     É preciso entender que o estado normal da natureza é a harmonia; numa floresta todos os seres vivos estão em equilíbrio. Nenhuma praga ou doença deveria ameaçar o equilíbrio do sistema em que vive. Foi o homem que ignorando as mais elementares das suas leis e mecanismos, terminou por criar as condições para o aparecimento de pragas e doenças. Foi muito bom para as indústrias, mas foi um péssimo negócio para o homem e demais seres vivos. Se pudéssemos contar com plantas desenvolvidas naturalmente, meio ambiente natural e equilibrado e solo fértil, não existiriam pragas e doenças.
     A observação de alguns princípios básicos poderá contribuir para o manejo natural das pragas em sua horta. Os principais são:
. Aumente a matéria orgânica e crie um microclima favorável à vida no solo;
. Cultive basicamente as espécies mais adaptadas para a sua região e para cada época de plantio;
. Dentro de cada espécie procure utilizar sempre as cultivares mais resistentes e recomendadas para cada época de plantio;
. Produza suas próprias sementes, se for possível, deixando frutificar as plantas mais vigorosas e produtivas;
. Procure diversificar, plantando o maior número de espécies possíveis na horta; o plantio de plantas repelentes e atraentes de pragas, muitas vezes, contribuem para o manejo natural; 
.Preserve alguns espaços sem cultivar e deixe a vegetação espontânea desenvolver-se, pois assim os inimigos naturais das pragas poderão se reproduzirem e se alimentarem;
. Evite, sempre que possível, o uso de inseticidas e fungicidas caseiros, pois embora não sejam tão agressivos ao meio ambiente, poderão afetar também os inimigos naturais. Recomenda-se, sempre que possível, que se aguarde o “surgimento” do controle natural.

 Pulverização com produtos alternativos
     O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:

É impossível controlar totalmente as  pragas; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;

O manejo é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica). É suficiente para evitar danos econômicos às culturas.

     Plantas saudáveis produzidas em solos com vida e, em ambientes equilibrados, normalmente, não são atacadas por pragas. Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (cinzas de madeira, calda bordalesa, calda sulfocálcica,  biofertilizantes, extratos vegetais, agentes de controle biológicos e outros produtos (ver como prepará-los através de matérias postadas neste blog em 13 e 22/12/2010 e 06/01/2011),  devem ser utilizados somente, quando necessário e, de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel e outros, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças e brocas do tomateiro e, ainda as brocas das cucurbitáceas.  Os preparados de sálvia e  pimenta, plantas medicinais e condimentares (Figura 2), estão entre os produtos alternativos mais eficientes no manejo de pulgões, vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.

Figura 2. Sálvia (planta medicinal) e pimenta (hortaliça-condimento), utilizadas em preparados que podem serem feitos na propriedade, são eficientes no manejo de lagartas e pulgões, respectivamente, que atacam a couve, repolho, couve-flor e brócolis. O preparado de pimenta também é eficiente no manejo de vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.


Um comentário:

  1. interessante e aproveitavel o conteudo do blog ao meu aprendizado ,grato .

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