Mito: é impossível produzir alimentos
sem o uso de agrotóxicos
A utilização dos adubos químicos, dos
agrotóxicos e das sementes
híbridas forma um círculo vicioso, interessante
apenas para as multinacionais da agroindústria. As sementes ditas melhoradas
necessitam mais adubação para se desenvolverem. A utilização do adubo químico
torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças.
E se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos, inseticidas e fungicidas para manter o nível
desejável de produção.
A
agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do
sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes
químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por
doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e
pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal
ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do
livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a
sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a
utilização de agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como
formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos,
além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem
apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores
(condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser
protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas,
pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do
uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de
intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT)
situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em
Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933
intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de
Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas
uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram
pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela
dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
Razões
do ataque das pragas e doenças
As hortaliças estão sujeitas a uma série
de micróbios e insetos que causam danos às plantas. Os micróbios (bactérias,
fungos, nematóides e vírus), quando encontram condições favoráveis, tornam-se
muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a
eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas,
buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso
específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende
da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação,
etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e,
em alguns casos, de um vetor (transmissor). Uma das teorias mais aceitas para
explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida
por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade
dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam
presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos
micróbios e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado,
se existirem substâncias mais complexas
(proteínas), as pragas causarão menos
danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância
predominante: adubações com fertilizantes químicos altamente solúveis, clima,
estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores
de crescimento.
O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o
sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle (ver matérias postadas neste blog em 01, 16 e 27/09/2011; 21 e 26/10/2011, os
principais métodos de manejo e o reconhecimento dos principais insetos-pragas
das hortaliças). O sistema não
procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em
determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e
o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema
ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não
alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas
não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos
naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser
dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são
considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente
insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido.
O inseto pode ser considerado praga quando
causa danos econômicos ao produtor. A
simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a
população destes seja elevada. Um
exemplo prático, entre muitos outros, da
situação em que “não fazer nada” é, às
vezes, melhor, quando ocorre o ataque de
pulgões; as joaninhas, inimigos naturais destas pragas, se tiverem farto
alimento e não utilizando-se inseticidas, reproduzem-se abundantemente e podem
dominar os pulgões que atacam as plantas cultivadas e não serem mais problema
na horta.
Preservação de bosques, cercas vivas e
até capoeiras para servir como abrigo e alimento aos inimigos naturais dos
insetos-pragas
A preservação de bosques, cercas vivas
e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como
abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Incluir nas
lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas
ao redor dos cultivos, também contribuem para favorecer os inimigos naturais
das pragas que atacam as culturas. Os inimigos naturais são insetos, fungos,
bactérias, vírus, nematóides, répteis,
aves e mamíferos pequenos. Todas as pragas das culturas têm seus inimigos naturais que as devoram ou
destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos através da rotação,
sucessão e consorciação de culturas, bem
como
preservar refúgios naturais para manter a diversidade natural da fauna.Todos
fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do
equilíbrio na natureza.
Entre as espécies de plantas que servem de
refúgio para os inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum
conyzoides), a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus
viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo
granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor
favorecem o abrigo e a reprodução de insetos como percevejo (Orius
insidiosus), que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há, no
entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos
naturais das pragas, como mamona, capim, grama-seda, capim-amargoso, guanxuma,
tiririca, picão-branco e carrapicho-carneiro.Entre os insetos, os inimigos
naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura
1) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e
lagartas.
Outros
exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
• percevejos – atacam
lagartas e seus ovos; • moscas
– lagartas, seus ovos e outras pragas; •
coleópteros – lagartas
e percevejos; • louva-a-deus, joaninha e vespinhas – pulgões;
• peixes – larvas de pernilongos; • fungos – larvas e
nematóides; • garças – moluscos e insetos; • pica-pau – insetos; • tamanduá – formigas e cupins; • outros
animais que se alimentam de insetos – galinha d’angola,morcegos, lagartas,
sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, anus, bem-te- vis, corruíras,
beija-flores e tesouras).
Princípios básicos para o manejo natural das pragas
É preciso entender que o estado normal da
natureza é a harmonia; numa floresta todos os seres vivos estão em equilíbrio.
Nenhuma praga ou doença deveria ameaçar o equilíbrio do sistema em que vive.
Foi o homem que ignorando as mais elementares das suas leis e mecanismos,
terminou por criar as condições para o aparecimento de pragas e doenças. Foi
muito bom para as indústrias, mas foi um péssimo negócio para o homem e demais
seres vivos. Se pudéssemos contar com plantas desenvolvidas naturalmente, meio
ambiente natural e equilibrado e solo fértil, não existiriam pragas e doenças.
A observação de alguns princípios básicos
poderá contribuir para o manejo natural das pragas em sua horta. Os principais
são:
. Aumente a matéria orgânica e crie um microclima favorável à vida
no solo;
. Cultive basicamente as espécies mais adaptadas para a sua região
e para cada época de plantio;
. Dentro de cada espécie procure utilizar sempre as cultivares mais
resistentes e recomendadas para cada época de plantio;
. Produza suas próprias sementes, se for possível, deixando
frutificar as plantas mais vigorosas e produtivas;
. Procure diversificar, plantando o maior número de espécies
possíveis na horta; o plantio de plantas repelentes e atraentes de pragas,
muitas vezes, contribuem para o manejo natural;
.Preserve alguns espaços sem cultivar e deixe a vegetação
espontânea desenvolver-se, pois assim os inimigos naturais das pragas poderão
se reproduzirem e se alimentarem;
. Evite, sempre que possível, o uso de inseticidas e fungicidas
caseiros, pois embora não sejam tão agressivos ao meio ambiente, poderão afetar
também os inimigos naturais. Recomenda-se, sempre que possível, que se aguarde
o “surgimento” do controle natural.
Pulverização com produtos alternativos
O manejo eficiente das doenças e pragas é
baseado em dois princípios fundamentais:
• É impossível controlar
totalmente as pragas; por isso, o que se
recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;
• O manejo é um conjunto
de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o
controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura
orgânica). É suficiente para evitar danos econômicos às culturas.
Plantas saudáveis produzidas em solos com
vida e, em ambientes equilibrados, normalmente, não são atacadas por pragas. Substâncias
alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (cinzas
de madeira, calda bordalesa, calda sulfocálcica, biofertilizantes, extratos vegetais, agentes
de controle biológicos e outros produtos (ver como prepará-los através de
matérias postadas neste blog em 13 e 22/12/2010 e 06/01/2011), devem ser utilizados somente,
quando necessário e, de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático
na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus
thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel e outros, pode ser usado
para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem
como traças e brocas do tomateiro e, ainda as brocas das cucurbitáceas. Os preparados de sálvia e pimenta, plantas medicinais e condimentares (Figura 2), estão entre os produtos alternativos mais eficientes no manejo de
pulgões, vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.
Figura 2. Sálvia (planta medicinal) e pimenta (hortaliça-condimento), utilizadas em preparados que podem serem feitos na propriedade, são eficientes no manejo de lagartas e pulgões, respectivamente, que atacam a couve, repolho, couve-flor e brócolis. O preparado de pimenta também é eficiente no manejo de vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.
interessante e aproveitavel o conteudo do blog ao meu aprendizado ,grato .
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